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Cultura Pop

Relembrando: Smashing Pumpkins, “Siamese dream” (1993)

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Relembrando: Smashing Pumpkins, "Siamese dream" (1993)

Em Xuxa, o documentário, Marlene Mattos é confrontada por causa do estilo malvadeza-durão (malvadeza-durona?) com que comandou a carreira da ex-rainha dos baixinhos. Deixa claro que agiu com crueldade porque, ora bolas, eram os anos 1980/1990, época de diretores gritalhões de TV, empresários com atitudes beirando a psicopatia, público e mercado desacostumados com a presença constante de ídolos maiores-que-a-vida, machismo nada silencioso e abusos de parte a parte.

Hoje, trinta anos depois de Siamese dream (27 de julho de 1993), o disco que fez a diferença na história dos Smashing Pumpkins, sobra a fama de Marlene Mattos de si próprio para o vocalista, guitarrista, compositor e personal déspota da banda, Billy Corgan. O músico foi definido pelo produtor Butch Vig como “um pentelho”, mas foi bem mais que apenas um moleque grudento. Compôs quase todo o repertório do disco. Brigou com os colegas de banda para fazer um álbum que mudasse a história da banda e quiçá, do rock. Aporrinhava Butch em busca de um som que deixasse qualquer fã de rock em clima de atropelamento total. E ainda insistiu em fazer tudo na fita analógica mesmo que a gravação digital já avançasse caminhos. A Virgin, gravadora do grupo, ficou bastante emputecida com a demora e o orçamento estourado.

Mais: o cantor ordenou sessões de estúdio de doze horas (!), regravou guitarras e baixos e deixou D’Arcy (baixo), James Iha (guitarra) e Jimmy Chamberlin (bateria) estressados a ponto de emudecerem no estúdio. Rolaram pequenos colapsos: Iha teve canções recusadas, D’Arcy passou um bom tempo trancada no banheiro e Chamberlin, drogadaço e dando perdidos trágicos durante a gravação, foi castigado com a ordem de tocar a bateria de Cherub rock inúmeras vezes até que o patrão ficasse satisfeito com seu desempenho. Em sua defesa, Corgan marleneou: disse que ninguém entendia o quanto era difícil contar com o comprometimento dos colegas, alfinetou a suposta “preguiça” dos outros três, e usou isso para justificar as atitudes passionais e escrotas no estúdio. No fim, mais de seis milhões de cópias foram vendidas.

Marlene Mattos não se desculpou com Xuxa pelos vacilos e diz não se arrepender de nada. Billy causou traumas imensos e alugou três triplex na cabeça de cada colega de banda, mas ninguém duvida de que Siamese dream é um dos discos mais emocionantes da história do rock. Corgan usou métodos progressivistas para criar um disco que oscila entre o metal e o shoegaze, com inúmeras guitarras gravadas em cada faixa (Vig jura haver mais de cem numa faixa). E idealizou o que parece ser o único ponto de união possível entre Black Sabbath, The Cure, Electric Light Orchestra, My Bloody Valentine, Cheap Trick (Corgan gosta), Queen e formações americanoides e grandiloquentes como Boston – está tudo lá.

Siamese dream é o disco de épicos como Cherub rock (uma das melhores introduções de disco de todos os tempos), a desencantada Today (cuja letra era uma resposta aos pensamentos depressivos de Corgan), o tom celestial de Soma, a porrada tribal e quase punk de Silverfuck, a máquina de ruídos de Geek USA, o ritmo quase cardíaco de Quiet, a beleza guitarrística da tristonha Mayonaise, o tom glam da orquestral Spaceboy. Vale ate mais ouvir e sentir do que ler.

Ouvido na época certa, é mais do que um disco, é um convite. As guitarras parecem acolher o ouvinte, as letras falam sobre aquele momento em que a realidade não parecia ser um dos lugares mais amistosos para se viver, a estrutura das canções não se parece com nada e ao mesmo tempo se parece com tudo. Os solos de guitarra acalmavam os ânimos simultaneamente de fãs de punk e de gente que fazia air guitar ouvindo Brian May tocar. Na época de Siamese dream, os Smashing Pumpkins pareciam um sonho, e era isso aí mesmo.

Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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