Connect with us

Crítica

Ouvimos: Knocked Loose, “You won’t go before you’re supposed to”

Published

on

Ouvimos: Knocked Loose, "You won't go before you're supposed to"
  • You won’t go before you’re supposed to é o terceiro disco do Knocked Loose, banda do Kentucky normalmente definida como metalcore. 
  • O grupo existe desde 2013 e de lá para cá já perdeu dois bateristas – vale citar que é um cargo que exige muito do integrante, já que a porrada ali é séria em todas as faixas. Atualmente a banda conta com Bryan Garris (voz), Isaac Hale (guitarra solo, voz), Kevin Otten (baixo), Kevin “Pacsun” Kaine (bateria) e Nicko Clsderon (guitarra base, voz).
  • “A capa do disco e (a música) Blinding faith não se aplicam apenas à religião. É sobre qualquer coisa que se eleve sobre você, qualquer coisa que seja inevitável na experiência humana normal. De onde eu venho, você vai passar por igrejas que são os prédios mais caros da sua cidade, entende o que quero dizer?”, diz Bryan aqui.

Não é apenas som pesado, é uma tormenta musical, no melhor dos sentidos. A receita do metalcore do Knocked Loose envolve gritos, vocais guturais, gorgolejos, guitarras altíssimas e mixadas em pé de igualdade com os ataques da bateria, e tensões dignas de um filme de suspense – e não exatamente de um disco de som pesado. O que significa dizer que faixas como Blinding faith, Thirst e Suffocate têm barulhos que pegam o ouvinte de surpresa. Há passagens que lembram mais o eletrohardcore e o grindcore de bandas como o Locust, ainda que o som do Knocked Loose seja bem mais orgânico.

You won’t go before you’re supposed to traz pouco menos de meia hora de som e, só pela lembrança da podridão sonora do Locust, dá para ter uma ideia de que se trata de uma banda de metal bem pouco pop – mesmo se comparada a grupos como Slipknot e Pantera. O universo mostrado pelo quinteto no álbum é frio, cru e sem salvação: o KL mete o pau na hipocrisia das religiões, em gente falsa (Don’t reach for me tem os versos: “nenhuma mentira pode se espalhar com a língua removida/vou arrancar a sua língua”) e lança mão de histórias bem estranhas. Inclusive, consta que o título do disco vem de um conselho de gosto duvidoso que o vocalista ouviu de uma senhorinha, enquanto se cagava de medo durante o primeiro voo da banda depois da pandemia.

Suffocate, por sua vez, é ameaçadora: uma bateria que soa como tiros, ou várias explosões, e a combinação dos vocais de Bryan Garris e da cantora-youtuber Poppy, em versos como “eclipsando o peso/estrangulado por cada erro/(…) vou cavar até encontrar a porra da raiz/que sofri por sua causa”, guiando o timão do álbum para um lado pessoal que coloca o Knocked Loose um pouco mais próximo do punk anos 1990 ou do emocore. Não há momento tranquilo no disco, mas a vinheta-de-dois-minutos Take me home tem um papel parecido com o de Lookaway no clássico Roots, do Sepultura – um pouco de experimentalismo amaciando a porrada.

Do meio para o final, The calm that keeps you awake (que curiosamente lembra o estilo de Iggor Cavalera, ex-Sepultura, na bateria) e Sit & mourn trazem mais introversão para o disco – mas só na letra. Musicalmente, ambas são quase uma demolição, ainda que essa última tenha quase um minuto de toques tranquilos na guitarra, ao começar.

Nota: 8,5
Gravadora: Pure Noise Records

Crítica

Ouvimos: Valentim Frateschi – “Estreito”

Published

on

Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, uma espécie de dream-MPB que mistura psicodelia, lo-fi, samba-rock, soul e ecos de Jorge Ben.

RESENHA: Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, uma espécie de dream-MPB que mistura psicodelia, lo-fi, samba-rock, soul e ecos de Jorge Ben e Marcos Valle.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Integrante de Os Fonsecas (banda cujo álbum Estranho pra vizinha foi resenhado aqui), Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, disco que basicamente pode ser definido como dream-MPB. É música popular brasileira psicodélica, cheia de detalhes lo-fi (especialmente na gravação de voz, que parece vir de um toca-fitas), texturas quase palpáveis e diálogos entre instrumentos. É o que rola na vibe criada pelas cordas, baixo e bateria da faixa-título, nos ecos da vinheta find., na psicodelia e nas surpresas melódicas de Pássaro cinza.

Um lado forte em Estreito é o da experimentação com samba, rock, soul, Jorge Ben e psicodelia – tudo passado num filtro mutante, repleto de efeitos especiais e ideias de estúdio. Mau contato joga na área da balada-blues setentista – à moda da Gal Costa de Fa-tal, e com Sophia Chablau dividindo vocais. Já Falando nisso, Corpo colado e Lokotário são os samba-rocks mais característicos do disco. A primeira, com participação de Nina Maia, tem muito de Jorge Ben e Tim Maia, e mexe com frases irônicas como “quem não se organiza se fode” e “falando nisso, não esqueço do seu aniversário / não te mando parabéns porque não tenho saco”. Já a segunda põe algo de jazz, progressivo e do estilo de João Donato na mistura sonora, a partir do piano e dos sintetizadores.

O outro samba-rock do disco, Lokotário, encerrando Estreito, parece brincar com o tédio e o desespero da pandemia – e de todo o isolamento que veio junto. Mas voa longe, inserindo um clima espacial que lembra Marcos Valle e uma letra que vai tentando buscar um universo amplo num mundo fechado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 3 de setembro de 2025.

  • Ouvimos: Camaelônica – Eletrotropical
  • Ouvimos: Nina Maia – Inteira
  • Ouvimos: Sophia Chablau E Uma Enorme Perda de Tempo – Música do esquecimento

 

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Filarmônica de Pasárgada – “Rua Teodoro Sampaio 1.091” (EP)

Published

on

Filarmônica de Pasárgada relê a Vanguarda Paulista em Rua Teodoro Sampaio 1.091, EP de quatro faixas cheias de imagens sonoras e cenas urbanas.

RESENHA: Filarmônica de Pasárgada relê a Vanguarda Paulista em Rua Teodoro Sampaio 1.091, EP de quatro faixas cheias de imagens sonoras e cenas urbanas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Rua Teodoro Sampaio 1.091 era o endereço do Teatro Lira Paulistana, lugar que durante quase dez anos, abrigou a Vanguarda Paulista e deu espaço para artistas de vários outros estilos – até mesmo Cólera e Ratos de Porão gravaram um álbum split ao vivo lá. Como uma brincadeira séria entre um álbum e outro, a Filarmônica de Pasárgada usa seu estilo brasileiro, pop e clássico para reler quatro músicas do movimento, num EP que se chama justamente Rua Teodoro Sampaio 1.091.

O EP inclui apenas quatro faixas – que, em comum, têm o efeito “câmera na mão”, usando sons para narrarem cenas, além de frases que criam imagens nas letras. Ladeira da Memória (do grupo Rumo, com a convidada Ná Ozzetti no vocal) narra uma cena do dia a dia de São Paulo, com sua fauna urbana e seus moradores “vagando pelas ruas sem profissão, namorando as vitrines da cidade”. O trabalho, do Premeditando o Breque, traz os vocais de Wandi Doratiotto, e atualizações na letra, que passa a falar de influencers e de Tik Tok, mas mantém o discurso de subemprego e exploração.

No final, o lado mais experimental do disco: Fim de festa, de Itamar Assumpção, tem vocais de Suzana Salles, e usa vibes folk-samba para falar de um amor que acaba de maneira repentina e estranha (“meu amor por você / chegou ao fim / é tudo que tenho a dizer / também não precisa sair assim / espere o dia amanhecer”). Instante, de Arrigo Barnabé, com participação do próprio autor, tem tensão e desaparecimento criados com sons, vibrações e poucas palavras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: YB Music
Lançamento: 28 de agosto de 2025.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Gabriel Araújo – “Lugar”

Published

on

Gabriel Araújo, em colaboração com Vita Evangelista, lança Lugar, EP visual que mistura folk, jazz e psicodelia para refletir sobre lixo, racismo ambiental e futuro do planeta.

RESENHA: Gabriel Araújo, em colaboração com Vita Evangelista, lança Lugar, EP visual que mistura folk, jazz e psicodelia para refletir sobre lixo, racismo ambiental e futuro do planeta.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Gabriel Araújo é um músico fluminense que já viveu em João Pessoa (PB) e participou de uma banda chamada Glue Trip. Lugar é um disco que, na verdade não é apenas dele, mas também do cineasta Vita Evangelista – já que se trata de um EP visual que gira em torno de temas como o futuro do planeta Terra e das comunidades marginalizadas, usando o lixo, os mares e os excessos do capitalismo como “personagens” paralelos.

O ator e bailarino Jota Z, no decorrer do filme, surge como um incorporador de todas essas questões, seja vestindo-se de lixo, posando na areia da praia em meio à sucata ou saindo de uma caçamba. Não se trata apenas de um comentário sobre ecologia ou natureza – temas como racismo ambiental e o destino de tudo que a gente descarta fazem parte de todo o processo.

  • Ouvimos: Jangada Pirata – Sal de casa
  • Ouvimos: Camaelônica – Eletrotropical

Musicalmente falando, o material de Lugar oscila entre o folk e algo próximo de um jazz infernal, com efeitos, alguns sustos sonoros, e climas que, às vezes, lembram até bandas como King Crimson, Neu! e Pink Floyd. Yby – Terra começa com percussão e baixo fortes, e vai ganhando vibes psicodélicas aos poucos. Etê – Verdadeiro, faz o mesmo com percussão, baixo, violões e ruídos. O tom fica mais ambient e progressivo em Ekó -Ser, e espacial em Celestial é a comunicação e Espiritual é o movimento.

Pelo bem de todos, única faixa com letra, resgata os vocais de Humberto Mendes, cantador de São Luiz do Maranhão, e leva invocações de equilíbrio a um disco-filme que dá música e imagem a sistemas cada vez mais desequilibrados.

(o áudio está no Bandcamp da gravadora).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Hominis Canidae Rec
Lançamento: 8 de agosto de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending