Crítica
Ouvimos: Clara Bicho, “Cores da TV” (EP)

“Artista visual, musicista e jornalista pela UFMG”, como se define em seu instagram, Clara Bicho oferece mais do que apenas música em seu aguardado primeiro EP, Cores da TV – o disco é um universo esperando para ser desvendado. As melodias tem ar indie pop, as letras têm clima de diário, os cenários mostram Clara interagindo com todos os lugares dos quais ela fala nas letras.
A paleta indie pop do disco traz influências de disco music na faixa-título Cores da TV (parceria com Sophia Chablau), que traz sonoridade remetendo a grupos como Girl Ray, enquanto Meu quarto é mais experimental, soando como um passeio introspectivo pelos guardados de Clara Bicho e pelas recordações de uma vida (“faz um tempo ue eu tento me organizar / mas disso tudo aqui eu não quero me livrar”).
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Quase sempre, o som de Cores da TV parece “derreter”, como numa psicodelia pop, herdada tanto de Mutantes quanto de Flaming Lips. Rola isso na bossa indie Música do peixe, que depois se transforma numsamba-rock, e também no pop adulto oitentista (city pop, digamos) de A rua. Luzes da cidade, quase na mesma vibe, é um pop de quarto que remete ao boogie dos anos 1980, cujo vocal tem sujeira de gravação feita em casa.
No final, o som luminoso e repleto de recordações de Árvores do fundo do quintal, gravada ao lado da banda catarinense Exclusive Os Cabides (“as árvores do fundo do quintal / mandam lembranças / de quando a gente era criança”). Uma música, e um EP, em que passado e afeto são tão importantes quanto o futuro, e formam uma visão nova de música pop.
Nota: 9
Gravadora: Bolo de Rolo
Lançamento: 5 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Julian Lennon – “Because…” (EP)

RESENHA: Julian Lennon revisita fitas antigas, ecoa o pai John em clima de reclusão e entrega um EP que soa como uma epifania para beatlemaníacos.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Music From Another Room
Lançamento: 22 de agosto de 2025
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“Quanto mais velho fico, mais me inspiro no meu pai”, disse recentemente à Rolling Stone ninguém menos que Julian Lennon, filho do beatle John, morto há 45 anos. Um pai que ele conheceu mais pela distância do que pela proximidade – quando Lennon casou-se com Yoko Ono, a vida do cantor passou ser outra, e aos 62 anos, Julian “conviveu” mais com seu pai morto do que vivo (ele tinha 17 anos naquele dezembro de 1980). Mas que, de qualquer jeito, é uma fonte de inspiração sólida pelos valores preconizados nas letras e entrevistas, pelo humor ácido, e pela musicalidade igualmente ácida.
Daí que este EP Because… pegou Julian num momento de reclusão, quase como os que seu pai costumava viver em Nova York na segunda metade dos anos 1970. Julian viu seu disco Jude (2022) ganhar uma recepção bem fria, e tinha decidido focar em trabalhos como fotógrafo e escritor. O EP surgiu de várias fitas antigas (algumas dos anos 1980) encontradas no porão do escritório de seu ex-empresário. Julian decidiu mexer em três delas, optou por deixar os vocais como estavam e gravou apenas algumas novas trilhas de instrumentos. I won’t give up, a quarta faixa, foi feita há dez anos com a colaboração do então iniciante Andrew Watt.
- Ouvimos: Paul McCartney e Wings – One hand clapping
Because… é praticamente uma epifania: se John Lennon estivesse vivo e decidisse gravar apenas EPs, como Ringo fez há poucos anos, talvez soasse dessa forma. Com uma voz idêntica à do pai, Julian une a vibe de John e guitarra-bateria a la The Police na faixa-título (que inclui até um “o karma vai te pegar!”), chupa detahes de I am the walrus em I hope, canta com vocais reverberando (como o pai) em Keep on searching, e faz lembrar tanto o piano de Imagine quanto o dedilhado de Dear Prudence em I won’t give up.
O EP de Julian vale uma nota para beatlemaníacos e do antigo trabalho do cantor (como o disco Valotte, de 1984). Vale dizer que, se John transformou letras enigmáticas como Strawberry Fields forever em “obras abertas”, você pode extrair de um tudo das letras de Because…: será que o rancor da faixa-título é dedicado a Yoko, com quem ele diz não se encontrar desde 2016? Ou às situações que viveu/não-viveu ao lado do pai? Já I won’t give up pode ser mesmo uma vontade de não desistir da música – embora ela tenha dito que a música é sobre não desistir do amor.
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Crítica
Ouvimos: Harmada – “Os fugitivos”

RESENHA: Harmada retorna após 14 anos com Os fugitivos, um disco maduro, noventista e denso, explorando fugas existenciais em faixas que vão do pós-punk ao rock britânico.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: 8-bics
Lançamento: 21 de outubro de 2025
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O Harmada, uma banda carioca, marcou época quando lançou o primeiro álbum, Música vulgar para corações surdos (2011), um disco bastante ouvido pela crítica, e que acabou dando também um público fiel para o grupo. De lá para cá, rolou um jejum de novos álbuns, embora a banda nunca houvesse acabado de verdade – chegaram a rolar alguns shows e participações em tributos. Mas como fazer música no Brasil nunca foi moleza, cada integrante precisou tratar da própria vida profissional.
- Ouvimos: Canacut – À mercê do tempo (EP)
Com Manoel Magalhães (guitarra e voz), Brynner Buçard (guitarra), Bernardo Corrêa (baixo), Rodrigo Garcia (bateria) e Pedro Henrique Lacerda (guitarra) na formação, o grupo retorna 14 anos depois com Os fugitivos, um disco – prometido já há alguns anos – mais tranquilo que a estreia, e com uma cara bem mais anos 1990 do que a vibe indie-rock anos 2000 de Música vulgar. Evocações do rock britânico de há 30/20 anos surgem em faixas como a balada blues Quando você chegar, a densa Destino, a balada ruidosa Iluminar e o guitar rock Piscina de crianças universais.
Nas letras de Os fugitivos, o grupo se inspira no livro Os prisioneiros, de Rubem Fonseca, para falar de fugas existenciais modernas. Por acaso, o Harmada volta investindo numa sonoridade bem mais moderna e eterna do que no primeiro álbum – tangenciando também um clima de balada MPBística em Em fuga e chegando perto da desolação pós-punk na explosiva Prisioneiro e na introspectiva A estrada, além do ambient ruidoso de Sonhar.
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Crítica
Ouvimos: 5 Seconds Of Summer – “Everyone’s a star”

RESENHA: Em Everyone’s a star, 5 Seconds Of Summer larga a indecisão e transforma o “em cima do muro” de discos passados em algo variado e interessante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Republic
Lançamento: 14 de novembro de 2025.
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Nunca fui um grande fã dessa banda australiana que passou voando como o vento em seus 14 anos de carreira – na verdade, como um vento daqueles que levam bolas de feno de um lugar pro outro, até porque o que o 5 Seconds Of Summer mais fez foi variar a posição. Do punk-pop noventista ao emo, passando pela música eletrônica, pelo metal alternativo e pela pose de boy band, os discos dessa turma atiravam para todos os lados. Só que tudo parecia acontecer mais por indecisão do que por variações estéticas.
E aí sai Everyone’s a star, disco em que essa tal indecisão começa a ser revertida em prol de algo realmente mais variado – e bom de ouvir, vale dizer. Mas olha… Até que o disco tome jeito, o/a ouvinte precisa encarar um insatisfatório nu-metal (a faixa-título, cuja letra traz comentários sobre essa era de influencers e seres instagramáveis que todo mundo parece conhecer, menos você) e algo que lembra um Maroon 5 emo (a bisonha Not OK).
- Ouvimos: Yellowcard – Better days
Daí pra frente, o 5SOC se transforma num Big Special amigável em Telephone busy, tira uma onda do lado “boy band esquisitona” deles (em Boyband, que soa como um Information Society com peso) e une emo glam rock em No 1 obsession, com batida lembrando Rock’n roll (part 2), de Gary Glitter. A faceta do grupo que mais aparece no disco é o lado emo, que surge na contemplativa I’m scared I’ll never sleep again, na new wave oitentista Istillfeelthesame (a melhor do disco, dando a entender que bandas como Turnstile estão na playlist de trabalho deles) e até em duas tentativas de soar parecido com Strokes (a mais ou menos The rocks e a boa Sick of myself).
Everyone’s a star tem também um britpop brega (a chatinha Ghost, com virada de bateria copiada de Don’t look back in anger, do Oasis), uma espécie de shoegaze-emo (a legalzinha Jawbreaker, que fecha o álbum) e, que surpresa, uma ótima adesão à onda indie sleaze, do jeito deles (Evolve). Parece que se tinha alguém apertando os botões e manipulando a banda, ou mudou o manipulador, ou ele se mandou.
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