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Crítica

Ouvimos: BaianaSystem, “O mundo dá voltas”

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Ouvimos: BaianaSystem, "O mundo dá voltas"
  • O mundo dá voltas é o quinto álbum do BaianaSystem, repleto de participações especiais (Gilberto Gil, Pitty, Anitta, Antonio Carlos & Jocafi, Dino D’Santiago, Melly). O álbum foi sendo feito ao longo dos últimos três anos.
  • “Na pandemia, a gente se sentiu tão só dentro dos nossos quartos, que, quando saiu de casa para dar continuidade a O futuro não demora (disco de 2019), começou a abraçar todo mundo”, contou o integrante Russo Passapusso ao Globo, explicando que os convidados abarcam várias gerações de artistas. “A gente sabia que, se tivesse Melly com 20 e tantos anos, a gente com 40, 50 e 60 anos e a outra geração com 70 e 80, tudo misturado, a gente quebraria essa fronteira do tempo, para mostrar que todo mundo ali tem a mesma idade musical”.

Tinha uma turma considerável que achava os shows do BaianaSystem bem melhores do que os álbuns – maldade, mas até faz sentido, visto que provavelmente é complicado condensar toda aquela energia das apresentações numa gravação de estúdio. O mundo dá voltas, quinto disco da banda, provavelmente vai causar ótima impressão nessa turma: é um show no estúdio, em letras, músicas, arranjos e convidados.

Por acaso, é o primeiro álbum da banda lançado após a pandemia, e foi um disco feito (com o grupo revelou a Silvio Essinger no Globo) da vontade de encontrar pessoas, abraçar todo mundo, e voltar às ruas. Se o Carnaval é o que rege o repertório do grupo, no disco novo o BaianaSystem volta com vontade de ganhar as ruas, em faixas como Batukerê (com Antonio Carlos & Jocafi e o cantor de Cabo Verde Dino D’Santiago). Uma faixa que abre o álbum, e que está linkada a Ogun Nilê, que fecha o disco e o ciclo de faixas, como na própria “volta” do mundo, que aparece no título.

O álbum surge entremeado com faixas mais curtas que dão certo colorido e surgem como vinhetas superalimentadas, como a própria Ogun Nilê (com atabaques e canto para Ogum), Palheiro (uma vinheta cigana com o guitarrista paraense Roberto Cordeiro) e a própria faixa-título, um batidão quase trap e orquestral, com participação da Orquestra Afrossinfônica. O “programa de música” de O mundo dá voltas mexe com religião afrobrasileira, racismo, preconceito, machismo e binômio político/pessoal, como em Porta-retrato da família brasileira, que une a lusofonia do Brasil e de Cabo Verde e insere o termo “Améfrica” como ponto de união – e que musicalmente, é um samba-reggae em que o reggae vai se transformando aos poucos em samba.

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Magnata é o momento zoeira do disco, numa união descontraída e pop entre raggamuffin e dub, ao lado do pernambucano Buguinha Dub. Pote d’água, com Gilberto Gil, é um samba no estilo dele, com vocal falado-cantado. Cobra criada/Bicho solto traz Pitty e o grupo dando um aumentinho na letra e no arranjo de Bicho solto, música da cantora, do disco Matriz (2019). Agulha é uma música boa para trilha de novela – um brega leve, cantado por Claudia Manzo, com cordas aboleradas.

Para ouvir no último volume até o Carnaval: o axé turbinado de Praia do futuro, com Antonio Carlos & Jocafi e Seu Jorge. E A laje, com coral e batida em tom neo-soul, e participação de Emicida (que diz na sinceridade: “quem leva as crianças não é o boi da cara preta/é o Estado”). E Balacobaco, que abre com riff pesado de guitarra e vai crescendo em tom arábico e em clima samba-funk, com Anitta nos vocais.

Nota: 9
Gravadora: Máquina de Louco
Lançamento: 16 de janeiro de 2025.

Crítica

Ouvimos: Getúlio Abelha, “Autópsia” (EP)

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Ouvimos: Getúlio Abelha, “Autópsia” (EP)

Prepare-se para a diversão: Autópsia, o EP novo de Getúlio Abelha, vai arrancar risadas com o forró-reggaeton safado de Engulo ou cuspo (com participação de Katy da Voz e As Abusadas). E evoca os clássicos do brega com Zezo – cujo título faz referência ao “príncipe dos teclados” do Rio Grande do Norte, Zezo, e cuja letra, lá pelas tantas, recorda a inacreditável Prometemos não chorar, de Barros de Alencar.

Nem só de zoeira vive o EP e vale chamar a atenção para a mistura de sons de Getúlio Abelha, que, vindo do forró-brega perturbador da estreia Marmota (2021), vai em Autópsia do piseiro ao dubstep em poucos minutos. Freak, com letra em inglês, é forró eletrônico distorcido e pesado, Toda semana é uma fantástica mistura de forró e emocore (emoforró?) e Armação une Norte-Nordeste a um design musical mais eletrônico e selvagem. Para completar, cada faixa ganhou um visualizer no YouTube, quase sempre com o mesmo tom sombrio e debochado da capa.

Nota: 8,5
Gravadora: Rec Beat Produções
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Dilettante, “Life of the party”

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Ouvimos: Dilettante, “Life of the party”

“Diletante” é aquele que exerce uma arte apenas por prazer, sem compromisso profissional — “por esporte”, como se dizia antigamente. E Dilettante é o nome que a multi-instrumentista britânica Francesca Pidgeon escolheu para seu projeto musical, em uma escolha irônica que já dá o tom de seu segundo álbum. A capa de Life of the party antecipa bem o que se ouve: uma mistura entre a irreverência debochada dos Sparks, o clima de café-teatro que permeia discos de Lou Reed, David Bowie e Nico, e a exaustão do início da carreira artística.

Se há algo que poderia definir o álbum, talvez fosse uma estética de rock-cabaré — mas a sonoridade é experimental e pós-punk demais para caber nessa descrição. Francesca, “a” Dilettante, une vocais operísticos a referências que vão de Cyndi Lauper, Kate Bush e Laurie Anderson ao Talking Heads. Isso transparece em faixas como Fun, Twice as clean, Easy does it (essa última com ecos de St. Vincent e de um Wire mais funkeado que o habitual) e Stone, que traz baixo e bateria em tom quase afrobeat, além de um desfecho com metais em clima de big band.

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A variedade do disco se estende para além do pós-punk teatral. To make me good exibe um vocal sexy e jazzístico, com batida quase matemática entre jazz e rock, enquanto os sintetizadores adicionam um toque de magia. In the taxi abre com um piano baladeiro, quase um Elton John reduzido ao essencial, até se tornar uma balada glam. O clima de sonho sessentista se faz presente em faixas como a brincalhona Cake, My toothpaste Ajar (com um tom lounge e pop que remete a The Cardigans e à banda brasileira Pluma, além de um brilho sonoro digno de rádio clássico) e I’m in love with falling in love — esta última, um quase-tema de musical que reforça a conexão com os Sparks.

Daí para frente, o álbum se aventura por ainda mais territórios: Honey flerta com um tecnobrega sofisticado, The stuff dreams are made of mergulha em atmosferas etéreas, e a faixa-título encerra tudo com um tom soturno e agridoce. Life of the party reflete sobre pressões sociais, tristezas pessoais e a comunicação através da música, fazendo do segundo álbum do Dilettante uma joia rara — ainda pouco comentada no Brasil, mas que merece ser descoberta com atenção.

Nota: 9
Gravadora: Launchpad/EMI
Lançamento: 24 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Puma Blue, “Antichamber”

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Ouvimos: Puma Blue, “Antichamber”

O esquema de beats legais, sons viajantes e musicalidade emaconhada que brotava dos discos anteriores de Jacob Allen – músico norte-americano que adota o pseudônimo Puma Blue – é coisa do passado. Antichamber, seu novo disco, é extremamente introvertido, acústico, realizado como se fosse uma gravação de quarto, ou como se tivesse sido feito em uma igreja abandonada, numa casa velha sem muita luz, ou em qualquer local solitário que favoreça a introspecção.

Bom, na verdade – e isso segundo o próprio Jacob – o disco foi feito em sua casa em Decatur, Geórgia, perto da floresta, “em duas semanas de solidão fria”, e todo o material foi feito apenas para ilustrar seu momento de solidão, “sem intenção de compartilhar essa música com ninguém”. O material novo do Puma Blue, feito apenas com um gravador, um microfone e ruídos captados ao redor, surgiu como se ele escrevesse um diário e ele credita a inspiração ao “plano superior”.

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Antichamber é basicamente violão, voz, sussurros e letras “de cura”, além de algumas peças ambientais e instrumentais. Debris abre o álbum como se fossem fitas ao contrário, e faixas como Hotel room, Whilst my heart breaks, Long term parking e Gone is the grace captam o “antes” da voz de Jacob e os ruídos de seus dedos no violão como se fizessem parte das músicas. O mais “comercial” a que Jacob se permite é embarcar numa balada blues-country em Tapestry, um quase-hit do disco – a faixa ganhou até um clipe, que mais parece uma Bruxa de Blair musical.

Nem todo o material tem a mesma qualidade de gravação: Tangent mind é balada folk com som mais “limpo” que o restante do disco. Dying as a note parece contar uma história, com ruído de chuva, um piano triste e de poucas notas, e alguém caminhando. O som da ausência aparece na autoexplicativa In the absence of you e na fantasmagoria de Decatur bells, que abre com sinos badalando, vozes conversando ao fundo e o som de um piano (seria uma missa ou um funeral?). No final, um som de vento surge como se cobrisse a cena.

Antichamber é envolto em mistério, e Jacob diz preferir que a música fale por si só. Ainda assim, para quem quiser entender mais, ele sugere uma visita ao Reddit do Puma Blue.

Nota: 7,5
Gravadora: Blue Flowers Music
Lançamento: 18 de fevereiro de 2025.

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