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Cultura Pop

Os clipes mais estranhos da música pop (Parte I, anos 1980)

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Dizem por aí que a linguagem dos clipes, que fez a MTV se consagrar nos anos 1980 e 1990, já não rende nada desde meados dos anos 2000 – talvez até antes.

Mas, convenhamos, durante estas duas décadas nós pudemos contemplar clipes premiados por seu primor de efeitos especiais computadorizados como Money for nothing, do Dire Straits. Ou os super premiados Take on me e Hunting high and low, do trio norueguês A-ha. Ou Sledgehammer de Peter Gabrie. Todos receberam diversos prêmios do badalado MTV Awards em meados dos anos 1980.

Sem falar na estética elaborada e na fotografia de clipes como Save a prayer da banda inglesa Duran Duran. Ou nas superproduções dos clipes do ícone pop Michael Jackson, em especial o cinematográfico e inesquecível Thriller, com duração de quase 15 minutos! Há sim, outros clipes com enredos tão bons que deram a oportunidade aos seus diretores de se consagrar em Hollywood, como Spike Jones – que inicialmente dirigiu clipes de bandas como Ween, Weezer e Beastie Boys em meados dos anos 1990 e depois dirigiu filmes cult como o badalado Quero ser John Malkovich.

Na época, dirigir videoclipes era tão bacana que o inverso também acontecia. Ou seja, diretores de cinema – já famosos – abraçavam projetos mais curtos, como é o caso de Spike Lee, que dirigiu bandas de hip hop como Public Enemy e Naughty By Nature. Pode até ser que a linguagem do videoclipe tenha ficado mais “chocha” de uns bons anos pra cá. Mas mesmo no período de ouro em que o videoclipe bem produzido “vendia a banda” como aconteceu com o hit Take on me do A-ha ou até mesmo Planet Earth de Duran Duran, muita coisa estranha foi feita por aí: desde clipes de baixo orçamento, passando pelo nonsense total chegando na nítida má vontade de gravar o clipe e por aí vai.

O POP FANTASMA fez uma lista de clipes estranhos entre 1980 e 2000 no auge da MTV e da programação da TV brasileira. Começamos com os dos anos 1980. Se você souber de outros, poste sobre eles que nós vamos atrás de mais informações!

“BOYS” – SABRINA (1987): Que jovenzinho (ou jovenzinha) dos anos 1980 não ficou babando no banho de piscina da cantora de ítalo disco Sabrina Salerno? O clipe de Boys era de tão baixo orçamento que, mesmo a italiana deixando saltar as peitcholas sem querer em algumas cenas, dá até pra imaginar o diretor gesticulando um “continue rodando” porque não tinha mais grana pra fazer outra tomada de cena.

O clipe tem moçoilas figurantes com sovacos cabeludos – algo inusitado para a estética da época. Rodado em um hotel praiano na Itália, em takes externos, claramente percebemos que não houve preocupação alguma com a produção do clipe. Os figurantes se parecem mais com transeuntes do local do que atores contratados. Sempre questionada sobre o excesso de pimenta no clipe, a cantora se justificou dizendo que o vídeo foi feito para ser exibido somente na Itália e que o formato era o que os italianos gostavam na época.

A título de curiosidade, quando começaram os programas de “troca de arquivos de MP4” pela internet, o clipe foi o mais baixado por um bom tempo.

“TOTAL ECLIPSE OF THE HEART” – BONNIE TYLER (1983): Sempre na lista dos clipes mais estranhos de todos os tempos, nele há um cenário soturno. Também pudera, fora filmado dentro de um hospital vitoriano desativado na região de Surrey, Inglaterra. No vídeo, a cantora interage com meninos menores de idade maquiados e jovenzinhos usando uniformes típicos de colégios internos britânicos. Os figurantes ora aparecem em situações bizarras: soltando pombos brancos, mostrando os peitorais, lutando esgrima, dando piruetas, jogando futebol americano e dançando com jaqueta de couro como se aquilo fosse um clipe do Billy Joel.

Mais: aparecem até lutando com roupas de ninja. Tudo isso com cenário esfumaçado e com cortinas ao vento, ou seja, o que tinha de mais brega pra videoclipe na época a gente vê por aqui. O final, em que um menino faz um falsete em dueto com a cantora, com um brilho azul estranho no olhar, é esquisitíssimo. A cantora galesa alegou que a ideia inicial do diretor Russel Mulcahy era fazer um tributo aos vampiros de Anne Rice… Então, tá! (a música tem lá suas inspirações vampirescas, já falamos disso aqui)

“THE SAFETY DANCE” – MEN WITHOUT HATS (1982): Outro clipe todo trabalhado no nonsense: o do projeto de synthpop canadense Men Without Hats. Dirigido por Tim Pope e rodado em um vilarejo em Wiltshire, Inglaterra, há toda uma referência medieval na fotografia e figurino do vocalista Ivan Doroschuk, cheio de caras e bocas. Ele vai cantando, caminhando, gesticulando com uma cara amarrada e dançando com um anão vestido de bobo da corte. Ambos são escoltados por uma loira descabelada repleta de trejeitos. Ela faz umas intervenções em francês dizendo “danse”.

Tudo leva a crer, graças a toda a performance do clipe, que estão caminhando e dançando em direção ao hospício. Mas, surpreendentemente, são seguidos por outros dançarinos e o clipe termina com uma grande festa no melhor estilo medieval com teatro de marionetes, músicos etc.

Muitos tinham curiosidade em saber quem era a moça loira do clipe. Descobriu-se recentemente que se trata da jornalista britânica Louise Court, atualmente famosa editora de moda no Reino Unido. A propósito, a ideia da dança no vídeo era protestar contra algumas ações de casas noturnas da época de proibirem alguns passos da dança pogoing, uma variação da dança punk pogo (que Debbie Harry ensina a dançar aqui). Essa dança foi absorvida pela então recém-surgida new wave, mas alguns estabelecimentos haviam considerado os passos muito perigosos. Sei lá, as pessoas esbarravam muito umas nas outras, podiam rolar acidentes…

“SELF CONTROL” – LAURA BRANIGAN (1984): Parece mesmo que os clipes de ítalo disco se destacam como os mais esquisitos da década de 1980. Prestando bem atenção no clipe desta cantora americana (falecida em 2004), que foi um hit daquele ano – algo surpreendente para uma versão cover, no caso do cantor italiano Raffaele Riefoli, ou simplesmente Raf – este vídeo não perderia em nada para uma pornochanchada daquela mesma época.

Percebam nas entrelinhas que a saudosa diva Sandra Bréa poderia ter sido a protagonista neste clipe, repleto de referências lesbian chic. Uma manequim viva acaricia a cantora, que é perseguida por um sujeito mascarado que a leva em um cenário que… Bom, era para ser uma dança entre homens e mulheres mascarados, mas tudo fica parecendo uma cena de putaria de filme B.

A cantora foge, mãos assombrosas saem das paredes de um corredor, e por fim, ela está num quarto cheio de pessoas saindo por trás de tules cafonas, subentendendo que o tal mascarado representa uma fantasia sexual de submissão. O clipe, rodado em Nova York, tem cenários mal feitos, alguns deles em plástico, colocado sobre uma suposta rua em que circulam carros. Um verdadeiro horror oitentista, embora a real intenção, segundo os produtores, fosse fazer referências à peça O Fantasma da ópera. Hum, não deu muito certo, ficou assustador demais!

Talvez a explicação para o horror oitentista esteja no diretor, que era ninguém menos que Willian Friedkin, o cara que dirigiu o clássico do medo O exorcista. Embora nos anos 1980 o clipe tenha sido aclamado pela crítica, tornou-se politicamente incorreto e suas reprises na MTV americana atualmente sofreram cortes. O clipe ficou restrito à madrugada.

“OWNER OF A LONELY HEART” – YES (1983). Com locações na região central de Londres, em pontes sobre o Rio Tâmisa e em Camden Town, o enredo e a fotografia deste clipe da banda de rock progressivo sempre me deram calafrios. Não tem cenas de gore, é verdade.

Dirigido pelo genial designer gráfico britânico Storm Thorgerson – também responsável por algumas capas de discos da banda – o vídeo parece mesmo descomprometido. Tem cenas em preto e branco em que surge um típico homem de classe média britânico, de terno e gravata, caminhando para o trabalho. Ele é surpreendido por homens com capas e chapéus pretos, que o arrastam para um prédio cheio de pessoas com uma gente estranha, com um bebê chorando, uma senhora com uma cara de sofrimento e por aí vai.

Mas não para por aí. O homem tem alucinações que misturam cenas em que ele interage com animais como gato preto, falcão, sapos, aranhas, escorpiões, minhocas, cobras. Ele até lava o rosto com taturanas! É realmente horripilante para quem tem ojeriza de certos animais.

O mais esquisito fica ainda para o final. A gente pensa que ele trabalha em um banco, pois o cenário é cheio de gente que parece fazer um trabalho de escritório. Só que ele é um metalúrgico que entra em luta corporal (com o chefe?) e foge para o telhado do prédio, sendo cercado por homens de preto (os músicos da banda Yes) que parecem “os anjos da morte”. Acuado e alucinando, ele se desespera e acaba se jogando do edifício e a cereja do bolo é a cena da queda em vários takes. A queda acontece com um boneco de pano extremamente mal feito que nem de longe se passa por um dublê do ator.

Embora o clipe seja estranho, foi a primeira e única vez que a banda fez um sucesso estrondoso em todo mundo com uma música considerada pop demais pelos fãs mais radicais. O clipe foi um dos mais exibidos naquele ano de 1983 pela MTV e era sucesso entre os adolescentes.

44 anos. Gosta de Cultura Pop, Moda, Literatura, Sociologia, Cinema, Fotografia e é movida à Música desde que se entende por gente. Bacharel em Direito, enveredou-se para as Relações Internacionais e atualmente encontra-se em fase de mudanças profissionais.

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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