Destaque
Old Skull: punk para crianças nos anos 1980

O nascimento do Old Skull foi noticiado no Brasil em um textinho mínimo pela Bizz em 1989, avisando que existia uma banda punk formada por crianças de dez anos e que, em seu primeiro disco, falava de “Aids, de hot-dogs e de crianças abandonadas”.
Inicialmente formado pelos irmãos Jean-Paul “JP” Toulon (voz, guitarra) e James “Spike” Toulon (voz, baixo, guitarra, teclados) e pelo agregado Jesse Collins-Davies (bateria), o Old Skull lançou o álbum Get outta school naquele ano e, digamos, era uma novidadezinha que chamava a atenção. Ainda que todo mundo concordasse que o material não parecia ter sido composto por garotos daquela idade.
Olha a capa do disco aí.
É possível achar o primeiro disco dos garotos inteirinho no YouTube. As músicas realmente PARECEM estar sendo tocadas por garotos de dez anos. E o som lembra uma espécie de crossover entre punk e heavy metal, só que bem mais desafinado e perturbador, com três meninos berrando como se estivesse possuídos. O site Dead Punk Stars faz graça dizendo que a banda “é a resposta punk hardcore às Shaggs”. De certa forma, é mesmo. Ah, o trio é de Madison, Wisconsin.
Os moleques do Old Skull não se envolveram com punk e hardcore à toa. O pai dos garotos, Vern Toulon, tocou num projeto punk-experimental chamado Missing Foundation, com origens na Alemanha. Vern morava em Nova York na época em que o MF mudou-se para lá, e ingressou na formação. O padrasto do baterista, Robin Davies, tocou baixo na banda de noise-funk Tar Babies.
https://www.youtube.com/watch?v=fPtIVn3XzCk
Vern treinou os garotos e dividiu a produção de Get outta school com Robin e com Steven Marker, que anos depois seria guitarrista do Garbage. O álbum saiu por uma gravadora especializadíssima em punk, a Restless, que lançava bandas como Agent Orange. Parecia que ia dar certo: o Old Skull conseguiu até abrir shows de bandas que estavam se dando muito bem, como Sonic Youth e Flaming Lips. E fez turnês extensas. Aliás, extensas até demais para garotos em idade escolar.
A MTV também não deixou por menos. Levou os moleques do Old Skull para uma sorveteria e bateu um papo com eles. E ensanduichou os garotos numa matéria sobre punk, que ainda trazia entrevistas com The Damned e Gwar. Confira o trio a partir de 3:40.
“Teve clipe deles?”. Teve. Pega aí o da sinistraça Homeless, que abria o disco.
A história do Old Skull não é das mais alegres, então vamos começar pelo fim: os dois irmãos Toulon não estão mais vivos. Aliás, a família inteira morreu.
Os pais dos garotos haviam se separado no fim dos anos 1980, o que provocou um baque na família. Nos anos 1990, a mãe dos dois irmãos, já divorciada, morreu num acidente de trem. Vern Toulon morreu aos 46 anos, em 2001, após morar nas ruas e recorrer à mendicância.
Vern chegou a aparecer, por acaso, como um dos entrevistados do documentário Streets without cars, de 2001, sobre as zonas de pedestres no Wisconsin. Na ocasião, Vern foi apresentado como “pedinte”. Ele aparece no vídeo abaixo lá pelos 19:46.
https://www.youtube.com/watch?v=XsFYFrabCC0
Bem após o Old Skull, JP Toulon tocou numa banda chamada Planned Collapse e viveu em squats. Acabou morrendo em 13 de novembro de 2010, após anos de abuso de drogas. Jamie (por sinal nascido num 13 de novembro) se enforcou sete meses após a morte do irmão. Ambos deixaram filhos pequenos – JP tinha um garoto chamado Aiden, Jamie era pai de uma menina chamada Adelaide.
Jamie vinha trabalhando bastante após o fim do Old Skull. Tocou em bandas como Doomsday Cauldron, Apex e até num supergrupo punk lançado pelo selo Alternative Tentacles, Star Fucking Hipsters. Chegou também a tocar com JP no Planned Collapse. Nos últimos anos vivia nas ruas e era viciado em drogas pesadas. Em 26 de agosto de 2010 viveu uma situação parecida com a que seu pai vivera nove anos antes. Foi entrevistado por acaso no rádio por Clay Pigeon, um DJ da WFMU, e falou sobre sua condição de morador de rua. Esse papo está no YouTube.
O Old Skull, por sinal, não parou no primeiro disco. Rolou só uma mudança básica porque o baterista começou a ter problemas na escola, e foi sacado do trio. JP virou baterista, Jamie concentrou-se no baixo e a dupla ganhou a companhia de mais dois irmãos, Chris (vocal) e Josh Scott (guitarra). É a formação da foto abaixo, usada na divulgação do selo Restless.
CIA drug fest, o segundo disco, saiu em 1992 sem repercussão nenhuma, mas rendeu até uma turnê no Japão. A banda terminou logo depois. O Old Skull reuniu-se com outra formação em 2005 e chegou a tocar no CBGB. Esse show foi a última atividade dos dois irmãos antes de ambos morrerem.
O único vídeo ao vivo do grupo que tem no YouTube é dos anos 1990, com o grupo tocando num festival de heavy metal em Milwaukee.
E tem outro clipe, de Pizza man, também do disco de 1992.
Infos de Dead Rocks Stars, Dennis Cooper Blog e Dangerous Minds.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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