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Cultura Pop

Saiu um livro mostrando como as mudanças políticas e sociais mudaram as novelas no Brasil

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Você acompanhou as inesquecíveis novelas Avenida Brasil (2011) e Cheias de charme (2012)? Para o jornalista Valmir Moratelli, essas tramas representam as enormes mudanças políticas que aconteceram no Brasil nos últimos anos, e que atingiram a teledramaturgia. E são dois exemplos nos quais ele fez questão de se deter ao fazer a dissertação de mestrado que gerou seu novo livro, O que as telenovelas exibem enquanto o mundo se transforma (Ed. Autografia), um estudo profundo sobre a teledramaturgia brasileira e sobre como ela se modificou com os acontecimentos do Brasil nos últimos anos.

Batemos um papo com Valmir para saber o que ele acha que provocou mudanças no maior produto da cultura pop brasileira. No fim de semana, ele estará na Bienal do Livro, no Riocentro (Rio), dando autógrafos (no fim do texto, tem mais detalhes sobre isso).

POP FANTASMA: Como está sendo a receptividade do livro? As pessoas estão muito acostumadas a ver novela, a ler sobre tramas… e a ler sobre novela? 
VALMIR MORATELLI: A gente fez um debate da Flip, um debate na Livraria da Travessa e a receptividade foi a melhor possível. Eu entendo a novela como o maior produto de entretenimento gratuito no Brasil. Ela encontra aqui em respaldo que não encontra em lugar nenhum no mundo. Talvez nos países latinos, mas não da maneira que vemos aqui no Brasil – principalmente no Rio, por causa da força da Rede Globo. Uma discussão muito interessante do livro são as mudanças dos papeis do negro, da mulher, da diversidade de gênero. São três temas tabus que foram se desenvolvendo e acompanhando as mudanças políticas do Brasil nos últimos 20 anos. Fiz um recorte desse período porque foi uma época muito rica, em que a gente teve FHC, Lula, Dilma, impeachment da Dilma, Temer… Tivemos eleição do primeiro presidente de esquerda do Brasil, Copa do Mundo realiza pela primeira vez no Brasil em vários anos, Olimpíada pela primeira vez no Brasil. O Brasil ficou em evidência por muito tempo, foi algo que não tivemos em momento nenhum da história. A partir do Plano Real, pouco antes, começamos a poder fazer mais planos a longo prazo…

Saiu um livro mostrando como as mudanças políticas e sociais mudaram as novelas no Brasil

Valmir Moratelli (foto: Divulgação/João Fros)

E tudo isso refletiu em nossa produção cultural. A produção de cultura tem reflexos políticos. Um grande problema inclusive que nós jornalistas temos é de tentar dissociar cultura e política. É como se fossem duas editorias, mas elas estão enraizadas. E agora mais do que nunca, já que quando a gente vai falar de cultura, imediatamente surgem assuntos como Lei Rouanet. Minha pesquisa apontou que houve mudanças circunstanciais. Quando a gente vê a chegada de negros na universidade através das cotas, a sociedade começou a cobrar mais a presença de negros em outras camadas, na teledramaturgia, em que eles não existiam. Quando você começa a ver o negro se formando, o negro virando juiz, a pergunta é: “Por que ele não pode ser o protagonista?”. O segundo Sol, por exemplo, se passou na Bahia e teve nove protagonistas brancos.

https://www.youtube.com/watch?v=jvGfXITDFqA

Muita gente reclamou… Sim, teve todo um discurso nas redes sociais, antes da novela estrear. Tinha um ou outro negro, mas não como protagonista. E fora as adaptações de Jorge Amado, como Dona Flor e seus dois maridos, com a Giulia Gam e o Edson Celulari. Se você ler Jorge Amado, vai ver que a descrição não diz que os protagonistas têm que ter olhos azuis e ser brancos. Por causa disso, a gente se acostumou a entender a Bahia como branca. Isso foi há mais de vinte anos, nem é uma crítica do tipo “nossa, mas como a telenovela engana a gente”, porque ela também faz a gente despertar para assuntos que a não dávamos conta. Em 1996 O Rei do Gado, do Benedito Ruy Barbosa, discutiu reforma agrária em horário nobre. Em 1995, em A próxima vítima, teve um casal gay.

https://www.youtube.com/watch?v=BOHYj1wm6cU

E era uma novela que tinha um núcleo negro de classe média alta. Isso mesmo. O Silvio de Abreu (autor da novela) falou que apanhou de senhorinhas no mercado (risos) porque colocou um casal gay e interracial na novela. Mais recentemente, no Amor à vida, do Walcyr Carrasco, você teve uma grande parcela da sociedade torcendo pelo beijo gay. Isso porque mudou a sociedade, e a novela tem que acompanhar as demandas sociais. Mudou a política social, mudaram as políticas de inclusão, houve governos que se preocuparam em incluir as camadas mais pobres através do consumo. Houve uma mudança silenciosa que se refletiu na temática das nossas novelas e minisséries. Eu preferi fazer um recorte e pesquisar apenas a Globo, porque ela é a quinta maior emissora do mundo e a que mais exporta novelas para outros países. Totalmente demais (2016) já foi vendida para mais de cem países.

E foi uma novela que não marcou tanto aqui no Brasil, não? Há novelas que não têm tanta repercussão aqui no Brasil e que chegam a determinados países com muita força. A gente sempre tende a desmerecer, a ter certo preconceito com novelas. O livro está tendo uma repercussão bem positiva justamente por causa disso, porque não se estuda muito assuntos populares, como funk, samba… Isso tudo é cultura. Quando aparece alguma matéria do presidente dizendo que vai cortar verba de pesquisa do CNPq, imediatamente tem gente que fala que “vai faltar remédio”. E pesquisa acadêmica não é para fazer remédio, ela é para fazer pensar, para a gente pensar a sociedade, para a gente ver como estamos. Muita gente acha que cultura é “papo de esquerda”. E não é, é modo de viver.

E quais foram as novelas recentes que mais mostraram as mudanças que o Brasil teve nos últimos tempos, na sua opinião? Olha, na minha cabeça a primeira que vem é Avenida Brasil, porque fez muito sucesso. Mas a que mais representa é Cheias de charme, que foi ao ar mais ou menos no mesmo período que Avenida Brasil e colocou como protagonistas três empregadas domésticas. Historicamente, a doméstica sempre teve papel de apoio, e você colocar três empregadas como protagonistas… Foi na mesma época em que vivíamos a questão da aprovação da PEC das domésticas. Depois de tanto tempo as domésticas tinham leis trabalhistas para protegê-las e veio uma novela a reboque para trazer essas questões, mostrar os problemas pessoais delas. Antes teve a série A diarista, mas essa era uma novela, num momento muito forte do Brasil.

Avenida Brasil fez muito sucesso mesmo. Quais foram as inovações dela? O grande barato foi que o João Emanuel Carneiro (autor) compreendeu o que estava acontecendo no Brasil naquele momento. Ele me disse que abria a janela e via o que estava acontecendo na rua para poder escrever. Avenida Brasil refletia o que estava acontecendo no Brasil em 2011. Muito da narrativa acontecia no subúrbio, enquanto o núcleo cômico era o dos ricos. Era o contrário do que acontecia nas novelas normalmente, em que o núcleo principal morava no Leblon e o núcleo cômico era a turma do subúrbio. Isso era para mostrar que o centro das atenções no Brasil naquele momento era a periferia. Isso estava incomodando tanto, que já tinha gente reclamando que aeroporto parecia rodoviária (risos). O grande trunfo de Avenida Brasil foi esse. Mas ainda hoje tem muita coisa para mudar. Temos uma população majoritariamente negra e não há novela com maioria de autores negros. Precisamos de autores e diretores negros no Brasil.

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Valmir vai estar na Bienal do Livro neste fim de semana, aqui no Rio.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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