Lançamentos
Matchbox Twenty volta com novo álbum, “Where the light goes”
Sem lançar disco desde 2012, quando saiu North, a banda norte-americana Matchbox Twenty soltou nesta sexta (26) o quarto álbum, Where the light goes. O disco foi produzido por Gregg Wattenberg, em parceria com Paul Doucette (bateria) e Kyle Cook (guitarra). Completam a banda Rob Thomas (voz) e Brian Yale (baixo). O primeiro single, Wild dogs (Running in a slow dream) já havia sido apresentado aos fãs do grupo em 17 de março, e o segundo, Don’t get me wrong, saiu em 5 de maio.
Rob Thomas, Brian Yale, Paul Doucette e Kyle Cook deram início a Slow Dream Tour na semana passada, incluindo a primeira apresentação no Hollywood Bowl. No próximo ano, a banda vai à Austrália e à Nova Zelândia. Rob Thomas afirma que sobre o disco novo, uma das melhores coisas é “perceber como somos afortunados e sortudos por ainda estarmos aqui. Essas músicas fazem parte da vida das pessoas. Já estiveram em casamentos, viraram tatuagens e são a trilha sonora das noites de sábado e das manhãs de domingo. Minha única esperança real é que mais pessoas deixem este álbum fazer parte de suas vidas. Para mim, é o maior elogio”.
À Variety, Doucette chegou a afirmar que achava que a banda não fosse mais voltar antes do novo disco. “Eu sofri e segui em frente. Rob estava fazendo seu trabalho e eu não queria esperar mais. Então comecei a compor para cinema e TV – comecei de baixo, subi e gostei, então não queria desistir disso. Seus sonhos aos 20 anos não precisam ser seus sonhos aos 50”, disse. O grupo começou a planejar uma turnê e algumas faixas novas para tocar nos shows, e tudo acabou virando um novo disco. Doucette relata que músicas como Friends foram bastante desafiadoras, e têm vocais dos filhos dele e do produtor Wattenberg. E que reuniões da banda anteriormente acabaram em brigas que foram sendo resolvidas – com os quatro integrantes reunidos, ficou mais fácil.
“Nos nossos vinte anos, era como estar em uma família do exército para nossas famílias”, acrescenta Rob Thomas. “Tudo estava a serviço da Matchbox Twenty. Se tivéssemos que sair, nunca questionávamos. Os anos passaram e demos tudo porque significava tudo para nós. Conforme você envelhece, você tem outros jardins para cuidar e Matchbox Twenty se torna longe de ser a única coisa importante, então é mais fácil imaginar deixar ir”.
Crítica
Ouvimos: Pluma, “Não leve a mal”
- Não leve a mal é o primeiro álbum da banda paulistana Pluma, formada por Marina Reis (vocal), Diego Vargas (teclados, vocal), Guilherme Cunha (baixo) e Lucas Teixeira (bateria). O grupo, que já tinha dois EPs, surgiu em 2019 de um trabalho de conclusão de curso em Produção Fonográfica. Com a pandemia, decidiram trabalhar mais seriamente – e inicialmente fizeram tudo à distância.
- O grupo tocou em 2022 no festival Primavera Sound, em Barcelona. Voltaram de lá dispostos a fazer o primeiro álbum. “A gente queria lançar o disco em 2023, porque as masters já estavam prontas em outubro, mas a gente ficou até agora fritando a parte visual. Trabalhamos as músicas e então trabalhamos na parte visual em parceria com a incrível Maria Cau Levy. Por isso demorou, mas rolou um aprendizado para as próximas”, contou Diego em julho ao site Downstage.
Talvez o Pluma não tenha esse referência, mas o som deles é recomendadíssimo para quem era fã de Cardigans nos anos 1990 – na estreia Não leve a mal, bate ponto aquela mesma combinação de rock, detalhes eletrônicos, som lounge e vocais doces, além da mescla em doses iguais de peso e estranhice, que os suecos apresentaram no álbum First band on the moon (1996). Bandas como Crumb (para quem eles irão abrir apresentações) soam mais próximas dos integrantes, mas em comum essa turma toda tem a busca por combinar texturas e designs musicais diversos, e por trabalhar com a surpresa do ouvinte.
Escutando Não leve a mal na sequência das faixas, já dá para ficar bastante animado (a) com a abertura climática e levemente dançante de Quando eu tô perto – lembrando que, no final, vocais a cappella e uma pequena rajada de ruídos aguardam o ouvinte. Se você quiser, entre timbres diferentes de teclados, ameaça uma bossa nova eletrônica no começo, e se transforma numa dance music discreta. Um tom meio ligado aos discos de Lô Borges no começo dos anos 1980, mas com agilidade pop-rock, surgem em faixas como Corrida! e Jardins, e até mesmo na psicodelia distorcida de Mais uma vez.
Preguiça, cantada por Diego Vargas, surge quase como uma vinheta, ou um momento de respiro balizando o disco, que ganha ares mais próximos do neo-soul, em faixas como Não leve a mal e Sem você, e une drum’n bass, distorções e balanço quase bossanovista em Plano Z. Indo para o fim do disco, é a vez do synth pop cheio de ganchos de Doce/Amargo (a melhor do disco, lembrando uma união de Rita & Roberto e soul progressivo), de um curioso r&b shoegaze em Quanto vai ficar? e de um dream pop com toques de jazz, Sonar. Uma banda que usa a experimentação musical a favor da canção, em todos os momentos.
Nota: 9
Gravadora: Rockambole.
Crítica
Ouvimos: Apeles, “Estasis”
- Estasis é o terceiro álbum do Apeles, projeto musical criado por Eduardo Praça, conhecido por seu trabalho com bandas como Ludovic e Quarto Negro. Dessa vez, as faixas do disco trazem convidados vindos de países como Itália, Coreia do Sul, Reino Unido, Argentina e Grécia – além de brasileiros. Hélio Flanders (Vanguart) divide a direção musical com Eduardo.
- O disco ganhou vários clipes, um para cada faixa, feitos em Super 8, e que foram lançados ao longo de quase um ano. Antes de começar a gravar, foram quatro anos de conversas com cada convidado de cada faixa, para alinhar tudo. “Fomos de amigos a completos desconhecidos”, contou Eduardo ao site Hits Perdidos.
Estasis, terceiro disco do Apeles, poderia fazer parte de alguma zona perdida e underground do synth pop oitentista – colagens sonoras, sons eletrônicos e vocais falados, ou capturados em meio a conversas casuais, acabam compondo uma sonoridade que tem mais cara de experiência musical 360º do que de disco para ser apenas ouvido. Tanto que cada música ganhou seu clipe (em Super 8) e o conceito do álbum é ligado a um clube noturno imaginário. A própria capa do disco já tem um aspecto de portal, de passagem para um universo diferente e repleto de sensações, das mais mágicas às mais depressivas.
Ao contrário dos dois álbuns anteriores do projeto, Eduardo Praça decidiu sair do foco de sua própria banda. Cada faixa tem um convidado diferente (todos de várias partes do mundo) soltando a voz. Como na participação da cantora portuguesa Bernardo na celestial In god’s hands, e do rapper londrino Awate num encontro entre trap e synth pop, Magical/Rational. Ou o italiano Colombre no momento baggy anos 1980 do disco, com Puro (Leviticus 13:1).
Se o Apeles já soava anti-convencional nos discos anteriores, ambos próximos da neo-psicodelia, no novo álbum Eduardo aumenta mais ainda a variedade de estilos – até pela circulação de convidados – e cria canções que soam mais como ambientes sonoros, na linha de LCD Soundsystem, Massive Attack e outros grupos. Estasis promove também encontros entre artistas de origens variadas, como Gustavo Bertoni e YMA na dançante e psicodélica Lábios mentem à distância, ou Hélio Flanders, Jair Naves e a pianista grega Lena Platonos no poema sintetizado Blefe, prova, posse. Resta saber os próximos passos, já que Estasis, diz o próprio Eduardo, fecha uma trilogia.
Nota: 8
Gravadora: Balaclava Records.
Crítica
Ouvimos: The The, “Ensoulment”
- Ensoulment é o novo disco do The The, banda-de-um-homem-só criada em 1979 pelo músico Matt Johnson, sempre com o auxílio de convidados. O disco sai pelo Cineola, selo criado pelo próprio Matt, que abarca também uma rádio com o mesmo nome. A produção foi feita por Matt e Warne Livesey.
- No começo da epidemia de covid-19, Matt foi internado para remover um abcesso da garganta. Depois disso, ele ficou seis meses sem cantar. A estadia sombria no hospital vazou para uma das faixas do novo disco, Linoleum smooth to the stockinged feet. “Talvez eu tenha morrido. Pensei que era isso que tinha acontecido. Estou morto. Agora estou naquela sala de espera entre o céu e o inferno”, contou ao The Independent.
The The é a banda-de-uma-pessoa-só que tem hits como Uncertain smile, This is the day e Slow emotion replay – músicas que já animaram festas por aí e que costumam rolar em rádios rock, das mais ousadas às mais motoclubistas e conservadoras. O fato de terem vindo dos anos 1980 e terem uma estética que fica a meio caminho de grupos como The Cure e New Order, ajudou nesse sucesso aqui no Brasil, claro.
Bom, não é bem por ai. Matt Johnson, criador e único integrante oficial do grupo, já foi louco de tacar pedra. Um dos maiores hits da banda é o eletrogótico Infected, e a coleção de clipes Infected: The movie, lançada em 1986, traz vídeos em que o cantor se mete em brincadeiras bastante arriscadas. Tipo descer um rio selvagem num barco, só que amarrado numa cadeira, ou contracenar com uma cobra. O período em que Matt chamava Jesus de Genésio por causa das drogas se foi, sua banda passou a ser mais conhecida como autora de trilhas sonoras e, em 2018, anunciou o retorno dos shows ao vivo.
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O sombrio Ensoulment, álbum novo do The The, continua na linha de mostrar que o grupo de Matt Johnson sempre esteve mais para banda pop dirigida por Tim Burton do que pra autores de jingle radiofônico de loja de surf wear (Slow emotion replay, a “da gaitinha”, foi por muito tempo usada no Rio de Janeiro exatamente para essa função). Era o que vinha acontecendo nas trilhas sonoras feitas pelo The The e foi o que rolou no obscuro disco NakedSelf (2000), basicamente um álbum de rock industrial.
Ensoulment é uma trilha para um filme que possivelmente só existe na cabeça de Matt, e cujo design sonoro está mais para discos de Iggy Pop e Leonard Cohen do que para qualquer som de festa, como rola na abertura com a climática Cognitive dissident e na folk e nostálgica Some days I drink my coffee by the grave of William Blake – esta com melodia delicadamente sampleada de The house of the rising sun, tema tradicional imortalizado por The Animals. O blues maldito Zen & the art of dating lembra uma mescla de David Bowie e Marilyn Manson, enquanto Kissing the ring of POTUS é uma balada de terror, e Life after life volta a mexer no baú de Leonard Cohen. Ajuda o fato de Matt ter enfatizado mais ainda o registro grave de sua voz com o passar dos tempos.
Daí para a frente, o álbum traz músicas como a funérea e romântica I want to wake up with you, o blues de piano fantasmagórico Down by the frozen river, o r&b lúgubre de Risin’ above the need e o folk de outros mundos de Where do we go when we die?. Sem contar as lembranças sombrias da estadia num hospital em Linoleum smooth to the stockinged feet. E assim Ensoulment é a volta do The The num clima de fantasia, mais narrativo e sofisticado.
Nota: 8,5
Gravadora: Cineola
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