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Cultura Pop

O bafo horrível de Marc Bolan

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O bafo horrível de Marc Bolan

O bafo horrível de Marc BolanQuando partiu desta para melhor (quem garante?) num acidente de automóvel em 16 de setembro de 1977, Marc Bolan, líder do T. Rex, deixou várias encarnações e mutações musicais para trás. Era algo comum nos anos 1970, época em que se tentava muito até acertar e um artista tinha direito a segundo, terceiro e quarto atos (David Bowie, amigo e compadre de Bolan, que o diga). Até conhecer as paradas de sucesso com o T. Rex, Bolan gravara compactos solo, tivera uma carreira frustrada como guitarrista solo de uma banda mais-ou-menos da psicodelia (o John’s Children, que em 1970, já sem Bolan, escandalizaria geral gravando um disco chamado “Orgasm”), montaria o Tyranossaurus Rex com a figuraça lisérgica Steve Peregrine Took… e teria um projeto mais focado e bem acabado de carreira solo, sob os cuidados do empresário e produtor dos Yardbirds, Simon Napier-Bell, no finalzinho de 1966.

Simon já tinha 27 anos e estava de saco cheio dos Yardbirds. Em especial do cantor Keith Relf – segundo a biografia “Cosmic dancer – The life and music of Marc Bolan”, de Paul Roland, Relf ligava o dia inteiro para o empresário para reclamar da turnê australiana do grupo e, certa ocasião, disse que não subiria no palco sem que lhe dessem um par de meias novas (!). Quando Bolan apareceu em seu escritório, dando-lhe a impressão de ser quase que um “novo Elvis Presley” (palavras do próprio Simon), foi um alívio para o empresário. Ainda que o cantor tivesse pedido para levar um tape com suas canções e ao chegar lá, com um violão debaixo do braço, admitisse que não tinha fita nenhuma mas poderia cantar as músicas ao vivo para o empresário se ele tivesse tempo. “Marc tinha material suficiente para quatro discos, mas não queria gravar. Ele estava numa ego trip bizarra naquela época, achava que era só espalhar uns pôsteres dele por aí, que as pessoas veriam as fotos dele e as coisas aconteceriam”, revelou Simon ao livro de Paul Roland.

Foi nessa que o material acima foi gravado – e no vídeo acima, ele aparece com várias faixas bônus. Bolan, que topou gravar o tal disco, encasquetou que faria as gravações, mas só com voz e violão. Saíram 14 músicas, gravadas em oito horas, sem overdubs e sem esconder a técnica precária de Bolan no vocal e no violão. Ao terminar tudo, segundo Simon, Bolan estava tão confiante que disse “é isso aí, tenho um disco e ele vai acontecer”, muito embora qualquer pessoa soubesse que um álbum vacilante daqueles, gravado numa época em que os estúdios se modernizavam rapidamente, jamais chegaria às lojas. Ele só sairia em 1972, num disco acrescido de faixas bônus chamado “Hard on love” – relançado em 1974 como “The beginning of doves”. Em 1981, com Bolan já morto, Simon Napier-Bell acrescentou uma base de guitarra, baixo e bateria em doze das músicas e reeditou o LP como “You scare me to death”. Olha aí cinco músicas do disco.

Na real, teve um material dessa leva que chegou às lojas em 1966, sim. Bolan encheu tanto o saco de Simon que o empresário, para satisfazer a vontade de seu novo cliente, resolveu soltar um single com “Hippy Gumbo”, canção polêmica, que narrava um crush gay numa época em que homossexualidade era crime na Inglaterra. A EMI prometeu lançar o disco caso Simon, ainda envolvido com os Yardbirds, desse um jeito na banda, que, gravando um disco pela mesma empresa, passava a maior parte do tempo de estúdio brigando.

https://www.youtube.com/watch?v=4-Dq4fRcZJc
O single de Bolan saiu e o cantor foi escalado para uma apresentação no prestigioso “Ready steady go”, três dias antes de acabar o ano de 1966. Só que deu o azar de aparecer na telinha no mesmo dia em que o programa levava ao ar a primeira aparição televisiva de Jimi Hendrix na TV britânica. Ninguém prestou atenção em Bolan.

https://www.youtube.com/watch?v=kUDvWJvqlF8

E isso aí em cima é a outra tentativa de Bolan de lançar um single naquela época.”Jasper C. Debussy” trazia nomões como Nicky Hopkins no piano e John Paul Jones (futuro Led Zeppelin) no baixo, mas foi engavetado pela EMI e só saiu em “The beginning…” e “Hard on love”.

Uma música na qual Bolan parecia acreditar bastante era um número meio cômico chamado “Horrible breath” – diz a lenda que Simon descobriu que uma fábrica de pastilhas precisava de um jingle e Bolan, que já tinha a música pronta, saiu-se com essa, cujo refrão fala em “você me assusta até a morte com seu bafo horrível”. Não aconteceu nada com a música na época.

https://www.youtube.com/watch?v=VyYYWRxRrOs

Em 1977 um grupo punk chamado Radio Stars, formado justamente pelo ex-cantor do John’s Children, Andy Ellison, e por Martin Gordon, um ex-Sparks, fez uma versão da música. O disquinho saiu em outubro de 1977, quando Bolan já jazia há um mês.

https://www.youtube.com/watch?v=3pgcxsMBzEE

E essa é a versão de Bolan, gravada em 1966, mas acrescida de outros músicos em 1981. Simon Napier-Bell trocou o nome da música para “You scare me to death” e transformou-a em faixa-título do primeiro LP póstumo do cantor.

R.I.P. Marc Bolan. Sentimos sua falta.

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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