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Cultura Pop

Quando Madonna gravou uma oração num single

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Em junho de 1989, um artigo enorme na Spin escrito por John Leland opinava que o clipe de Like a prayer, de Madonna, não era aquele escândalo todo que uma turma enorme estava falando.

No clipe, você talvez lembre, um rapaz negro era preso injustamente pelo assassinato de uma jovem. O crime havia sido cometido, na verdade, por vários rapazes brancos. Madonna testemunha a morte da garota. Depois, vai se esconder numa igreja. Lá, beija um santo negro, interpretado pelo ator Leon Robinson. O santo, aliás, aparece inicialmente atrás de grades – é solto pela própria Madonna. A popstar também dança entre cruzes queimando. E aparece com ferimentos nas mãos como se tivesse sido crucificada.

Era uma história (comandada pela diretora do clássico de terror Cemitério maldito, Mary Lambert) cheia de simbolismos e de significados. Era também um protesto óbvio contra o racismo. E o plot era bem difícil de ser contado em poucos minutos. Aliás, na concepção inicial de Madonna, o clipe tocaria em feridas bem mais críticas, já que a ideia original dela era mostrar o assassinato de um canal interracial pela Ku Klux Klan.

No texto da Spin, Leland reclamava que quem via problemas naquele clipe estava seguindo uma Bíblia que não era a sua própria. E essa pessoa apenas repetia a frase “alguém vai ficar ofendido!”, sem perceber que, basicamente, se tratava de um clipe bom. Também dizia que parte do que mais tornava Madonna algo revolucionário era o fato de que ela criava caos e trabalhava no limite da irresponsabilidade.

BLASFÊMIA?

Seja como for, a provocação não ficava apenas no single (lançado em 3 de março de 1989) e no clipe (que fez até o Vaticano condená-lo). Ou melhor, ficava também no lado B do compacto de Like a prayer, já que lá, Madonna decidiu lançar uma versão bem particular e experimental do Ato de contrição. Sim, aquela oração do “ó meu Deus, com todo o meu coração eu me arrependo de todos os meus pecados” (ou do “meu Jesus que morreste na cruz, para nos salvar”, na versão redux). O Ato costuma ser orado, com modificações, nas igrejas católica, anglicana e luterana.

O New book of rock lists, escrito por Dave Marsh e James Bernard, considera o Act of contrition gravado por Madonna a gravação mais blasfema já feita no mundo. Também reparou que a música permanece uma obscuridade na carreira dela. E de fato, o Ato de contrição não é uma oração tão popular como o Pai Nosso, por exemplo. O livro Madonna: an intimate biography, de J. Randy Taraborrelli, diz que possivelmente Madonna andou se inspirando pelas viagens controversas de um colaborador do álbum Like a prayer. Ninguém menos que Prince, que tocou e produziu em Love song, uma das faixas do álbum.

RESERVA?

A gravação de Madonna (creditada a ela e a seu produtor Pat Leonard) abre com Madonna sussurrando a oração, até que entra um solo de guitarra e… aparece justamente a música Like a prayer ao contrário. No final, um diálogo que já fez muitos fãs dela ficarem sem dormir tentando entender o que era aquilo: Madonna avisa que “tem uma reserva” (como se fosse na porta de um restaurante) e grita “o que você quer dizer com ‘não está no computador?'”.

Nesse fórum, um fã fez uma leitura bem criativa da faixa. “Act of contrition traz Madonna rezando para ir para o céu. Mas ela está sendo rejeitada porque sua reserva não está no computador. Ela ainda não aprendeu todas as lições de vida e tem mais vida para viver, então o álbum volta para a faixa um com Like a prayer“, conta.

Pega aí Act of contrition.

Veja também no POP FANTASMA.

– Quinze passos entre Madonna e o pós-punk
– Fotos raras de Madonna no Danceteria, em 1983
The Egg: o curta do qual Madonna participou em 1974

 

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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