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POP FANTASMA apresenta Marcelo Callado, “Saída”

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POP FANTASMA apresenta Marcelo Callado, "Saída"

Saída, quarto disco de Marcelo Callado, é mais um álbum filho da quarentena. O material foi quase todo composto na pandemia, com exceção de duas faixas, nas quais Marcelo foi o letrista: Conte comigo (feita com Bem Gil) e Curtavida (esta, parceria com Bruno Di Lullo). O título surgiu porque, para Marcelo, trabalhar nas novas canções foi uma saída para ficar de pé, com saúde e com vontade de produzir. “E também porque tava com uma vontade louca de sair por aí”, brinca o músico, que fez/faz parte de projetos como o Do Amor e a Banda Cê, de Caetano Veloso.

O isolamento também inspirou Marcelo a compor mais em parceria. E assim Saída virou seu disco com mais trocas pessoais de composição.

“Eu de fato fiquei extremamente isolado nos primeiros cinco meses da quarentena, somente tendo a companhia da minha filha de oito anos, e isso fez com que a minha necessidade de comunicação com amigos fosse uma coisa constante”, recorda Marcelo. “Era vital estar trocando ideias com alguém. Muitas amizades reapareceram, muitas novas foram feitas. E muitas conversas foram tidas. E penso que como muitos dos meus amigos são músicos, acabou que naturalmente íamos nos ajudando nesse troca a troca, e as parcerias foram surgindo”.

CHEIRO DE CASA

Uma referência forte que Marcelo teve em Saída foi Gambito Budapeste (2012), um disco que gravou em dupla com a ex-mulher Nina Becker, que escreveu o release do novo álbum. Justamente por estar gravando o novo álbum em casa (por sinal, no mesmo apartamento onde ele morou com Nina), Callado tomou como base uma observação do co-produtor de Gambito, o saudoso Carlos Eduardo Miranda: “Este disco tem que ter o cheiro da casa de vocês”. “Acho que no Saída quis chegar nisso também, em algo que tivesse o cheiro de um disco feito em casa durante o isolamento da pandemia”, conta.

Ainda assim, rolou um equilíbrio: ao contrário dos discos anteriores, Marcelo Callado produziu tudo sozinho. O disco foi gravado em casa mesmo, com vários colaboradores mandando suas partes pela internet. Silvia Machete gravou os vocais de Simbora, Paulo Emmery tocou guitarra e baixo (e fez vozes) em Verso vivo. Já Ana Frango Elétrico tocou baixo em Conte comigo.

“Pela primeira vez, todas as decisões necessárias para que as músicas tomassem vida do ponto de vista de produção, vieram de mim. Claro que amigos músicos participaram brilhantemente, com suas ideias espetaculares. Mas teve essa coisa de um olhar intenso pra mim mesmo e pro meu próprio trabalho, de onde partir e pra onde ir. Uma coisa que nos outros discos já dava pra sacar, mas nesse o negócio se intensificou de fato”, conta.

PARCERIA PELO INSTAGRAM

Outra parceria do disco novo surgiu de uma visita de Marcelo ao Instagram de um amigo, Daniel Gnatalli. O compositor viu lá um texto que Daniel publicou no dia das mães e resolveu compor algo em cima. Saiu Toque de mãe, uma das faixas de Saída.

“Eu já fui lendo com um ritmo melódico, meio que como se fosse um rap, parei tirei a harmonia, e depois acabei chegando num arranjo mais rock, mesmo”, conta, dizendo que não foi a primeira vez que enxergou uma letra de música em algum texto. “Isso já tinha me acontecido antes com o poema do Drummond e com um do Rilke. E semana passada aconteceu de novo, dessa vez com um poema do amigo Domingos Guimarãens. Acho que tô pegando o jeito!”, conta.

CASA DE AVÓ

Das lembranças maternas, o disco chega a mais recordações familiares, numa música com nome de endereço em Botafogo, Zona Sul do Rio: Assis Bueno, 37. Era o endereço da casa da avó de Marcelo Callado, onde as aventuras musicais dele começaram. Seguindo o ritmo da gentrificação do Rio, a casa não existe mais e existe um condomínio no lugar.

“Só que o condomínio acabou ficando com o número da casa do lado, que foi vendida também. Portanto o número 37 é eterno, não será de mais ninguém”, conta, rindo. Bate uma tristeza toda vez que ele passa na porta, ele confessa. “Tristeza de não existir aquilo mais. De não poder nem sequer pedir pra dar uma olhada, mostrar pra minha filha o lugar onde minha família se criou, e onde morei e comecei a tocar um instrumento e ensaiar com as primeiras bandas. Foi ótimo ter conseguido escrever e cantar sobre, principalmente nesse momento de reclusão, onde sentia uma saudade louca dos meus familiares reunidos, e amigos também. Foi uma bela homenagem à minha avó, matriarca porreta, e a todos que passaram por ali. Acho que ficou boa, pois todos meus parentes, que são bastante críticos, se emocionaram, e aprovaram. E eu também!”.

DIÁLOGO?

Os tempos atuais, não só os da covid-19, mas o do governo Bolsonaro, são evocados (pelo menos aos ouvidos do POP FANTASMA) em vários momentos de Saída. A faixa de abertura, Tudo é natureza, surgiu da leitura que Marcelo Callado fez do livro Ideias para adiar o fim do mundo, do líder indígena e ambientalista Ailton Krenak. Traz o verso “escuta o outro” repetido algumas vezes na letra, justamente num momento em que a falta de diálogo é institucionalizada pelo próprio governo federal. Como tem sido viver num país assim, Marcelo?

Difícil, né? O governo age na base da truculência, não quer fala, não quer troca, não tem respeito e nem cuidado com quem precisa. E isso representa uma parte da população, o que é de dar medo. A outra parte que não concorda com essa maneira tosca de pensar e agir, vai lutando com o que pode. Uma das maneiras é essa, escrevendo e compondo e cantando”, conta, elegendo O horror como a faixa que mais reflete seus sentimentos durante a pandemia.

“Acho que consegue transmitir bem a tristeza que se passava dentro de mim, pelo que acontecia em minha vida pessoal. Mas correlacionando isso de uma forma bacana e séria, com o que acontecia, e ainda acontece no mundo lá fora”, conta.

Mais POP FANTASMA APRESENTA aqui.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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