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Cultura Pop

Low, de David Bowie, faz 45 anos hoje!

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Tudo ainda estava meio estranho na vida de David Bowie lá pelo final de 1976. O artista cujas mudanças pessoais definem os anos 1970 mal se lembrava da gravação do disco Station to station, lançado naquele ano, dizendo anos depois que soube que o disco havia sido gravado em Los Angeles porque “havia lido”. Suas contribuições para a  a trilha do filme O homem que caiu na Terra, no qual atuara como protagonista, foram mais negligenciadas pelo diretor Nicholas Roeg do que ele poderia imaginar.

Teve mais: para largar em definitivo o vício em cocaína, o cantor afastara-se dos Estados Unidos, combinara projetos em dupla com a pior companhia para se ter naquele momento (o doidão e autossabotador contumaz Iggy Pop) e migrara primeiro para a França (onde produziu e co-escreveu o debute de Pop, The idiot). E depois para Berlim Ocidental, que virou seu lar por alguns anos. Lá, Bowie e Iggy (que foi com ele) viveram uma vida bem mais pacata do que nos Estados Unidos. Bom, mais que isso: Bowie vivera intensamente o estilo de vida selvagem nos EUA e os bastidores de suas turnês pareciam um hospício ou um jardim zoológico. Em Berlim, lidavam com o dia a dia de um país diferente, e viviam uma sensação inédita de escapismo.

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Low, disco definitivo para a demarcação de Bowie como um dos artistas mais inovadores dos anos 1970, saiu em 14 de janeiro de 1977 em clima de total “ué, eu fiz isso?”. O cantor começou a trabalhar nas sobras das músicas de O homem que caiu na Terra e mal sabia que aquilo viraria um disco – Tony Visconti, co-produtor, foi quem lhe deu o alerta de que aquilo já era um álbum. A elaboração do disco foi devidamente embolada com a de The idiot, feito quase ao mesmo tempo.

Apesar de Low ser considerado o início da “trilogia de Berlim”, boa parte da gravação foi feita na França, no mesmo Château d’Hérouville do qual saíram discos de Elton John (Goodbye yellow brick road), Pink Floyd (Obscured by clouds), T. Rex (The slider) e até da brasileira Tuca (Dracula I love you). Só depois Bowie se mudaria para a Alemanha e concluiria o álbum no Hansa, em Berlim. A RCA, gravadora de David, ficou insegura com Low, finalizado em outubro de 1976, e segurou o LP até o ano seguinte. No fim das contas, Low teve melhor sorte que The idiot, só lançado em março de 1977. Aliás, para a felicidade de Bowie, que adorava trabalhar com Iggy mas temia que todo mundo achasse que seu inovador disco novo havia sido influenciado pelo do amigo.

O livro O homem que vendeu o mundo: David Bowie e os anos 70, de Peter Doggett, fala o que você precisa saber de verdade a respeito de Low: o disco era revolucionário, sim. E muito. Mas vale lembrar que na época, nos EUA e  Inglaterra, só malucos pelo krautrock tinham cópias importadas dos álbuns do grupo alemão Neu. E Low seguia basicamente os mesmos princípios de obras-primas como Neu! 75.

Apesar de não ter produzido o disco (epa, volta e meia ele é citado como faz-tudo do álbum), Brian Eno deixou sua marca nos teclados, vocais, tratamentos de guitarras e em tudo o mais que pudesse deixar Low como um item bastante diferente na obra de Bowie. Eno havia alertado os fãs que o álbum seria “o Bowie de sempre, mas com um novo conceito”. Visconti não deixou por menos e “criou” o som de bateria hipnótico do disco usando uma engenhoca chamada Harmonizer. Mary Hopkins, ex-estrela da Apple, ex-protegida de Paul McCartney, e mulher de Visconti por aqueles tempos, deu seu alô nos vocais de músicas como Sound and vision (se você se perguntava de quem eram os vocais mais agudos da música, eram da mesma cantora de hits pegajosos como Those were the days).

Low era também o disco que adiantava o pós-punk no ano do levante punk, mas a partir da mesma base doo wop que marcou várias canções de Bowie – o hit Be my wife é isso aí. A tragicômica Always crashing in the same car lembrava de quando Bowie, assoviando e chupando cana por causa da cocaína, entrou na pira de que havia sido roubado por um traficante, e bateu no carro dele.

Apesar de Low não economizar em ambientações instrumentais, o lado B é que era marcado pela quase total falta de letras. Músicas como Warszawa (que inspirou o Warsaw, banda que depois viraria Joy Division), Art decade e Weeping wall só surgiram porque Bowie quis fazer “uma observação, em termos musicais, de como eu via o Bloco Oriental”, e lembrou que Brian Eno era o cara mais indicado para ajudá-lo a criar texturas sonoras, e a fazer músicas que não fossem “canções” com começo, meio e fim. E Bowie fez tanta questão de que o disco fosse uma maravilha de cenário futurista, que abriu Low com um belo e urgente instrumental, Speed of life. Outra paisagem sonora, A new carrer in a new town, servia como declaração de princípios.

E 45 anos depois de lançado (e o aniversário é hoje!), Low ainda é um disco revolucionário. Se você nunca ouviu, ouça hoje em altíssimo volume.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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