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Crítica

Ouvimos: King Princess – “Girl violence”

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Entre o blues, o trip hop e o pós-punk, King Princess faz de Girl violence uma catarse sexy e melancólica sobre amor, abuso e autodescoberta.

RESENHA: Entre o blues, o trip hop e o pós-punk, King Princess faz de Girl violence uma catarse sexy e melancólica sobre amor, abuso e autodescoberta.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: section1
Lançamento: 12 de setembro de 2025

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Nem demorou muito e Mikaela Straus, a mulher por trás do King Princess, já lançou um complemento a Girl violence, seu disco novo. O single Cherry, lançado em 17 de outubro de 2025 num EP que inclui outras faixas de Girl violence, soa como um comentário a respeito do disco: Mikaela é tentada por um amor tóxico (a personagem Cherry) mas decide optar pelo amor-próprio. O som segue a mesma viagem blues + triphop + pós-punk do som dela, em clima bastante explosivo.

Passado mais de um mês de seu lançamento, Girl violence se torna cada vez mais (sem trocadilho, mas se quiser pode) violento. Na verdade violento, sexy e melancólico, falando sobre um assunto que suscita discussões intermináveis: mulheres também pode ser violentas umas com as outras, relacionamentos lésbicos podem ser carregados de abusos, o patriarcado também influencia várias mulheres que se tornam tóxicas e abusivas, etc etc etc.

Girl violence, por sinal, é um disco marcado por mudanças e perdas. Mikaela não tem mais Mark Ronson como produtor, e após passar alguns anos num selo da Sony Music dirigido por ele, está no elenco do selo indie section1. O namoro com a cineasta Quinn Wilson também dançou: o ex-casal virou mania nas revistas e nos tapetes vermelhos, posou como lutadoras da causa LGBTQIAP+ e o término, aparentemente, virou assunto de Girl violence do começo ao fim, ainda que intercalado com outras coisas.

Acompanhada de Jake Portrait e Aire Atlantica na produção, King Princess vai alternando climas mais pop ou mais densos, dependendo do tema. Musicalmente, Girl violence abre com o clima estiloso e sexy da faixa-título, de Jaime e de Origin – músicas com referência cruzada de trip hop e rock, além de uma acentuação psicodélica. Feel pretty é marcada pela arquitetura pós-punk, Cry cry cry é o primeiro momento decididamente “pop” do álbum – pop com alma rock, ou o oposto. Get your heart broken, RIP KP e Say what you will (com participação de Joe Talbot, dos Idles) jogam numa área pop, mágica, sexy e trevosa. O amor e o tesão desesperados de Girls (“garotas me deixam de joelhos”, repete o refrão) e a loucura lúcida de Covers têm certa cara de pop clássico, que investe no soft rock, nas baladas-blues e coisas do tipo.

Já a dolorida Alone again abre como folk rock triste, mas vai ganhando um aspecto sonoro chapado, em clima de viagem febril. A letra é uma das mais diretas do disco: Mikaela abre falando que “sou uma perdedora, e ela é uma aproveitadora / e uma usuária do que eu dei a ela” – no final, em meio a “remédios na mesa de cabeceira / dores no corpo”, ela jura que “eu tenho sonhos maiores do que ser seu bebê / honestamente estou tão aliviada porque acabou”.

Músicas como Girl violence, Jaime e Cry cry cry também vão fundo nas feridas pessoais, às vezes falando sobre um relacionamento abusivo que fez KP cair de quatro, às vezes sacudindo a poeira, como nos versos “bem, foda-se, eu pensei que éramos amigas / mas você continua fingindo”, em Cry cry cry, música na qual o papel de “inimiga” da situação pode estar em qualquer um dos dois lados. Na faixa-título, Mikaela cai e levanta tanto que fica difícil saber quando ela está prestes a cair ou a levantar de novo: “eu amo sua voz, mas odeio seu tom / ninguém menciona que garotas podem ser violentas / e eu acho que é amor verdadeiro / porque isso realmente me fode”.

No geral, Girl violence parece mais com o som de uma travessia pessoal em que Mikaela sofre, mas tenta pegar as pedras do caminho e jogar de volta da maneira que pode. Musicalmente, tem ótimas surpresas junto de um filler ou outro – que são poucos.

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Crítica

Ouvimos: Luvcat – “Vicious delicious”

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Luvcat estreia com Vicious delicious, disco de pop nostálgico e lânguido, entre Hollywood vintage, art-pop e sombras pós-punk, com poucos tropeços.

RESENHA: Luvcat estreia com Vicious delicious, disco de pop nostálgico e lânguido, entre Hollywood vintage, art-pop e sombras pós-punk, com poucos tropeços.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: AWAL
Lançamento: 31 de outubro de 2025

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Luvcat é a segunda encarnação – e o segundo ato de carreira – da britânica Sophie Morgan Howarth, nascida em Liverpool em 1996, e que tem três EPs de folk alternativo lançados como Sophie Morgan. Rola um subtexto pós-punk/britpop na história dela: ainda com seu nome anterior, ela abriu uma turnê dos Waterboys e foi ajudada pelo baixista do The Verve, Simon Jones. Luvcat, seu novo nome artístico, é uma referência ao sucesso do The Cure, The lovecats.

Vale citar que folk e pós-punk são estilos que até aparecem em Vicious delicious, estreia de Luvcat, mas são secundários ou terciários num manifesto pop que, basicamente, é tão nostálgico da velha Hollywood quanto os discos de Lana Del Rey, e tão “lânguido” quanto Lana e Billie Eilish – e cuja estética mexe com as mesmas estranhices pop de vários lançamentos de hoje.

  • Ouvimos: Angélica Duarte – Toska

É um álbum pop, feito com um alvo à frente, mas com princípios básicos que o tornam às vezes mais próximo do art-pop, como na sexy e latina Lipstick, no soft rock Alien (música sobre inadequação, drogas e introspecção, com versos como “sempre fui uma de nós / garotinha verde em seu próprio mundo”), a experimentação reggae-pós-punk-gore de Matador (“eu queria amor / mas você quis sangue”). E na onda sofisticada de Dinner @ Brasserie Zedel, com heranças da música francesa, e He’s my man, alt-folk com recordações de Jacques Brel, Scott Walker e David Bowie do começo.

Tem um lado sombrio no disco, como no folk mórbido de Laurie, música de amor tristonho com metais, violão e cordas. Ou na vertigem de The Kazimier Garden, e ono clima meio Siouxsie + David Bowie de Emma Dilemma. Faz parte da lista de sensações visitadas por Luvcat, no disco, embora haja também uma canção que poderia concorrer ao Eurovision (a faixa-título) e algo que faz lembrar o lado praiano e desértico do Roxy Music (Love & money).

Lá pelas tantas, dá para se perguntar até o que o dispensável hard rock country Blushing, que lembra Bon Jovi, está fazendo no disco, já que Vicious delicious, mesmo com uma certa confusão conceitual e musical, tem lados melhores para apresentar.

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Crítica

Ouvimos: Ira Glass – “Joy is no knocking nation” (EP)

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RESENHA: EP maníaco do Ira Glass, Joy is no knocking nation mistura pós-hardcore, math rock, fanfarra sombria e ataques free-jazz, criando uma avalanche ruidosa, tensa e coesa.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Fire Talk
Lançamento: 14 de novembro de 2025.

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Vindo de Chicago, o Ira Glass vive de causar estranhamento: é um quarteto escoladíssimo no pós-hardcore e no math rock, mas que às vezes, parece estar querendo repetir eternamente o final de 21 century schizoid man, do King Crimson, com aquele ataque free-jazz de guitarra, baixo, bateria e metais.

Joy is no knocking nation, segundo EP da banda, é basicamente um disco de rock experimental maníaco, soando como uma fanfarra sombria em faixas como It’s a whole “Who shot John” story – faixa, que curiosamente tem vocal em clima grunge e destruidor, chegando a lembrar Alice In Chains. Essa onda de fanfarra do mal chega no seu ápice em fd&c red 40, repleta de vocais guturais e gritos mais chegados do screamo, e no stoner tenso e quebradiço de New guy (Big softie). Nem precisa falar que nomes como James Chance, Wire e Swans pairam sobre todo o repertório do disco, e que o próprio Fugazi, com suas quebras rítmicas, também é citado aqui e ali.

Jill Roth, saxofonista da banda, é um dos responsáveis pela tal cara free-jazz que o Ira Glass tem – e que, felizmente, não surge forçada nem mesmo quando é inserida em momentos mais pesados do disco. Fritz all over you é o mais progressivo e suave que o grupo parece querer soar, mas sempre numa onda sombria. No fim, That’s it/That? That’s all you can say?, entre gritos e vocais demoníacos, soa como uma música tocada ao contrário, uma roda de ruídos presa numa corrente igualmente ruidosa. Uma porrada bem elaborada, mesmo quando parece que tudo saiu do controle.

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Ouvimos: Jerk – “As night falls”

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Jerk mistura soul, smooth jazz, city pop e MPB instrumental em um álbum curto e hipnótico, cheio de fusão psicodélica, clima noturno e achados sonoros.

RESENHA: Jerk mistura soul, smooth jazz, city pop e MPB instrumental em um álbum curto e hipnótico, cheio de fusão psicodélica, clima noturno e achados sonoros.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: DeepMatter Records
Lançamento: 14 de novembro de 2025

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Com um nome artístico bem autodepreciativo, Jerk (ou Joshua Kinney, seu nome verdadeiro) pode soar como um daqueles sujeitos que falam da alegria e da tristeza do perdedor – pelo menos quando a gente lê o nome dele por aí. Nada a ver: As night falls, seu novo álbum, é basicamente uma mescla de soul, smooth jazz, jazz fusion, drum’n bossa, city pop, sons psicodélicos e MPB instrumental transante na onda de Lincoln Olivetti e Robson Jorge. Nas oito curtas faixas do disco (que dura 20 minutos), ele toca de tudo: guitarra, baixo, flautas, saxofone, sintetizador, piano Rhodes – a bateria fica com a amiga e colaboradora Martina Wade.

As night falls é a primeira parte de um projeto dividido em dois discos (ele fala que são dois EPs, mas o disco figura como álbum nas plataformas). Aliás, ele também diz aqui que cada lançamento representa “dia” e “noite”, e que se lançasse as 16 faixas de uma só vez, o disco poderia nem ser tão ouvido, já que é “difícil captar a atenção das pessoas hoje em dia”.

  • Ouvimos: Nyron Higor – Nyron Higor
  • Ouvimos: Yves Jarvis – All cylinders

Seja como for, As night falls captura a atenção imediatamente, especialmente de caçadores de raridades nos sebos. A faixa-título abre com violão e flauta, chegando a lembrar Dori Caymmi – até que ganha programação eletrõnica e som comandado pelo piano elétrico e pelos beats enérgicos. Dance beneath the dripping moon e o soul latino Stealthy, she moves! soam como sobras jazzísticas de Robson e Lincoln. Incoming, A divine wrath e Set adrift são jazz fusion psicodélico e vaporoso.

Wading, com percussão relaxante e clima quase espacial, tem tom musical de mergulho – segundo o próprio Jerk, que quase pôs na faixa o nome de “underwater” (subaquático), e decidiu dar à faixa uma cara diferente e experimental, usando pedais de guitarra em todos os instrumentos. Emergence and reckoning tem beat brasileiro, som derretido (com guitarra parecendo que vem de uma fita antiga) e metais. Uma viagem sonora daquelas.

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