Connect with us

Destaque

A fase casa-da-sogra do Fleetwood Mac (1969-1974) em nove músicas

Published

on

A fase casa-da-sogra do Fleetwood Mac (1969-1974) em nove músicas

Despediu-se na semana passada um dos nomes mais misteriosos da história do rock. Danny Kirwan, que foi guitarrista e um dos principais compositores do Fleetwood Mac entre 1968 e 1972, morreu dia 8 de junho aos 68 anos, de causas ainda não anunciadas.

A fase casa-da-sogra do Fleetwood Mac (1969-1974) em nove músicasO músico londrino estava desaparecido da música desde o fim dos anos 1970, quando desistiu de uma carreira solo que durou poucos discos. E não era mais encontrado por seus ex-colegas de banda desde então. Tinha chegado a viver nas ruas de Londres nos anos 1990. Em 1998, quando o Fleetwood Mac entrou para o Rock And Roll Hall Of Fame, ele também foi entronizado. Nem sequer se deu ao trabalho de ir à cerimônia.

A história de Danny, dentro e fora do grupo, foi barra pesada. O baterista e fundador Mick Fleetwood lembra em sua autobiografia Then play on que o uso de drogas e álcool (esse, em particular) foi detonando a saúde mental do músico. A ponto de ele começar a ficar violento e perigoso. Certa vez, imediatamente antes de um show, após reclamar do som da guitarra do colega Bob Welch, simplesmente bateu com a cabeça contra a parede, ficando todo ensanguentado. Depois quebrou sua guitarra e se recusou a subir no palco com a banda.

Após a apresentação (que correu sem ele, com Welch, guitarrista-base, tentando cobrir suas partes), os colegas, crentes de que Kirwan já estava no hotel, tiveram uma surpresa. O guitarrista estava no camarim, com a maior cara de santo, como se nada tivesse acontecido. Disse que tinha assistido ao show e aproveitou para fazer uma resenha do show para Mick Fleetwood. Disse que não tinha sido “nada mal” e que “havia espaço para improvisações, mas você, Mick, poderia ter tocado muito melhor”. Mick, chocado e irado com a cara de pau do amigo, teve que demiti-lo.

Quem conhece um pouco da história do Fleetwood Mac – uma banda que, até estabelecer-se no quinteto que gravou o disco Rumours, de 1977, teve mudanças consideráveis de formação – sabe que os dez primeiros anos da banda foram bastante movimentados. Contratado pela Warner após dois álbuns de blues, o Fleetwood precisava gravar discos que vendessem, fazer turnês extensas e resolver um dilema bizarro entre manter a integridade blues-hippie e ganhar (muita) grana. O rock começava a se tornar um entretenimento bem mais rentável.

As ambições do grupo levaram às saídas dos guitarristas-fundadores Jeremy Spencer e Peter Green, ambos envolvidos com uma mescla de misticismo e LSD. Kirwan e a tecladista-cantora-compositora Christine Perfect (que se casou com o baixista John McVie e virou Christine McVie) entraram logo numa das primeiras metamorfoses do Mac. Pouco antes de sair, Green chegou a anunciar para Mick Fleetwood que “estava na música porque gostava, não pelos negócios” e “que poderia largar tudo se quisesse”. Já Spencer ainda ficaria até 1970, quando se juntaria à comunidade religiosa Meninos de Deus. Numa das missões da seita, em 1975, chegou a morar no Brasil.

Os sete discos dessa fase, que vai do estranho Then play on (1969) a Heroes are hard to find (1974), são todos memoráveis e têm várias surpresas. Em poucos deles, o Fleetwood Mac manteve a mesma formação, agregando gigueiros conhecidos do cenário britânico como Bob Welch e Bob Weston (ambos guitarristas). Eu costumo chamar esse período de fase “casa-da-sogra” do Fleetwood Mac, com gente entrando e saindo. Ou ameaçando sair após algum piti de bastidores, já que rolava muito trabalho extra para dar conta de músicos com egos enormes e apetites variados por drogas.

Para quem só conhece a fase pós-1975, já com Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, separei dez faixas do período imediatamente anterior do Fleetwood. Confira aí e ouça em alto volume.

“RATTLESNAKE SHAKE” (Then play on, 1969) – O Fleetwood Mac seguia tão à risca o conceito do “vamo tocando e a gente vê no que dá” em seus primeiros anos que, apesar de Mick Fleetwood dar nome ao grupo, era Peter Green que comandava a banda. Esse blues-rock pesadíssimo com letra sobre masturbação foi uma de suas despedidas, no último disco que gravou com o grupo.

“OH WELL” (Then play on, 1969). Lançada em single (em duas partes, já que a música tem quase nove minutos), foi incluída só na segunda edição americana de Then play on. A primeira parte era um blues rock pesado, eternamente presente nos shows de todas as formações do grupo. A segunda parte trazia muito da cara folk rock que várias canções da banda teriam nos próximos discos. Também é de Peter Green.

“JEWEL EYED JUDY” (Klin House, 1970). Sem Peter Green, com Kirwan ajudando nas guitarras e composições, o Fleetwood se tornava bem mais melodioso. Kirwan, Fleetwood e McVie, três nomões (e três grandes egos) do grupo, compuseram essa música, que poderia estar tranquilamente no lado A de Abbey Road, dos Beatles. Nessa época, o grupo iniciou um longo período em que viveu em comunidade.

“WOMAN OF 1000 YEARS” (Future games, 1971). Primeira grande composição de Kirwan para o grupo. Naquela época, a banda perdia Jeremy Spencer e passava a contar também com Bob Welch (guitarra base). Christine McVie, eterna “tecladista convidada” e mulher de John McVie, também virava oficialmente uma integrante. O lado blues sumia e o Fleetwood Mac ganhava uma cara hippie-chique, da qual não se livraria nem em seus momentos mais pop.

“SHOW ME A SMILE” (Future games, 1971). Devidamente oficializada na banda, Christine McVie começa a compor e cantar no Fleetwood Mac. Fechou o quinto disco do grupo assinando uma das mais belas baladas folk do rock setentista, de tom quase infantil. E uma das músicas mais emocionantes da segunda fase do FM.

“CHILD OF MINE” (Bare trees, 1972). Apos fases de trancos e barrancos – a turnê de Klin house quase tinha sido cancelada por causa da saída de Jeremy – o grupo parecia se estabilizar e lançava um de seus melhores discos. Kirwan predominava na lista de compositores, e abria o álbum com um aceno autoral ao glam rock e a bandas como Steppewolf.

“BRIGHT FIRE” (Penguin, 1973). A saída de Danny Kirwan provocou um colapso tão grande no Fleetwood Mac, que o grupo voltava como sexteto, com Bob Weston na guitarra base e Dave Walker (ex-Savoy Brown) nos vocais. Integrantes do grupo começavam a ter problemas familiares por causa do estresse e da vida comunitária. Bob Welch aproveitou para contribuir com uma das belas e esperançosas canções dessa fase.

“SOMEBODY” (Mystery to me, 1973). No oitavo lançamento, Welch e Christine predominavam na lista de autores. Quem conhece só o Fleetwood Mac de Rumours não vai estranhar muito esse disco, que mostra a banda migrando para um rock cada vez mais radiofônico. No meio da turnê desse álbum, Mick Fleetwood foi informado por sua mulher Jenny de que ela estava tendo um caso com ninguém menos que Bob Weston. Mais uma crise.

“HEROES ARE HARD TO FIND” (Heroes are hard to find, 1974). Fim da segunda fase do Fleetwood Mac. No fim da turnê desse disco, Bob Welch se mandava da banda e iniciava uma frutífera carreira solo, e o casal Stevie Nicks e Lindsey Buckingham entrava. Em Heroes, Christine e Welch continuavam a tomar conta das composições, e a tecladista contribuía com a boa faixa-título, já seguindo a receita rock-de-rádio que tomaria conta dos próximos discos do grupo.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

Published

on

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

Continue Reading

Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

Published

on

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

Continue Reading

Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Published

on

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.
Continue Reading
Advertisement

Trending