Cultura Pop
Dez músicas (e vários nomes) para conhecer Glen Campbell

Cantor, compositor, apresentador de TV e nomão do country, Glen Campbell morreu nesta terça (8), aos 81, seis anos após ter sido diagnosticado com Alzheimer. Os números dele assustam: em apenas 50 anos (!) de carreira, foram só 45 milhões de discos vendidos, além de 70 discos lançados. A presença na história da música pop também: de Isaac Hayes a Roberto Carlos (!), passando por Guided By Voices, o número de artistas linkados à obra dele é bem grande. Segue uma lista de dez músicas – e em cada uma delas, vários nomes – para começar a conhecer a obra de Campbell.
“GENTLE ON MY MIND” (Gentle on my mind, 1967). Essa música – atenção – não é de autoria de Campbell. Foi escrita por outro nomão do country, John Hartford, morto em 2001. Vale a menção por ter dado o nome ao sexto disco de Campbell, composto basicamente por covers e que trazia composições de Donovan (Catch the wind), Harry Nilsson (Without her), Joe Melson e Roy Orbison (Cryin’) e outros. Gentle on my mind foi parar nas vozes de Elvis Presley, Aretha Frankin, Tom Jones, Dean Martin. No Brasil, ligeiramente modificada e acrescida de um refrão, virou Caminhoneiro, de Roberto Carlos, inicialmente sem crédito para o autor original.
Robertão, na época em que se arriscava na banguela.
“GUESS I’M DUMB” (single, 1965). Composta por Brian Wilson e Russ Titelman, virou um hit de Campbell em 1965, época em que o countryman passou a dividir seu tempo em três, às vezes quatro: mantinha carreira solo, trabalhava como ator (em séries como Shindig!, da ABC) e ainda era guitarrista de apoio dos Beach Boys, numa época em que Brian Wilson tinha resolvido não excursionar mais com o grupo (ele chegou a tocar em partes de Smile, disco engavetado de 1966).
“WICHITA LINEMAN” (Wichita lineman, 1968). Escrita por Jimmy Webb, foi imortalizada por Campbell a ponto de muita gente (era meu caso até cinco minutos atrás) achar que a música foi feita por ele. Na versão do LP, Campbell usou os serviços de vários integrantes da Wrecking Crew – turma de músicos de alto calibre que passava o dia nos estúdios gravando com todo mundo, de Phil Spector e Frank Sinatra a Beach Boys e Jan & Dean. Campbell também foi dessa galera, gravando altas guitarras em lançamentos variados. Já Wichita, a canção, foi parar nas vozes de uma turma que inclui Ray Charles, The Troggs, R.E.M., James Taylor, Johnny Cash e outros.
Abaixo, Campbell toca a canção acompanhado por três quatros dos Stone Temple Pilots (todo mundo, menos o vocalista Scott Weiland, que estava vivíssimo na época – esse vídeo é de 2001)
https://www.youtube.com/watch?v=skuEiYfnSFg
A versão de Ray Charles, lindíssima, e sucesso inclusive no Brasil.
“BY THE TIME I GET TO PHOENIX” (By the time I get to Phoenix, 1967). Outra que a maior galera gravou – Nick Cave e Isaac Hayes (este, numa versão de 18 minutos no clássico Hot buttered soul, de 1969). Também não é de Campbell, e também é de Jimmy Webb, que se inspirou no fim de um relacionamento para escrever a música.
“ELUSIVE BUTTERFLY” (Hey, little one, 1968). Acabou se tornando o maior hit do compositor americano Bob Lind – uma canção simples e belíssima, em que o narrador encarna um caçador de borboletas (na verdade um caçador de romances, só que o amor sempre escapa da sua rede). O próprio Lind gravou a música em 1965 e em seguida já saíram várias versões, incluindo as de Petula Clark, Cher, Hugh Masekela e Johnny Mathis.
“RHINESTONE COWBOY” (Rhinestone cowboy, 1975). Sem moleza para Campbell nos anos 1970: aos 39 anos, continuava contratado da Capitol e gravava às vezes três discos por ano. Rhinestone cowboy aproveitou-se até de uma novidade recém-lançada, os promos musicais (clipes, enfim, só que na época ninguém chamava desse jeito). Foi número 1 ao redor do mundo e rendeu fama e grana para Larry Weiss, compositor da música.
E o Soul Asylum gravou.
“GALVESTON” (Galveston, 1969). Outra de Jimmy Webb (na década passada, Glen e ele gravariam um disco em dupla). Por descrever os pensamentos de um soldado que vai para a batalha tendo sua namorada em mente (além de sua cidade natal, Galveston, no Texas), acabou sendo interpretada como um hino anti-guerra do Vietnã. Nos EUA, chegou em quarto lugar. E também ganhou promo.
“I HAVE YOU” (Still within the sound of my voice, 1987). Os anos 1980 foram cruéis com muitos veteranos. Não apenas por colocar muitas carreiras a patinar, como pelo fato de muitos produtores, no estúdios, terem deixado vazar verdadeiras piscinas de reverb. Campbell não estava nem aí para isso e voltava, após dois anos sem lançamentos, com um belo country de Gene e Paul Nelson. Duas novidades de Still within…, 43º (!) disco de Campbell eram as presenças de Willie Nelson nos backing vocals e de Jimmy Bowen, produtor da trilha do road movie Corrida contra o destino (1971), cuidando dos trabalhos.
“HOLD ON HOPE” (Ghost on canvas, 2011). Dos anos 2000 para cá, Glen Campbell ganhou um comeback à moda do que aconteceu com Johnny Cash, com direito a discos com repertório renovado – incluindo músicas de Lou Reed, Todd Rundgren, Dave Grohl, Tom Petty, Paul Westerberg e outros. No 63º disco de Campbell, o bardo country relia Hold on hope, do Guided By Voices. Era para ser o último disco, já que o cantor foi diagnosticado com Alzheimer.
“EVERYBODY’S TALKIN'” (Adiós, 2017). Entre 2013 e 2013, Campbell deixou gravado seu último disco, logo que terminou sua turnê de despedida. Adiós saiu em junho deste ano, com um repertório mais clássico, incluindo quatro músicas de Jimmy Webb, além de originais de Bob Dylan, Willie Nelson e outros. Everybody’s… é aquela mesma música da trilha do filme Perdidos na noite, composta por Fred Neil e sucesso com Harry Nilsson.
Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
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