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Cultura Pop

Quando Daryl Hall foi produzido por… Robert Fripp

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Prepare-se para o encontro do AOR e do soul com o rock progressivo: teve aquela vez em que Robert Fripp, então trabalhando como produtor e artista solo, enxergou em Daryl Hall – então curtindo a vida na mega bem sucedida dupla com John Oates – algo mais do que hits de rádio e canções para o público adulto curtir e namorar. Foi quando em 1977, o guitarrista do King Crimson produziu o primeiro LP solo de Hall, Sacred songs.

Sacred, na verdade, amargaria três longos anos na gaveta da RCA, só sendo lançado em 1980. A gravadora ficara radiante com o sucesso que os singles de Hall com o parceiro bigodudo Oates faziam nas paradas. Eram canções perfeitas como Rich girl, Sara smile, etc. O que se ouvia na rádio-corredor da RCA era que o disco solo de Hall deveria seguir o mesmo modelo de sucesso garantido.

Só que Hall resolveu unir-se com o experimental Fripp e o que poderia parecer super tranquilo virou algo BASTANTE elaborado e maluco. Olha aí Something in 4/4 time, lindíssimo AOR progressivo que abre o disco, com direito a frippetronics (técnica de loop de fita criada por Fripp).

Babs and babs lembrava, de início, um pouco mais o que Hall e Oates faziam. Só que… tinha mais de sete minutos e lá pra 3:20, entravam uns barulhos glaciais e umas maluquices que o produtor inventara 🙂

Em NYCNY, Hall fazia um som que lembrava uma mescla bizarra de hard rock à moda de Alice Cooper com a fase malucona do King Crimson. Sim, é estranho.

Why was it so easy, rearranjada, poderia estar em Before and after science (1977), de Brian Eno. Ou num dos álbuns do fim dos anos 1970 de David Bowie.

Hoje em dia, quando um artista “viável” escolhe um produtor mais sofisticado, parece até um caminho natural (e outro dia falamos da ocasião em que Todd Rundgren produziu Shaun Cassidy).

Já em 1977, era mais complexo. Hall ouviu poucas e boas por ter escolhido um maluco da estirpe de Fripp para o cargo. “Eu queria que o disco desse às pessoas uma percepção diferente do que eu era”, afirmou em 1985. “Robert e eu queríamos sair fora dos preconceitos que nutriam a respeito dos nossos trabalhos. As pessoas disseram isso a ele também: ‘Não acredito que você está trabalhando com Daryl Hall. Sua música não tem nada a ver com a dele'”.

“Robert e eu fizemos o melhor que pudemos, mas acho que fizemos uma música muito interessante”, disse Hall à Pitchfork. “Eu acho que juntar alguém que vem da minha formação a alguém que vem da formação musical dele é uma ideia muito interessante. Enfim tentar pegar dois sons com alma, de duas culturas diferentes e colocá-los juntos, e formar um terceiro tipo de música. E essa foi a ideia”. Por acaso, boa parte das letras de Sacred songs vêm da animação então recente de Hall com ocultismo e a filosofia de Aleister Crowley.

Apesar do estilo de Fripp dominar o disco, Hall compôs quase todo o álbum (só um tema escrito por Fripp, Urban landscape, aparecia no disco, e NYCNY era dos dois). Sacred songs é tido como o primeiro segmento de uma trilogia muito louca de álbuns produzidos por Fripp, e que inclui também o segundo disco solo de Peter Gabriel (epônimo, de 1978) e Exposure, estreia de Fripp como artista solo (1979). Neste, Hall aparece cantando em duas músicas, You burn me up I’m a cigarrette e North star – o cantor era para ter aparecido no disco todo, mas a RCA impediu.

A RCA, lógico, também não ficou nada feliz com Sacred songs e impediu seu lançamento, para que os fãs de Hall & Oates não ficassem assustados com aquela maluquice. Hall e Fripp enviaram cópias do disco para jornalistas e DJs e começou uma campanha para que o LP fosse lançado, o que só aconteceria mesmo em 1980 – após o cantor amargar três anos de aporrinhações e frustrações por causa da gaveta. Nesse período, Hall e Fripp consideraram seriamente a hipótese de montarem uma banda ao lado de Tony Levin (baixo, da turma de Fripp) e Jerry Marrota (bateria, da galera de Hall & Oates). O grupo se chamaria Discipline, mas após mudanças de formação, se tornaria a fase nova do King Crimson.

No fim, geral respirou aliviado: Sacred songs chegou ao 58º posto da Billboard, mesmo sem um hit single. Hall e Oates continuaram em dupla e tiveram um grande sucesso em 1981 com Private eyes. E olha Hall aí em 2013 tocando NYCNY com a banda Minus The Bear.

E isso aí é Private eyes. Já ouviu muito, não?

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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