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Coach de Fracassos: sempre é tempo de desistir

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Se você é o tipo de pessoa que não aguenta otimismo de almanaque, gente “positiva” e falsa, sujeitos que mandam você sair da “zona de conforto” e coisas do tipo, tem uma grande chance de você se identificar com o Coach de Fracassos, que mantém uma página no Facebook, mas tem em seu Instagram a maior fontes de memes criativos e anti-conselhos para quem quer vencer obstáculos e se dar bem na vida. Olha aí alguns deles.

Se você está achando graça, vamos lá: por trás da gozação, existe uma série de conselhos interessantes no Coach de Fracassos. Sim, tem momentos em que é interessante desistir e admitir que não vai dar certo. Sim, tem horas em que não adianta muito dar uma de herói e o “dar certo” pode ter múltiplos sentidos. Fomos bater um papo com o responsável pela conta (o engenheiro de computação Júlio, de sobrenome não revelado, morador de Fortaleza) e, sim: tem muito mais pra tirar dali. Confira.

POP FANTASMA: Primeiro, qual sua profissão e o que você faz da vida?
COACH DE FRACASSOS: Engenheiro de computação, professor e atualmente doutorando em engenharia.

Como surgiu a ideia de montar a conta e como você está vendo a repercussão dela? Veio de uma soma de situações. Ano passado eu emagreci 40 kg em cinco meses, de forma saudável (sem intervenção cirúrgica), com acompanhamento de endocrinologista, nutricionista e educador físico. Um certo dia, uma coach de emagrecimento me conhece e diz que eu emagreci errado. Eu perguntei o que ela fazia da vida, ela falou que era formada em administração. Porém, disse que era capacitada para passar dietas e vender produtos. Mandei se lascar e começou a saga do ranço. Em seguida, em uma conversa com uma amiga psicanalista, fiquei horrorizado com o fato dos coachs estarem oferecendo “tratamento” para doenças psicológicas como se fossem psicólogos.

E por fim, após uma semana de derrotas na elaboração da dissertação e outras atividades, uma amiga falou que eu faria consultoria em fracassos. Aí eu pensei que coach seria melhor, então nasceu o Coach de Fracassos.

Eu não imaginava que seria algo assim, com mais de 120 mil pessoas seguindo em pouco tempo. E estou mantendo o padrão das postagens. É legal saber que muita gente já conhece a conta. Recebo diariamente mensagens do Brasil todo com sugestões, fotos etc. Uma parte interessante é que não é só a frase, o post. A legenda é fundamental para completar o que eu espero passar, com humor absurdo, um tema relevante, complexo e com responsabilidade.

Como são feitos os posts? São ideias integralmente suas? Leitores colaboram? Sou um procrastinador nato, e os posts são feitos entre um atividade e outra de estudo/trabalho. Uso algumas frases-clichês e inverto a “motivação” gratuita e sem muito fundamento para uma “desmotivação”. Que vai chocar um desavisado. Ou vai surpreender os seguidores com mais sofrimento.

Várias frases que existem no teu Instagram parecem enormes zoações, mas no fundo até dão ideias legais para que as pessoas não confundam autoconfiança e autoestima com viagem na maionese, como “nunca deixe ninguém dizer que você não consegue; diga você mesmo: eu não consigo”, “não seja foda”. Alguém já pareceu levar o conteúdo do Coach de Fracassos a sério? Ou disse que um post seu serviu de aconselhamento? Sim. Não diria aconselhamento, mas sim o bom e velho “caiu na real”. A vida não é só rosas, tem espinhos. Muitos espinhos. Às vezes é apenas espinhos. Uma das vertentes da página é mostrar que o fracasso é normal. Todo mundo fracassa, todo mundo vai sofrer derrotas inesperadas e tragédias abruptas na vida. A felicidade é um estado passageiro, e para garantir um pouco de felicidade a pessoa vai sentir dor, sofrimento. Nada garante que você vai conseguir, mesmo com todo esforço e dedicação. Nada garante.

Então muitos seguidores agradecem por esse tapa gratuito de realidade e de diversão com resposta escrotas e tons de realidade e pessimismo. Tenho alguns seguidores que, por serem da área de humanas, me passam excelentes matérias de leitura. E eu indico a leitura na página.

“Pode não dar certo e você vai ter certeza quando tentar” tanto pode ser lido de maneira pessimista quanto otimista, na base do “tente, não fique parado” ou do “não tente, já deu errado”. Já parou pra pensar na dupla leitura que alguns post seus têm? Já sim. E na minha opinião o que eu escrevo e nada é a mesma coisa. Não que não tenha valor, mas falo do sentido. Eu posso tentar dizer algo e a pessoa entender diferente, a interpretação das frases irá depender da pessoa, de seu estado, saúde mental…. Então tenho sempre que ler novamente vendo quais as vertentes. Por exemplo: “Tenha forças para desistir”. Se uma pessoa está passando por um momento difícil, como um relacionamento abusivo, um chefe que comete assédio moral ou um objetivo conflitante com suas prioridades… sendo assim, desistir é um alívio. Uma libertação. Dependendo de cada um, a mensagem pode ter sentidos opostos e até conflitantes.

Você acredita que hoje em dia exista uma valorização meio cega do desenvolvimento de capacidades pessoais, tipo “todo mundo pode tudo”, ou até “tudo vai dar certo”, etc? Como vê isso? Falta autocrítica nas pessoas? A indústria do coaching trabalha o marketing de vender sonhos, ideias, milagres. Pessoas que não estão emocionante equilibradas são presas fáceis. E que pagam para alguém fazer algo que eles deveriam, com o mínimo de amor próprio, fazer sozinhas. Não sou contra, cada um “investe” sua grana no que lhe convém. Mas eu não caio em papo de coach. Essa coisa de “tudo vai dar certo”… Isso é uma imbecilidade. Primeiro, o que é “tudo”? O que é o dar certo? As pessoas querem formulas fáceis, para atingirem um objetivo sem se esforçar. Baseado em um método que promete dar tudo certo. Será? O depoimento que eu recebo são DEPRIMENTES.

Ou “todo mundo pode tudo”. Imagina isso, o caos que seria. Somos limitados, todos somos medíocres. Você pode ser bom em fazer algo, mas é um nada em trilhões de outras coisas. Porém, a sociedade vive de comparação com os extremos.

Como você vê a profissão de coach? Em todas as atividades existem os profissionais bons e ruins. Porém, na onda do coach há um fator que aumenta a picaretagem. As promessas e garantia de sucesso.

Fora da conta, no dia a dia, você se considera um bom conselheiro? Se fosse virar um coach de verdade, seria em que área? Pessoalmente eu não sou muito de dar conselhos. Todo mundo sabe que o melhor caminho é quebrar a cara e aprender com os erros. É a vida, eu até dou uns conselhos em formato de pérolas como o Coach de Fracassos, porém mais leve. Na vida real me nego a ser coach. A minha mãe não passou nove meses para me ter e eu dar uma decepção dessas.

Pensa em fazer algo para monetizar o trabalho no Coach de Fracassos? Montar uma loja online, talvez? Sim, estou colocando em prática essa ideia. Mas quero fugir um pouco do convencional (camiseta, caneca etc) . Estou com ideias de quadros com frases, a Sunga do Fracasso, gravata, livros e outras coisas diferentes. Vai ter novidades, prometo DECEPCIONAR a todos.

Alguma das frases que você colocou lá, você vê como mensagens perfeitas para camisetas? Sim. Estou buscando parcerias. O perfil é totalmente amador, mas levo o amadorismo a sério. Então estou organizando e tentando fazer parcerias locais e nacionais. O perfil é de Fortaleza, mas meu maior público é de São Paulo (que coincidência deprimente). Então tenho essa ideia e a colocarei em prática. Será uma atividade paralela, fruto da procrastinação de uma atividade acadêmica. Procrastinação Estruturada.

E como você vê a conta em alguns anos? Um sucesso ou um fracasso? Acho que tudo tem um ciclo. E para se renovar é necessário entropia. Ou seja, tem que ter novidade para se recriar e se manter. Pretendo lançar um podcast com o mesmo perfil e quem sabe dar uma de youtuber (afinal é fracasso).

Por fim quero dizer é fracassar é normal e não saber conviver com isso devido a pressões, pode causar problemas maiores. Que afetam e potencializam os problemas de saúde mental. Busque informações e orientações de um profissional da saúde. E nunca de um coach.

Dá para fazer perguntas pelo stories

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Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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