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Crítica

Ouvimos: CMAT – “Euro-country”

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CMAT cria em seu álbum Euro-country um country-pop europeu cheio de humor, melancolia e crítica social, unindo folk, rock e dance.

RESENHA: CMAT cria em seu álbum Euro-country um country-pop europeu cheio de humor, melancolia e crítica social, unindo folk, rock e dance.

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Country feito na europa? Bom, houve uma cena mais ou menos duradoura que começou nos anos 1960, e que gerou grupos como Steeleye Span e Fairport Convention. Mas a rigor, a associação entre países europeus e sons “da terra” é bem pouco levada em conta pelo universo pop. Agora, corta para Ciara Mary-Alice Thompson, a popular CMAT, que resolve o problema vindo da Irlanda – país cuja música tradicional já é naturalmente misturável com o country.

Tanto que CMAT mal quis saber e já batizou seu terceiro álbum de Euro-country. Uma visão europeia do estilo, um aceno às motivações que levaram Beyoncé a gravar Cowboy Carter, uma tiração de onda com as vibes soft-rock/yacht-rock do pop atual, e com o atual sucesso de Chappell Roan. E em especial, um duplo twist carpado cheio de comédia em cima do country, sempre com variedade musical. Em Euro-country, Ciara une dance music, country e dream pop na faixa-título (aliás, que vocais!), revisita a tristeza do folk setentista (no country rock de When a good man cries), deixa baixar um Lou Reed rápido em Tree six folve. Vai por aí.

CMAT também zoa todas num country-rock bem prototípico, The Jamie Oliver Petrol Station – cuja letra fala sobre um ódio gratuito que ela teria do chef de cozinha britânico, e faz referência às delicatessens que Jamie criou em postos de gasolina. “Aquele homem não deveria ter seu rosto em cartazes!”, vocifera ela, para depois concluir: “Então, ok, não seja uma vadia / o cara tem filhos / e eles não gostariam disso”.

  • Ouvimos: Beyoncé – Cowboy Carter
  • Ouvimos: Chappell Roan – The rise and fall of a Midwest princess

Esse clima zoeiro do disco, na real, esconde uma enorme melancolia. Que Ciara sentiu na pele quando leu comentários depreciativos sobre seu corpo em revistas – Take a sexy picture of me, canção de vibe ABBA-Motown, é sobre isso. Euro-country (cujo título, evidentemente, é um trocadilho com o euro irlandês – repare na moeda da capa) tem também um lado político forte, de uma Irlanda afogada em declínios financeiros e crises de identidade, ambos afetando o povo. A faixa-título afirma, em estilhaços de versos, que o país vai morrer tentando ser os Estados Unidos – também relembra o aumento das taxas de suicídio por causa das recessões do país, e recorda o impacto das estrelas pop norte-americanas na juventude local.

Euro-country também se aproxima do rock oitentista em Ready (com guitarras de época e algo que chega a lembrar Dire Straits) e adota um tom bastante confessional em Janisjoplining, balada ótima em que CMAT fala sobre amores cagados – segundo ela o verbo “to janisjoplin”, criado por ela, indica auto-destruição amorosa. Tem uma propagandinha enganosa: Lord, let that Tesla crash é daquelas músicas que, só de ler o nome, já dão vontade de rir. Aí você ouve e… é uma balada bela, triste e celestial, na qual ela fala sobre a morte de um amigo, e sobre as lembranças amargas de um Tesla estacionado na porta do apartamento dele. Mas esse cruzamento pessoal-existencial-político é a cara de Euro-country.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: CMATBaby/AWAL
Lançamento: 29 de agosto de 2025.

Crítica

Ouvimos: Zaynara – “Amor perene”

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Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

RESENHA: Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Sony Music Brasil
Lançamento: 9 de outubro de 2025

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O beat melody, estilo defendido pela paraense Zaynara, é um primo do tecnobrega, só que mais chegado ainda às raízes do brega paraense: ele tem influências mais demarcadas de calipso, ao mesmo tempo que junta tudo com música eletrônica (ela própria explicou a receita num papo com o Gshow ano passado), e não dispensa a sofrência como assunto de letras e músicas.

Isso tudo junto em doses às vezes iguais, às vezes desiguais, faz com que o som de Amor perene, segundo disco de Zaynara – e sua estreia pela Sony Music Brasil – tenha lá um certo lado pop que se assemelha ao sertanejo. Ou pelo menos à apropriação de gêneros feita pelo estilo, que volta e meia se avizinha do som dela em alguns refrãos – como o de Eu me enganei, uma sofrência bacana que surge na metade do álbum.

  • Entrevista: Les Rita Pavone fala sobre disco de estreia, cena musical paraense, viver ou não de música

Pra dizer a verdade, tudo isso aí só torna a audição de Amor perene uma experiência mais instigante. Do começo ao fim, ele é um disco de festa e uma investigação particular do encontro entre brega, latinidades, guitarras e até referências do rock e do pop gringo. A faixa-título mistura folk-pop, sons grandiloquentes na onda do Coldplay, e o refrão parece versão de hit estrangeiro. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA.

5 estrelas, música criativa que narra uma conversa romântica entre uma passageira e um motorista de aplicativo, tem participação do baiano Tierry, e é um tema esperando por uma trilha de novela – e quem sabe, por uma personagem. Se vira aí abre com um piano simples e elaborado, e embica numa balada brega. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA. O fim do disco é com a dance music paraense de Perfume da bôta. Essa onda vai pegar.

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Crítica

Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

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Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025

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Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.

  • Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!

O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.

Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.

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Crítica

Ouvimos: Lucas Grill – “Grill – O rei do Deprê Chic”

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Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como "deprê chic".

RESENHA: Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como “deprê chic”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 2 de outubro de 2025

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Cantor e compositor de Niterói, Lucas Grill estreia solo com O rei do Deprê Chic, disco que, na real, traz mais uma ordenação sonora do que a inauguração de um estilo. Lucas abriu uma gaveta musical e, dentro dela, inseriu elementos de blues, folk, vibes góticas, um ou outro elemento do pós-punk e do dream pop, além de referências de Zeca Baleiro e Belchior, e do som popularíssimo de José Augusto e Fernando Mendes.

Isso tudo junto, em doses nem sempre iguais, forma o som do álbum de Lucas, que se apresenta ao público na vinheta O terror de tudo. E em seguida, se joga na melancolia e na redenção de O preço das luas, balada com ar blues que prega que “a vida não é evitar de cair / é sobre levantar”, e na filosofia pessoal do folk Loser, música de versos como “tem um lado meu que nunca quer acordar / e se diverte jogando no breu / o meu medo é descobrir que esse lado venceu”.

  • Ouvimos: Eduardo Pereira – Canções de amor ao vento

Lucas não fala apenas de amor. Na verdade O rei do Deprê Chic mexe mais em temas existenciais, e mesmo quando fala de romantismo, busca falar de vida, existência e trens que partem independentemente da nossa vontade. Nessa ontem, tem o amor que vai pros cacetes em A gnt n é assim (balada deprê lembrando um misto de Cranberries e Echo and The Bunnymen) e Moldura quebrada, a dor de cotovelo de Estrago (com Barbara Savie) e a mescla de Sullivan, Massadas e pop funkeado de Poesia na chuva, música que fala sobre fingir normalidade após o fim de um relacionamento. Valsinha, com Clara Coral dividindo as vozes, leva a O rei do Deprê Chic um clima de sonho acordado que quase não surge no disco.

No fim, Grill surge cantando ao vivo Não é nostalgia, canção de voz-e-guitarra com clima bem humorado (“essa não fala de coração partido, mas fala um pouquinho”, avisa ele) e unindo Cazuza, Zeca Baleiro e Raul Seixas em versos como “eu ando achando tudo um saco, mas acho que o saco sou eu”. No geral, um disco de sofrência pensante.

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