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Aquela vez em que bati um papo com Sidney Magal

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Aquela vez em que bati um papo com Sidney Magal

A matéria abaixo saiu no jornal O Dia, onde trabalhei por quase uma década, no dia 13 de novembro de 2017, dois dias antes do meu aniversário de 43 anos – então foi um grande presente, já que Sidney Magal era um grande ídolo de infância pra mim. Na época, tinha saído uma biografia dele, escrita por Bruna Ramos da Fonte, e o Canal Brasil iria exibir um especial com ele, o que serviu de gancho para a entrevista. O texto não tá desatualizado, tem informações importantes sobre a história e a carreira dele (dá só uma olhada nas relações do cantor de Amante latino com a MPB mais “formal”), e aproveitando que saiu o documentário Me chama que eu vou, vale a pena ler. De novo, ou  não. Confira aí (link original aqui).

BAILE DO MAGAL
Artista completo, Sidney Magal canta, dança, atua e não é só o “amante latino”. E diz que a música que mais o representa é João Valentão, de Caymmi

Sabe qual a música preferida de Sidney Magal? João Valentão, de Dorival Caymmi. “Ninguém nem sequer imagina isso, é a música que mais me representa”, diz, rindo, o cantor, que comemora 50 anos de carreira com o lançamento na Faixa Musical do Canal Brasil (no dia 25, às 18h) de Sidney Magal – Bailamos. É a gravação do show que realizou em agosto no Espaço das Américas, em São Paulo, com convidados – e que sai em DVD em janeiro. O cantor aproveitou a festa para entregar vários segredos da sua vida na biografia Sidney Magal – Muito mais que um amante latino, escrita por Bruna Ramos da Fonte (Ed. Vitale, 376 págs, R$ 49,90).

“Eu contei essa história do João Valentão para a Nana Caymmi uma vez e ela: ‘Magal, mas isso é uma loucura, você tem um repertório completamente diferente!’ Uma vez, a Alice Caymmi chegou até a me convidar para cantar com ela, mas por problemas de agenda, não consegui”, recorda o cantor.

ZONA SUL Sidney aprendeu em família os repertórios de Dorival, Tom Jobim e de seu primo (isso mesmo, seu primo!) Vinicius de Moraes. “Minha mãe cantava essas músicas. Eu era um menino da Zona Sul, nasci no Jardim Botânico. Minha linha original era de música estrangeira, italiana, ou bossa nova. Depois é que me tornei completamente absorvido pelo popular. Eu cantei com Elizeth Cardoso, MPB-4, achava que esse seria o meu estilo”, diz.

O primo em segundo grau Vinicius, recorda, morou no seu prédio. “Ele mandava uns bilhetes para o (empresário) Marcos Lázaro, pedindo: ‘Dá uma ajuda aí para esse meu primo’. Mas uma vez fui pedir músicas a Vinicius e ouvi dele: ‘Rapaz, com esse físico todo você vai cantar bossa nova? Você tem é que cantar um tipo de música mais popular!'”, lembra, rindo.

O sucesso popular veio a partir de 1976, quando foi contratado pela Polydor (hoje Universal) e passou a ser produzido por Robert Livi. Sidney confessa que estranhou quando foi apresentado a uma música que se tornaria um de seus primeiros sucessos, Se te agarro com outro te mato. “Até eu achava brega!”, brinca o cantor. “Era uma coisa passional. Pensei: ‘Como vai ser meu comportamento diante dessa música?’. Mas cantei”.

NATAL EM FAMÍLIA A relação familiar de Magal com esse tipo de som é tanta que ele lembra de um disco de 78 rpm caseiro, em que sua mãe cantava uma música de Natal com letra de Vinicius. Quem acompanhava no piano, no disco, era ninguém menos que Tom Jobim.

“Eu lembro de trechos dessa letra: ‘Todas as noites eu rezo e peço a Jesus por favor/Que no Natal eu receba um sapatinho de cor/Lá fora a neve caía, sentia frio e calor’. Isso era do fim dos anos 1950. Esse disco rodou pela minha família, foi emprestado para algumas pessoas e sumiu. Nunca mais vi. Adoraria ouvir isso de novo”, lembra Sidney. A VM Cultural, que cuida do legado de Vinicius de Moraes, diz (disse na época, quando falei com eles) não ter registro da música.

SHOW No show do Espaço das Américas, Sidney chamou ao palco Ney Matogrosso, Alexandre Pires, Rogério Flausino (Jota Quest), Milton Guedes, o rapper Rincon Sapiência e Ana Carolina. “O show foi uma ideia do meu filho Rodrigo West, de comemorar os 50 anos de carreira. A ideia foi deixar os convidados à vontade. O Rogério Flausino me sugeriu cantarmos uma música da Rita Lee. Ana Carolina disse que adorava me imitar quando me via na TV”, afirma. Os dois acabaram trazendo músicas compostas por Rita ao repertório – Ney recordou seu antigo sucesso Bandido corazón e Flausino entrou com Caso sério. Rincón foi ideia de Rodrigo, que conhecia o trabalho do rapper. Ele acabou entrando numa inédita, Um brinde a vida. “Foi uma união de gerações diferentes. Fiquei muito feliz”, conta Sidney

LIVRO Já a biografia de Magal vem sendo pensada e repensada desde 2012. “A ideia surgiu quando escrevi um livro sobre Roberto Menescal, que foi um dos lançadores do Magal. Liguei pro Magal para confirmar uma história. Era para termos conversado por cinco minutos e falamos duas horas!”, lembra Bruna, que conversou com várias pessoas que lidaram com Magal em momentos diferentes da carreira. “Ele manteve tudo que está no livro, não se incomodou com nada”.

Bruna diz que o livro mostra um artista completo, que dança, canta e atua em teatro e na TV. E que, diz o título, vai além do “amante latino” da sua canção. “Muita gente não conhece o Magal além de Sandra Rosa Madalena, a cigana e pode não dar o devido reconhecimento. Quando o Magal anunciou que o livro sairia, alguns editores me procuraram para falar sobre o livro. Mas quando o livro ia para o conselho editorial, as editoras barravam. E o Magal é um artista extremamente popular, além de ser respeitado por músicos eruditos”, espanta-se Bruna.

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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