Crítica
Ouvimos: Alulu – “Põe esperança nisso”

RESENHA: Alulu Paranhos mistura soul, samba, pop e reggae em Põe esperança nisso, disco plural que une frescor autoral e releituras vibrantes.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente / UnitedMasters
Lançamento: 27 de agosto de 2025.
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Alulu Paranhos é jovem (25 anos), carioca, e consegue soar como uma cantora que poderia vir de qualquer lugar do Brasil e pertencer a qualquer faixa etária em seu álbum Põe esperança nisso. Sinal de que o melhor demarcador de seu disco é ela própria e suas escolhas musicais, sem nada que se coloque na frente do ouvinte e conduza a audição.
De qualquer jeito, se o algoritmo da plataforma te entregar o disco dela, provavelmente vai ser pelo seu interesse por estilos como soul e por uniões pop do samba com outros gêneros, que balizam o álbum. Põe esperança nisso abre com a vibe sonhadora e pop de Voltei, prossegue com o reggae esperançoso, e ganha climas retropicalistas em Preciso ir, no pop latino e percussivo de Duas cabeças e no samba-rock de Sorte das cartas – que inicia parecendo um samba-rock feito por Jorge Ben para Gal Costa cantar, e vai ganhando uma aparência mais rock, com ótimas guitarras.
Apresentando um material próprio feito em parceria com artistas como Iara Rennó, Mahmundi, João Menezes e Clara Valverde, Alulu transforma a segunda metade de Põe esperança nisso numa aventura quase não-autoral – com exceção da delicada Revelação, ijexá tocando no violão. Os arranjos dão caras próprias, lembrando às vezes uma mescla certeira de Gal Costa e Rita Lee, a canções como Nunca (Pra minha mãe), MPB com vibe latina feita por Carlos Posada. Ou a esperançosa e sensível Ainda é verão (de Denise Dendê e Phylipe Nunes), com Bruno Berle nos vocais, e versos como “a dor não é constante / nunca haverá de ser”.
Duas curiosidades dessa faceta intérprete de Alulu são a versão quase vintage de Pra declarar minha saudade, de Arlindo Cruz, Jr Dom e Leandro Sapucahy – inicialmente tocada apenas com percussão e violão, e lembrando quase uma gravação dos anos 1970 – e o clima alegre que ela consegue extrair de Olhos nos olhos (Chico Buarque). Na visão de Alulu, ela ganha um certo balanço, uma vibe reggae lá de longe, e a superação sai na frente de qualquer tipo de ranço de ex-relacionamento. Um disco para ouvir logo pela manhã.
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Crítica
Ouvimos: Isabella Lovestory – “Vanity”

RESENHA: Isabella Lovestory mistura neo-perreo, pop e synthpop em Vanity, disco brega-chique, divertido e cheio de fragilidades confessionais.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Giant Music
Lançamento: 27 de junho de 2025
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Existe uma imensa possibilidade de 2025 acabar e Vanity, segundo álbum de Isabella Lovestory, não se tornar um dos lançamentos mais discutidos e lembrados do ano. Uma pena: mesmo com certa irregularidade nas composições e linhas vocais, a popstar hondurenha volta unindo o balanço do neo-perreo (reggaeton mais eletrônico e experimental) com tons pop, e uma vontade verdadeira de falar para um público bem maior.
Tanto que o universo de Vanity joga Isabella num universo de fácil identificação. A personagem do disco é uma garota que curte a vida, mas tem lá suas fragilidades e ciúmes; que curte luxo mas não está muito acostumada com ele (as músicas e os clipes têm uma onda brega-chique que salta aos olhos); que já tem uns 30 e poucos, mas volta e meia se pega pensando e agindo como adolescente – e que mesmo tendo autoconfiança e autoestima, não está livre de quebrar miseravelmente a cara. Esse é bem o combustível de faixas como Fresa metal, Puchica, Telenovela, o synthpop latino Putita boutique (que tem o melhor refrão do disco) e a escandalosa e soft-porn VIP – sigla para “very important pussy”, ou “buceta muito importante”, em português.
Ouvimos: Duquesa – Six.
Ouvimos: Mateo – Neurodivergente
Outras influências aparecem em Eurotrash, um synthpop meio sombrio, e na faixa-título – um mergulho nos anos 1980/1990 que evoca tanto estrelas sumidas como Tiffany quanto nomes ainda imensos, como Kylie Minogue, só que em registro minimalista. O lado “experimental” (entre muitas aspas) surge em Tu te vas, com seu clima vaporoso, eletrônico e enigmático, cuja letra soa como a confissão chorosa de uma garota ciumenta de 16 anos. Esse clima teen de araque surge bastante em Vanity, aliás.
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Crítica
Ouvimos Melifona – “Radiação do corpo negro”

RESENHA: Melifona estreia com Radiação do corpo negro, neo-soul psicodélico e sofisticado que funde soul, pop nacional e camadas experimentais.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Sound Department
Lançamento: 25 de setembro de 2025
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Melifona não é uma banda, nem tampouco um projeto. É o nome artístico escolhido por um cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor paulistano, que na estreia Radiação do corpo negro faz um neo-soul repleto de texturas e camadas diferentes, além de surpresas melódicas ao longo das faixas. Na prática, Radiação é um disco de soul psicodélico e de chamber pop, com vocais bem tratados em meio a paisagens sonoras criadas com piano e synths.
- Ouvimos: Nova Twins – Parasites & butterflies
Logo de início, Água régia e Amor próprio trazem psicodelia em estado líquido, enquanto Dualidade (com YMA) se abre em imagens sonoras e voos vocais que lembram Thundercat e Todd Rundgren. Já Pombagira leva o pop de raiz jazzística e soul – na linhagem de Djavan e Stevie Wonder – para um terreno repleto de camadas, sobretudo nas vozes e na dinâmica dos sintetizadores.
Faixas como Objetos, o soul Vamo morar junto (com Vinicius Damião), o samba-blues Peito aberto (com Barbarelli) e a vertiginosa e dançante Sexta-feira voltam-se para uma noção de pop nacional clássico que inclui Cassiano, Lincoln Olivetti e Luiz Melodia. Outro destaque é A fome, que conecta amor, existência e política com ecos de Gonzaguinha e Taiguara.
Há ainda o lado sophisti-pop do álbum em faixas como Mariana (cuja letra evoca ecos de Lígia, de Tom Jobim, entre amores e esquecimentos), o eletrosamba Você e a bossa-soul Rolé ruim. Aliás: essa noção de música pop sofisticada, cheia de cantos escondidos e de climas voadores, é o combustível de Radiação do corpo negro. Ouça correndo.
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Crítica
Ouvimos: Joanne Robertson – “Blurrr”

RESENHA: Joanne Robertson lança Blurrr, álbum de folk lo-fi e fantasmagórico, entre improvisos, ecos e dream pop sombrio, com letras noturnas e poéticas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: AD 93
Lançamento: 19 de setembro de 2025
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Poeta, artista plástica e musicista, Joanne Robertson faz música que parece improvisada, mas costuma dizer que musica, de modo geral, é improvisada, como falou numa entrevista recente. “É assim que todo mundo escreve música: eles simplesmente começam a tocar. Não escrevem a música, necessariamente”. Blurrr, seu novo disco, leva essa noção de “improviso” além da composição e atinge gravação, mixagem e preparo de estúdio. As nove canções do álbum soam fantasmagóricas, como se você resolvesse gravar um vizinho tocando guitarra em casa, e de repente os ecos e ruídos ambientes passassem a fazer parte da própria música.
Daria para classificar Blurrr como um disco lo-fi, mas é tudo tão natural que não soa exatamente como uma gravação de baixa qualidade: é só um folk gravado com qualidade de demo, mas cuja produção permite que se veja além do improviso, em faixas como Ghost, Why me (uma espécie de bossa fantasma, que lembra o lado acústico dos Smashing Pumpkins, com vocal etéreo) e o folk tristinho de Friendly e da “canção de adeus” Last hay, que encerra o álbum.
- Ouvimos: The New Eves – The New Eve is rising
Muita coisa em Blurrr soa como um Cocteau Twins das catacumbas – é dream pop, mas é sombrio, é assustador, mas é casual, e quase sempre é psicodélico de uma maneira não tão comum. Exit vendor, por exemplo, é bem nessa onda sombria e sonhadora, assim como Always were. Músicas como Gown e Doubt são um exercício de fantasmagoria e doçura, com cordas (cortesia do violoncelista Oliver Coates) e ruídos por trás.
O som de Blurrr parece não vir desacompanhado, é como se o próprio local em que ela gravou tudo fosse um instrumento musical. Já as letras falam em viagens, saudades, distâncias, lembranças e mistérios, que surgem em versos noturnos e imagéticos como os de Gown: “eles estão lá fora / deitados nos galhos / eles brilham forte e livremente / eles são amigáveis”. Um eles cuja imagem vem tão desfocada quanto a foto de capa, e o próprio título do disco em português.
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