Crítica
Ouvimos: Alice Cooper – “The revenge of Alice Cooper”

RESENHA: Alice Cooper reúne ex-integrantes de sua ex-banda em The revenge of…, alternando nostalgia e novos flertes sonoros.
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Se você já foi numa reunião de amigos que não se veem há muito tempo, sabe como é: no começo, ninguém está muito à vontade. Mas depois as coisas começam a mudar, o clima fica mais ameno, histórias antigas circulam e tudo fica mais alegrinho. Se bem que depois, muitas vezes, dá aquela ressaca emocional: as coisas nunca mais vão ser como eram antes. Você não tem mais 20 anos, alguns de seus amigos mais próximos mudaram muito (de caráter, inclusive) e você próprio vê tudo hoje por outra perspectiva.
The revenge of Alice Cooper reúne a turma de discos clássicos de Alice, como Love it to death (1971) e Billion dollar babies (1973) – ou seja, a época em que Alice Cooper era uma banda, liderada por ele, e que trazia também Glen Buxton (guitarra solo), Michael Bruce (guitarra base), Dennis Dunaway (baixo) e Neal Smith (bateria). Buxton, morto em 1997, “comparece” na reunião na faixa What happened to you, que inclui partes antigas de guitarra. O resto da turma marca presença em todas as outras faixas – por acaso, com Bob Ezrin, antigo produtor de Alice, comandando tudo.
Como na tal reunião de ex-colegas do primeiro parágrafo, Alice e seus amigos vão tentando ficar à vontade desde a primeira faixa – que é Black mamba, rock voodoo com participação especial de Robbie Krieger, guitarrista dos Doors, e que vai seguindo em clima lento, quase punk. Dá certo mais ou menos: só lá pela sexta faixa começam um pouco a soar como o grupo dos anos 1970, com Blood on the sun, quase uma canção épica como Halo of flies ou Second coming – tem vocais dobrados, violão na abertura, coral. Faixas como Wild ones, Up all night e One night stands soam como uma mistura de elementos: de grunge, de rock oitentista na onda do The Cult, de sons que lembram mais Stooges e Black Sabbath do que o Alice Cooper clássico.
Não que seja ruim (e pera, Stooges e Black Sabbath são coirmãos de Alice), só causa estranhamento porque – e eu aposto que você pensou a mesma coisa – a vontade era de ver a fórmula antiga intocada, o retorno à época em que o rock poderia ser um espetáculo exagerado, aterrorizante e cinematográfico. Essa onda começa a rolar em faixas como Crap that gets in the way of your dreams, que mescla Kinks, The Who e o Alice do hit No more Mr. Nice Guy, o rockão Money dreams, o jazz rock mafioso de What a Syd (na cola de Blue turk, faixa do School’s out, de 1972).
Do meio para o fim de Revenge, um detalhe é que Alice e sua gangue parecem querer mostrar que bandas como Motörhead, Soundgarden, Danzig e até a carreira de Ozzy Osboune não teriam existido sem eles. Dá para perceber no rock blueseiro e sombrio de Famous face, no boogie de Intergalactic vagabond blues e no clima épico de See you on the other side. Tem também I ain’t done wrong, dos Yardbirds, relida com clima sombrio – provavelmente um lado B de single que foi promovido a faixa do álbum.
The revenge é o disco que Alice Cooper devia, mais do que a seus fãs, a seus ex-colegas, quase todos desaparecidos do mercado assim que “Alice Cooper” virou nome de cantor solo. Faz lembrar só de longe a época em que Alice era a erva daninha que brotou em Detroit e que passou dar as cartas no mercado, a trupe de doidões beberrões com quem os poderosos queriam fazer negócios. O resultado é bacana, mas você vai acabar querendo escutar mesmo os discos dos anos 1970.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: earMUSIC
Lançamento: 25 de julho de 2025
Crítica
Ouvimos: Nova Twins – “Parasites & butterflies”

RESENHA: No terceiro álbum Parasites & butterflies, Nova Twins misturam rap-metal, r&b e peso noventista em faixas cheias de atitude.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Marshall Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
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Tem quem já tenha falado que Nova Twins é a mistura perfeita de Spice Girls e Rage Against The Machine – até faz sentido, mas o lance ali é mais assustador que essa combinação, em termos de norte atitudinal e peso musical. No terceiro álbum, Parasites & butterflies, há uma combinação de beleza e susto no título, e uma receita sonora própria do metalcore em faixas como Glory, Piranha e Parallel universe, além do jungle de Drip.
- Ouvimos: The New Eves – The New Eve is rising
Aliás, quase todo o disco é baseado numa receita certeira de rap-metal para rodas de pogo. Que rende também proximidades com o r&b nas ótimas Soprano (pop do mal, pesado e distorcido, que lembra o peso dos anos 1990), Monster e Sandman. Ou em Hide & seek, um dos raros momentos não tão interessantes do álbum, marcada pelo empoderamento e pelos versos espertos na letra (“você não pode me pegar / eu corro, você me segue”).
Das experimentações realizadas por Amy Love e Georgia South, as que mais chamam a atenção são a vibe Body Count de N.O.V.A., o metal-gospel de Hummingbird (a melhor do disco) e a auto-homenagem do funk-house-metal Black roses. Tudo é feito com tanta personalidade que em vários momentos de Parasites & butterflies, as duas poderiam descambar para o nu-metal ou algo parecido. Acaba não rolando porque, no rolé das Nova Twins, só vale peso quando tem memória e balanço. Felizmente.
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Crítica
Ouvimos: David Byrne – “Who is the sky?”

RESENHA: David Byrne lança Who is the sky?, disco irregular mas envolvente, entre boas histórias, ecos de XTC e Beatles e momentos de otimismo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Matador
Lançamento: 5 de setembro de 2025
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Falando em primeira pessoa: tive sentimentos conflitantes ouvindo este Who is the sky?, novo disco de David Byrne gravado ao lado da Ghost Train Orchestra. Vi isso consultando minhas anotações (sim, eu ouço discos anotando, à mão). Por exemplo: não pude deixar de exclamar um animado “caralho, que foda isso!” ao lado de I met the Buddah at a downtown party, uma canção bonitinha que Byrne fez contando a história de um sujeito que viu Buda cometendo excessos numa festa.
David Byrne sempre foi bom contando histórias, desde o comecinho dos Talking Heads – e sempre foi bom em achar o melhor caminho para fazer com que elas chegassem ao público. Só que lá pelas tantas bateu um certo ranço: será que Who is the the sky? é tudo isso aí mesmo? E o “pensa bem” veio acompanhado de algumas constatações. Uma delas é a de que mesmo o que há de bom em Who is the sky? soa meio repetido: Byrne parece ter se inspirado MUITO em Day in, day out, do XTC, para fazer When we are singing, e juntou elementos de She’s leaving home, dos Beatles, em A door called no. O tipo de coisa que você talvez desculparia no Oasis, mas aqui não rola.
Tem as letras: Who is the sky?, na real, varia entre o otimismo e o papo de coach. Isso rola quando Byrne fala sobre as portas fechadas da vida (A door called no), sobre como a criatividade das pessoas vai sendo podada (Don’t be like that) e até sobre como as paredes de um apartamento podem contar histórias (My apartment is my friend). Na real, fica até a expectativa de que Byrne aprofunde o discurso de boa parte dessas letras em algum outro canto – numa entrevista, numa newsletter, ou sei lá o quê – porque são histórias que, ao jogarem a bola para o/a ouvinte concluir, soam incompletas. Aliás, essa incompletude é comum a vários discos de Byrne, com boas ideias que atiram para vários lados.
- Ouvimos: The Who – Live at The Oval 1971
Como artista solo, Byrne nunca perdeu a vibe maníaca que ele desenvolveu na época dos Talking Heads – uma coisa de brincar com os próprios sentimentos, sensações e constrangimentos, e jogar tudo nas músicas. É o que surge na vibe comemorativa de Everybody laughs, e também nas lembranças de Beatles e Wings de When we are singing e The avant garde. O ragga The truth mexe numa ferida aberta universal (“a verdade é a última coisa que um homem quer ouvir”, diz a letra) e acaba deixando o otimismo de lado para bater forte. Tem ainda o folk beatle-beachboy She explain things to me e a latinesca What’s the reason for it? (com Hayley Williams), que mantêm o astral do disco – e funcionam bem.
Byrne é sempre um bom encantador de serpentes: você passa até por cima das falhas de Who is the sky?, e de um certo ranço pessoal com a figura proeminente-àààà-beça dele, porque fica bem difícil resistir a um disco que, em 2025, tem evocações do XTC. Ou porque o clima pastoril de algumas músicas acaba ganhando. E isso tudo, ainda que você estivesse esperando ver alguma estrutura sendo abalada com um disco novo dele – aliás, vale citar que o próprio Byrne, no release de lançamento, explica que o principal assunto de Who is the sky?, é ele próprio, suas circunstâncias e trabalhos colaborativos.
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Crítica
Ouvimos: Mateo – “Neurodivergente”

RESENHA: Em Neurodivergente, Mateo (ex Francisco El Hombre) estreia solo com coragem, misturando pop latino, rock e dores pessoais em canções intensas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Dorsal Lab
Lançamento: 7 de julho de 2025.
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Um dos fundadores da banda Francisco El Hombre, o mexicano naturalizado brasileiro Mateo Piracés-Ugarte estreia solo com Neurodivergente pegando em fios pessoais de altíssima tensão. O músico convive com o diagnóstico de bipolaridade tipo 1, depressão e traços de borderline, além de ser adicto em recuperação, e jogou toda essa vivência nas letras do álbum. Foi preciso bastante coragem para expor vulnerabilidades, problemas pessoais e golpes da vida – como ele próprio confessou em entrevista à revista Noize. Tanto que, analisando bem, Neurodivergente é um disco depressivo cuja elaboração passou por certos filtros para que os gatilhos fossem mais leves, e que o contato com a própria dor de Mateo fosse mais atenuado.
- Ouvimos: La Dispute – No one was driving the car
- Ouvimos: Bella e o Olmo da Bruxa – Afeto e outros esportes de contato
Assim, até mesmo uma autoconfessa carta de suicídio, Ato final, soa inicialmente apenas como uma canção bastante dramática e eletrônica, com ritmo dado pelos samples de voz – até que a ficha cai. Neurodivergente prossegue numa onda que mistura rock, pop latino, eletrônicos e tons da música brasileira, como no desespero de É o que é (“o que foi já não voltará a ser, eu sei”), nas respirações e tosses da acústica Una vez más e na rotina desgastada do pop cabisbaixo de Apenas mais um triste.
O pop latino e intenso La insanidad é o walk on the wild side do disco, com Mateo narrando o tempo em que circulou na cracolândia paulistana e viu de tudo um pouco. “A insanidade / é uma arma para sobreviver ao medo”, canta, falando de um sentimento mais do que conhecido até de quem nunca pisou no redutos de drogas das grandes cidades. Me salva (Por solo un minuto), um pedido de ajuda musicado, tem muito do calor do rock argentino. No final, a vibe emo-pop-gospel de Querida, música de superação falando em depressões, bipolaridades e tudo o que vem junto.
***
Neste sábado (4), Mateo lança Neurodivergente no Armazém do Campo (Alameda Nothmann 806, Campos Elíseos, São Paulo), às 16h. Além do show, vai rolar um bate-papo sobre saúde mental com a psicóloga Mari Pontes, da rede CAPS e do projeto Nós na Rede. “O evento é gratuito e traz uma proposta que vai além da música: aproximar arte e saúde mental em um espaço de diálogo aberto”, diz o release.
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