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Cultura Pop

“Algumas coisas sobre música que eu penso enquanto lavo a louça”

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"Algumas coisas sobre música que eu penso enquanto lavo a louça"

Algumas coisas sobre música que eu penso enquanto lavo a louça:

1) Às vezes me dá um certo desespero

Porque não estou conseguindo dar conta de ouvir tudo o que eu quero e tudo que está saindo de novo e também de antigo. Acho que nunca se teve tanto acesso a tanta música de tantas épocas diferentes.

2) Penso que o tempo da música agora é totalmente relativo.

Não pode existir mais aquela história de um lançamento ficar velho em semanas. Qualquer coisa é nova a partir de quando você a ouve pela primeira vez e até você cansar dela. Eu diria que o tempo inicial de frescor de um disco é até o mesmo artista lançar outro. Ele é “o novo” até virar “o anterior”.

3) Não tenho paciência pra singles.

É rápido, é superficial, é esquecível. Só me interessam (fora algumas raras exceções) os álbuns. Pode até ser EP. Assim eu tenho tempo de entrar no mundo daquele artista e viajar na música – e quando dá eu ouço os discos duas vezes seguidas.

4) Isso é chato porque muita gente está começando a lançar só singles (e depois eventualmente o disco que vai contê-los todos).

Os artistas são instados a fazer isso não só pelos fãs, que têm déficit de atenção e não têm mais tempo de ouvir sequer uma música de 3 minutos, mas também pelo Spotify, que se recusa a considerar mais de uma música por lançamento (seja ele um single, EP ou álbum) para suas cobiçadas playlists editoriais. Se você fosse o artista, lançava um monte de singles ou um álbum?

5) Ultimamente tenho gostado mais dos discos a partir da segunda metade.

Isso acontece até com o da minha banda Estranhos Românticos. Talvez por dois motivos: 1) O artista escolhe as músicas que acha mais populares para começarem o disco. Até relativamente pouco tempo a “música de trabalho” era a segunda do disco, agora é a primeira. As músicas mais “estranhas” e “complicadas” vão ficando para o final do disco. 2) Quando chega ao meio do disco você já está familiarizado com aquele artista e aquela sonoridade.

6) Os álbuns estão ficando cada vez menores – o que até acho bom.

Quando é muito longo e chega no final já não me lembro do começo dele. Os LPs tinham até umas 10, 12 músicas de 3 a 5 minutos. Depois veio o CD, com aquele tempo todo pra preencher com 17, 20 músicas! Tinha até aquele truque de deixar uma música escondida depois de tantos minutos de silêncio, lembra? Aí com o streaming voltamos para 12 músicas por disco (até pouco tempo).

Mas agora lançar um disco com mais de 10 músicas é dar tiro no pé – ninguém chega até o final do disco. E mesmo assim, vai ouvi-lo fazendo outra coisa e não só prestando atenção na música – mesmo porque, agora não existe mais encarte, livreto ou sequer qualquer informação sobre a gravação, letras das músicas, essas coisas “supérfluas” para acompanhar a audição do álbum. Se der sorte, vai ter uma pequena biografia no Spotify e o nomezinho do produtor no arquivo.

7) A música não existe mais sem imagem.

O “normal” agora é o seu primeiro contato com uma música ser visual, através de clipe no Youtube ou qualquer outro site. Eu acho que isso limita em muito a experiência da música para o “receptor”.

Porque no clipe, a música automaticamente passa a ser associada a uma imagem que é passada pelo diretor (que nem sempre é a mesma do compositor da música), ao invés do ouvinte construir a sua própria imagem da música – mais ou menos como funciona com os livros. Às vezes o clipe pode até atrapalhar a compreensão da música, se você não gostar das imagens. Eu acho clipes ótimos (mesmo porque, eu vivo disso) – mas depois que você já ouviu a música por si só.

8) Outro dia encontrei no meu baú um artigo de quase meia página do Jornal do Brasil do final dos anos 80.

O artigo falava da falta de espaços para bandas independentes tocarem no Rio e anunciando um novo espaço, com fotos e entrevistas com 3 bandas sem gravadora (inclusive a minha, Ao Redor da Alma). Ou seja, isso sempre foi (e talvez sempre será) um problema para quem não está no “mainstream”.

O que mudou, e muito, foi a falta de espaço para esses artistas na grande mídia – esse mesmo artigo seria impensável hoje em dia. Nos anos 80 havia esse espaço nas páginas normais dos cadernos culturais dos jornais, dos anos 90 até os anos 00 havia os espaços semanais específicos para isso. Como o Rio Fanzine de Tom Leão e Calbuque em O Globo, o Zine no Jornal do Brasil, o Folha Teen na Folha de São Paulo e similares no Estadão e jornais espalhados pelo Brasil. E nos anos 2010 esse espaço sumiu.

Quem faz esse papel (e muito bem) hoje em dia são os blogs e sites (nunca sei ao certo a diferença) musicais. Como o POP FANTASMA, Célula Pop, Hits Perdidos, Popload, etc. Mas isso deixa a música independente de certa forma num gueto alternativo, sem chegar ao leitor “normal” de jornal. E o mesmo aconteceu nos outros meios de comunicação, tais como TV (e o foco mudou para o YouTube) e rádio (onde as webrádios tocam as novidades).

9) Ainda sobre shows (e a falta que eles fazem nessa pandemia).

Pra mim eles funcionam como um energizante natural e às vezes me levam a um êxtase e “purificação da alma”, meio como acontece com religiosos nos seus rituais. Especialmente os shows para até cem pessoas, nos quais o contato com o artista é mais próximo e a energia circula mais rapidamente e facilmente.

Odeio grande festivais, onde a maioria das pessoas não liga para o que acontece em cima do palco, mas ao redor dele. E sinceramente não entendo como shows incríveis no Rio de Janeiro ficam vazios. Às vezes nem mesmo os artistas da cena comparecem para prestigiar, o que acaba sendo um tiro no próprio pé.

10) Tá rolando uma cena (ainda não articulada) interessante no Rio de artistas mais velhos, a partir dos 40.

Eles já tocaram em trocentas bandas – muitas delas famosas – e/ou com artistas renomados e que continuam fazendo um trabalho consistente e significativo.

Bandas como Tripa Seca (com Nervoso e Renatinho do Acabou la Tequila, Melvin e Marcelo Callado), Albaca (com Bacalhau do Planet Hemp e Autoramas), Katina Surf (com Larry Antha do Sex Noise), O Branco e o Índio (com Bruno Rezende do Carne de Segunda), Ladrão (do Formigão do Planet Hemp), Elétrico Vesúvio (com Bacalhau, Lucky Leminski do X-Rated e Olmar do Black Future), Homobono (do Djangos, que continua ativo), Estranhos Românticos (com Mauk da Big Trep), The Dead Suns (com o Francisco Kraus do Second Come), Melvin & os Inoxidáveis (nem precisa falar com quem o Melvin já tocou, né? rs), Gilber T (que tocou no Tornado), Marcello Calado (que tocou com Caetano Veloso e meio Rio de Janeiro), Tomba Orquestra (com Bruno Marcus que era do Quinto Andar).

Além de Latexxx, Greco, Beach Combers, Vulcânicos, Comandante 22 e outros. São artistas que às vezes nem trabalham mais com música (às vezes outras sim, como compositores de trilha sonora e/ou produtores). Mas que ainda têm muito a dizer com sua música e se recusam a parar de criar, gravar e fazer shows.

Pedro Serra é DJ, pesquisador musical, músico (O Branco e o Índio, Estranhos Românticos), fotógrafo, editor, roteirista, diretor de imagens e jornalista.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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