Crítica
Ouvimos: 808 Punks – “Bater cabeça e rebolar” (EP)

RESENHA: 808 Punks mistura punk, funk e metal com letras feministas e batidões explosivos, unindo Slayer com MC Carol.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Bonde Music
Lançamento: 26 de setembro de 2025.
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“Minha bunda é minha arma, bunda é a revolução / bate cabeça e rebola o popozão”. Criada por figuras conhecidas da cena underground carioca, a banda 808 Punks (o “808” é uma referência à mitológica bateria eletrônica Roland TR-808) mexe num vespeiro que já havia sido movimentado em outros tempos por bandas como MC’s HCs, Funk Fuckers e DeFalla: a união de punk, funk, metal, distorções e cultura underground. E por falar no veterano grupo gaúcho, o vocalista Edu K foi o produtor de Bater cabeça e rebolar – recentemente 808 Punks e Edu, inclusive, fizeram turnê juntos.
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Não chega a ser uma receita original, mas o 808 Punks, que tem três vocalistas – André Paumgartten, Prixxx e Glenda Maldita – acrescenta à união punk-funk uma boa massa sonora, letras mobilizadas (como no feminismo porradeiro de Respeita as mina e no skate-punk-funk suburbano de Levanta o moicano), e uma visão atualizada do funk como movimento e comunidade, e não como um efeito óleo-e-água do rock. Lembranças de nomes como Planet Hemp vêm à mente durante a audição de Bater cabeça e rebolar, e não é por acaso – a cozinha do 808 Punks é formada justamente por Formigão (baixo, Planet) e Robson Riva (bateria, BNegão e Os Seletores de Frequência).
Nessa onda, batidões e distorções invadem faixas como Bater cabeça e rebolar e Geral com a mão pro alto, ambas soando como o exato encontro entre Slayer e MC Carol. Lembranças de Thieves, do Ministry, e da versão de Tédio (Biquini Cavadão) feita pelo Mr Catra, invadem, respectivamente, Respeita as mina e Levanta o moicano. Já Show de porrada e TPM, no final, põem mais empoderamento e feminismo na roda.
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Crítica
Ouvimos: Obongjayar – “Paradise now”

RESENHA: Obongjayar mistura afrobeats, soul, reggae e som etéreo em Paradise now, disco diverso e luminoso que opera em nome do chamber pop.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: September
Lançamento: 30 de maio de 2025
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Alguns atrasos para ouvir certos discos são compreensíveis, outros são imperdoáveis. Steven Umoh, o popular Obongjayar, é um cantor nigeriano cujo som pode ser definido basicamente como pop de câmara, recheado com referências de reggae, r&b, afrobeats e climas etéreos. Seu trabalho inicial era lançado no Soundcloud, até que Richard Russell, dono da XL Records, o convocou para seu projeto Everything Is Recorded. Isso chamou a atenção para seu trabalho e abriu caminho para seus primeiros EPs, além do álbum de estreia Some nights I dream of doors (2022).
Paradise now, seu segundo álbum, insere mais e mais positividade na música e no ideário de Obongjayar, por intermédio de faixas como o soul alternativo de It’s time, com clima operístico e letra falando em começos e recomeços (“chega de desculpas / eu sei que consigo fazer isso”). Life ahead tem beat dado por batidas na porta, e embica num pop experimental, basicamente afrochamberpop. Peace in your heart tem ar etéreo garantido até pela percussão, além dos vocais. Holy mountain, com percussão e violão arpejado, ameaça um high life folk, enquanto Jellyfish envereda pelo reggaeton pesado.
Isso é só o começo de Paradise now, disco cuja variedade inclui o hip hop rápido e texturizado de Talking olympics (com Little Simz), os climas gospel de Prayer, Born in this body e Happy head, e também a vibe meio Lou Reed meio metal de Instant animal (quase um momento de afropsicodelia no disco), o afropoppunk de Not in surrender, a alegria de Sweet danger, que lembra um samba de Jorge Ben transformado em algo proximo do afropop. Entre um extremo e outro, há faixas como o soul erudito Moon eyes, lembrando uma música antiga de cinema, além do clima disco e minimalista de Just cool. Um “agora” que se transforma rapidamente num paraíso sonoro.
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Crítica
Ouvimos: Memórias de Ontem – “Translúcido”

RESENHA: Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Identificados com o chamado “rock triste” – ou com uma cena que costuma ser chamada de “emo caipira”, feito em cidades fora do eixo Rio-SP ou longe das capitais – a banda mineira Memórias de Ontem estreia impressionando. Translúcido vai na mesma onda dos conterrâneos Lupe de Lupe e adiciona camadas diferentes a canções com elementos proeminentes de shoegaze e emo.
A abertura, com Pra gente se beijar e esquecer a dor tem guitarras emparedadas, vibração power pop e algo de bossa nova não só nos vocais como também no relacionamento dele com a guitarra. A voz de Gabriel Campos (voz, guitarra), que divide a banda com as irmãs gêmeas Alice Eskinazi (bateria) e Camila Nolasco (baixo), parece pairar acima do arranjo talvez como estratégia para não ficar soterrada em meio às guitarras, como rola costumeiramente no shoegaze. Já Cortando mato inverte as polaridades, com bateria e guitarra bem pesadas e na frente, e um clima que chega a lembrar o pós-hardcore, com quebras rítmicas. Há guitarras mais ruidosas e atmosféricas, mas elas não chegam a colocar a música no corredor do noise rock.
Aliás, Translúcido, antes de tudo, é um disco mais contemplativo do que propriamente ruidoso. As nuvens de ruídos guitarrísticos dividem espaço com um certo olhar no horizonte, combustível de músicas como a balada Impulso pra tentar, a delicada Quase lá (que lembra bandas recentes como The Beths), a sonhadora faixa-título e a balada acústica Memória ruim – esta, com lembranças do drama grunge e parecendo combinar o senso melódico de Lô Borges ao de bandas como Red Hot Chili Peppers e Nirvana. Aroma, por sua vez, tem elementos de Pixies e guitarras fortes e altas.
Com participações de Marília Jonas (Jonabug), João Carvalho (El Toro Fuerte), Clara Bicho (irmã gêmea de Gabriel) e Clara Borges (Paira), Translúcido encerra com a tristeza alegre do dream pop Cores pelo ar – música de arranjo “cheio” e espaços muito bem ocupados – e Pela primeira vez, com lembranças do rock britânico dos anos 1980. Um disco com melancolia e luminosidade lado a lado.
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Crítica
Ouvimos: Vivendo do Ócio – “Hasta la Bahia”

RESENHA: Vivendo do Ócio evolui no quinto álbum, Hasta la Bahia, misturando pós-punk, afropop, new wave e bossa em só 28 minutos de som vibrante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Portal
Lançamento: 19 de setembro de 2025
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Muita gente não percebeu, mas o Vivendo do Ócio é uma das bandas brasileiras que mais evoluíram nos últimos anos – as mudanças no som deles são tão evidentes que é até bem curioso comparar a estreia juvenil e garageira do grupo (Nem sempre tão normal, 2009) com os álbuns mais recentes. De lá pra cá, ficou a vontade de reaproveitar os valores do revival pós-punk dos anos 2000 sob uma ótica brasileira – mas sem deixar de ser rock e pós-punk.
Hasta la Bahia, quinto disco do grupo baiano, só tem um defeito: Jajá Cardoso (voz e guitarra), Luca Bori (baixo e voz), Davide Bori (guitarra) e Gabriel Burgos (bateria) vêm aderindo à mania do álbum curto desde o disco epônimo de 2020 – e dessa vez são só oito músicas em 28 minutos, quase um EP esticado. Não que isso torne menos curtíveis músicas como Baila comigo, música influenciada por Tim Maia e Chaka Khan (segundo a banda) e que, tendo Paulo Miklos nos vocais, também tem a maior cara de Titãs. Ou mesmo o pós-punk estradeiro da faixa-título, que soa como o diário de alguém que está deixando um lugar e partindo para outra vida – sem falar na participação luminosa de Jadsa em Não tem nenhum segredo, que parece tema de novela.
No restante do disco, o Vivendo do Ócio joga o som de bandas como Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Duran Duran e Talking Heads num caldeirão afropop (em Onda do Nepal e Se me deixar eu vou lá), fazem new wave brasileira dos anos 1980 (a animada Eu ainda, que lembra 14 Bis e A Cor do Som) e também se arriscam num som mais gótico, com baixo à frente e guitarra com efeitos – em O lobo da estepe, feita ao lado de Martin Mendonça (Pitty). O final, com a bossa acústica e orquestrada Vai voar, é bastante venturoso. Só faltavam mais umas três músicas.
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