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Cultura Pop

20 páginas de debate sobre MPB com Chico e Caetano na Playboy

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A revista Homem era a primeira encarnação da versão brasileira da Playboy, surgida em 1975 – o nome da original norte-americana só passou a ser usado aqui no fim dos anos 1970. A revista seguia a mesma cartilha liberal-ao-extremo da Playboy, com mulheres nuas, reportagens sobre comportamento voltadas para o público masculino e gadgets fantásticos para quem tinha dinheiro. Como nos anos 1970 um negócio chamado “aparelho de som” passou a fazer parte da lista de desejos de quase todo mundo, claro que matérias sobre toca-discos, videocassetes (daqueles bem primitivos), discos e assuntos parecidos sempre surgiam na publicação.

E, bom, só isso explica o fato de, em setembro de 1977, a revista Homem ter aproveitado para lembrar dos dez anos dos festivais da canção com um suplemento especial de 20 páginas, que trazia um debate entre Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Sérgio Cabral e Aldir Blanc. Olha a capa da revista (não abra no trabalho) e do tal suplemento ai.

A presença de Sergio Cabral (o pai, jornalista) meio que dava o tom do tal bate-papo, que aliás, era montado no mesmo esquema uncut e cabe-de-tudo das grandes entrevistas do Pasquim. O título da entrevista tinha uma piadinha que cabia bem tanto na Homem quanto no semanário carioca (“Um pega que durou a noite inteira”). Nelson Silva, jornalista da sucursal carioca da Editora Abril, e Fernando Pessoa Ferreira, da redação de Homem, também participaram da conversa. O papo foi na casa de Chico e, de acordo com a introdução, Milton Nascimento, Gilberto Gil e Paulinho da Viola, foram convidados mas não puderam ir.

A tal conversa tocava num ponto que era bem, digamos, típico dos anos 1970, que eram os cantores brasileiros que usavam pseudônimos e cantavam em inglês. Aldir: “A multinacional pega um sujeito no subúrbio, veste-o bem e muda seu nome, de Aníbal da Silva para Joseph McLean. Essa transformação do valor de uso em valor de troca é feita dentro de nosso próprio país, sem que os brasileiros tenham qualquer tipo de lucro”. “A Jovem Guarda, por exemplo, foi inventada e planejada. Pelo que se sabe, Roberto Carlos está consciente de que foi um ídolo inventado pelo Magaldi e pelo Carlito Maia”, rebateu a revista (“é um caso diferente”, disse Aldir).

Se hoje você lê discussões sobre Spotify, Deezer, tik tok e pagamento de direitos autorais, na época o licenciamento (não se usava esse termo, acho) de músicas para televisão e trilhas de novela era um papo que dava assunto. Na resenha da Homem, Edu Lobo e Chico Buarque diziam acreditar que a Som Livre, gravadora da Rede Globo (e lançadora de LPs de trilhas de novelas), mais prejudicava do que ajudava os compositores brasileiros.

“Os caras são tão gananciosos que não têm cuidado algum com a música popular brasileira. Para eles só interessam as músicas das novelas e a execução imposta. Essas músicas são mesmo tocadas, são cantadas pelo povo, mas ninguém sabe quem são o autor e o cantor. São músicas dos personagens da novela. Antigamente tínhamos o problema da ‘música da cantora’. A gente dava a música pra cantora interpretar e ninguém sabia que o autor era a gente, mas, pelo menos, sabiam quem era a cantora”, vociferou Edu.

“É claro que você tem de cobrar (pela execução em programa de TV)! Não cobraria se fosse para um filme ou uma peça? Teatro paga, cinema paga… e a TV Globo? Não paga?”, disse Chico, que, do alto de seus vetustos 34 anos, aproveitou para reclamar que tudo para a juventude da época era “velho”. “Hoje os jovens colocam-se distanciados e não querem participar de nada. Tudo pra eles é velho, velho é sinônimo de ruindade… e acabou”, reclamou. Aldir e Edu aproveitaram para reclamar do movimento Black Rio (“não chega a ser fenômeno nenhum, não há como discutir isso”, disse Edu). Já Caetano chegou depois de alguns minutos de papo, quando estava rolando uma discussão sobre poesia – a transcrição é tão detalhista que informam até que voltaram a fita da conversa para o cantor saber onde tudo havia parado.

Tem dois links onde dá para ler tudo, aqui e aqui. Na capa do suplemento, a conversa era chamada com o título A MPB se debate. Em plena era da censura, fazia muito sentido.

 

Cultura Pop

Relembrando: Yoko Ono, “Season of glass” (1981)

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Relembrando: Yoko Ono, "Season of glass" (1981)

Complicado falar de um disco que, pelo menos até a publicação deste texto, não está nas plataformas digitais – pelo menos pode ser escutado no YouTube. Mas vale (e muito) relembrar Season of glass, quinto disco de ninguém menos que Yoko Ono, lançado no dia 3 de junho de 1981 no Reino Unido, e dia 12 nos EUA.

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Season of glass, por sinal, causou foi polêmica. Para começar, foi o primeiro disco da cantora e artista plástica japonesa lançado após o assassinato de seu marido John Lennon, em dezembro de 1980. A capa do disco trazia justamente os óculos que John usava no momento de sua morte, e que (por conta dos tiros que ele levou) havia ficado com as lentes manchadas de sangue. Ao lado dele, um copo d’água pela metade.

Yoko foi bastante cobrada por fãs e por jornalistas por ter feito isso. “O que eu deveria fazer, evitar o assunto?”, disse ao New York Times numa matéria publicada dois meses depois do lançamento do álbum. “Muitas pessoas me disseram que eu não deveria colocar aquela foto. Mas eu realmente queria que o mundo inteiro visse aqueles óculos com sangue neles e percebesse o fato de que John tinha sido morto. Não era como se ele tivesse morrido de velhice ou drogas, ou algo assim”.

“As pessoas me disseram que eu não deveria colocar os tiros no disco, e a parte em que começo a xingar: ‘Me odeie, nos odeie, nós tínhamos tudo’, foi apenas deixar esses sentimentos saírem. Eu sei que se John estivesse lá, ele teria sido muito mais franco do que eu. Ele era assim”. Aliás, a gravadora de Yoko na época, a Geffen, chegou a dizer a ela que as lojas evitariam ter o disco em estoque – porque a imagem era “de mau gosto”. Seja como for, Yoko alegou que a única coisa que ela conseguiu salvar de John após levarem seu cadáver tinham sido justamente os óculos dele. “Isso é o que ele é agora”, disse.

A tal música cheia de xingamentos é I don’t know why. E ela foi feita justamente quando Yoko viu que não iria conseguir dormir por causa de uma romaria de fãs à porta do edifício Dakota, onde morava com John, logo após a morte dele. Durante dez dias, Yoko escutou os admiradores do ex-beatle tocando na rua o disco Imagine, ininterruptamente.

“Uma noite eu comecei a me perguntar por que, por que era assim, e de repente aquela pergunta se tornou uma música. Eu não tive forças para me levantar e ir ao piano. Então apenas cantei em um gravador que tinha ao lado da cama. Quando estava cantando eu sabia exatamente qual seria o arranjo, até mesmo a parte em que eu estaria xingando”, contou ao New York Times.

A sombria No no no ganhou clipe, que abria com o som de quatro tiros e Yoko gritando. A versão que foi para o álbum excluiu os tiros. No fim da música, o então pequeno Sean, filho do casal, aparecia contando uma história que seu pai contara para ele. “Sean estava comigo durante toda a produção do álbum. E sua voz, aqueles tiros… Essas são as coisas que ouvi. Tudo o que fiz sempre foi diretamente autobiográfico, e esses sons eram a minha realidade”, contou.

Aliás, em 2020, Yoko deu entrevista para o site American Songwriter e o papo descambou para Season of glass. A cantora considerava o estado de espírito do disco ainda atual. O repórter notou que na contracapa, o copo da capa aparecia cheio, em vez de meio vazio. Eram outros tempos, meses após a morte de Lennon. “Você notou? Muito poucas pessoas notaram isso”, afirmou.

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Relembrando: Tad, “8-way santa” (1991)

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Relembrando: Tad, "8-way santa" (1991)

Banda liderada por uma personagem-testemunha do grunge, Tad Doyle, o Tad costuma ser esquecido quando o assunto é a onda de Seattle nos anos 1990. Injustiça: o grupo foi, ao lado do Nirvana, o responsável pela passagem de bastão do rock alternativo dos anos 1980 para os 1990 – mais ou menos como bandas como Joy Division, Killing Joke e o U2 do começo também foram em relação ao fim dos anos 1970. Se o Mudhoney mexia no baú dos lados Z sessentistas e o Nirvana era power pop destrutivo, Tad era um Black Sabbath pós-punk, cruzando riffs e batidas localizadas entre os anos 1970/1980.

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Cantor, guitarrista e, durante uns tempos, multi-instrumentista de sua banda, Tad Doyle é daquelas figuras que observam o tabuleiro do mercado musical por vários lados diferentes – na adolescência, chegou a tocar em bandas de jazz e depois estudou música formalmente, na faculdade. O Tad acabou virando um dos primeiros nomes assinados com a Sub Pop, pouco depois da empresa pular da condição de zine para a de selo. Ficou claro desde o começo que as especialidades de Tad Doyle (voz, guitarra), Gary Thorstensen (guitarra), Kurt Danielson (baixo) e Steve Wied (bateria), formação original, eram som pesado e provocação. E isso logo a partir do primeiro disco, God’s balls (1989), produzido por Jack Endino.

Salt lick, EP de 1990 – reeditado depois como álbum cheio – já foi concebido pelo grupo ao lado de um agente provocador daqueles: o recém-ido Steve Albini. Já 8 way santa (1991), terceiro álbum do grupo, foi o melhor momento da fórmula musical do Tad, abrindo com a pesada Jinx, e prosseguindo com encontros entre Black Sabbath e Killing Joke na fase anos 1980, em Giant killer e Wired god.

O álbum foi produzido por Butch Vig três meses antes dele pegar firme em Nevermind, do Nirvana – o que torna Tad um exemplo de banda que trabalhou com todos os integrantes da santíssima trindade dos produtores do rock alternativo norte-americano. O material não apenas de 8 way santa quanto dos outros discos de Tad poderiam ser colocados tranquilamente na gavetinha do stoner rock – embora haja certo domínio de linguagens não muito comuns ao estilo, como da criação de melodias mais próximas do som de bandas como Joy Division e Hüsker Dü (como acontece em algumas passagens de Delinquent e Flame tavern) e uma abordagem mais próxima do punk em certas faixas (como em Trash truck).

Uma sonoridade mais próxima de discos do Sabbath como Master of reality (1971) surge em Stumblin’ man e Candi. Já 3-D witch hunt, com violões quase hispânicos (e discretos) poderia estar no repertório do New Model Army ou do The Cure. No final, o punk de Crane’s cafe e o pós-punk Plague years, quase uma Plebe Rude/Gang Of Four grunge, combinando guitarras e violões suaves, riffs marcantes e vocais quase totalmente livres de drive (exceção no álbum).

8 way santa teve seu lançamento prejudicado pela capa original. A foto “do bigodudo agarrando uma garota” (como a própria banda definiu), e que havia sido encontrada pela banda num álbum de fotos comprado num sebo, teve que ser trocada assim que os personagens da imagem, que não haviam sido consultados, viram o disco nas lojas. Não só isso: a faixa Jack, o relato de um passeio bêbado – e perigoso – da banda numa pick-up em cima de um lado congelado, chamava-se originalmente Jack Pepsi, numa referência à mistura de uísque e refrigerante que embalou a aventura. Só que a faixa desagradou à Pepsi, e o grupo precisou mudar o título em edições seguintes.

A busca de “novos Nirvanas” chegou até o Tad depois de 8-way santa e o grupo foi contratado pela Giant, novo selo lançado pela Warner. Inhaler (1993), comparado com os outros discos, não trazia nada de tão novo – mas soava como primeiro álbum para quem desconhecia o grupo. O grupo bandeou-se para outro selo da Warner, o EastWest, e lançou Infrared Riding Hood (literalmente, “Chapeuzinho Infravermelho”), seu último disco, em 1995.

Nessa época, estava mais claro para o mercado que Tad era uma banda de “metal alternativo”, um rótulo que, dependendo da banda, servia mais como camisa de força do que como definição. Mas o Tad encerrou atividades por esse período, de qualquer modo. Hoje em dia, Tad Doyle lança trabalhos solo, é produtor, dono de estúdio e tem até Linkedin.

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Smashing Pumpkins entre 1992 e 1996 no nosso podcast

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Smashing Pumpkins entre 1992 e 1996 no nosso podcast

Para muita gente, Billy Corgan foi um herói. Tido como poeta da geração X, o cantor e principal compositor dos Smashing Pumpkins foi o sujeito que colocou inquietações e traumas em versos. Foi o músico que promoveu um impensável encontro entre o rock de arena e as encucações do college rock dos anos 1990. Foi igualmente (e ao lado do Nirvana e do R.E.M.) um artista que alargou bastante os limites do mainstream.

O episódio de hoje do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, dá um passeio na história de Corgan, James Iha, D’Arcy e Jimmy Chamberlin tendo como base seus dois álbuns mais significativos: Siamese dream (1993) e Mellon Collie and The Infinite Sadness (1995), além do antes, durante e depois de uma banda que, durante sua fase áurea, significou a sobrevida do rock, logo depois do grunge.

Século 21 no podcast: Tigercub e Miami Tiger.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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