Connect with us

Cultura Pop

Tears For Fears: descubra agora (??)

Published

on

“E alguém precisa descobrir Tears For Fears?”, você deve estar se perguntando, certo? Relaxa: essa foi nossa desculpa para falar de TFF, uma das bandas preferidas aqui do POP FANTASMA, e um dos grupos (uma dupla, enfim) mais importantes da música pop de todos os tempos.

Roland Orzabal e Curt Smith ensinaram grandes plateias a curtir pós-punk com letras politizadas e introspectivas (o primeiro disco, The hurting, de 1983, é isso), fizeram a transição para uma espécie de tecnojazzrockpop de arena (Songs from the big chair, de 1985) e migraram para o som orgânico e jazzístico na época certa (The seeds of love, de 1989, era “o” disco que você precisava ouvir no início da era do CD).

Sem Curt Smith, Roland continuou com a bandeira do pop elaborado em mais dois bons discos, Elemental (1993) e Raoul and the kings of Spain (1995). A dupla voltou a se encontrar num disco injustamente fracassado, que tinha coisas que caberiam em discos de Beach Boys e Todd Rundgren, Everybody loves a happy ending (2004). Tem um disco novo vindo aí, The tipping point, marcado para fevereiro de 2022. E você vai ter bastante trabalho se resolver procurar uma música menos que boa nos álbuns deles.

Tá aí nossa lista de músicas que você deve ouvir hoje.  Ouça lendo e leia ouvindo. E tá uma lista bem grande…

“MAD WORLD” (The hurting, 1983). Comparada a Unknown pleasures, do Joy Division, a estreia do TFF chega a assustar pela quantidade de temas corrosivos e depressivos nos quais a dupla mexeu: depressão, abuso infantil, pais que sufocam os filhos com problemas pessoais e expectativas, bullying. Orzabal não economizou nessa música, um retrato bem sombrio da infância e do dia a dia escolar.

“PALE SHELTER” (The hurting, 1983). O que parece ser apenas uma canção de desilusão amorosa, é na verdade uma música sobre abandono parental. Foi gravada inicialmente em 1982 com o nome de Pale shelter (You don’t give me love) e depois regravada para um outro single e para o primeiro álbum. O clipe, que você provavelmente já viu, é um primor de surrealismo (com várias imagens aleatórias) e destemor (a dupla passeia em meio a uma guerra de aviões de papel e Orzabal leva um aviãozinho no olho).

“WATCH ME BLEED” (The hurting, 1983). “O que sobra de mim ou de qualquer pessoa/quando negamos a dor?”. “Estou cheio, mas me sentindo vazio/Por todo o calor, é tão frio”. Uma das melhores músicas do primeiro disco do TFF tem uma letra que, numa análise retrospectiva, pode ser comparada aos melhores momentos de Renato Russo – e a introdução de violão caberia perfeitamente em Legião Urbana Dois. Enquanto você pensa sobre as influências do Tears For Fears na Legião, ouça a música, que sequer foi lançada como single.

“THE PRISONER” (The hurting, 1983). Experimente tocar essa música para um bando de amigos e diga que é um lado B do Nine Inch Nails. Dá para enganar. Apesar dos vocais sussurrados, do peso e da letra sufocante (sobre uma criança oprimida e amedrontada), o final é feliz (“o amor me liberta/o prisioneiro agora está fugindo”). Foi o lado B do single de Pale shelter.

“THE WAY YOU ARE” (single, 1983). Uma rara canção escrita pela “formação completa” do grupo (Roland, Curt, o baterista Manny Elias e o tecladista Ian Stanley), feita para um single que serviu de produto intermediário entre o primeiro e o segundo disco. Um bom reggae tecno que é a cara dos anos 1980, mas que Roland e Curt execram. “Foi a pior coisa que fizemos”, destroçou Smith sem dó nas notas de uma coletânea da banda que trazia essa música (!), Saturnine martial & lunatic. Mas na época, saiu até clipe.

“SHOUT” (Songs from the big chair, 1985). Orzabal e Smith dizem que essa música não tem tanto assim a ver com a terapia do grito primal (que inspirou o nome da banda), e sim com protesto político. “É protesto na medida em que incentiva as pessoas a não fazerem as coisas sem questioná-las. As pessoas agem sem pensar porque é assim que as coisas acontecem na sociedade”, disse Smith. Roland começou a compor a canção com sintetizador e bateria eletrônica, e de início tinha só um refrão, concluído pelo tecladista Ian Stanley, um cara importantíssimo na formatação do estilo “Tears For Fears” de fazer música.

“EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD” (Songs from the big chair, 1985). Música composta por Orzabal, Ian Stanley e pelo produtor Chris Hughes, cuja letra já teve mil interpretações diferentes, mas fala mesmo era sobre a briga EUA X URSS pelo poder mundial (enfim, a Guerra Fria). Smith, cantor da faixa, ficou particularmente puto com uma interpretação do National Review que via pontos de vista conservadores na letra. “Ironia e sarcasmo claramente não são seu forte”, twittou para o periódico.

“HEAD OVER HEELS” (Songs from the big chair, 1985). Orzabal descreve essa música como “uma canção de amor que acaba ficando meio perversa”. Um clássico do amor, da dependência e da pouca habilidade para lidar com a complexidades das relações humanas. O clipe, gravado na biblioteca do Emmanuel College, no Canadá, virou um clássico.

“THE WORKING HOUR” (Songs from the big chair, 1985). O tom meio jazz-meio prog da segunda faixa de Songs… era moda em 1985 – Sting não largou o Police para misturar música pop, jazz e new wave à toa. A letra era um primor de desencanto com a “vida real”. Não saiu em single.

“WOMAN IN CHAINS” (The seeds of love, 1989). Foi assistindo a um show bem simples da cantora Oleta Adams num hotel no Kansas em 1985, que Orzabal e Smith tiveram a ideia de partir para um mergulho “orgânico” no terceiro disco, já cansados dos sintetizadores e samplers da turnê de Songs… E para ajudar no trabalho, convidaram a cantora. Woman in chains é tida como uma “canção feminista” e é inspirada por um livro que Roland estava lendo sobre sociedades matriarcais. Orzabal resolveu escrever sobre como o feminino costuma ser minimizado. Mas Oleta suou no estúdio para agradar à dupla: soltou a voz num tom agudo incomum para ela.

“SOWING THE SEEDS OF LOVE” (The seeds of love, 1989). A neopsicodelia que deu certo, tocou em rádio e vendeu discos: Smith e Orzabal (compondo em parceria) lançaram uma pérola pop-rock com referências a Beatles (I am the walrus foi citada por quase todo mundo) e pequenas porradas políticas na letra (Margaret Thatcher é a “vovó política” da letra).

“ADVICE FOR THE YOUNG AT HEART” (The seeds of love, 1989). Neobossa pop que ajudou a conquistar novos públicos para o grupo: no Brasil o TFF tocava até em rádios AM e esteve numa trilha de novela (a pouco lembrada Gente fina). O clipe da faixa, dirigido por Andy Morahan, valia por um curta-metragem: mostrava cenas de um “feliz” casamento latino em que, aqui e ali, dava para perceber que as coisas não iam tão bem assim (além de mostrar cenas excelentes de ranço e caras-viradas entre Curt e Orzabal).

“ALWAYS IN THE PAST” (single, 1989). O lado B de Woman in chains lembrava muita coisa que geralmente não era associada ao TFF: até mesmo a fase pop do Genesis, só que sob um ponto de vista mais sombrio. Saiu depois num relançamento de Seeds of love.

“BREAK IT DOWN AGAIN” (do disco Elemental, 1993). Após várias brigas e climões, Curt Smith saiu do grupo, deixando Orzabal livre para carregar o nome (e lançar uma ou outra canção malcriada em relação ao ex-amigo). O primeiro single do novo disco é a única música que sobrou nos shows da dupla quando Smith voltou. O parceiro de canções de Orzabal na época era Alan Griffiths, cuja banda The Escape tinha aberto shows do TFF em 1983.

“BRIAN WILSON SAID” (do disco Elemental, 1993). Uma canção desencantada que poderia estar no clássico dos Beach Boys, Pet sounds, mas que tinha o mesmo tom jazz-pop-introspectivo de alguns momentos de The seeds of love e Songs from the big chair. A letra, curiosamente, tinha o mesmo tom amargo dos hits de bandas como Nirvana, que liderava as rádios na época (abria com a frase “minha vida, nada foi fácil até agora”).

“RAOUL AND THE KINGS OF SPAIN” (do disco Raoul and the kings of Spain, 1995). Usando um nome que quase havia sido dado ao disco The seeds of love, Orzabal entrou numa egotrip daquelas: fez um pop meio progressivoide (e bom) para falar de histórias de sua família – Roland, por sinal, quase se chamou Raoul, mas sua mãe resolveu que era melhor ele ter um nome mais anglicizado.

“ME AND MY BIG IDEAS” (do disco Raoul and the kings of Spain, 1995). Baladão que, com um pouco mais de produção, poderia estar em The seeds of love – e que, opa, marca o reencontro do TFF com Oleta Adams. Na época, Oleta estava na Fontana, antiga gravadora do grupo, e tinha lançado o quinto disco, Moving on.

“EVERYBODY LOVES A HAPPY ENDING” (do disco Everybody loves a happy ending, de 2004). Smith e Orzabal voltaram a se falar por causa de razões extra-música (a dupla ainda era dona de empreendimentos imobiliários) e… por que não fazer um disco novo? A faixa-título do álbum da “volta” (que vendeu bem pouco) lembrava Beach Boys, Todd Rundgren, 10cc e tudo de bom que você pudesse imaginar.

“CLOSEST THING TO HEAVEN” (do disco Everybody loves a happy ending, de 2004). Baladão que, caso tivesse um belo glacê de eletrônicos, poderia estar em Songs from the big chair. O clipe tem participação da atriz Brittany Murphy, que morreria em 2009. Essa música chegou a tocar em rádio no Brasil.

“SECRET WORLD” (do disco Everybody loves a happy ending, de 2004). Uma balada tão bonita que encerra com aplausos. Deu nome ao primeiro disco ao vivo da banda, de 2006.

“AND I WAS A BOY FROM SCHOOL” (do EP Ready boys & girls?, de 2014). Para comemorar o Record Store Day de 2014, o TFF soltou um EP indie com três covers, de Animal Collective, Arcade Fire e Hot Chip (a faixa em questão). Na época, chegou a ser divulgado que a banda estava trabalhando em material novo e que My girls, do Animal Collective, lançada em 2013, servia de batedor para um próximo disco.

>>> Apoia a gente aí: catarse.me/popfantasma

Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Published

on

O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

Continue Reading

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Published

on

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

Published

on

Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

Continue Reading
Advertisement

Trending