Connect with us

Crítica

Ouvimos: Yves Jarvis – “Yves Jarvis in Audiotree Live” (EP)

Published

on

Yves Jarvis lança EP ao vivo no estúdio Audiotree, revisitando suas músicas (boa parte delas do disco All cylinders) em versões psicodélicas, minimalistas e solares.

RESENHA: Yves Jarvis lança EP ao vivo no estúdio Audiotree, revisitando suas músicas (boa parte delas do disco All cylinders) em versões psicodélicas, minimalistas e solares.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

Já que Yves Jarvis lançou um dos discos mais bacanas de 2025, All cylinders, e ele dura apenas 26 minutos, vamos de Yves Jarvis in Audiotree Live, EP de cinco faixas gravado por ele no projeto desenvolvido pela gravadora de Chicago, que convida músicos para fazer coisas ao vivo em seu estúdio.

No show, Yves mexeu em seu repertório mais recente, com direito a quatro faixas de All cylinders, e um single de 2023, Platitudes. I’ve been mean salta aos ouvidos como soul-reggae-rock minimalista, estilingado e introspectivo – a percussão inicialmente é simples como um estalar de dedos, até que o som ganha mais detalhes de psicodelia. Platitudes muda climas sonoros com rapidez, e investe no soul solar e minimalista.

All cylinders, Decision tree e The knife in me, fechando o disco, são o mais próximo que alguém chegou de cruzar e isolar musicalmente as influências de Jimi Hendrix e Joni Mitchell no som de Prince – Yves fez isso em meio a mumunhas de psicodelia e efeitos sonoros. Audiotree live vale como um desdobramento de All cylinders e um presente para fãs.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: 9 de setembro de 2025.
Lançamento: Audiotree Music

Crítica

Ouvimos: Pavement – “Hecklers choice – Big gums and heavy lifters” (coletânea)

Published

on

RESENHA: Coletânea irônica do Pavement, Hecklers choice reúne hits e lados B que viraram virais, reafirmando a influência e o humor do indie noventista.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Matador
Lançamento: 18 de setembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Lembra quando saíam séries de coletâneas como “Os grandes sucessos de fulano/fulana”? Muitas vezes com uma lista de músicas que trazia apenas um ou dois hits (porque a ideia na prática era aproveitar o êxito do artista em outra gravadora e tentar reposicionar o material fracassado que ele deixou em outro selo)? Pois bem, hoje em dia, com as redes sociais e as plataformas digitais, qualquer música pouco lembrada pode viralizar de uma hora pra outra e virar hit – sabemos que você sabe disso, mas é só pra contextualizar.

O Pavement sentiu isso quando Harness your hopes, um lado B de compacto do grupo, lançado no fim dos anos 1990, virou sucesso na pandemia. Isso teria acontecido graças à função autoplay do Spotify e às manias momentâneas do Tik Tok (contamos essa história aqui). Mas o fato é que não rolou só com Harness: muita coisa do Pavement andou sendo devidamente recordada nos últimos tempos. Mais do que isso: a nova história do indie rock simplesmente não pode ser contada sem a influência do Pavement e de sua sonoridade despojada e inspirada – já que a cada dia parece que descobrem uma banda nova que ama o som de Stephen Malkmus e seus amigos.

Corta para Hecklers choice, coletânea de hits “virais” do Pavement, que mesmo tendo esse ar de “os grandes sucessos” (ou “a arte de Pavement”), patina na ironia e na corrosão conhecidas do grupo. A começar pelo título do disco – heckler é um termo britânico usado para definir aquelas pessoas sem-noção que atrapalham peças, shows e discursos para falar coisas.

Não que o Pavement tenha desprezo pelos seus próprios hits, até porque a compilação cai dentríssimo do material de Crooked rain, crooked rain (1994), segundo álbum, com faixas como Cut your hair, Gold soundz, a provocativa Range life. E, claro, traz também Harness your hopes e Spit on a stranger – essa última, um hit do álbum Terror twilight (1999), e uma baita balada que muita gente põe na conta do Radiohead (faz sentido, já que Nigel Godrich, costumeiro produtor da turma de Thom Yorke, cuidou desse disco).

A estreia Slanted and enchanted (1992) foi deixada de lado aqui em nome de músicas como a ruidosa Stereo, e de canções que mostram que sempre houve “algo” mais acessível na argamassa do Pavement. O grupo fez balada com ar country (a linda Major Leagues), promoveu uma curiosa união de Nirvana e Roy Orbison (Shady lane) e apresentou também canções que lembram aquela ocasião em que Bob Dylan se apresentou com uma banda punk novata na TV (Unfair, Date w/IKEA). Já Summer babe, com um pouco mais de intensidade sonora, chega perto do shoegaze.

Com o passar do tempo, dá para perceber também o quanto o piano do finalzinho de Range life deve às intervenções de Nicky Hopkins nos discos setentistas dos Rolling Stones – e até a álbuns clássicos como Blonde on blonde, de Bob Dylan (1966). Hecklers choice é o relatório das vezes em que o Pavement decidiu brincar de “escalar” a banda – e das vezes em que o destino fez isso por eles.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

 

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Snakeheads – “Belconnen highs”

Published

on

Belconnen highs é o único disco dos Snakeheads, que começou a ser gravado em 2019 e chega só agora como homenagem ao saudoso integrante Pete Lusty. Punk australiano fundamentado nas bandas britânicas do estilo.

RESENHA: Belconnen highs é o único disco dos Snakeheads, que começou a ser gravado em 2019 e chega só agora como homenagem ao saudoso integrante Pete Lusty. Punk australiano fundamentado nas bandas britânicas do estilo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Cassell Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Essa banda faz punk como antigamente: rápido, quase hardcore, lembrando bandas como The Damned, The Clash, Sex Pistols, os australianos do Radio Birdman e outros clássicos. Pensando bem, o Snakeheads é uma banda de antigamente, que ficou mais de dez anos rodando pelo mar numa garrafa. Foi formada em 2014 na Austrália por dois amigos de infância, que passaram a vida tocando em várias bandas de Sydney – até que perderam o contato, se reencontraram, e decidiram ensaiar todas as segundas-feiras.

A James Roden e Pete Lusty, os tais amigos, juntaram-se Kit Warhust, Graeme Trewin (ambos na bateria) e Harry Roden (baixo). A turma começou a trabalhar em sons autorais, inspirados pelo punk britânico e pelo hardcore dos EUA – mas igualmente havia partículas de estilos como glam rock e de sons dos anos 1960. Tudo isso está presente na argamassa sonora das 17 faixas de Belconnen highs, o único álbum dos Snakeheads.

Iniciado em 2019 e só agora lançado, Belconnen highs é um renascimento e, simultaneamente, um fechamento de ciclo. A começar porque Pete Lusty morreu de câncer em 2020, uma semana antes do início da pandemia, quando o álbum sequer estava concluído. Roden seguiu em frente e terminou o disco como homenagem a Lusty, que por sinal, além de tocar em várias bandas, também foi uma figura importante do ecossistema musical da Austrália – foi empresário do The Vines e um dos fundadores do selo Ivy League.

  • Ouvimos: Half Japanese – Adventure

Não há espaço para melancolia em Belconnen highs. São canções curtas e ágeis, com bases inspiradíssimas no Clash, e com letras que falam em jogo sujo da indústria musical, tentativas de alcançar o sucesso, manipulação, merdificação da música e outros temas instigantes. Smash hits e Top of the pops fazem a crônica do jabá, dos altos e baixos, e da concentração cagada de grana da música (“nós estávamos no topo das paradas / agora estamos tocando em estacionamentos”, diz Top of the pops).

Músicas como All I want, Kontrol, Exocet, Sonic manipulation (esta, a cara do The Damned de faixas como Hit or miss) e Dumb enough são demasiadamente cascudas e passadas no alho para serem definidas como “punk pop” – unem raiva, rapidez e, às vezes, palmas a la Ramones, dando um clima amigável para qualquer fã do estilo. Savile Row, por sua vez, é um desdobre punk-sixties da batida de Bo Diddley. Já Out of control again tem partículas de Green Day, mas também tem detalhes que lembram The Who e The Jam. O disco do Snakeheads é um resgate musical com peso, inconformismo e singeleza em altas doses.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Black Eyes – “Hostile design”

Published

on

O Black Eyes volta após 20 anos com Hostile design, mistura de punk, jazz e afrobeat produzida por Ian McKaye, intensa e experimental.

RESENHA: O Black Eyes volta após 20 anos com Hostile design, mistura de punk, jazz e afrobeat produzida por Ian McKaye, intensa e experimental.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Dischord Recordss
Lançamento: 10 de outubro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Vindo da cena ruidosa de Washington DC, o Black Eyes lançou dois álbuns entre 2003 e 2004, mas se separou logo em seguida. Dan Caldas, Daniel Martin-McCormick, Hugh McElroy, Jacob Long e Mike Kanin acabaram retornando com o grupo em 2023 para uma série de shows e o primeiro disco inédito após essa reunião sai só agora. Hostile design é considerado um álbum pela banda em entrevistas e no release distribuído pela gravadora Dischord – mas no Spotify ele está classificado como EP. De qualquer jeito, são seis músicas cruas e cáusticas em pouco menos de meia hora, com produção de Ian McKaye (Fugazi).

O Black Eyes deu recentemente uma entrevista à newsletter Last Donut Of The Night e passou a limpo a fase inicial do grupo – no entendimento da banda, o fim acabou sendo muito abrupto e muito tempo da preparação de Cough, o segundo disco (2004) foi gasto com discussões que não levavam a nada. Com mais maturidade e foco, Hostile design volta andando no corredor do art punk e das experimentações musicais que partem do punk para o jazz, o afrobeat e outros estilos. Nada muito estranho para quem se lembra dos discos anteriores do grupo, mas a banda – cuja formação incomum inclui tambores, guitarra, baixo e saxofone – soa agora bem mais experimental do que apenas afrontosa.

  • Ouvimos: New Brutalism – Requiescat record (EP)

Hostile começa em clima de marchinha art-punk com Break a leg, com vocal gritado e bateria, num clima que mais parece um “a chuva cai, a rua inunda” do barulho – mas vai ganhando cara afropunk com baixo à frente, coral e sax. Burn une gritos e lamentos, ganhando uma aparência de metal-punk artístico, de no-wave melodiosa. Under the waves mistura na guitarra detalhes de high life e mumunhas ruidosas lembrando The Fall. Já faixas mais curtas como o single Pestilence e a urgente Yeah right investem num lado maníaco que conversa bem mais com os fãs da fase anterior.

No final, TomTom tem ares de dub pós-punk, com vocal mântrico, som bem percussivo – e faz lembrar bandas como Public Image Ltd (na fase do Metal box, 1979) e Slits. O lado “hostil” do grupo está nos sons, mas está presente mais ainda nas letras, que estão sempre do lado mais sangrento e cru da vida, como no destino trágico de Yeah, right (“conseguiu um lugar à mesa / e isso lhe custou a vida”) e Break a leg (“a infecção continua se espalhando / não importa o que eu tente “).

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading
Advertisement

Trending