Lançamentos
Urgente!: Primeiro disco do Public Image Ltd ganha edição “alternativa”

E esse tal lançamento do Public Image Ltd? Vamos por partes. Historicamente, os mercados musicais da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos funcionam em paralelo. Tanto que existem discografias britânicas e norte-americanas de bandas como Beatles, Rolling Stones, Kinks, The Who. Ou seja: para cada país, discos com nomes diferentes, capas diferentes, ordem das faixas diferentes, músicas diferentes, mixagens diferentes, e vai por aí.
Mais exemplos: a Capitol Records, divisão norte-americana da EMI, só topou lançar The piper at the gates of dawn, estreia do Pink Floyd (1967) se fizesse algumas mudanças. Desfigurou completamente a lista de faixas, pôs o single See Emily play (ausente do LP britânico) abrindo a seleção, jogou a quilométrica Interstellar overdrive lá para o fim do disco e lançou o disco pela subsidiária “indie” Tower Records. Em 1979, a Columbia praticamente transformou numa coletânea o primeiro disco do Clash – lançado dois anos antes – para lançá-lo nos Estados Unidos.
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E, bom, uma coisa bem mais complexa aconteceu com um dos discos mais abrasivos da história do rock: First issue, primeiro álbum do Public Image Ltd (1978). A Warner norte-americana disse em 1979 que lançaria o disco, desde que fossem remixadas ou regravadas seis das oito faixas (Theme, Fodderstompf, Annalisa, Public Image, Low life e Attack – ou seja, quase todo o disco). A ideia era que o lançamento norte-americano fosse considerado algo “único” em termos de vendas, daí as tais mudanças.
O problema foi que a Warner simplesmente desistiu de lançar o disco nos Estados Unidos. A única dessas músicas a ser lançada foi a versão diferente de Fodderstompf, que saiu num lado B de single ainda em 1979 – mas as fitas da tal “versão alternativa” foram arquivadas de maneira errada – e perdidas. Em 2013 o selo Light In The Attic pôs First issue nas lojas norte-americanas em vinil e fechou o ciclo de qualquer jeito.
Agora corta para o Record Store Day de 2025. A festa foi em 12 de abril, mas se você tiver sorte, ainda consegue esbarrar com uma cópia em vinil do mix alternativo de First issue lançada em tiragem limitada para o evento. O disco traz cinco das seis faixas do original-que-não-foi-lançado nos EUA em 1979 (Fodderstompf ficou de fora, sei lá o motivo). Como todo o material foi feito em meio às gravações de Metal box, segundo disco do PiL (1979), a relação inclui também Swan lake, que saiu nesse álbum – e que foi publicada em single como Death disco.
O novo lançamento ganhou também uma capa alternativa – com o mesmo conceito, mas fotos diferentes da formação do PiL na época – e sai por uma junção especial da Universal com a Rhino Records, apenas para Reino Unido/Europa e América do Norte/Canadá. Olha aí a versão de Public image, um remix que destaca a voz de John Lydon e os pratos da bateria, logo no começo.
A tal versão de Fodderstompf que saiu apenas em single (e não está no tal disco novo) tá aqui.
Crítica
Ouvimos: Amy Millan – “I went to find you”

RESENHA: Após 16 anos, Amy Millan retorna com I went to find you, um disco de etéreo, introspectivo e com ecos de americana, soft rock e pop progressivo.
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I went to find you, terceiro álbum da canadense Amy Millan, sai 16 anos após seu último disco, Masters of burial (2009 – um disco que mesclava country, clima indie e uma certa melancolia sinistra. O novo disco, por sua vez, une o conforto do estilo musical conhecido como americana (a união de várias sonoridades e vibrações em torno do country) com a elevação da música espacial, dos teclados que cintilam em meio a melodias pop.
Em I went to find you, Amy retorna com um novo parceiro, Jay McCarrol, e explora temas como confiança, amizade, autoaceitação e memórias do passado (o “você”, do título, segundo ela, são pessoas que passam pela vida da gente e criam laços, modificam nossa vida). Em vários momentos, deixa a impressão de estar construindo um soft rock texturizado, como se o Fleetwood Mac fosse contratado pela 4AD.
É o que surge na abertura, com Untethered – uma canção tranquila sobre relacionamentos duradouros, erros, acertos e continuidades. E também no clima introspectivo e melancólico de The overpass, canção com tom contemplativo de rádio AM antiga, modernizada pelos teclados. Ou no neo soul angelical de Wire walks, um chamamento à voz interior (“em volta dessa ferida teimosa / o futuro pode ser o passado também / você pode precisar se inclinar / para o que você sempre foi”). Don valley, por sua vez, é um folk beatle – cujos vocais relacionam-se com Let it be, dos Beatles, enfim. Uma canção bonita, mas que parece deslocada num disco tão focado em encontrar sua própria identidade sonora.
Em alguns momentos, Amy Millan chega perto do rock progressivo – ou de uma noção progressiva de música pop. Como no tom quase post rock de Borderline, no pop elegante de Kiss that summer e Make way for waves, e na vibração épica de Murmurations, que fecha o álbum trazendo um pouco de clima lo-fi.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Last Gang Records Inc
Lançamento: 30 de maio de 2025.
Lançamentos
Radar: Drugdealer e Weyes Blood, Indigo de Souza, Water From Your Eyes, Astra Vaga – e mais

Viver só de arte – várias bandas que estão em começo de carreira sonham com isso (e tem muita banda experiente que também recorre a outros jobs pra pagar as contas, normal). Hoje no Radar internacional tem uma banda de Portugal, o Astra Vaga, que surgiu dessa necessidade de viver a música 24 horas por dia. E tem uma turma na nossa lista de hoje que encara o dia a dia entre estúdios e palcos na maior intensidade – a dupla Drugdealer e Weyes Blood, Indigo de Souza, etc – e leva isso para suas músicas, clipes e performances. Ouça, leia e veja.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação (Drugdealer e Weyes Blood)
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DRUGDEALER feat WEYES BLOOD, “REAL THING”. Tem coisa nova (e retrô na medida certa) no universo do pop barroco de Michael Collins, mais conhecido como Drugdealer. A nova faixa Real thing, com os vocais de Natalie Mering (que usa o codinome Weyes Blood, e com quem ele já havia feito outras músicas), é puro encanto setentista: tem ecos de Carpenters, e é pop com alma de jazz, baixo dançante e sax envolvente.
Real thing nasceu de sessões de Michael com o produtor parisiense Max Baby no estúdio de um dos membros da banda progressiva. O resultado é suave, nostálgico e feito com afeto. Uma joia pop que parece saída de um especial de TV de 1978 – e que já tem até clipe, dirigido por James Manson. E Natalie Mering/Weyes Blood, mais uma vez, encanta com seus vocais – mas isso já era de se esperar…
WATER FROM YOUR EYES, “LIFE SIGNS”. A TV dos anos 1990, com seus comerciais “ligue djá”, seus telejornais cheios de letreiros passando pela tela, sitcoms e talk shows, é a fonte de inspiração para o novo clipe do Water From Your Eyes. Rachel Brown e Nate Amos, os dois do WFYE, unem tédio, vazio, sátira, ritmos quebrados (numa abordagem mais pro pós-punk que pro pós-hardcore), vocais doces e guitarras ruidosas, numa canção que anuncia o próximo álbum, It’s a beautiful place, agendado para agosto. Um disco que, explicam-confundem eles, será “sobre tempo, dinossauros e espaço”.
INDIGO DE SOUZA, “CRYING OVER NOTHING”. “Essa música é sobre uma dor que transcende a razão. Uma dor que persegue aonde quer que você vá ou o quanto tente apagá-la. Uma dor que vem de memórias que você não consegue apagar e de um amor que você não consegue desfazer. É sobre uma perda que não tem fim”, conta Indigo de Souza sobre seu novo single, Crying over nothing – mais uma música que adianta o próximo álbum da cantora, Precipice, que sai dia 25 de julho. Canção e clipe são bastante felizinhos, apesar da letra ser bastante melancólica.
SUNGAZE, “SHADOWS”. Apesar de ter o clima enevoado do shoegaze como uma de suas referências, o nome desse grupo chega a soar como uma paródia do estilo – só uma ironia diante do clima cabisbaixo do gênero musical. O Sungaze deixa entrar também muitas influências de emo, grunge e até country, e no novo single, o grupo liderado pela dupla Ian Hilvert e Ivory Snow libera espaço para vários tipos de energias – a letra da nova faixa fala sobre o bom e velho equilíbrio entre bem e mal que todos nós vivemos no dia a dia.
PLANET OPAL, “CONNECTION OVERDRIVE”. Não chega a ser um synthpop, mas o som dessa banda italiana experimental é bstante robótico: o Planet Opal se dedica a sons balançados adiante por um clima que lembra bastante o krautrock, e também a dance-punk de bandas como Gang Of Four. Connection overdrive tem até algo de disco music – e em alguns momentos, parece com uma canção punk produzida por Giorgio Moroder. O álbum Recreate patterns, Release energy já está entre nós desde o começo de maio e é som novo, de verdade.
EMPTYSET, “ANTUMBRA”. Essa dupla britânica de música eletrônica trabalha de forma bastante experimental, a ponto de quase ser possível enxergar os sons que eles tiram nas músicas. Algumas canções soam tão esféricas quanto a foto da capa de Dissever, o novo álbum. Já o single Antumbra consiste em uma só nota, no teclado, sendo distorcida de diferentes modos – chegando a parecer uma varrição de vento e areia no deserto. Detalhe: tudo é feito ao vivo e com o uso de equipamento vintage – como se a história do gênero musical fosse repassada.
ASTRA VAGA, “LAMENTO”. Depois de anos no corre entre escritório e estúdio, o português Pedro Ledo (ex-The Miami Flu) larga o inglês e a vida dupla pra lançar seu projeto solo em seu idioma, o Astra Vaga. O primeiro single, Lamento, já tá no ar com clipe e tudo, misturando pós-punk, dream pop e um climão nostálgico noventista. Um som urgente, cheio de contraste, feito pra quem vive entre o mundo real, e a vontade de jogar tudo pro alto e viver de arte. E no qual Pedro fala do que vive: “Tenho sentido, com cada vez mais força, que se não tentar agora viver de forma diferente, talvez nunca venha a descobrir o que é realmente viver da arte”, diz.
Crítica
Ouvimos: Morcheeba – “Escape the chaos”

RESENHA: Morcheeba retorna com Escape the chaos, disco que traz de volta a mistura de trip hop, soul, psicodelia e climas escapistas – sempre de olho no relaxamento do/da ouvinte.
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O Morcheeba já foi sinônimo de trip hop numa época em que o estilo ainda era novidade e não era usado como recurso por um número considerável de artistas do universo pop. Também foi uma das maiores responsáveis pela presença na imprensa musical brasileira do termo chill out, aquela coisa da música escapista, feita com valores bem diferentes do pop normal – com referências de hip hop, blues, psicodelia e coisas mais ou menos análogas.
Dá para dizer, sendo assim, que Escape the chaos, seu décimo-primeiro álbum – e terceiro disco depois que a banda virou uma dupla formada pela cantora Skye Edwards e o multi-instrumentista Ross Godfrey – é auto-explicativo. E é verdade: basicamente o Morcheeba volta fazendo altos investimentos na fórmula que consagrou a banda, em faixas como Call for love, a balada Far we come, o quase blues rock Elephant clouds, e a sexy Bleeding out. Além de Peace of me (com rap de Oscar Worldpeace e clima próximo do ambient) e do eletrorock We live and die, que chega a lembrar um pouco as guinadas pop do U2 nos anos 1990.
O Morcheeba chega a lembrar um pouco o soul brasleiro setentista na psicodélica Pareidolia, surge com uma balada em vibe britânica e sixties (Molten) e mostra uma faceta meio Joni Mitchell/meio bossa nova em Dead to me e na faixa-título. A ideia de Skye – cuja voz continua no mesmo tom tranquilo e aveludado – e Ross provavelmente foi fazer de Escape the chaos um momento de tranquilidade para antigos fãs. Conseguiram.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: 100%
Lançamento: 23 de maio de 2025.
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