Crítica
Ouvimos: Taxidermy – “Let go” (EP)

RESENHA: O EP Let go, da banda alemã Taxidermy, mistura pós-punk ruidoso, metal experimental e caos sonoro, com ecos de Joy Division e Swans.
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Vindo da Alemanha, o Taxidermy está mais para pós-punk ruidoso e provocador do que para noise rock, ou qualquer outra denominação dessas. Ainda que vibes ligadas ao pós-hardcore surjam aqui e ali, o objetivo desse grupo parece ser um Joy Division que range e grita. Ou um Swans em formato reduzido.
Tumbling, a primeira faixa do EP Let go, tem ritmos que vão se desencontrando e sonoridade deseseperadora, e chega um pouco mais próximo do metal experimental – no final, metais levam a música para um jazz diabólico. Impeding é levada adiante por baixo à frente e clima misterioso. Os metais da faixa de abertura reaparecem para dar uma sensação maior de desespero.
No “lado B” do disco, tem You are here now, com as tais guitarras rangendo e um clima metalcore, apocalíptico. Let go, a faixa-título, chega a ameaçar um shoegaze – guitarras ganham paredes, numa canção que é puro pós-punk soturno. O texto de lançamento de Let go cita também bandas como Metz e Black Midi como sendo “próximas” do som do Taxidermy. Faz sentido – são trabalhos musicais que tendem à desorientação sonora.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Pink Cotton Candy Records
Lançamento: 16 de maio de 2025.
- 4 discos: Joy Division e seus “the best of”
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- Ouvimos: Swans – The beggar
Crítica
Radar: Renegado, Rico Dalasam, Lan, Macacko, Gabriel Falcão, Lupe de Lupe, El Escama

Estamos no meio do ano, e daqui pra frente tem muita gente que já vai planejar lançamentos para 2026 (!). Mas calma que ainda tem seis meses, tem muita gente disposta a escutar coisa nova – nós aqui no Pop Fantasma, por exemplo. Renegado e Lupe de Lupe, dois nomes que surgem no Radar nacional de hoje, estão com álbuns que vão chegar nas plataformas a qualquer momento. Macacko e El Escama acabaram de lançar os seus. Ouça!
Texto: Ricardo Schott – Foto Renegado: Marcus Knoedt/Divulgação
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- Mais Radar aqui.
RENEGADO, “NADA NOVO SOB O SOL”. “Esta é uma música que coloca todo mundo numa mesma página, para assim conseguirmos entender e refletir juntos, sobre a necessidade de uma retratação urgente com os povos pretos e originários desse país. Esse trabalho nasce com o objetivo de dar luz a uma série de questionamentos necessários para os dias atuais. Um novo mundo já está sendo construído e somos peças fundamentais para esta mudança”, diz o rapper mineiro Renegado.
São falas da maior importância, que fizemos questão de manter na íntegra, para anunciar que está vindo por aí o sétimo álbum do rapper, Marge now, programado para 18 de julho. Em Nada novo sob o sol, single-clipe que anuncia o disco, Renegado fala sobre como o povo preto continua sendo violentado e morto – incluindo as nações indígenas como vítimas do massacre diário. “Ser preto no Brasil é crime / e bandido branco no Brasil faz arte (…) / no Brasil todo mundo tem sangue de preto / sangue nas veias, ou sangue nas mãos”.
(e de lá para cá já saiu o single Tobogã.)
RICO DALASAM, “IMÔ. Rico Dalasam lança o clipe de uma das faixas mais fortes de seu disco de 2023, Escuro brilhante, último dia no Orfanato Tia Guga. O vídeo une luto e festa num contraste marcante: dirigido por Ricardo Souza, o vídeo alterna cenas de velório com imagens do carnaval de rua paulistano.
“Esse luto que aparece no clipe é aquela fantasia romântica quando acontece no carnaval e desmorona assim que ele acaba”, comenta o artista. Filmado nos blocos Te Pego no Cantinho e União Fraterna, o clipe transforma dor em poesia visual e confirma o poder afetivo da música – uma das mais queridas do disco, conforme demonstrado pelos fãs nos shows.
LAN, feat. RUAS MC, “ACELERANDO, BBY”. “Ouvi por aí que o house estaria ‘morto’, por ter se fundido com outros gêneros, mas é justamente isso que me interessa: ultrapassar fronteiras, criar sem amarras”, conta MC Lan, da dupla Badzilla, que escolheu climas dançantes e vaporosos associados a nomes como Solange, Little Simz e The Internet para seu primeiro single solo, Acelerando, bby. Ele parte da eletrônica pra criar encontros: entre passado e futuro, entre Brasil e mundo. É som que acelera, mas sabe de onde vem. Ruas MC participa da faixa fazendo vocais entre o rap e o trap, e trazendo Bad Bunny para conversar com os personagens da letra.
MACACKO, “FORRÓ ESPACIAL”. Gustavo Macacko retorna relendo suas músicas em formato acústico – por acaso inspirado na nostalgia dos acústicos MTV. Memórias do futuro, o novo álbum do cantor e compositor, é puxado por Forró espacial, uma canção nordestina e sonhadora, que mais do que levar o forró para outro planeta, propõe uma viagem, que na real, é mais existencial do que física – como se o trajeto fosse para dentro de nós mesmos, e não exatamente para o espaço. Uma jornada interior, como “pegar nossa bicicleta e viajar pelo nosso próprio espaço sideral”. Bora?
GABRIEL FALCÃO feat MONIQUE LIMA, “QUE HORAS SÃO?”. O EP de Gabriel, intitulado justamente Que horas são?, é curto, mas bastante conceitual – um repertório que veio para mudar o destino dos ponteiros, aprender com o passado e iniciar uma relação com o mundo, e com o tempo, que passa pela calma, pela contemplação e pela poesia. Gabriel canta e toca violão, e compõe as melodias, e Monique, “sonhadora, escritora, letrista, pesquisadora, artista de rua e de rádio”, é a autora dos versos. Na lírica faixa-título, a dupla canta “à alvorada”. E o repertório dos dois, encabeçado por uma epígrafe do cantautor revolucionário Victor Jara, é pura resistência.
LUPE DE LUPE, “REDENÇÃO (TRÊS GATOS E UM CACHORRO)”. Em seu novo single, Redenção (Três gatos e um cachorro), a Lupe de Lupe transforma o luto de um casamento desfeito em um épico doloroso de quase dez minutos. Pós-punk, pop, ruído e sofrência sertaneja se misturam numa faixa densa e melancólica, que antecipa o disco Amor, com lançamento marcado para 1º de julho.
A banda mineira brinca com o próprio mito no release da faixa (“a infame Lupe de Lupe é uma razoável banda de rock barulhento de Belo Horizonte, Minas Gerais, formada por 4 garotos que vieram do interior e se julgam bons compositores, no que se iludem”, afirmam). Mas entrega uma música que bate forte – sem branding, só coração despedaçado.
EL ESCAMA, “VALE DA ESTRANHEZA”. El Escama – ou Victor Machado, seu nome verdadeiro – acaba de lançar seu segundo álbum solo, Esse é meu último disco. Se ele resolver cumprir a promessa do título, vai se despedir tendo lançado um disco bem forte, cheio de ironia e critica social – destacando Vale da estranheza, uma balada-blues que fala sobre um dia a dia em que não sabemos bem o que é ficção e realidade, muito menos diferenciar uma da outra.
E a faixa acaba de ganhar um clipe de terror vintage, dirigido por Eduardo Pavloski. “Escrevemos uma narrativa que acena pro Frankenstein expressionista dos anos 1930 na era digital, onde a nossa criatura ganha vida com inteligência artificial”, conta El Escama.
Crítica
Ouvimos: Turnstile – “Never enough”

RESENHA: Em Never enough, o Turnstile mistura hardcore, emocore e pop futurista num disco emocional, ousado e cheio de surpresas que fogem do óbvio.
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Provavelmente Never enough vai estar em boa parte das listas de melhores álbuns de 2025, coroando um trabalho muito bem feito do Turnstile – o quinteto do Baltimore vem fazendo o possível e o impossível para tirar o hardcore do gueto, e hoje há fãs de música pop, e de hip hop que são fãs do grupo. Por “tirar do gueto”, entenda-se que quando estilos como hardcore e hardcore melódico começam a ficar mais famosos, acontecem algumas anomalias – bandas como Blink-182, por exemplo, acabam chamando mais a atenção de caras de 30, 40 anos que não quiseram crescer.
O Turnstile, surfando uma onda que vai para os lados do hardcore, do emocore e da experimentação, decidiu apostar na conexão com um público que quer ter uma experiência emocional com a música. Tanto que as músicas de Never enough têm mais a ver com a mistura de estilos e épocas do hyperpop (e por consequência, com Charli XCX) do que com a dureza e a crueza de um dos desdobres mais radicais do universo punk. E vale citar que além de tudo, ele é um álbum visual dirigido pelo vocalista Brendan Yates e do guitarrista Pat McCrory, que reúne as 14 faixas do álbum em uma imersão audiovisual contínua.
A política de Never enough, vale dizer, é a dos sentimentos, do respeito ao processo, da vontade de cortar laços com o mundo. Isso aproxima o Turnstile de grupos como The Cure, Smashing Pumpkins, até de Legião Urbana – e musicalmente, toques ligados ao indie pop surgem aqui e ali no novo disco. Climas espaciais e ondas art rock transformam Never enough, a faixa-título, numa espécie de emo ambient em que a banda fala sobre carências e vulnerabilidades (“nunca baixe a guarda / onde quer que você vá”, “amor nunca é o suficiente”). Sole, aberta em clima próximo do metal, e prosseguido com uma das maiores tradições do hardcore, os vocais “de torcida”, prega: “firme enquanto você flutua / você está melhor sozinho”. E fala sobre as lições do “deixar ir”.
- Temos episódios do nosso podcast sobre The Cure e Smashing Pumpkins
- Ouvimos: Smashing Pumpkins – Aghori mhori mei
- Ouvimos: The Cure – Songs of a lost world
É nessa mescla de união de elementos musicais e de manual de sobrevivência jovem na selva que Never enough se sustenta, partindo para uma união de emo e Smiths (com tontons de bateria dos anos 80!) em I care. E depois para uma curiosa união entre hardcore e afropop latino (quem no Brasil faria um som desses?) em Dreaming. Por outro lado, há momentos em Never enough que as coisas parecem bem estranhas – ou talvez mal coladas. Sunshower é um hardcore melódico com final falso e parte 2, com synths e flautas tomando à frente. Look out for me, emo-ambient de seis minutos que surgiu como single, dá a impressão de algo que precisava MUITO de edição, com uma “parte eletrônica” que surge lá pelas tantas.
Mais: vibes herdadas do lo fi e do krautrock tomam conta de Dull e Light design. Sons que lembram The Police e o começo de Sting solo batem ponto em Seein stars – música que herdou muito também do balanço de David Bowie e Michael Jackson nos ano 1980. De qualquer jeito, para fazer um suposto agradinho aos fãs antigos, o lado “hardcore feroz” do grupo surge em Birds e Slowdive, enquanto Time is happening é puro punk pop melódico.
A face inusitada do Turnstile volta a bater ponto em Ceiling, faixa de 1:13 que parece uma vinheta do Daft Punk ou do Massive Attack com participação do Turnstile. Magic man, que encerra o disco, é tudo que os fãs do grupo talvez não esperassem. E também é uma mostra de que talvez os pais ou avós dos fãs do Turnstile também tornem-se fãs da banda: é uma faixa de teclados e voz que soa como um ABBA progressivo, ou como o Alphaville de Forever young. Tudo isso faz de Never enough um disco sobre risco, doação, ganhos e perdas – e transforma o Turnstile numa banda bem diferente de quase todas as outras.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Roadrunner
Lançamento: 6 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Moptop – “Long day”

RESENHA: Após 15 anos, o Moptop volta com Long day, disco maduro, emocional e cheio de referências que vão do indie ao country e ao art rock dos anos 1980.
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O Moptop, a banda mais bem sucedida da onda indie-rocker brasileira dos anos 2000, espalha-se hoje em três continentes: América do Norte (o vocalista e compositor Gabriel Marques), Oceania (o guitarrista Rodrigo Curi) e América do Sul (o batera Mario Mamede e o baixista Daniel Campos). Long day, terceiro álbum, lançado após um chá de sumiço de 15 anos, foi gravado remotamente e chega às plataformas a bordo de um curioso cavalo-de-pau geracional: os Strokes, alta referência dos dois álbuns do Moptop gravados nos anos 2000, já viraram uma entidade referencial tão forte quanto o The Police era nos anos 1980.
Como assim? Explico: várias bandas indies (e até alguns artistas de indie pop) dos dias de hoje incluem batidas dançantes e guitarras em vibe Motown em suas músicas. Para quem tinha entre 20 e 30 anos em 2001, isso é basicamente “olha que legal, esses caras andaram ouvindo Strokes” – mesmo que os truques da banda norte-americana tenham sido chupadíssimos de grupos como The Clash, The Jam, Ramones e The Cure. Por outro lado, o Moptop que surge da audição de Long day é uma banda com uma biblioteca de referências bem mais rica do que há vinte anos.
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O Moptop volta decidido a contar histórias e dividir vivências nas letras – como nos álbuns anteriores, mas com mais foco e direcionamento. Long day é um disco sobre as consequências do cenário onde a própria banda surgiu (o mundo digital) e seus estresses, relacionamentos cagados, vagas arrombadas e traumas do dia a dia. Musicalmente, o som invade áreas como a do rock britânico oitentista (Last time) e acrescenta elementos como a união entre anos 1980 e 1960 (Ghosts), power pop (Glow, Running) e algo entre Pretenders e Eurythimcs (Fear, com graça extra dada pelos metais). E, inesperadamente, um clima herdado do country surge em faixas como Falling e Long day, adornadas com slide guitars – a segunda chega a lembrar o Lulu Santos de 1982 no começo.
No single Tightrope, a união de referências chega a um ponto máximo: é um rock com design de tecnopop, baixo à frente executado como num loop, e uma guitarra com um inesperado aspecto blues. No final, One in a million é talvez a canção mais emocional do dsco, com estileira de pop adulto oitentista, efeitos de guitarra e metais. O Moptop ressurge mais voltado para o art rock, cantando em inglês e conectado com os truques de produção e e design sonoro de 2025.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Yeah Rock Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.
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