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Cinema

Shine So Hard: o filme do Echo & The Bunnymen, em 1981

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Shine So Hard: o filme do Echo & The Bunnymen, em 1981

No finzinho de 1980, o Echo & The Bunnymen era considerado uma grata novidade do mundo indie britânico, e estava prestes a lançar o segundo LP, Heaven up here (1981). A banda percorria os palcos da Europa e dos EUA com uma turnê ousada, que se tornou conhecida como Camo Tour, porque o grupo usava roupas camufladas, além de muita iluminação e fumaça no palco.

Uma ideia que muita gente viu como plágio: Julian Cope, dos Teardrop Explodes, era visto por testemunhas dizendo que tinha pensado nisso primeiro, alguns críticos reclamavam que George Clinton já fazia o mesmo nos anos 1970, etc. Ian McCulloch, vocalista do grupo (e um sujeito que nunca foi conhecido pelas meias-palavras) respondeu que nunca tinha ouvido falar de George Clinton (oi?) e que Julian “era apenas um cara que roubava minhas canções, então agora essa história de ele vir reclamar de uma roupa… Não teria dado certo com ele, de qualquer forma”.

No começo de 1981, o empresário da banda, Bill Drummond, teve uma ideia mais maluca ainda, em se tratando de um grupo com tão pouco tempo de existência: fazer uma espécie de Magical Mystery Tour do Echo & The Bunnymen. O quarteto viajaria pela Inglaterra transportando fãs por locações-surpresa, e nos lugares, a banda faria shows completos da Camo Tour, com toda a camuflagem, iluminação esverdeada, fumaça e maluquices de palco às quais os fãs tinham direito. Os fãs encontrariam ônibus partindo de Londres, Leeds, Liverpool, Manchester e Sheffield, e todos os shows aconteceriam às 17h.

Seria uma ideia genial se o primeiro show, marcado no Jardim Botânico de Buxton (uma proposta maluca de Bill Drummond, que queria o local mais anti-rock’n roll possível para dar o pontapé inicial) já não tivesse deixado a banda completamente desanimada. Não deu muito público, a banda ficou confusa com o agendamento da turnê de filmagem, problemas na câmera e na iluminação interrompiam o show toda hora, os músicos começaram a ficar dispersos em pleno show, etc. Mais: jornalistas descreviam o todo da apresentação de uma forma que parecia uma gravação do especial anual do Roberto Carlos, com todo mundo nervoso e, ainda por cima, as benditas interrupções.

Ainda assim, rolou a filmagem e o diretor John Smith ainda aproveitou para pegar imagens da banda no Jardim Botânico e no hotel onde estavam hospedados, dando uma imagem de The song remains the same (aquele filme do Led Zeppelin) com ares indie. Smith filmou o guitarrista Will Sergeant dando uma volta pelos jardins ouvindo um fone, o batera Pete DeFreitas no café do hotel (e dando uma lida em O apanhador no campo de centeio, de Salinger), o baixista Les Pattinson num barco de brinquedo e o cantor Ian McCulloch dando aquele trato no cabelo no espelho do banheiro.

Depois do fracasso do show de Buxton, a banda desistiu da ideia do Magical Mystery Tour e das roupas camufladas. Ian McCulloch chegou a mandar uma nota pra lá de confusa para a imprensa avisando que aquilo tudo era só uma ironia, “porque nós sempre fomos considerados os caras tímidos da casa ao lado. Nós éramos um grupo sem imagem e conforme fomos desenvolvendo nossa imagem, ganhamos confiança. Não precisamos das camuflagens”, anotou.

Mas Shine so hard saiu, com 35 minutos (incluindo o tal show e as tais imagens de cada integrante), e ainda gerou um EP de trilha sonora. Só que foi exibido em poucos cinemas ingleses e nem mesmo a banda curtiu muito o filme: Les Pattinson declarou que não gostava muito dele e que era “embaraçoso” ver a si próprio na tela grande. A produção ficou relativamente na moita até 1994, quando uma mostra chamada Punk: Before and beyond resgatou o filme. Ian McCulloch foi convidado para a mostra e, ao ser entrevistado depois da exibição, morreria envenenado se mordesse a língua.

“Eu lembro de achar tudo pretensioso, o que me chocava, porque achava que éramos uma banda que ia além dessa pretensão”, disse. “Dava para olhar de dentro e ver o quanto estávamos sendo assim, mas para os fãs foi importante, deu a eles um senso de pertencimento. Olhando em retrospecto, o lance da camuflagem não era embaraçoso, mas as botas que eu estava usando eram. Tem um close delas e dá pra ver como aquilo era ridículo”.

Pega aí o filme. De nada!

Músicas do filme:
1. Monkeys
2. Stars are stars
3. Pride
4. Going up
5. Over the wall
6. All that jazz
7. Crocodiles
8. Zimbo

Infos do livro Turquoise days: The weird world of Echo & The Bunnymen, de Chris Adams.

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Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

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Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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