Lançamentos
Second Come disponibiliza música gravada há sete anos que fala do “pai da bomba atômica” Oppenheimer

“Ouça e nos diga: não ficaria bem na trilha sonora do filme do Christopher Nolan?”, pergunta a banda underground carioca Second Come, que disponibiliza agora nas plataformas a música Oppenheimer regret. Uma música que, apesar de atualizadíssima (graças ao sucesso de bilheteria Oppenheimer), foi gravada há sete anos, e foi a primeira música gravada do grupo desde a separação em 1994. Até então, a música só estava disponível no YouTube.
“Oppenheimer regret tem uma sonoridade mais próxima das canções de Super kids, super drugs, super god and strangers (segundo disco da banda) mas sem revisionismo ou saudosismo. A canção fala de tristeza, arrependimento, falta de opções, de saídas”, diz a banda em comunicado de lançamento. A música, bem mais calma e quase acústica se comparada ao repertório da estreia You (1993), foi gravada no estúdio do músico André Paixão (Nervoso), que toca teclados e divide a produção.
“A história de arrependimento do J. Robert Oppenheimer, o pai da bomba atômica, sempre me foi interessante. Guardada as devidas proporções, criamos várias ‘bombas atômicas’ durante a vida. Algumas delas, conseguimos ‘desarmar’. Outras explodem e não há como corrigir nada. Sobram apenas angústias, amargor, melancolia, arrependimento”, diz Francisco Kraus, um dos fundadores da banda e autor da música. A canção sai num EP com mais duas faixas, Infatuated love e It’s time to get lost, já lançadas em single duplo em 2022, e disponíveis desde o ano passado nas plataformas.
Crítica
Ouvimos: Model/Actriz – “Pirouette”

RESENHA: Model/Actriz lança Pirouette, disco intenso que mistura dance-punk, metal e hi-NRG para narrar memórias queer com poesia crua e som percussivo.
O baixista Aaron Shapiro deu uma ótima definição para o som da banda novaiorquina Model/Actriz: “Tudo é uma bateria”. De fato, nas músicas do grupo, tudo soa como se estivesse sendo tocado de maneira percussiva. E quase sempre a sonoridade ganha ares de música eletrônica tocada como se fosse heavy metal.
Em Pirouette, segundo álbum do Model/Actriz, essa variação sonora se espalha por faixas como Departures e Doves, que apontam para um hi-NRG distorcido, com guitarras ocupando o espaço que normalmente seria dos sintetizadores. Já Audience soa como se o Helmet fosse produzido por Giorgio Moroder.
O grupo escapa das fórmulas batidas de fusão entre som industrial e metal, mesmo lembrando às vezes o Therapy? e o Nine Inch Nails (Cinderella é exemplo). Em Vespers, há ecos de um New Order primitivo — mas sem o baixo característico de Peter Hook. A energia dance-punk do álbum leva a um Lou Reed em versão tecno em Poppy, a momentos quase post-rock em Acid rain e Baton, e até ao metalcore em Ring road.
Nas letras, Pirouette é um mergulho nas memórias e vivências queer do vocalista Colen Haden. Inspirado por divas pop como Kylie Minogue e Miley Cyrus, ele fala de infância, traumas, amor e solidão. Em Baton, relembra um diálogo com a irmã. Em Cinderella e Headlights, revisita a infância como menino gay. Vespers trata de mudanças pessoais (“vésperas acabaram / agora desça daquela torre”). E Diva, da vida de solteiro na estrada. Já Poppy traz poesia crua a moda de Kurt Cobain: “leve-me para onde minhas lágrimas retornam como papoulas em um campo”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: True Panther
Lançamento: 2 de maio de 2025
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Crítica
Ouvimos: Partido da Classe Perigosa – “Práxis”

RESENHA: Partido da Classe Perigosa lança Práxis, disco de protesto explosivo que mistura punk, rap e funk com crítica feroz ao sistema e à indústria.
O Partido da Classe Perigosa não manda recado, manda logo a real: “Se tá escutando no streaming, já tá escutando errado, que streaming só serve pra roubar artista”, alertam em tom grave no interlúdio de 62MORTE, faixa de encerramento. O papo quebra a quarta parede: “Pede pra gente que a gente manda o arquivo, ou escuta no Bandcamp de graça”.
Práxis, primeiro álbum do grupo carioca, já chega com voadora na capa — literalmente. A imagem faz referência à lendária bicuda que o francês Eric Cantona, então jogador do Manchester United, aplicou num torcedor que o ofendia com insultos xenófobos. É esse espírito de confronto que guia o disco do começo ao fim.
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Repleto de referências e climas carregados, o álbum abre com o samba-punk eletrônico e gutural de (Sem querer mas) playboy também morre. Em seguida, mergulha no punk-funk gótico da inacreditável Apocalipse segundo E. Macedo e aterrissa num baile funk do mal onde só dançam nepobabies, em Baile do branco rico — “o meu sucesso foi papai que pagou”, escancara a letra.
O prazer do sistema em humilhar os de baixo aparece na sombria 10trap, que se conecta ao drum’n’bass porradeiro e distorcido de El topo. Ali, o protesto caminha junto com os gêneros musicais (um dos versos: “o rap me ensinou ‘foda-se a polícia’ / e o punk me ensinou ‘foda-se o patrão’). A ira sonora segue em Belleza e Verme de praia, e encontra novos tons no rap sombrio de Teoria do crime — entre afrobeat e funk, com versos que cheiram a cadáveres escondidos, policiais suspeitos, mortes pra lá de encomendadas, e a um sistema que desabou atirando: “uma mão lava a outra e as duas passam pano”.
A desesperança se espalha por 62MORTE e Nova ordem mundial — essa última com estética de videogame, programação vintage e um ritmo constante, nervoso, como um alarme que nunca desliga. Práxis é disco pra ouvir alto — e fazer os vizinhos ouvirem também.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente.
Lançamento: 8 de janeiro de 2025
Crítica
Ouvimos: Sunday (1994) – “Devotion” (EP)

RESENHA: Sunday (1994) lança o EP Devotion, com dream pop suave, climas etéreos e ecos de Mazzy Star, The Cure e R.E.M. em seis faixas marcantes.
Vindo de Los Angeles, o Sunday (1994) é quase uma banda pop que usa a linguagem do dream pop para compor sucessos bem radiofônicos – desde o álbum de estreia, epônimo (2024), a vibe deles é de soft rock com vocais cintilando, violões/pianos dando maciez ao som, e clima enevoado, destacando os vocais e o carisma da cantora Paige Turner.
A estética do grupo flerta com nomes como The Cranberries – sem a carga emocional ou a diversidade sonora da banda de Dolores O’Riordan – e se aproxima da turma do pós-britpop. Em Devotion, novo EP, o Sunday (1994) leva essa fórmula para um território um pouco mais elaborado. A faixa-título, dramática e arrastada, remete diretamente ao Mazzy Star, enquanto Rain parece flertar com o universo do The Cure – seu início, inclusive, ameaça algo parecido com o Elbosco (lembra deles?), mas logo se encontra.
Mais até do que o álbum anterior, Devotion mostra o Sunday (1994) como um grupo voltado a paisagens sonoras oníricas e minimalistas. Doomsday traz ecos de R.E.M. em modo introspectivo, enquanto Silver ford soa como um Prefab Sprout suavizado pela estética lo-fi. Já Picking flowers e Still blue fundem o romantismo etéreo do The Cure com referências mais inesperadas: a última, em especial, parece um dream pop moldado por ouvidos que cresceram entre Linkin Park e Smashing Pumpkins. Um disco curto, mas cheio de atmosferas – vale a audição.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Arista/RCA
Lançamento: 9 de maio de 2025.
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