Lançamentos
Radar: Preoccupations, Talk To Her, Adi Oasis, Sorry, Gorillaz

Estamos quase sextando, e nessa semana, saiu mais Radar nacional que Radar internacional – semana que vem inverte tudo e os sons de lá de fora surge com mais força por aqui. Daí que a catação de músicas novas precisa ser bem mais exigente e (vá lá) chata para poder entrar coisas realmente legais, e deixar a seção atualizada. Hoje deu trabalho mas chegamos nessas aqui – abrindo com o sensacional single novo do Preoccupations. Ouça em alto volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Preoccupations): Loicia Samson / Divulgação
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
- Mais Radar aqui.
PREOCCUPATIONS, “MUR” / “PONR”. Novidades da parte dessa banda canadense. Em maio saiu Ill at ease, álbum mais recente do Preoccupations (resenhamos aqui), e agora sai um single duplo com dois outtakes do disco. Se Ill at ease parecia um mergulho do grupo numa onda bowiemaníaca, há referências do David Bowie dos anos 1990 espalhadas nas duas faixas – só que tudo imerso em peso e psicodelia robótica. MUR é a mais tecnológica das duas faixas, enquanto PONR é a mais eminentemente pós-punk.
“Com MUR, eu estava tentando traduzir a sensação de opressão, agressividade, impotência e falta de vontade de falar sobre coisas que te assustam, em forma de som”, diz o líder da banda, Matt Flegel. “Ela cresce e chega ao ponto de um quase êxtase, e então explode em um discurso de fúria, um desabafo de todas as coisas que te exasperavam”.
TALK TO HER, “DYVE”. O encontro entre o verbo “to dive” (mergulhar) e a palavra “dying” (morrendo) forma o nome da música nova dessa banda pós-punk italiana, que se prepara para lançar o disco Pleasure loss design em 30 de outubro. Em meio a imagens da banda tocando, o clipe mostra uma mulher flutuando no azul do mar – a ponto de parecer que está voando. Já a letra é um tratado sobre problemas existenciais, perdas, incertezas e momentos em que você se perde de si próprio/própria. E a melodia é uma bela combinação de batidas quase robóticas com riffs gélidos de guitarra.
ADI OASIS, “SILVER LINING”. Quando você der de cara com o lyric video da nova faixa da cantora, compositora e multi-instrumentista – uma pérola novíssima do soul, com vocais e andamento que remetem aos anos 1970 – vai ver logo que Adi aparece na telinha meditando em posição de lótus, vestindo apenas um roupão. Pois é: Silver lining, uma música sobre cair dentro, abraçar o caos e partir para a labuta com o que se tem na mão, foi inspirada pela ocasião em que, no meio de uma turnê, sua bagagem foi extraviada, e ela precisou subir ao palco usando justamente… O roupão do hotel em que estava hospedada. “Transformei limões em limonada – foi um dos melhores shows da minha vida”, conta ela.
Silver lining é pra dançar pensando na vida e nas lutas do dia a dia – e é mais uma canção de Adi, musicista cujo currículo inclui trabalhos tanto com Lenny Kravitz quanto com Luedji Luna, e que já fez duas turnês pelo Brasil.
SORRY, “TODAY MIGHT BE THE HIT”. No dia 7 de novembro sai o próximo álbum da banda indie britânica Sorry, Cosplay. Aos poucos, ele vai sendo revelado para o público – inicialmente saíram os singles Waxwing, Jetplane, Jive e Echoes. Today might be the hit sai agora como single e é – diz o grupo – a faixa mais direta do disco. Direta é apelido: a música é um rock com cara punk, guitarras distorcidas, linhas fáceis de cantarolar e… apenas dois minutinhos de duração.
Sobre o disco, a banda andou falando uma coisa que dá uma (digamos) ideia do que vem por aí: “Morremos quando começamos a compor este álbum”. Tá até no Bandcamp da banda, onde é possível ouvir os cinco singles já lançados. Eita…
GORILLAZ feat TRUENO e PROOF, “THE MANIFESTO”. O próximo disco da banda-de-cartoon liderada por Damon Albarn, The mountain, só sai em 20 de março de 2026. Quem assistiu ao último show da temporada da banda na House Of Kong em Londres, no mês passado, conseguiu ouvir todo o disco de uma vez só – era um show especial, que não teria bis (celulares foram até confiscados) e que contou com vários convidados que estão no álbum. De qualquer jeito, passo a passo o disco vai saindo: The manifesto, novo single, de sete minutinhos, já está entre nós e tem um feat do rapper argentino Trueno. Provavelmente você vai ouvir ate decorar e sair dançando.
Trueno não é o único convidado da faixa: Proof, rapper de Detroit, integrante do D12, morto em 2006, tem uma voz sua incluída na faixa, e se torna um participante post-mortem – como Proof participou até de um single de 2001 do Gorillaz, 911, fica como homenagem. Tanto o som quanto a letra de The manifesto são meditativos e místicos – a letra fala sobre finitude e sobre um react terreno na hora de partir. “Eu não sei o que o amanhã me reserva / quando atender à luz que me chama / baby, meu futuro me chama / caminho em direção à luz / não tenho nada a perder”, rima Trueno.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Parcels – “Loved”

RESENHA: Em Loved, o Parcels refina seu sophisti-pop com vibes eletrônicas apresentando clima casual, grooves disco relaxados e vocais vintage em faixas leves e dançantes.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Because
Lançamento: 12 de setembro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Banda formada na Austrália em 2014, o Parcels é uma banda de poucos discos de estúdio – Loved é o terceiro. Em compensação, honrando a tradição de grupo bom de festival, já sairam dois álbuns ao vivo, e também um número considerável de EPs e singles.
Com referências que vão de Marvin Gaye a Beatles e Beach Boys, e uma vocação enorme para juntar tudo isso com uma vibração electropop, o quinteto pode ser definido basicamente como sophisti-pop – pu qualquer uma dessas definições que apaziguam o lado roqueiro e o lado pop em vez de botar tudo para brigar. Traduzindo: o Parcels é “dançante” e “eletrônico” quase na mesma medida em que é clássico e voltado para o pop das antigas. Uma espécie de linha do tempo musical.
Loved é o famoso “se você gostou dos outros discos vai adorar esse”. A receita de Parcels (2018) e Day/Night (2021) volta melhorada, orgânica e relaxada, com a alegria quase disco music de Tobeloved e Ifyoucall, o soft rock-britpp de Safeandsound e a UK garage humanzada de Yougotmefeeling. Sorry tem algo do lado mais pop e pós-disco do Daft Punk diluído, num clima tecno e pop, que não necessariamente é tecnopop. Leaves tem algo de jazzístico tanto quanto tem algo de soul e disco.
Um detalhe de Loved é que as músicas, mesmo as mais trabalhadas, seguem um clima de total casualidade – às vezes parece que invadimos o estúdio onde os Parcels ensaiam e compõem, e não deve ser por acaso que os títulos surgem sem espaços, como em working titles de canções. Esse despojamento rola no balanço tranquilo de Everybodyelse e no clima contemplativo e romântico de Iwanttobeyourlightagain, que fecha o disco deixando a impressão de um ensaio estendido que valeu e virou música.
Além disso, vocais lembrando Bee Gees, Earth, Wind & Fire e até Beatles surgem na onda disco de Summerinlove, Leaveyourlove, Thinkaboutit e Finallyover – essa, com um andamento que lembra Let’s get it on, sucesso de Marvin Gaye. Pop bem feito, sofisticado, vintage e (muito) desencanado.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Sorry – “Cosplay”

RESENHA: Sorry faz de Cosplay um jogo pop de citações, referências e ruídos, misturando pós-punk, baladas tensas e homenagens irônicas ao passado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Domino
Lançamento: 7 de novembro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
O Sorry, banda londrina liderada pela dupla Asha Lorenz e Louis O’Bryen, recentemente soltou uma frase lapidar a respeito de como rola a transa entre as pessoas e a cultura pop nos dias de hoje: “Nós simplesmente usamos coisas do passado porque são a única coisa à qual nos agarramos. Estamos todos fazendo cosplay de algo que não existe”, afirmam.
Traduzindo: há alguns anos, o saudoso Isaac Hayes criticava o rap dizendo que de tanto samplear, os artistas iriam acabar sampleando os próprios samplers. É exatamente isso que rola hoje com a febre de IA, ou com o reenvelopamento de coisas antigas (já existe newsletter há trocentos anos e só agora virou mania). Rola também com a febre de remakes. Afinal, se “novela é tudo igual”, como dizem os detratores, nada melhor do que pegar uma história que já deu certo e criar em cima – mesmo com o risco de estragar o original.
Vai daí que o Sorry decidiu brincar com isso em seu terceiro álbum, Cosplay – a dupla diz ter “morrido” ao começar a compor para o disco, e o release zoa a possibilidade de uma turma nova ter ocupado os lugares deles, tipo o sósia que ficou no lugar do “falecido” Paul McCartney nos Beatles. As referências que vão surgindo em letras e músicas são enfiadas nas canções da mesma forma que o Oasis fazia com as músicas dos Beatles – tipo Noel Gallagher (Oasis) fazendo uma música chamada Wonderwall sem admitir que a inspiração veio do álbum Wonderwall music, de George Harrison (1968) ou sapecando uma outra canção chamada It’s getting better now.
- Ouvimos: Piri & Tommy – Magic (EP)
Algumas dessas referências ganham crédito: a balada introvertida e explosiva Antelope, candidamente cantada por Asha, fala que “existe uma arte em te amar / aprendo algo novo a cada um ou dois anos / agora que se espalha mais rápido do que a velocidade com que falamos / como a bala de canhão na música do Dylan”. A não ser que você tenha todo o repertório de Bob Dylan na ponta da língua, provavelmente vai se sentir tentado/tentada a procurar no Google. Provavelmente é a bala de canhão que voa em Blowin’ in the wind, embora tenha também a gravação que ele fez do tema tradicional Dink’s song, que fala de alguém que “movia seu corpo como uma bala de canhão”.
Bom, vale dizer que a letra fala também que existe “uma lua assassina” (“killing moon”, no original). A balada Candle, que consegue ter algo ao mesmo tempo de Garbage e de Cranberries – margeando o clima tenso das duas bandas – evoca fragilidade falando em “sou apenas uma vela ao vento” (epa, Elton John passou aqui?). Jetplane, punk sombrio herdado de The Cure e das guitarras em desalinho da no wave, tem um sample de Hot freaks, do Guided By Voices. Mais: para fazer o refrão do ótimo trip hop Waxwing, o Sorry achou que seria uma excelente ideia homenagear o hit único da coreógrafa Toni Basil, Mickey, de 1982. Ficou… pitoresco, vamos dizer.
Na maior parte do tempo, Cosplay mostra o Sorry não muito irmanamente dividido entre canções sombrias e sons com herança pós-punk. Estes últimos governam músicas como Echoes (som lindo e gélido, com algo de Garbage e vocal despedaçado), Jetplane, o alt pop fantasmagórico de Love posture. Today might be the hit é um rock com cara punk, guitarras distorcidas e clima ligeiramente beatle – na real, tem tanto de Beatles quanto de Siouxsie and The Banshees – e cuja letra é uma espécie de mantra irônico das (im) possibilidades: “hoje pode ser o dia do sucesso / ou pode ser um dia péssimo / yada-yada-yada-ya / nada vai me incomodar mais”.
Por outro lado, tem a elegância ruidosa de Magic, as estranhas sombras de Into the dark (cuja letra faz uma referência pra lá de “que porra é essa?” ao dramaturgo japonês Yukio Mishima) e a balada violeira Life in this body, música em que o amor e os relacionamentos se transformam numa perigosa despersonalização. No final, Jive, música que abre tão sussurrada que até as guitarras e a bateria parecem sussurrar junto – e ganha depois um clima ruidoso e sexy. Cosplay parece um jogo de tabuleiro em formato de disco, cheio de pedrinhas, labirintos e “volte três casas”.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Guided By Voices – “Thick rich and delicious”

RESENHA: Guided By Voices revisita demos antigas e aposta em algo próximo do power pop em Thick rich and delicious, disco de 15 faixas que destaca o talento melódico de Robert Pollard.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Guided By Voices Inc
Lançamento: 31 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
O que você mais vai achar na internet, provavelmente, são definições para o som do Guided By Voices, grupo criado há heroicos 42 anos pelo músico norte-americano Robert Pollard. A Wikipedia arrisca quatro: lo-fi, indie rock, slacker rock e garage rock, e todas fazem sentido. Power pop, heartland rock e até grunge e guitar rock também já foram citadas por aí – algumas dessas definições foram usadas até mesmo por este crítico musical que vos fala.
Pode ser que – e isso por culpa da própria crítica musical e do mercado fonográfico – muita gente tenha desaprendido a ouvir rock sem rotular o que está ouvindo. Aquela coisa de “isso é rock” sem que imediamente a música tenha que fazer parte de algum nicho ou ramificação, tipo shoegaze, guitar rock, punk, pós-hardcore, pós-punk ou coisas do tipo. Isso porque, no geral, o Guided By Voices, mesmo sendo na prática uma banda punk, indie-rock, independentaça, talvez seja um raro caso de grupo que segue cada vez mais próximo da nomenclatura “rock”, puramente falando.
No geral, o GBV faz som de guitarras, bastante referenciado em The Who, e com a mesma noção pé-fincado-na-terra, de heroi do rock, que dá sentido à existência de Bruce Springsteen. Com uma média de três discos lançados por ano, e basicamente centrados na figura de Pollard como compositor, tinham tudo para ser uma banda repetitiva – o diabo é que até quando eles se repetem, conseguem fazer discos excelentes, porque é uma repetição que você vai querer ouvir de novo.
Thick rich and delicious, que já é o 42º (!) álbum do grupo – e o segundo lançado em 2025 – explora o passado do Guided By Voices, com músicas novas misturando-se a canções que estavam perdidas em demos havia vários anos. Por acaso, é um dos discos recentes mais associáveis com os momentos mais power pop do grupo, como na fase em que gravaram dois discos pelo selo TVT (e deram uma estourada na maconhística Glad girls).
Babies and gentlemen, (You can’t go back to) Oxford Talawanda, Our man Syracuse, A. Glum Swoboda (canção de clima mod e sixties) e Phantasmagoric upstarts unem melodias bacanas com peso e agilidade que lembra bandas como The Who, The Cars e Replacements. Robert ainda impõe clima mágico ao punk de ataque Lucy’s world e à tristeza selvagem de Mother John – esta, soando como alguém tentando recobrar a sanidade sozinho no quarto. Há também um lado beatle em A tribute to beatle Bob e na punk e épica Captain Kangaroo won the war.
Com 15 músicas, algumas delas bem curtas, Thick rich and delicious pode parecer um disco esquisito e até pouco comercial. O irônico é que, dos álbuns mais recentes do GBV, é o disco em que mais dá para enxergar Pollard como um grande criador de melodias.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?

































