Lançamentos
Radar: Partido da Classe Perigosa, Asleumo, Lara Klaus, Low Tide Riders, Ottopapi – e mais

Começamos o Radar nacional de hoje chamando a atenção para o som novo do Partido da Classe Perigosa, uma banda carioca bem provocadora, e que decidiu colocar em música as artimanhas de uma turma liderada por um certo ex-presidente – é daqueles sons que você ouve e já sai cantando. Mas hoje a seleção inclui também o punk brasileiríssimo do Budang, a sensibilidade de Asleumo, Lara Klaus e Alexandre Beltramini… Muita variedade como sempre. Ouça e passe adiante!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Partido da Classe Perigosa): Yanni Avellar/Divulgação
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PARTIDO DA CLASSE PERIGOSA, “MELÔ DO GOLPE DE ESTADO”. Essa banda carioca – cujo primeiro álbum foi resenhado pela gente aqui – curte pegar em fios de alta tensão e não separa de jeito nenhum política, música e criação artística. De surpresa soltaram seu novo single, que sampleia a melô do “plantão” da Rede Globo, além de discursos de um certo ex-presidente inominável – e aproveita as linhas de Carro velho, hit de Ivete Sangalo, para avisar: “quer dar golpe de estado, amor? / que venha”. Depois do refrão, o grito de guerra: “vai, vai, vai, vai, vai / pra Papuda”. Ouça no Bandcamp do grupo.
ASLEUMO feat ILLUCAS, “U DON’T KNOW WHAT MAKES ME HURT”. Pedro Anselmo de Souza, o popular Asleumo, faz city pop – aquele som que une a acessibilidade do pop ao amor pelas cenas urbanas e pela música que acompanha passeios pela cidade grande. Entre referências do pop japonês – e com participação do convidado Illucas, do grupo Cidade Dormitório – ele constroi uma história de fim de relacionamento, que fala sobre seguir em frente apesar dos pesares. No clipe, ele passeia por São Paulo com uma mochila cheia de flores.
LARA KLAUS feat JR BLACK e LISA LEBLANC, “QUAL SABOR A PAIXÃO TEM?”. Lara é pernambucana radicada em Montreal, Canadá, e passou por bandas como Profiterólis e o trio feminino Ladama, do qual é fundadora. Seu single solo Qual sabor a paixão tem? promove uma união de sons do nordeste com partículas de soul e pop, e é também uma parceria com o músico Jr Black, morto em 2022. Lara convidou músicos que eram amigos de Black pra tocar, e também usou fragmentos da voz do parceiro na faixa. Outra participação de peso é da canadense Lisa Lebanc, que faz vocais e toca banjo. O resultado ficou bastante sensível e, simultaneamente, bem alegre. E já tem lyric video.
LOW TIDE RIDERS, “HEAVY SOUL”. Banda curitibana de som pesado, o Low Tide Riders tem algo de doom metal e algo de stoner rock, com um vocal que lembra o Max Cavalera da era Cavalera Conspiracy, e musicas que vão da lentidão completa à rapidez próxima do punk. III, novo EP do grupo, abre com esse som ágil que fala sobre como é ter a alma pesando vários quilos por causa das pressões e problemas do dia a dia.
OTTOPAPI, “PERDI O CONTROLE”. Um dos criadores do selo Seloki Records, Otto Dardene, o popular Ottopapi, estreia com o single Perdi o controle. Um punk rock robótico sobre um cara que foi abandonado pelo seu grande amor, sua vida virou de cabeça pra baixo e ele perdeu o controle… remoto (ao que parece, pela letra). “Olhei em todo canto mas não sei onde ele tá / parece que eu perdi o controle / rezei pra São Longuinho dei pulinho pra achar”, canta Ottopapi, ao lado de amigos como Chuck Hippolito (co-produção, mix, programação de bateria), Marina Reis (vocais) e Gabriel Andreolli (guitarra solo). No clipe, Otto dança igual a Iggy Pop e revira o sofá atrás do controle que se foi.
ALEXANDRE BELTRAMINI, “BENÇA”. Influenciado por artistas como Sufjan Stevens, Keaton Henson e City and Colour, Alexandre compôs essa música ao piano há quatro anos. Bença é uma música que fala sobre perdas, sobre saudades e também sobre os recomeços da vida, unindo texturas eletrônicas e orquestrais, e silêncios entre os sons esparsos – com direito a um subtexto lo-fi no som vaporoso, lembrando de uma fita sendo reproduzida, ao fundo da música. “Esse lançamento representa um recomeço, mas também uma aceitação de que o que importa na música é a expressão e nada mais”, conta.
BUDANG, “DEIXA QUIETO”. Já pensou dar uma volta no shopping, no mercado ou na rua, e dar de cara com uma mistura de bumba-meu-boi colorido com monstro de desenho animado? A banda Budang levou para as ruas de Florianópolis (SC) quatro amigos andando dentro de uma vestimenta de bernunça (“criatura mítica do folclore catarinense, presente no boi-de-mamão; de corpo alongado e cabeça monstruosa, mistura traços de dragão e fera fantástica, surgindo para despertar medo e encantamento”, como explicam no vídeo) para gravar o vídeo da ágil Deixa quieto, hardcore sobre relacionamentos enrolados e problemáticos. O EP Deixa quieto, com a heroica duração de sete minutos e 33 segundos (!), já está nas plataformas. O primeiro álbum chega em breve. Tudo pela Deck.
Lançamentos
Radar: Feralkat, CPM 22, Los Otros, Carvel, Brsk Gene

Semana complicadinha por aqui: resfriado brabo (já falei disso no Radar anterior) e mal funcionamos ontem. Mas estamos aqui com o Radar nacional de hoje, destacando a novidade do single novo do Feralkat, do single comemorativo do CPM 22, do primeiro clipe de Los Otros, e de sons de Carvel e Brsk Geene. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Feralkat): Érica Ignácio / Divulgação
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FERALKAT, “TSUNAMI”. Karukasy, próximo disco do projeto da musicista e cantora Natasha Durski, sai em 2026. E é aberto pelo single Tsunami, uma canção que une estilos que primam pelo escapismo musical e pela vibe imagética (dreampop e post rock). A ideia de Natasha foi falar do término difícil de um relacionamento, recorrendo a sons e imagens que evocam emoções de maneira densa.
“O ‘tsunami’ é tanto o mar turbulento interno quanto o pranto – as lágrimas dessa dor. O sample de Space song, do Beach House, reforça essa sensação, com o verso ‘who will dry your eyes when it falls apart’ ecoando na solidão desse fim”, conta Natasha, que gravou todo o material do disco em seu próprio estúdio. Ela recomenda inclusive o uso de bons fones de ouvidos para sentir o som do álbum por inteiro. “Trabalhei muito o paneamento (sons passando de um canal para o outro) e o estéreo”, avisa.
CPM 22, “30 ANOS DEPOIS”. A banda punk paulistana dá continuidade à comemoração pelas suas três décadas de história lançando um single que resume a sua trajetória até aqui. 30 anos depois surgiu de um texto escrito pelo vocalista Badaui, que foi transformado em letra pelo guitarrista Luciano Garcia – e sai no meio da turnê comemorativa do grupo.
“A ideia de fazer uma música em comemoração aos 30 anos da banda existia desde o ano passado, mas o processo de desenvolvimento começou há uns três ou quatro meses”, conta Luciano. Badauí completa: “No fim, essa música é uma homenagem à nossa trajetória e também um agradecimento a quem sempre esteve com a banda”.
LOS OTROS, “ROTINA”. A abertura dessa música tem conexões com Roll with me, do Oasis – mas é só começar a ouvir, que dá para perceber relações sérias com Beatles, rock de garagem, glam rock e outros estilos próximos. Rotina, single novo da banda paulistana Los Otros (Isabella Menin, baixo e voz; Tom Motta, guitarra e voz; Vinicius Czaplinski, bateria) já havia sido comentado e elogiado por aqui, lembra? E agora virou clipe, mostrando a banda em ação, tocando e fazendo de tudo para evitar ela própria, a tal da rotina.
CARVEL, “NÓS DOIS SABEMOS”. Vindos de Vinhedo (SP), Guilherme Avelino (voz e guitarra), Lucas Argenton (guitarra), Victor Gonzales (baixo) e João Gabriel Diamantino (bateria) definem seu som pela união do indie rock com o ritmo de nomes como Jamiroquai. A faixa Nós dois sabemos antecipa o lançamento de Ainda é tempo, álbum previsto para 2026, e fala sobre o término de um relacionamento, só que comentando também sobre mudanças e fases novas – justamente num momento de mudanças para o grupo. O clipe, dirigido pelo guitarrista Lucas Argenton, mostra a banda tocando em estúdio, sempre em preto e branco – e só se torna colorido no final, representando a mudança na história do grupo.
BRSK GENE feat. KOUTH, “F.a.L.a // c.o.m.i.g.o.”. Com nome de música e de banda estilizados (Brsk Gene é a abreviatura de “berserk gene”, algo como “gene furioso”), esse projeto musical veio de Massaranduba, município de Santa Catarina que é conhecido como a capital local do arroz. Jus/i, que criou o Brsk Gene, garante que a natureza de sua música é a intensidade, e fala nas letras de temas como ansiedade, TDAH, relacionamentos complexos e a luta para existir de maneira autêntica no mundo.
O som traz referências de metalcore, trap metal, eletrônica e peso em geral. O single F.a.L.a // c.o.m.i.g.o. fala sobre “esse limiar perigoso entre o real e o surreal, mas também sobre aquela sensação de ser estranho, inadequado, e a relação desesperadora disso com a necessidade de conexão social. E tem o acréscimo dos vocais da trapper paulistana Kouth.
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Crítica
Ouvimos: Gaby Amarantos – “Rock doido”

RESENHA: Disco-filme com 22 faixas em 36 minutos, Rock doido mostra Gaby Amarantos unindo tecnobrega, pop e festa em uma obra inventiva e multimídia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Deck
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Rock doido, o disco novo de Gaby Amarantos, tem um formato que lembra o de discos de bandas casca-grossa como D.R.I.: são 22 faixas curtíssimas em 36 minutos (!). Não é apenas um disco: tem ainda Rock doido, o filme, que traz todas as músicas do álbum filmadas com Gaby, convidados e sua turma, tudo em plano sequência, com o pessoal se movimentando em vários cenários subsequentes.
O disco funciona na medida que você esteja disponível para aprender uma nova forma de ouvir música: Rock doido é totalmente montado como se fosse uma festa, um DJ set, ou um passeio curto pelas festas de aparelhagem do Pará. Junto com a recente volta da Gang do Eletro (resenhada pela gente aqui), é quase um relato de como várias tendências musicais se uniram em momentos diferentes para gerar o tecnobrega e estilos afins.
Não é um disco feito para “tocar no rádio” e está mais para um suposto antecipador de tendências que, provavelmente, vão dar canal no rádio ou na TV em algum momento – a graça de Rock doido é justamente o lado multimídia dele, de ser um álbum que vira filme (está no YouTube na íntegra e pode, quem sabe, ser exibido na TV). A mistura de referências também chega à capa, que lembra tanto Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, quanto Dangerous, de Michael Jackson.
- Ouvimos: Lambada da Serpente – Lambada da Serpente (EP)
Com tanta rotatividade, eleger uma música preferida fica até complicado – inclusive porque os beats e refrãos vão se seguindo bem rápido. Essa noite eu vou pro rock introduz a/o ouvinte no clima festeiro. Short beira cu, Te amo fudido (com Viviane Batidão), Tumbalatum (terror fake com a já citada Gang do Eletro), Dá-lhe sal e Viciada em seduzir apresentam expressões locais e o clima da noite paraense a quem ouve o disco bem distante do Pará. Bonito feio é uma das faixas que separam um pouco o “tecno” do brega no álbum.
No final, tem Deixa, um samba-reggae que parece meio deslocado no álbum – é a música menos “rock doido” da fornada, mas talvez seja a tal “música de rádio” do disco. Sem crise: Rock doido é um disco-filme que confirma Gaby Amarantos como uma das artistas mais inventivas do pop brasileiro.
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Crítica
Ouvimos: Big Special – “National average”

RESENHA: Dance-punk ácido e sarcástico, National average faz o Big Special rir da miséria com ironia, fúria e riffs venenosos.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: SO Recordings / Silva Screen Records Ltd
Lançamento: 4 de julho de 2025
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Chega a escorrer veneno de National average, segundo álbum do Big Special, dupla britânica cujo clima basicamente é o da dança punk – às vezes soando como um EMF (lembra deles?) que entrou em órbita, ou como um desdobramento da receita doidona do selo Food, na virada dos anos 1980 para os 1990. Em vibe funky, Joe Hicklin e Callum Moloney falam dos problemas mais bizarros vividos pela população britânica nos dias de hoje.
Na real, nada que seja estranho até mesmo aqui no Brasil. A faixa God save the pony, tributo pago a Talking Heads e à turma de Madchester, inclui no mesmo saco hambúrgueres superfaturados, gentrificação, gente instagramável (“mal ganho o salário mínimo / e sou um clichê do rock and roll / e, para ser honesto / não consigo acreditar em quanto tempo isso já durou”) e um estado de letargia total, como se todo mundo já estivesse acostumado com isso – à Rolling Stone, a banda disse que se trata de um “boa noite e boa sorte para o peso que todos carregamos. Somos os cavalos cansados arrastando uma carga pessoal e, muitas vezes, o peso de outra pessoa”.
- Ouvimos: Immoral Kids – Tantrika
Outras canções falam também da merdificação geral que todo mundo vai levando adiante na vida, como The mess (que soa como um Tom Waits alt-metal) e Hug a bastard – esta, um reggae preguiçoso transformado em indie rock, com cara de Beastie Boys, Beck e até de Gorillaz, iniciado com os versos “encontrar deus? / cara, não consigo achar minhas chaves”. Nada se comparado a Shop music, synth pop stoner que equivale a um soco na boca do estômago de quem acredita em virtudes no mundo fonográfico, em versos como “vamos vender suas merdas / (…) e depois de vender suas merdas, vamos vender outras merdas” e “não consigo identificar o monstro quando ele está bem vestido / é o seguinte: dinheiro fala, mas não canta”.
Esse clima de desesperança e ironia é a cara de National average, disco que também fala sobre merdas passadas de geração a geração em família (o blues zoeiro Pigs puddin), de choque com o mercado fonográfico “profissional” (Professionals, uma mescla de The Who e Viagra Boys, se é que é possível), e de como todo e qualquer emprego ou chefe é uma merda (Yesboss, rap-punk sem o menor cacoete de rapper, com voz praticamente falada).
O disco novo do Big Special chega a ser um projeto multimídia – no sentido de que você tem que prestar atenção nas letras, ler as entrevistas, saber qual é a da banda e acompanhar o que eles andam falando para ter uma fruição total do disco. Em letra e música, tudo em National average soa como uma sequência de porradas bem dadas. O Big Special revisita-parodia o blues a la Eric Clapton em Domestic bliss, uma espécie de canção sophisti-punk que revira ao contrário o mito de Sísifo para falar sobre depressão e máscaras do dia a dia. Tem ainda Judas song, dance-punk sobre traição e rancor, com guitarras pesadas e um clima “eletrônico” que faz lembrar o Ultravox – mas com bastante sujeira.
Em resumo: National average é daqueles discos que fazem você rir, pensar e se envenenar ao mesmo tempo — e ainda sair dançando no final.
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