Cultura Pop
Qual é a do disco grunge da Mariah Carey?

Se você ficou interessado nas notícias sobre um álbum lançado em 1995 por uma banda chamada Chick – e que, na verdade, seria a versão que chegou a público do “disco grunge” de Mariah Carey, só que sem a cantora nos vocais – prepare-se para gastar grana. Muita grana, aliás. Someone’s ugly daughter, o tal álbum, lançado pelo selo indie 550 Music, da Sony Music, em 5 de setembro de 1995, pode chegar a uns 500 reais, dependendo de onde você procurar.
O álbum foi gravado na época em que Carey estava gravando simultaneamente seu quinto álbum de estúdio, o extremamente bem sucedido Daydream (1995). E surgiu da vontade dela e de seu produtor e parceiro, Walter Afanasieff, de fazer um tipo de som que pudesse ser gravado por uma banda como Hole, Sleater-Kinney, Green Day ou Garbage.
Mariah, que originalmente faria os vocais principais no álbum, reuniu os músicos, e resolveu aproveitar os horários da madrugada do mesmo estúdio em que gravava Daydream. A turma fazia o “disco oficial” de dia e, a partir da meia-noite, se entregava ao trabalho alternativo, usando equipamentos analógicos e chegando o mais próximo possível de fazer música apenas por diversão.
O CD, vale citar, não seria um disco comum de Mariah, com o nome dela. Inicialmente, antes do nome Chick surgir, o projeto se chamaria Eel Tree (“árvore de enguia”, referência a umas árvores com galhos enormes e retorcidos que ela viu em Amsterdã) e os músicos usariam pseudônimos. A cantora seria D. Sue e Afanasieff usaria o codinome W. Vlad, por exemplo. Gary Cirimelli, que costumava cuidar de tarefas como programações de sequenciadores nos álbuns de Mariah, tocou guitarra no disco, ajudou a compor três faixas e usou o pseudônimo W. Chester. Havia uma certa onda Ziggy Stardust de brincar com uma personagem que era uma espécie de “Barbie Malibu” (citada de verdade na letra de um dos quase-hits do disco, Malibu – nada a ver com a canção do Hole).
As faixas tinham nomes como Demented, Agony, Love is a scam, Hermit, a já citada Malibu – numa espécie de espelho-paródia das canções de bandas como Nirvana, Pearl Jam e Babes In Toyland. As letras foram feitas para parecerem sombrias, mas integrantes do projeto garantem que todo mundo estava se divertindo bastante escrevendo todo o material. Principalmente a cantora, que convocou vários funcionários do estúdio para fazer backing vocals, mesmo quem não soubesse sequer sustentar uma nota.
É estranho pra burro (claro) imaginar Mariah Carey tentando fazer punk e usando um pseudônimo. Pelo menos à primeira vista. 1995 foi um ano excelente para o punk norte-americano: bandas como Green Day e Offspring vendiam horrores e a primeira, em especial, costumava ser citada como bom exemplo de escrita pop por pessoas que não necessariamente eram fãs de punk ou grunge. 1995 foi igualmente o ano de lançamento do confessional Jagged little pill, terceiro e extremamente bem sucedido disco de Alanis Morrissette. Muito embora ele tenha saído apenas três meses antes do álbum do Chick e seja bastante improvável que Mariah soubesse o que Alanis vinha fazendo, já que as duas estavam em estúdio quase ao mesmo tempo e habitavam galáxias muito distantes.
Que havia lugar para um projeto feminino, confessional e pretensamente “alternativo”, havia. Em seu livro de memórias The meaning of Mariah Carey, ela falou sobre o tal disco do Eel Tree, que virou Chick, e disse que quis “brincar com o estilo das cantoras brancas, punk, leves e alegres, que eram populares na época. Eles podiam estar com raiva, angustiadas e bagunçadas, com sapatos velhos, calças enrugadas e sobrancelhas rebeldes, enquanto cada movimento que eu fazia era tão calculado e bem cuidado”.
A Sony, particularmente, não estava interessada em vender uma Mariah Carey “angustiada”. Após vários sucessos seguidos, e com Daydream na bolsa de apostas da gravadora, a Sony ouviu o disco e concordou em lançar, só que: 1) Mariah precisaria apagar seus vocais e reescrever algumas letras; 2) De Eel Tree, o projeto foi renomeado como Chick; 3) Clarissa Dane, amiga de longa data de Mariah, virou a cantora e o rosto do Chick, com as vozes de Mariah pulando para os backing vocals; 4) A Columbia, selo “grande” da Sony, tirou o corpo fora, e o disco do Chick caiu no colo de um selinho alternativo da subsidiária Epic, o 550 Music, que lançava bandas como Flop, Infectious Grooves e Social Distortion (mas que também já lançara em 1993 o überproduzido The colour of my love, terceiro disco internacional de Celine Dion).
Se você é fã de Mariah, já deve saber disso há tempos. Mas caso não seja, vamos lá: saíram dois clipes do álbum, Demented e Malibu. Em ambos, a imagem a ser trabalhada é a de Clarissa, como se Chick fosse um pseudônimo da cantora. Os supostos músicos da banda, quando aparecem, surgem ou rápido demais, ou usando máscaras (!) ou com óculos escuros e/ou cabelos cobrindo a face.
O clipe de Malibu foi zoadíssimo com piadas de baixo calão no Beavis & Butthead.
Bom, recentemente, ela disse ao podcast Music Now, da Rolling Stone, que reencontrou as gravações originais com sua voz. Disse basicamente que os fãs vão ter acesso ao material e que ela também está trabalhando em “uma versão com outro artista”. Na época, se você fosse fã de Mariah, só iria ouvir o material se desse sorte de emparelhar seu carro com o da cantora, já que ela costumava dirigir pelas estradas do interior de Nova York ouvindo as músicas e gritando.
O disco original do Chick não está nas plataformas, não está no YouTube, mas dá para baixá-lo inteiro do Soulseek. De qualquer jeito, nem imagine uma berraria infernal: músicas como Joe, Love is a scam, Freak e Hermit estão mais para um power pop com um pouco mais de maldade, com arranjos que poderiam ter sido feitos por uma banda fictícia de série de TV ou filme da Sessão da tarde. Por acaso, o álbum tem uma versão (boa) de Surrender, do Cheap Trick. Essa faixa teve os vocais de Mariah e Clarissa Dane disponibilizados no YouTube.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
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