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POP FANTASMA apresenta Sergiopí, “Auradelic”

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POP FANTASMA apresenta Sergiopí, "Auradelic"

A música faz com que Sergio Martins, o Sergiopí, leve vida dupla. Lançando o segundo disco solo, Auradelic, e envolvido com música desde a infância (“pai ritmista de blocos e escolas de samba; mãe super afinada; tio vendedor de discos; avô amigo de vários artistas, como Nubia Lafayette, Nadia Maria, Ary Barroso”, conta), ele é também o dono da gravadora LAB 344.

O selo, além de manter um elenco brasileiro (nomes como Kassin, Ed Motta e Sergio Loroza já gravaram álbuns por lá), ainda se responsabiliza por lançar aqui álbuns que acabam ficando de fora do cardápio das grandes gravadoras. Discos de Cat Power, Sonic Youth, Odd Future e até lançamentos mais recentes do Duran Duran saíram por aqui pelo selo de Sérgio. O dono de gravadora e o artista, ele diz, caminham lado a lado. “O cara da gravadora é mais racional, pragmático e workaholic. Um baita personagem! Sendo assim, sobra pouco tempo para me dedicar ao meu trabalho autoral. Não tenho a obrigação de ter uma carreira, mas gosto de lançar discos”, conta ele.

AURA PSICODÉLICA

Auradelic, cujo nome vem de uma memória afetiva de Sergio, “eu bem garoto, ali nos anos 1970, e aqueles grupos de hippies, com aqueles cabelos enormes sentados na rua e tirando um som”, já era para ter saído em 2019. Sergiopí (“pi” é seu apelido de infância, “deu vontade juntar tudo e colocar um acento agudo ali onde não devia existir”) diz que se boicotou e atrasou o segundo álbum, que sai cinco anos após a estreia como Meu pop é black power (2015).

“Eu tinha uma série de músicas com o Bombom (músico popularizado pelo trabalho com Ed Motta), muitas delas inacabadas. A gente tem criado assim desde 2015, via WhatsApp, trocando melodias, ideias de groove, a porra toda. E quando percebi o Hiroshi já estava trabalhando nos beats e testando harmonias. Gravamos 14 e escolhi nove para fechar um álbum. Foi todo feito no home do Hiroshi Mizutani (produtor), bem bedroom pop. Só fui para um estúdio profissa pra gravar minhas vozes. Até os violões do Flavio Mendes foram gravados em casa”, conta Sergio, definindo seu som como “melancolia indie”.

OUVINDO

O som de Sergiopi tem muito de pop oitentista. “Sempre fui viciado em Annie Lennox, Prince, George Michael, Anita Baker, David Bowie. Oitentista nacional acho que somente Rita & Roberto, principalmente o álbum de 1985 (o de Vírus do amor)“, conta. “Tenho ouvido os recentes do SAULT, Washed Out e Rey Pila. E umas coisas bem aleatórias, tipo o Behaviour do Pet Shop Boys, umas pouco conhecidas do Cazuza e os álbuns do Jungle. Há pouco tempo descobri o som de uma mina chamada Bruna Mendez, acho que de Brasília. Tem umas faixas bem legais ali”, afirma.

Falando em pop nacional, o disco tem uma música chamada Não sei nadar, mas Sérgiopi diz que não é uma brincadeira com Eu não sei dançar, do Alvin L, gravada pela Marina Lima. “Essa é sobre alguém que é um exímio nadador, mas que morre afogado nos próprios prantos. Fiz numa semana em que estava ouvindo direto uma gravação dos Carpenters para Close to you, do Burt Bacharach. E surfamos na mesma onda do James Blake no arranjo e nos timbres. Aliás, o disco tem muito desses synths analógicos usados por ele, Tame Impala e vários outros caras legais”, conta.

SELO E MÚSICA

A figura do artista que monta seu próprio selo é comum. Já o dono de selo que passa a lançar seus próprios discos já é mais raro. Sergio é um deles. “Comecei a gravar profissionalmente por acaso, em 2005, em um projeto com vários nomes da MPB financiado por uma gravadora japonesa. Um dos artistas desistiu de participar depois dos arranjos prontos, e acabei cantando em uma faixa com o João Donato porque o tempo já tinha estourado. Eu assinava como Orionfellas, que era um duo com o japa Hide Tanaka. Gravei e produzi uma série de temas bossa lounge, mas com vontade zero de mostrar a cara'”, conta, lembrando que o empurrão para que ele passasse a cuidar mais da carreira musical veio de ninguém menos que Cindy Lauper. E foi numa feijoada.

“Eu tinha acabado de produzir uma faixa extra para o disco dela de blues e dado pitacos na tour. Coloquei Lan Lan e Leo Gandelman na gig. E ela dava as entrevistas sempre falando de mim…meu ego foi lá em cima”, recorda. “Acho que ela preferia lançar os projetos dela com a LAB 344 por causa dessa minha relação com a música. Foi assim com Alanis Morrissette, Moby e vários outros selos e artistas que passamos a distribuir por aqui. Acho que eles se sentem mais seguros. A música tem disso mesmo”, diz ele.

Sergio, todavia, lembra que nem tudo são flores no mercado, mesmo quando o dono da gravadora “entende” de música. “Sempre vai existir alguém criando um selo sem entender chongas do business e entregando seus conteúdos nas mãos de um agregador achando que isso basta”, espeta.

MÚSICA E SELO

Manter um selo hoje em dia já não seria fácil nem mesmo se um vírus maluco aí não tivesse aparecido, mas a verdade é que as coisas pioraram um pouco para quem lida com cultura. Sergiopi diz que a LAB 344 vai bem, apesar do apocalipse, e que o trabalho migrou mesmo para o digital – o último a sair em CD foi um disco dos Boogarins, em 2019.

“Já são 15 anos, meu caro! Riscos calculados nos trouxeram até aqui, sem sombra de dúvidas. Começamos a fabricar e distribuir CDs já com o formato em declínio. Meu orixá já previa que em menos de 10-15 anos os grandes varejistas iriam quebrar. Sendo assim, sempre fomos bem conservadores ao definir tiragens iniciais e faturar grandes quantidades para esses compradores pau no rabo. Não há mais mercado no Brasil, muito por conta dessa inadimplência jeitinho brasileiro”, explica.

ARTE SEM PUDOR

Pouco antes de Auradelic chegar às lojas, Sérgiopi adiantou o repertório com alguns singles singles, Quem é você no meu tempo?, o duplo Saudade vazia/Lacan x9 e Neo indie da periferia. A primeira faixa ganhou um clipe, já pensado durante a preparação da música, com referências de diretores como David Lynch e Luis Buñuel. “Mostrei para o Henrique Alqualo (diretor) algumas cenas de filmes, escolhemos uma atriz e filmamos tudo em uma diária”, conta ele, que inseriu um verso na faixa que fala em “arte sem pudor”.

“Não dava pra lançar um disco pop fofo nessa atual conjuntura, até porque não combina comigo. Esse é um disco de poucos sorrisos para ouvidos atentos. Em Auradelic eu falo no final ‘desordem, retrocesso, vade retro!’. Mas essa onda ruim vai passar. Sempre passa, né?”, afirma. O Neo indie, por sua vez, é um personagem que Sérgio criou, inspirado nas reminiscências de infância no subúrbio.

“Fui criado soltando pipa e participando dos blocos de carnaval e festas juninas que meu pai montava. O Neo indie pode ser alguém que herdou aquela coisa do malandro carioca sem precisar dar by-pass em ninguém para vencer na vida. Aquele que morre de amor pra existir; que enverga, mas não quebra; que balança, mas não cai. O ‘puteiro’ na letra não tem nada de pejorativo.

Foto: Luan Lopez/Divulgação

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Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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