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Pequeno Imprevisto: um selo cheio de assunto

O selo paulistano Pequeno Imprevisto (cujo nome foi tirado de uma música dos Paralamas do Sucesso) não quer ser apenas uma gravadora. Montado com o jornalismo no DNA, ele se apresenta como uma plataforma de histórias, na qual cabem um site bastante informativo, e vários outros projetos, como canal de vídeo e podcast. Além de vários novos lançamentos – como o disco novo de Flavio Tris, do qual o Pop Fantasma falou na semana passada. Fomos bater um papo com Eduardo Lemos (jornalista e pesquisador musical) e Otavio Carvalho (músico, compositor e produtor), os criadores do selo, para descobrir como é ter uma gravadora que, além da música, põe o foco em novas ideias para divulgar música.
O site de vocês é bem informativo e funciona como um site de conteúdo mesmo, com informações sobre as bandas/artistas, notinhas, etc. Como chegaram a essa riqueza de conteúdo?
Eduardo Lemos: Eu sou jornalista e eu sempre comentava com o Ota como estavam acabando ou diminuindo drasticamente os espaços para um bom jornalismo sobre música. O Ota, como músico, sempre deu muita importância para a imprensa, ele sempre mostrou entusiasmo com isso. Daí a gente chegou na ideia de “vamos fazer isso a gente mesmo”, ou seja, que o selo poderia ser ele próprio um veículo jornalístico, dentro das nossas limitações, é claro.
Fizemos algumas reportagens exclusivas, com pauta, apuração, entrevistas e edição assinadas por nós, como uma matéria sobre como outros países estavam ajudando os músicos no começo da pandemia, de autoria da jornalista Carime Elmor; uma outra sobre a relação afetiva dos músicos com seus instrumentos musicais, assinada pelo jornalista Alfredo Araújo. Também criamos séries em vídeos como Uma canção para salvar o mundo, especialmente para o YouTube, e o nanopodcast, episódios de até 1 minuto sobre os nossos lançamentos, feito para o Instagram. Estamos nos preparando para investir mais nisso em 2022.
Queria saber um pouco sobre o que vocês andavam fazendo antes do selo.
Otávio Carvalho: Eu e Edu nos conhecemos em 2014, numa entrevista que ele estava fazendo para o Azoofa e já de cara descobrimos diversas afinidades e começamos a trabalhar juntos em diversos projetos. Eu sou sócio da produtora de áudio/estúdio Submarino Fantástico, trabalho compondo trilhas para streaming, TV e cinema, produzo e mixo discos, toco com minha banda Vitrola Sintética e acompanho os artistas Paulo Miklos, Gustavo Galo e Meno Del Picchia. O Edu é jornalista musical, tem uma empresa que trabalha conectando música e marcas, outra que faz comunicação de artistas, já produziu diversos shows, criou o projeto Nick Drake Lua Rosa, em homenagem ao Nick Drake…
Enfim, nossos universos são muito amplos e tínhamos mais ideias que queríamos colocar no mundo e descobrimos que um selo poderia ser um caminho, tanto para ajudar artistas a colocarem e sustentarem suas obras no mundo, quanto para abrigar nossas loucuras.
Além do site, o que mais vocês estão pensando para levar as propostas do selo adiante? O site do Pequeno Imprevisto fala em cursos, publicações impressas, etc.
Eduardo Lemos: Pois é. O maior motivo da gente ter criado o selo, a ideia que nos fez entender que o selo poderia fazer alguma diferença, é a de que os lançamentos musicais (discos, EPs, singles) tem uma vida útil cada vez menor, tudo fica velho num piscar de olhos, e todo aquele trabalho que o artista levou meses, às vezes anos para construir, e que ele investiu uma grana, de repente deixa de ser interessante para o público, a imprensa, os contratantes de shows. Como fazer essa vida útil ser maior? Com cada artista, a gente faz esse exercício de “tá bom, o disco sai tal dia e a estratégia é essa, mas o que vamos fazer para manter esse disco vivo depois?”.
Na nossa visão, criando oportunidades para que estes trabalhos continuem vivos depois de lançados. Com o Gustavo Galo, por exemplo, nós criamos um curso chamado Eu quero mesmo é isso aqui, em que ele ministra aulas sobre a relação entre a poesia e a música. Com o Luiz Gabriel Lopes e o Lucas Gonçalves, criamos eventos no zoom em que eles puderam receber os fãs e trocar ideias sobre os discos que eles haviam acabado de lançar. Para a Cao Laru, fizemos uma série de podcasts.
Como o lançamento de um disco ou de um artista do selo é pensado e trabalhado?
Eduardo Lemos: Às vezes, o disco chega pronto pra gente, foi o caso com o Flavio Tris (Vela) e o Juliano Abramovay (Amazonon). Em outros casos, nós participamos da direção artística do álbum, às vezes atuando na própria gravação, como rolou com a Cao Laru (Libre), que gravou o disco inteiro no estúdio do Ota, e Luiz Gabriel Lopes (Presente), que o Ota masterizou as faixas.
Uma vez com o disco pronto, a gente começa a definir as estratégias de lançamento, que basicamente se dividem em (1) datas: discutir com o artista qual será o primeiro single e quando ele será lançado, se haverá um segundo e qual será esta data etc e quando o álbum sai completo, e se será apenas digital ou físico; (2) imprensa: escrever release, selecionar fotos e vídeos de divulgação, definir com quais jornalistas vamos falar e qual será a abordagem; (3) streaming: reunião com a distribuidora para falar sobre o lançamento, pensar sobre possíveis playlists que se encaixam no perfil daquele disco ou single, fazer o upload deste conteúdo na plataforma e acompanhar o trabalho deles; (4) ações paralelas: aqui, depende do que cada artista precisa. Alguns precisam de um apoio maior na comunicação, então a gente chega junto com ideias e produções. Outras vezes, é o caso de viabilizar um LP. Aí é caso a caso mesmo.
Há quem reclame do excesso de lançamentos que chegam hoje às plataformas, que muitas vezes não dá tempo de lançar e trabalhar tudo… Como vocês veem isso?
Eduardo Lemos: Alguém me deu um número esses dias, tipo 40 mil novas faixas entram no Spotify todos os dias. A probabilidade de a sua música virar uma gotinha neste oceano é enorme. Como aprendi com a pesquisadora e consultora Dani Ribas, cada artista hoje está disputando a atenção do público não só com outros artistas, mas também com o Instagram, com o TikTok, com a Netflix, enfim. Não há saídas fáceis para uma guerra deste calibre, mas com certeza não lançar música não é uma saída.
Arriscaria dizer que o caminho mais seguro, neste momento, é fortalecer a relação com seu público, seja ele formado por uma, dez, mil ou 5 milhões de pessoas, e criar novas formas de atrair gente para ouvir o seu trabalho, seja por meio de vídeo, áudio, cursos, shows. E, sempre, sempre, tentar fazer as coisas com antecedência, pensando com atenção cada etapa deste lançamento. Apenas colocar um disco no mundo é implorar para ele virar a gotinha do oceano.
Às vezes, a gente ainda sonha que existe aquele ouvinte ideal, que vê o post no Instagram anunciando o lançamento do álbum, para tudo que ele está fazendo, apaga as luzes, abre um vinho e coloca o disco pra rodar. Ou que a gente não precisa fazer nada, basta colocar o disco no mundo e as pessoas o entenderão naturalmente. Talvez uma ou duas ainda façam assim – e meu muito obrigado a elas! -, mas se o artista quer que o seu trabalho seja financeiramente sustentável, ele precisa atingir mais do que uma ou duas pessoas.
Vocês pensam em investir em formato físico também?
Otávio Carvalho: Sim! É onde temos focado um pouco da nossa energia para 2022. Nós fizemos um vinil do disco Libre da Čao Laru em parceria com a banda, e acabamos de produzir uma fita cassete comemorativa dos 15 anos de carreira do Luiz Gabriel Lopes. Agora estamos planejando outros formatos para o físico, que não só os convencionais.
No que a pandemia afetou os rumos do selo?
Eduardo Lemos: É até engraçado isso: o selo nasceu oficialmente no final de fevereiro de 2020. 15 dias depois, o Brasil entrou em lockdown. Daí a gente brincava que Pequeno Imprevisto era um nome bastante conveniente pra situação… Rs! Alguns planos foram por água abaixo. Inicialmente iríamos vender alguns shows dos artistas, atuando especialmente no booking de shows de lançamento; havia um desejo de fazer eventos do selo ao ar livre e até um
festivalzinho nosso em algum momento. Na pandemia, fizemos lives com o Lucas – que lançou o Se chover; via show no Youtube – e algumas ações no Zoom e no Instagram. Também optamos por seguir em frente com alguns lançamentos, como o Libre e o Se chover – na época havia muita dúvida se valia a pena esperar a pandemia “acabar”.
Mas acho que uma das coisas mais legais que fizemos foi o projeto Singles Imprevistos, em que juntamos artistas que nunca haviam gravado juntos para fazer isso à distância, cada um da sua casa. Virus uniu André Abujamra e
Cao Laru, Pedido trouxe Lucas Gonçalves, Amarelo, Biel Basile (do Terno) e Zé Ruivo.
O quanto Paralamas do Sucesso é uma banda importante pra vocês? O selo já chegou até eles? Eles já souberam da homenagem?
Otávio Carvalho: Nós dois somos apaixonados pela obra dos Paralamas do Sucesso e essa foi a primeira conexão entre nós. No dia em que nos conhecemos. Mostrei para o Edu uma versão da música Trinta anos, que fizemos com o Vitrola Sintética, no ano em que Os Paralamas fazia trinta anos e nós, integrantes do Vitrola, também. Isso foi com menos de meia hora de papo e esse papo se estende até hoje.
Eduardo Lemos: Eu trabalho com os Paralamas desde 2008, como responsável pela comunicação digital deles, junto com o jornalista Rafael Michalawski. Sou fã deles desde os cinco anos, quando minha mãe conta que eu ouvi o Big bang, e ficava pedindo pra ela colocar o disco pra tocar infinitas vezes. Passei minha infância, adolescência e início da vida adulta completamente obcecado pela obra da banda e do Herbert solo, e ainda sou. Quando rolou a ideia do selo, eu brinquei com o Ota de que o nome teria que vir dos Paralamas. Fiz uma lista com diversas palavras que estão espalhadas nas músicas deles, e de títulos de canções. Ali eu já tinha escolhido emocionalmente o que eu queria: Pequeno Imprevisto (da música Um pequeno imprevisto).
Mostrei pro Ota, ele leu a lista e me falou: “Curti muito um nome: Pequeno Imprevisto”. Era pra ser. Eu nunca comentei oficialmente com eles: “Olha, eu tenho um selo cujo nome é uma homenagem a vocês”, mas acho que nem precisa… Rs! O que eu acho mais legal disso tudo é que o Herbert fez essa música quando ele tinha a idade que eu e Ota tínhamos quando criamos o selo, e a ideia que a letra traz – o completo ridículo que o ser humano passa por tentar controlar as coisas – se conecta tanto com o momento em que estamos vivendo.
Lançamentos
Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

Ouça no último volume: em comum, as músicas do Radar internacional de hoje têm a inquietação – seja a inquietação existencial, a inquietação criativa, ou aquele estado que tira a gente da letargia e obriga a fazer alguma coisa urgentemente. A lista começa com Stina Marie Claire dando um trato no arranjo de sua própria música, e prossegue até a psicodelia dançante do Mantra Of The Cosmos.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Bandcamp (Stina Marie Claire)
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STINA MARIE CLARIE, “THE HUMAN CONDITION (MEMENTO VERSION)”. Stina Tweeddale é mais conhecida por liderar a banda Honeyblood, que gravou álbuns excelentes unindo emo, power pop (com mais ênfase no “power”), sons misteriosos e um certo clima grunge. O Honeyblood tá meio sumido desde o single You’re standing on my neck (2019) e após a pandemia, Stina tem se dedicado a seu projeto solo, assinado com seu nome quase completo (que é Christina Marie Claire Tweeddale).
Na real, o Honeyblood já vinha funcionando como um projeto de uma mulher só. A diferença é que Stina Marie Claire dedica-se a uma sonoridade mais próxima do dream pop e do som-de-quarto. O EP A souvenir of a terrible year, repleto de lembranças do isolamento pandêmico, saiu em 2021, e agora sai a versão “memento” das faixas, reimaginadas com arranjos de cordas. A de The human condition humaniza tudo aquilo que era eletrônico e quase chiptune no original. Ficou bonito.
KING PRINCESS, “RIP KP”. No dia 12 de setembro sai Girl violence, novo álbum de Mikaela Strauss, ou King Princess, produzido por ela ao lado de Jake Portrait (Alex G, Unknown Mortal Orchestra) e Aire Atlantica (SZA). O disco marca a volta da artista a Nova Iorque e a um som mais cru e direto, após rompimentos pessoais e profissionais. O single RIP KP, que anuncia o álbum, mistura desejo feminino, melancolia e autossabotagem com batidas pulsantes e guitarras viscerais.
“É é sobre o lado sexy da violência feminina – quando o amor toma conta do seu cérebro e, de repente, você está sendo fodida pela casa toda, agindo como uma idiota. É a maneira perfeita de abrir o disco: dramática, desequilibrada e um pouco irônica”, conta ela, que no clipe, encara um clube de strip tease bem estranho. “É um hino safado para as lésbicas. Precisamos de devassidão neste verão”.
MÈR, “LET’S FIGHT”. A dupla formada pelas cantoras e compositoras francesas Cindy Doire e Sarah Burton uniu-se ao Chorus of Courage – um coletivo que amplifica as vozes de sobreviventes da violência. Do trabalho em conjunto saiu a delicada e etérea Let’s fight, uma canção em inglês e francês, que põe em versos a convivência com pessoas narcisistas e tóxicas. Aliás, a faixa é a estreia da dupla: Sarah e Cindy conhecem-se há duas décadas e mantém carreiras solo, mas só agora gravam juntas.
“Você já teve um amigo ou amante que sempre queria começar uma briga? É um ciclo exaustivo de manipulação e mágoa”, diz Sarah, localizando o sentido da letra. “A música é interpretada com ironia e calma, como se a pessoa dissesse: ‘Não vou mais brigar'”. A gravação foi feita durante uma nevasca na casa de Cindy, e o Mèr misturou sons acústicos e eletrônicos, lançando mão de sintetizadores vintage.
ESTEVES SEM METAFÍSICA, “SÓBRIA”. Com nome inspirado num verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo do poeta Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é uma banda de uma mulher só – a escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, que acaba de lançar com seu projeto o álbum de.bu.te. Não é um pop fácil: é um dream pop com referências de folk, música clássica, sons de Portugal e a fase mais elaborada dos Beatles. Nas letras, há espaço para crônicas pessoais e comentários existenciais: a bela e contemplativa Sóbria, single que antecedeu o álbum, é definido por Teresa como “um hino à juventude inconsequente”.
SUEDE, “TRANCE STATE”. No dia 5 de setembro, os reis do glam rock dos anos 1990 voltam às plataformas e prateleiras: o Suede lança o novo álbum Antidepressants (BMG). Produzido por Ed Buller, parceiro de longa data da banda, o disco promete um mergulho no pós-punk, segundo o vocalista Brett Anderson. Depois do ótimo primeiro single, Disintegrate, agora é a vez de Trance state, um rock dramático e elegante sobre perder o controle (entrar em estado de transe, enfim) ao ver alguém. Nada de trance eletrônico, como o nome da canção sugere, mas o clima hipnótico está garantido: é Suede puro, com clima de arena e direção de vídeo feita por Chris Turner.
(e falamos de Disintegrate aqui).
MANTRA OF THE COSMOS feat NOEL GALLAGHER, “DOMINO BONES (GETS DANGEROUS)”. O tira-casaco-bota-casaco envolvendo Zak Starkey na formação do The Who manteve o nome do baterista na mídia. Aliás, no caso, pior para a veterana banda britânica, que agiu de maneira bem estranha na demissão do músico.
Zak permanece aparecendo: seu supergrupo Mantra Of The Cosmos – que também tem na formação Shaun Ryder e Bez, do Happy Mondays, e o guitarrista do Ride, Andy Bell – volta com o terceiro single, um dance-rock lisérgico que lembra os próprios Mondays e o Black Grape (a “outra banda” de Shaun e Bez), e que tem participação de Noel Gallagher, do Oasis. Starkey, provavelmente o único filho de beatle que dispensa tal aposto ao lado no nome, usou os brinquedos do filho no clipe da faixa.
ROSETTA WEST, “DORA LEE”. Lembra do Rosetta West, banda que chegou até nós pelo nosso perfil no Groover e da qual já falamos diversas vezes? Eles estão de volta com o ótimo EP Gravity sessions, com músicas antigas do grupo gravadas numa sessão no estúdio Gravity, de Chicago. Dora Lee, uma das mais legais do álbum Night’s cross (resenhado aqui), era um blues acústico no original, e virou punk-blues com herança de Jimi Hendrix e Tad.
“A música conta a história de um homem assombrado por uma visita breve e apaixonada de uma figura feminina aparentemente sobrenatural. No clipe, o narrador assume o papel de um endurecido comandante de tanque, ainda perturbado por essa aparição mesmo em meio aos combates”, avisa o grupo, chegadíssimo nos climas sombrios.
Lançamentos
Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus – e mais

Tem um restinho da farra de junho abrindo essa edição nacional do Radar – com o som nordestino e psicodélico de Julião e O Forró do Suco Elétrico (foto). Entre sons herdados do punk, como Swave e Lupino, também tem muita brasilidade aqui hoje, inclusive com a presença de um dos maiores e mais longevos nomes da MPB entre os novos lançamentos. Ouça tudo no volume máximo.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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JULIÃO E O FORRÓ DO SUCO ELÉTRICO, “A MURIÇOÇA”. Criado pelo músico pernambucano Feiticeiro Julião, o Forró do Suco Elétrico (que estreia agora em EP epônimo) é uma brincadeira séria com a tradição zoeira e alegre do forró, só que turbinada pelas guitarras e pela psicodelia – como também é tradicional na MPB nordestina dos anos 1970 para cá, via Alceu Valença, Robertinho de Recife e vários outros nomes. Julião une-se a Ju Menezes, Alexandre Baros, Drica Ayub, Juvenil Silva e Tomé, e liga forró, frevo e sons afins na tomada, sem esquecer das raízes. A muriçoca, de Julião, une forró, folk, reggae, sofrência e picardia em doses quase iguais. Pra tocar na sua festa!
SWAVE, “VAI CAIR”. Esse supergrupo indie paulistano lançou recentemente o disco Foi o que deu pra fazer (resenhado pela gente aqui) e une sua estética musical grunge a um clima de gravação de vídeo antiga no novo clipe, Vai cair. Parece um VHS guardado por décadas, uma videoarte antiga, ou um vídeo dos primórdios das câmeras digitais – você escolhe – mas tudo cheio de estilo e som alto. Detalhe: com esse vídeo, a banda fechou a rodada, porque agora todas as onze faixas do álbum (!) têm clipes. Música para ver e ouvir.
LUPINO, “MUROS”. Unindo rock, variações rítmicas e música eletrônica, o Lupino, de Florianópolis (SC), fecha seu primeiro ciclo de gravações com Muros – que vem após outros quatro single lançados. Uma música especial para a banda, por ter sido a primeira vez em que a banda compôs em conjunto, “unindo elementos de rock e música eletrônica para criar uma experiência dançante e introspectiva”.
Na faixa, os vocais de Taissa Bordalo cantam uma relação bem complicada, em que uma pessoa entra sem pedir licença e as coisas fica beeem bagunçadas – tanto que em algum momento, a outra parte do relacionamento tem que construir muros em volta de si. Lá pela metade, a canção muda de ares e ganha um clima mais tecnológico, com teclados e programações.
JOÃO MERIN, YAAN, LAIÔ, “FILHOS DE ÁFRICA”. Esse trio vem da Bahia, une afrobeats, pagotrap e r&b, e mescla talentos – João é cantor e rapper, Yaan é músico e produtor, Laiô tem 20 anos de carreira como cantora, compositora e gestora cultural. O EP Olhos de sol tem música pra dançar, mas tem protesto e vitória, como no balanço de Filhos de África. Uma música em que Laiô canta que “tá ficando preto, tá ficando bom / cês tão vendo só o começo, vamo dominar”, e João entra citando o jogador Vinicius Jr e o rei do afrobeat Fela Kuti. “Cantando o amor até mesmo no fim /precioso na lama feito rubi”, diz, unindo amor e resistência.
CAMALEÔNICA, “GERAL”. Banda formada em Barcelona por dois amigos de infância do Brasil (Felipe Dantas e Fernando Reis), o Camaleônica encontra na mistura musical a sua razão de existir – samba, bossa nova, rock, rap, eletrônicos, tudo isso encontra lugar no som deles. Geral, um dos singles que puxam o disco Eletrotropical, une guitarras ligadas ao blues e ao rock, e batuque vindo do axé. Seria um axé-blues, então? Talvez. Felipe explica que o principal da faixa é que apesar das diversidades, o personagem da música tem orgulho de sua história – e é esse amor próprio que “pulsa forte nos batuques e conduz sua trajetória”, completa o músico.
VI DRUMUS, “O SONHO ANESTESIA”. “Quero que quem ouça esse som se sinta visto, mesmo nas suas sombras”, diz Vi Drumus, que acaba de lançar o álbum Medor. O sonho anestesia é uma música que une metais, beats e referências que vão do hip hop ao soul brasileiro, para falar de “uma realidade em que o corpo é explorado e a mente busca refúgio na poesia e na fuga onírica”. Som pra dançar e encarar a luta do dia a dia com outra mentalidade, já que um dos grandes temas dos quais Vi fala em seu álbum, é como um monte de coisas que a gente faz e pensa são mediadas pela dor.
NEY MATOGROSSO, “PÁSSARO BRANCO”. Canção meditativa composta por Paula Raia, Pássaro branco é a faixa-título do novo EP de Ney – que traz quatro faixas feitas para a trilha do balé Entre a pele e a alma, espetáculo encenado pela Focus Cia de Dança sob direção de Alex Neoral. O disco é um dos projetos que envolvem o nome de Ney perto de seu aniversário de 84 anos – ele chega à nova idade em 1º de agosto. Tivemos também o filme Homem com H – que fez sucesso nos cinemas e está agora na Netflix – e o ótimo disco Canções para um novo mundo, um dos destaques do começo do ano, gravado com a banda Hecto (e resenhado pela gente aqui). Algo nos diz que vem mais aí.
Lançamentos
Radar: Ain’t, Girlband!, Cuasi Maleable, Real Farmer, Love Ghost, Georgian, Victoria Staff

Temos novidades nesse feriado: o Radar internacional do Pop Fantasma não descansa, e enquanto você dá um tempo na loucura do dia a dia (fazemos votos de que você tenha conseguido fazer isso) tem sons de bandas como Ain’t, Georgian, Girlband! e muito mais. Ouça no volume máximo.
Texto: Ricardo Schott – Foto Ain’t: Divulgação
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AIN’T, “JUDE”. Banda do Sul de Londres, o Ain’t já havia lançado Pirouette em maio, e vem agora com Jude. O grupo flerta simultaneamente com o pós-punk e o grunge (ou seja: se você é fã de Pixies e Smashing Pumpkins, vai curtir), e faz lembrar os anos 1990, alternando tensão e suavidade.
Hanna Baker Darch, vocalista de voz poderosa, lembra que George Ellerby, o guitarrista do grupo, fez o riff principal e deu o nome à canção, “o que me lembrou de um pub chamado Jude the Obscure, onde fui com um amigo da universidade”. A letra tem versos como “seu sádico desgraçado / num amor pastoral / talvez você devesse ser / não tão obscuro”.
GEORGIAN, “LEARNING TO FORGET”. O tema do novo single do Georgian é aprender a lidar com o que sobra de um relacionamento que chegou ao fim – as tristezas, lembranças, coisas do tipo, além de todo o processo de superação que alguém tem que passar depois de tudo.
“Mesmo que você não queira as memórias e pequenas lembranças daquela pessoa, elas ainda acontecem”, conta Georgia McKiernan, que lidera a banda. O som é rock sombrio e mágico, com referências tanto de pós-punk quanto do folk. Já o clipe da faixa mostra a vida passando por Georgia, enquanto a tristeza da cantora do Georgian rola sem limites. Todo o vídeo foi rodado em Manchester, terra da banda.
GIRLBAND!, “HOT LOVE” / “TALK ME DOWN”. Ainda sem álbuns lançados (por enquanto…) o excelente trio britânico Girlband! gosta de surpreender – e de fuçar nas nostalgias dos anos 1980 e 1990, mas com tino pop próprio de 2025. Duas pérolas do trio formado por Georgie, Jada and Kay já estão nas plataformas. A mais recente é uma ótima versão de Hot love, do T. Rex, A anterior é Talk me down, single autoral, bastante pessoal e profundo, abordando saúde mental. “É de fato uma situação da vida real que aconteceu comigo e eu não consegui escrever sobre isso até anos depois”, conta Georgie. A melodia e o arranjo invadem a pequena área da new wave oitentista, com beleza e agilidade.
CUASI MALEABLE, “AGRIA PLEGARIA”. “Uma canção escura e etérea, com sintetizadores espaçosos, guitarras e uma letra que se move entre o desejo, o desgaste e a repetição”, diz o Cuasi Maleable, projeto-de-um-homem-só vindo da Argentina, sobre Agria plegaria. Uma canção que vai em câmera lenta e em tom quase espacial. E que em meio a vocais graves, e a toques de canção gótica, pergunta “você poderia me amar mais?”. As referências vão de Portishead ao argentino Gustavo Cerati, e a música “não é para agradar, é para conectar”.
REAL FARMER, “HARD TIMES”. Esses pós-punks holandeses aceleram o passo no EP RF II, e Hard times talvez seja o maior soco desse novo pacote: uma faixa urgente, raivosa e barulhenta na medida certa, com dois minutos de mensagem direta para quem já perdeu a fé no mundo (ou nunca teve). A batida torta parece saía de um porão suado em Rotterdam, e o clima é de caos controlado — punk afiado, ríspido, sem descuidar da forma. A banda segue a linha do disco anterior, Compare what’s there, mas agora com ainda mais ironia e sangue nos olhos.
LOVE GHOST feat SKINNER BROTHERS, “SCRAPBOOK”. Colaboração entre o LG e os Skinner Brothers, essa faixa leva o som do projeto liderado pelo músico Finnegan Bell para uma onda completamente emo – conectando, como diz o texto de lançamento, “as diferentes histórias e eventos da vida dos últimos anos – decepções e recomeços, vitórias e derrotas”. O Love Ghost já havia aparecido outras vezes aqui, mas dessa vez soa como sempre deveria ter soado.
VICTORIA STAFF, “I STILL THINK YOU MIGHT”. “Aprendi na universidade que, desde 1960, dois terços das músicas populares são sobre amor romântico, e 75% delas são tristes. Esta foi a única vez que usei meu diploma em neurociência desde que o obtive”, conta Victoria Staff, uma cantora de Toronto, Canadá, que acaba de lançar o single I still think you might. Uma canção simpática, meio folk, meio indie-pop, mas melancólica, que fala sobre um amor que acabou, e mesmo assim se recusa a desaparecer por completo. “É sobre como os relacionamentos são difíceis”, diz.
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