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Pequeno Imprevisto: um selo cheio de assunto

O selo paulistano Pequeno Imprevisto (cujo nome foi tirado de uma música dos Paralamas do Sucesso) não quer ser apenas uma gravadora. Montado com o jornalismo no DNA, ele se apresenta como uma plataforma de histórias, na qual cabem um site bastante informativo, e vários outros projetos, como canal de vídeo e podcast. Além de vários novos lançamentos – como o disco novo de Flavio Tris, do qual o Pop Fantasma falou na semana passada. Fomos bater um papo com Eduardo Lemos (jornalista e pesquisador musical) e Otavio Carvalho (músico, compositor e produtor), os criadores do selo, para descobrir como é ter uma gravadora que, além da música, põe o foco em novas ideias para divulgar música.
O site de vocês é bem informativo e funciona como um site de conteúdo mesmo, com informações sobre as bandas/artistas, notinhas, etc. Como chegaram a essa riqueza de conteúdo?
Eduardo Lemos: Eu sou jornalista e eu sempre comentava com o Ota como estavam acabando ou diminuindo drasticamente os espaços para um bom jornalismo sobre música. O Ota, como músico, sempre deu muita importância para a imprensa, ele sempre mostrou entusiasmo com isso. Daí a gente chegou na ideia de “vamos fazer isso a gente mesmo”, ou seja, que o selo poderia ser ele próprio um veículo jornalístico, dentro das nossas limitações, é claro.
Fizemos algumas reportagens exclusivas, com pauta, apuração, entrevistas e edição assinadas por nós, como uma matéria sobre como outros países estavam ajudando os músicos no começo da pandemia, de autoria da jornalista Carime Elmor; uma outra sobre a relação afetiva dos músicos com seus instrumentos musicais, assinada pelo jornalista Alfredo Araújo. Também criamos séries em vídeos como Uma canção para salvar o mundo, especialmente para o YouTube, e o nanopodcast, episódios de até 1 minuto sobre os nossos lançamentos, feito para o Instagram. Estamos nos preparando para investir mais nisso em 2022.
Queria saber um pouco sobre o que vocês andavam fazendo antes do selo.
Otávio Carvalho: Eu e Edu nos conhecemos em 2014, numa entrevista que ele estava fazendo para o Azoofa e já de cara descobrimos diversas afinidades e começamos a trabalhar juntos em diversos projetos. Eu sou sócio da produtora de áudio/estúdio Submarino Fantástico, trabalho compondo trilhas para streaming, TV e cinema, produzo e mixo discos, toco com minha banda Vitrola Sintética e acompanho os artistas Paulo Miklos, Gustavo Galo e Meno Del Picchia. O Edu é jornalista musical, tem uma empresa que trabalha conectando música e marcas, outra que faz comunicação de artistas, já produziu diversos shows, criou o projeto Nick Drake Lua Rosa, em homenagem ao Nick Drake…
Enfim, nossos universos são muito amplos e tínhamos mais ideias que queríamos colocar no mundo e descobrimos que um selo poderia ser um caminho, tanto para ajudar artistas a colocarem e sustentarem suas obras no mundo, quanto para abrigar nossas loucuras.
Além do site, o que mais vocês estão pensando para levar as propostas do selo adiante? O site do Pequeno Imprevisto fala em cursos, publicações impressas, etc.
Eduardo Lemos: Pois é. O maior motivo da gente ter criado o selo, a ideia que nos fez entender que o selo poderia fazer alguma diferença, é a de que os lançamentos musicais (discos, EPs, singles) tem uma vida útil cada vez menor, tudo fica velho num piscar de olhos, e todo aquele trabalho que o artista levou meses, às vezes anos para construir, e que ele investiu uma grana, de repente deixa de ser interessante para o público, a imprensa, os contratantes de shows. Como fazer essa vida útil ser maior? Com cada artista, a gente faz esse exercício de “tá bom, o disco sai tal dia e a estratégia é essa, mas o que vamos fazer para manter esse disco vivo depois?”.
Na nossa visão, criando oportunidades para que estes trabalhos continuem vivos depois de lançados. Com o Gustavo Galo, por exemplo, nós criamos um curso chamado Eu quero mesmo é isso aqui, em que ele ministra aulas sobre a relação entre a poesia e a música. Com o Luiz Gabriel Lopes e o Lucas Gonçalves, criamos eventos no zoom em que eles puderam receber os fãs e trocar ideias sobre os discos que eles haviam acabado de lançar. Para a Cao Laru, fizemos uma série de podcasts.
Como o lançamento de um disco ou de um artista do selo é pensado e trabalhado?
Eduardo Lemos: Às vezes, o disco chega pronto pra gente, foi o caso com o Flavio Tris (Vela) e o Juliano Abramovay (Amazonon). Em outros casos, nós participamos da direção artística do álbum, às vezes atuando na própria gravação, como rolou com a Cao Laru (Libre), que gravou o disco inteiro no estúdio do Ota, e Luiz Gabriel Lopes (Presente), que o Ota masterizou as faixas.
Uma vez com o disco pronto, a gente começa a definir as estratégias de lançamento, que basicamente se dividem em (1) datas: discutir com o artista qual será o primeiro single e quando ele será lançado, se haverá um segundo e qual será esta data etc e quando o álbum sai completo, e se será apenas digital ou físico; (2) imprensa: escrever release, selecionar fotos e vídeos de divulgação, definir com quais jornalistas vamos falar e qual será a abordagem; (3) streaming: reunião com a distribuidora para falar sobre o lançamento, pensar sobre possíveis playlists que se encaixam no perfil daquele disco ou single, fazer o upload deste conteúdo na plataforma e acompanhar o trabalho deles; (4) ações paralelas: aqui, depende do que cada artista precisa. Alguns precisam de um apoio maior na comunicação, então a gente chega junto com ideias e produções. Outras vezes, é o caso de viabilizar um LP. Aí é caso a caso mesmo.
Há quem reclame do excesso de lançamentos que chegam hoje às plataformas, que muitas vezes não dá tempo de lançar e trabalhar tudo… Como vocês veem isso?
Eduardo Lemos: Alguém me deu um número esses dias, tipo 40 mil novas faixas entram no Spotify todos os dias. A probabilidade de a sua música virar uma gotinha neste oceano é enorme. Como aprendi com a pesquisadora e consultora Dani Ribas, cada artista hoje está disputando a atenção do público não só com outros artistas, mas também com o Instagram, com o TikTok, com a Netflix, enfim. Não há saídas fáceis para uma guerra deste calibre, mas com certeza não lançar música não é uma saída.
Arriscaria dizer que o caminho mais seguro, neste momento, é fortalecer a relação com seu público, seja ele formado por uma, dez, mil ou 5 milhões de pessoas, e criar novas formas de atrair gente para ouvir o seu trabalho, seja por meio de vídeo, áudio, cursos, shows. E, sempre, sempre, tentar fazer as coisas com antecedência, pensando com atenção cada etapa deste lançamento. Apenas colocar um disco no mundo é implorar para ele virar a gotinha do oceano.
Às vezes, a gente ainda sonha que existe aquele ouvinte ideal, que vê o post no Instagram anunciando o lançamento do álbum, para tudo que ele está fazendo, apaga as luzes, abre um vinho e coloca o disco pra rodar. Ou que a gente não precisa fazer nada, basta colocar o disco no mundo e as pessoas o entenderão naturalmente. Talvez uma ou duas ainda façam assim – e meu muito obrigado a elas! -, mas se o artista quer que o seu trabalho seja financeiramente sustentável, ele precisa atingir mais do que uma ou duas pessoas.
Vocês pensam em investir em formato físico também?
Otávio Carvalho: Sim! É onde temos focado um pouco da nossa energia para 2022. Nós fizemos um vinil do disco Libre da Čao Laru em parceria com a banda, e acabamos de produzir uma fita cassete comemorativa dos 15 anos de carreira do Luiz Gabriel Lopes. Agora estamos planejando outros formatos para o físico, que não só os convencionais.
No que a pandemia afetou os rumos do selo?
Eduardo Lemos: É até engraçado isso: o selo nasceu oficialmente no final de fevereiro de 2020. 15 dias depois, o Brasil entrou em lockdown. Daí a gente brincava que Pequeno Imprevisto era um nome bastante conveniente pra situação… Rs! Alguns planos foram por água abaixo. Inicialmente iríamos vender alguns shows dos artistas, atuando especialmente no booking de shows de lançamento; havia um desejo de fazer eventos do selo ao ar livre e até um
festivalzinho nosso em algum momento. Na pandemia, fizemos lives com o Lucas – que lançou o Se chover; via show no Youtube – e algumas ações no Zoom e no Instagram. Também optamos por seguir em frente com alguns lançamentos, como o Libre e o Se chover – na época havia muita dúvida se valia a pena esperar a pandemia “acabar”.
Mas acho que uma das coisas mais legais que fizemos foi o projeto Singles Imprevistos, em que juntamos artistas que nunca haviam gravado juntos para fazer isso à distância, cada um da sua casa. Virus uniu André Abujamra e
Cao Laru, Pedido trouxe Lucas Gonçalves, Amarelo, Biel Basile (do Terno) e Zé Ruivo.
O quanto Paralamas do Sucesso é uma banda importante pra vocês? O selo já chegou até eles? Eles já souberam da homenagem?
Otávio Carvalho: Nós dois somos apaixonados pela obra dos Paralamas do Sucesso e essa foi a primeira conexão entre nós. No dia em que nos conhecemos. Mostrei para o Edu uma versão da música Trinta anos, que fizemos com o Vitrola Sintética, no ano em que Os Paralamas fazia trinta anos e nós, integrantes do Vitrola, também. Isso foi com menos de meia hora de papo e esse papo se estende até hoje.
Eduardo Lemos: Eu trabalho com os Paralamas desde 2008, como responsável pela comunicação digital deles, junto com o jornalista Rafael Michalawski. Sou fã deles desde os cinco anos, quando minha mãe conta que eu ouvi o Big bang, e ficava pedindo pra ela colocar o disco pra tocar infinitas vezes. Passei minha infância, adolescência e início da vida adulta completamente obcecado pela obra da banda e do Herbert solo, e ainda sou. Quando rolou a ideia do selo, eu brinquei com o Ota de que o nome teria que vir dos Paralamas. Fiz uma lista com diversas palavras que estão espalhadas nas músicas deles, e de títulos de canções. Ali eu já tinha escolhido emocionalmente o que eu queria: Pequeno Imprevisto (da música Um pequeno imprevisto).
Mostrei pro Ota, ele leu a lista e me falou: “Curti muito um nome: Pequeno Imprevisto”. Era pra ser. Eu nunca comentei oficialmente com eles: “Olha, eu tenho um selo cujo nome é uma homenagem a vocês”, mas acho que nem precisa… Rs! O que eu acho mais legal disso tudo é que o Herbert fez essa música quando ele tinha a idade que eu e Ota tínhamos quando criamos o selo, e a ideia que a letra traz – o completo ridículo que o ser humano passa por tentar controlar as coisas – se conecta tanto com o momento em que estamos vivendo.
Lançamentos
Radar: Cali, Alessandra Leão e Liniker, Atalhos, Lua Dultra, ABQNE, SANJ

Semana encerrada e hoje ainda por cima tem podcast – e fim de semana distante do trabalho pra gente (finalmente!). O Radar nacional de hoje começa com a criatividade do clipe da paulista Cali, que ainda por cima foi um clipe surgido de várias demandas dos fãs. Mas tem bem mais na nossa lista de hoje, do rock progressivo à MPB safadinha, passando pelo folk. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Cali): Luiza Meneghetti / Divulgação
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CALI, “FOME” (CLIPE). Cantora vinda de Porto Ferreira (SP) e radicada em Campinas, Cali viu que os fãs estavam pedindo bastante um clipe para Fome, música sua lançada em agosto. Postou um vídeo falando a respeito disso, e no mesmo dia, foi procurada por duas diretoras, que mostraram seu trabalho para ela. Foi assim que Giovana Padovani (co-direção e direção de fotografia) e Calu Zete (co-direção e produção) acabaram fazendo o clipe do single, divulgado nesta semana no YouTube, e traz Cali assumindo três personas que representam fases emocionais de um artista. As personas passam pela ansiedade e exaustão iniciais, pelo confronto com o próprio lado sombrio e, por fim, pela conquista de uma versão confiante e madura.
Detalhe: a concepção do clipe também foi sugerida por um fã, que sugeriu o filme Cisne negro, de Darren Aronofsky, como referência. “Agora, eu me vejo madura o suficiente para trazer também o meu próprio lado sombrio… Desde nova adoro suspense psicológico e drama. Pensei, por que não me inspirar nisso para construir essa parte da minha estética também?”, comenta Cali, que tem referências em Rita Lee e Rosalía – e fez de Fome um baita batidão pop.
ALESSANDRA LEÃO feat LINIKER, “TATUZINHO”. Tatuzinho é uma música que tem (bastante) história: surgiu como instrumental no álbum Brinquedo de tambor, estreia de Alessandra lançada em 2006. E foi uma música feita enquanto Alessandra colocava o filho para dormir. Depois, ela foi regravada por Alessandra no EP Pedra de sal, só que com uma letra bem sacana feita por Kiko Dinucci. E dando início às comemorações de duas décadas de seu primeiro disco, Alessandra refez a música, mas com alguns diferenciais: ela ganhou produção musical de ChicoCorrea e a voz da convidada Liniker, além de uma proximidade maior com os universos do arrocha e do brega.
Detalhe da coincidência: Liniker havia compartilhado a música nas redes, e foi a partir daí que o encontro das duas rolou. “Era ela que eu estava procurando para cantar junto”, conta Alessandra. “É uma delícia abrir as comemorações dos 20 anos do meu primeiro disco revisitando essa música ao lado de parceiros de longa data como ChicoCorrea e Kiko Dinucci – e com a presença luminosa de Liniker. É lindo vê-la voar”.
ATALHOS, “A FORÇA DAS COISAS” (SESSION). Banda de art rock com origens no interior paulista (vieram de Birigui), o Atalhos une som, literatura e profecias em seu novo disco, A força das coisas (resenhado pela gente aqui). O álbum de Gabriel Soares e Conrado Passarelli demonstra orgulho por soar próximo do dream pop, do indie rock mais recente e do pós-punk dos anos 1980 – numa nuvem de referências que inclui de The Smiths a Arctic Monkeys. E agora saiu uma session com o repertório do disco, tudo ao vivo, em preto e branco.
A session aparece quando a banda anuncia turnê pela Europa – entre os meses de fevereiro e março, passando por países como Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca e Suíça. Também anunciam e o lançamento de A força das coisas em vinil, que vai rolar assim que os dois voltarem do giro.
LUA DULTRA, “MENINA”. Pop alternativo e folk alternativo cruzam-se na nova música da Lua, Menina – um som tranquilo e viajante que também carrega as referências da união entre folk e MPB (Sá & Guarabyra, Nando Reis, Lô Borges). E cujo clipe, com direção e roteiro dela e de Sofia Rojas, mexe com o imaginário do sertanejo, trazendo a cantora, compositora e instrumentista tocando violão na porta de uma igreja, andando a cavalo e sossegada numa casa no campo, tocando com sua turma.
ABQNE (A BANDA QUE NUNCA EXISTIU), “O OUTRO NOVO EU”. HL (Humberto Lyra) e LP (Luiz Pissutto) são os integrantes da A Banda Que Nunca Existiu – na verdade uma dupla com alguns colaboradores, que vão de Alexandre Fontanetti (produção e violão), Paulo Zinner (bateria), Edu Gomes (guitarra), Adriano Magoo (piano) e até Zeca Baleiro, que solta um assovio numa faixa. O maxi-single O outro novo eu na sala de estar, com quatro faixas – uma delas é um radio edit da primeira música, O outro novo eu – é definido pelos dois como uma “ópera rock psicodélica”, cheia de sinais escondidos.
A faixa original, que dura oito minutos, soa bastante inspirada em Mutantes (especialmente no disco da banda creditado a Rita Lee, Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, lançado em 1972). A radio edit da faixa traz a música num releitura mais pinkfloydiana do que propriamente psicodélica. O conceito da faixa é citado nas outras duas músicas, Antes do outro eu e Sala de estar do outro eu. Uma viagem sonora.
SANJ, “MÁQUINA DE SOL”. SANJ, assim mesmo, com maiúsculas, é o novo projeto do músico Leonardo Sandi, de Caxias do Sul (RS), que integra a banda Catavento. Em Máquina de sol, o primeiro single, estilos como hip hop, drum’n bass e trip hop (pelo menos no clima enevoado do arranjo) unem-se na criação de uma canção que, diz Leonardo, “fala muito sobre tentar criar um mundo melhor também para um amor, uma paixão”, conta. “Sempre imaginei essa imagem de um cientista solitário em um porão, tentando criar uma máquina de sol. E um dia, quando ele finalmente consegue, tudo explode em luz”.
Outra ideia passada pela música é a de sempre seguir em frente. “Essa música é o meu recomeço, mas também é um lembrete para todo mundo que já sentiu o tempo escapar, que ainda dá para correr atrás dos sonhos”, conta ele, que para fazer Máquina de sol, se juntou a Murilo Vitorazzi, o mrl (beat, pianos, produção e co-autoria), e Francisco Maffei, o Chigo (mixagem e masterização).
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Lançamentos
Radar: Flea, Water From Your Eyes, Malammore, Atomic Fruit, Wheobe, Wuzy Bambussy

Flea, baixista dos Red Hot Chili Peppers, está para lançar um disco solo – em clima de jazz psicodélico, pelo que dá pra perceber pelo primeiro single, A plea, lançado ontem. Ele abre o Radar internacional de hoje e puxa uma seleção que tem sons experimentais, rap, psicodelia e muitas novidades. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Flea): Divulgação
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FLEA, “A PLEA”. Você provavelmente se perguntava porque é que o talentoso baixista dos Red Hot Chili Peppers não lançava logo um disco solo. Pois bem, ano que vem, finalmente, sai a estreia solo de Flea, pelo selo Nonesuch – e o que vem por aí, aparentemente, é um disco arraigado nas experimentações jazz-psicodélicas. A plea, o primeiro single, tem quase oito minutos de duração, e ganhou um clipe dirigido pela filha do músico, a fotógrafa Clara Balzary. No vídeo, Flea surge trajando uma camiseta onde se lê “dub” na mesma grafia do logotipo da banda Public Image Ltd, e fazendo passos que unem dança e ginástica. Lá pelas tantas, ele aparece correndo pelas ruas.
O tal disco solo é definido por ele como “uma banda dos sonhos de visionários do jazz moderno” – Flea, aliás, volta ao trompete, instrumento que marcou seu início na música (em A plea, quem toca o instrumento é a contrabaixista Anna Butterss). A letra é um exercício de spoken word, em que Flea diz coisas como “viva pela paz, viva pelo amor” e “quem é seu vizinho, quem é seu amigo?/ ah, há ódio por toda parte/ eu não me importo com a sua maldita política/ eu não quero ouvir falar da sua política”.
No comunicado de lançamento do single, ele foi além: disse que há um lugar transcendental acima da política, “onde há um diálogo que pode realmente ajudar a humanidade e nos ajudar a viver de forma harmoniosa e produtiva, de uma maneira saudável para o mundo. Existe um lugar onde nos encontramos, e esse lugar é o amor”. Psicodélico, digamos.
WATER FROM YOUR EYES, “DRIVING CLASSICS, PLAYING CARS”. O WFYE já havia lançado o álbum It’s a beautiful place neste ano (resenhamos aqui) e volta com o EP It’s beautiful, contendo três faixas do disco reimaginadas. Born 2, Nights in Armor e Playing classics foram remexidas pelo músico e produtor Nate Amos para enfatizar de forma diferente os vocais da cantora Rachel Brown. Playing classics, das três escolhidas, foi a que mais teve modificações: retorna com o nome de Driving classics, playing cars, com dez minutos de duração e efeitos sonoros de carros – daí o nome.
“As novas versões de Born 2 e Nights in Armor são, na verdade, mais próximas de como as músicas eram originalmente”, explica Amos. “As pessoas me perguntavam sobre a versão original de mais de dez minutos de Playing classics, e eu não conseguia mais encontrá-la, então fiz uma nova. Achei que seria engraçado se fosse mais rápida também. Adicionei efeitos sonoros de carros porque carros são rápidos”.
MALAMMORE, “TUDO PASSA”. “Dou conselhos a quem ouve, mas também olho para dentro e me englobo também nos conselhos que dou”, conta o poeta, ator e músico português Sandro Feliciano, que usa o codinome de Malammore e em Tudo passa, seu novo single, protesta contra a falta de sensibilidade do mundo – e contra a apatia patrocinada pelos donos do poder. A faixa, um hip hop alternativo narrado com agilidade, mas com melodia voadora e relaxante, puxa Aurora, disco de Malammore que está pra sair, e tem clipe dirigido por ele e por Miguel Zêgo Cebola.
Tudo passa foi inspirada na famosa foto de William Klein em que há duas crianças – uma delas aponta uma arma para a câmera, enquanto a outra está surpreendentemente calma. O rapper Mick Jenkins e seu single-clipe Brown recluse foram inspirações para o clipe.
ATOMIC FRUIT, “MEDICINE”. Esse trio psicodélico mezzo italiano, mezzo alemão (e radicado em Berlim) tem bem mais do que lisergia para oferecer: o som deles lembra um encontro ácido entre Joy Division, Killing Joke e Mudhoney, todo mundo com o cérebro lotado de alguma substância estranha. A música é tão psicodélica quanto pós-punk, graças ao clima hipnótico da melodia e do arranjo, e à voz de baritono de Martin Lundfall, que também toca synths e guitarra. Nomes como Massive Attack e SUUNS são citados no release, só para você ter uma ideia básica do peso e da intensidade dessa turma.
Medicine, de acordo com a banda, trata de um tema muito especial para músicos e artistas em geral: “Ela começou como uma música sobre bloqueio criativo, mas se transformou na consciência de como é difícil sentir aquela primeira faísca novamente”. Além do lyric video da faixa, o grupo soltou também uma session ao vivo pelo Platte:X, uma espécie de Tiny Desk arrumadinho de Berlim.
WHEOBE, “SORE”. Preparando um álbum de estreia, A strained ocean, para abril de 2026, esse grupo francês puxa o álbum com Sore, quase um progressivo dream pop, de seis minutos – e uma música que chega a ganhar ares mais pesados depois. O clipe, dirigido por Kim Fino e Camilia Penagos, mostra um verdadeiro balé urbano, de pessoas sendo basicamente elas mesmas pelas ruas. As cenas surgem como se fossem imaginadas pelos integrantes do grupo.
WUZY BAMBUSSY, “LITTLE LION”. Uma surpresa musical entre a house music e os climas herdados do jazz: o grupo britânico Wuzy Bambussy fala do reencontro com um amor perdido em Little lion e acaba conseguindo fazer uma das faixas mais deliciosamente nostálgicas do ano. Destaque para os vocais da cantora Kat Harrison e para a vibe de filme antigo do clipe, todo gravado em pret e branco. The ghost & the rhythm, o primeiro álbum, sai em abril de 2026.
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Lançamentos
Radar: Baque!, Jota 3 e BNegão, Siso, Fitti, Mat, Look Into The Abyss

O experimentalismo da banda Baque! volta ao Radar – eles já estiveram por aqui – com um single duplo que é pura poesia proto-punk. Mas a seleção do Radar nacional de hoje tem também som pesado, hyperpop, reggae-rap e MPB para ouvir no último volume. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Baque): Divulgação
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BAQUE!, “OZYMANDIAS” / “NOITES NO OCIDENTE”. Essas duas novas músicas, segundo a banda paulistana Baque!, formam “um convite para um rolê, um cartão-postal sonoro na forma de single duplo”. Normalmente voltado para uma mescla inusitada de psicodelia e punk (ou protopunk, como a própria banda define seu próprio trabalho), o grupo retorna agora influenciado por estilos como krautrock, post-rock e synthwave.
Ozymandias e Noites no Ocidente, contam eles, foram músicas que nasceram ao vivo e vêm sendo desenvolvidas há um ano nos shows, com direito ao coral dos fãs. A primeira soa como uma imagem da sessão de gravação, com vários efeitos sonoros e percussões, além da declamação da letra – que na verdade, é um poema do britânico P. B. Shelley (1792-1822) traduzido pelo grupo.
A segunda une canto gritado a la Iggy Pop, declamações com vibe Jim Morrison, e clima meio protopunk, meio groovy, direto dos anos 1960 para 2025. “Todas as canções desse lado foram gravadas em fita no correr de 7 dias de imersão em Campinas (SP)”, conta a banda, avisando também que a dupla de faixas encabeça o lado B do álbum que está sendo produzido.
JOTA 3 feat BNEGÃO, “FLORES E ERVAS” (REMIX VIBRONICS). Vinda direto da cultura soundsystem, Flores e ervas acaba de ganhar um remix assinado pelo produtor britânico Steve Vibronics, nome conhecido do UK dub. E o remix também ganhou um clipe, com imagens da apresentação do artista no festival Delírio Tropical, que rolou em Vila Velha (ES) em janeiro. BNegão, que participou do show, contribui com sua voz na nova versão.
“Ter um remix do Vibronics é surreal! Me faz voltar no tempo em que morei na Inglaterra há mais de 10 anos. Lá, tive contato com a cena através do próprio Vibronics e de muitos outros artistas e pude me aprofundar e viver realmente a cultura dos sound systems britânicos / jamaicanos, muito representativos”, conta Jota 3.
SISO, “QUEBRA-MUNDO”. “Se o mundo não se quebrasse, quem quebrava era eu”, canta Siso em Quebra-mundo, música em clima de alt-jazz e alt-pop feita em parceria com Luiza Brina, e que fala de sua reconstrução pessoal, num momento em que tudo parecia estar em ruínas. “Quando as expectativas e as premissas prévias se quebram, o que é realmente importante se revela de maneira muito límpida, permitindo que tudo o que é falso e acessório seja descartado em prol de uma energia nova, ainda que com alguma trepidação”, detalha Siso, que é de Belo Horizonte (MG), como Luiza.
Quebra-mundo ganhou um clipe em preto e branco dirigido por Tatyana Schardong, e filmado nas ruas do Centro do Rio. “A ideia era explorar visualmente o simbolismo de instabilidade e transitoriedade que a canção evoca, com cortes rápidos e cenas muito contrastantes. Acabamos mostrando um lado quase ‘Gotham City’ da cidade maravilhosa, de uma maneira bem diferente de como ela geralmente é retratada, tangenciando também muitas camadas de história dos lugares pelos quais passamos”, conta.
FITTI, “POSTAL DE AMOR”. Não é comum que intérpretes sejam homenageados em tributos – mas o cantor pernambucano Fitti, ao preparar o álbum Fitti canta Ney, em homenagem a Ney Matogrosso, evoca a época em que o próprio Ney homenageou Angela Maria com o disco Estava escrito (1994).
Fitti procurou escolher apenas músicas que ninguém conseguiria ouvir sem lembrar de Ney – daí a escolha por Postal de amor, balada introspectiva composta por Raimundo Fagner, Ricardo Silva e Fausto Nilo, gravada por Ney num compacto em 1975 (ao lado de Fagner) e depois no disco Pecado (1977). Fitti canta Ney vai virar turnê no ano que vem, com shows dirigido por Marcus Preto (que dividiu a produção do álbum com Pupillo).
MAT, “YEAH I LIKE U”. Cofundador do selo indie paulista Lazy Friendzzz e músico das bandas Dramma e Babyycult, Matt já havia lançado o EP I think I love you neste ano – e retorna agora com Yeah I like U, uma mescla de indie rock, synth-pop e hyperpop, com teclados tomando conta, ritmo dançante e vocais processados. Mat conta que a ideia da letra é falar “da atração imediata, da euforia e da ansiedade que acompanham os relacionamentos”.
LOOK INTO THE ABYSS, “WORDS”. Essa banda de Curitiba tem referências de estilos como emo e grunge, e no novo single, o peso surge à toda: Words tem vocais guturais, guitarras sombrias e pesadas, e uma letra sobre autoconhecimento e autossabotagem, sobre promessas quebradas e seguir adiante – bem na temática comum do grupo, que costuma abordar temas psicológicos e vibes bem trevosas nas letras. Words serve de batedor para o álbum que sai no começo de 2026.
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