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Crítica

Ouvimos: The Hard Quartet, “The Hard Quartet”

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Ouvimos: The Hard Quartet, “The Hard Quartet”
  • The Hard Quartet é o disco epônimo de estreia do supergrupo formado por Stephen Malkmus (Pavement, the Jicks), Matt Sweeney (Chavez, Superwolf), Jim White (Dirty Three) e Emmett Kelly (Cairo Gang, Ty Segall). Stephen e Matt cantam e tocam guitarra, Emmett toca baixo e Jim, bateria.
  • O site The Quietus conta que “Malkmus e Sweeney tiveram a ideia de formar um grupo durante as sessões do álbum solo de Malkmus, Traditional techniques, de 2020 , onde Sweeney estava entre os músicos convidados, cerca de um ano antes da pandemia. O consenso foi imediato. Sweeney enviou uma mensagem de texto para White e Kelly na hora, e ambos embarcaram imediatamente”.
  • “Neste disco, há algumas instâncias em que talvez eu pense mais nos meus heróis nos vocais. Às vezes, tento fazer algo do tipo Alex Chilton. Mas isso varia, ou eu faço isso conscientemente”, confessou Malkmus.

Stephen Malkmus, Matt Sweeney, Jim White e Emmett Kelly são o mais novo supergrupo do indie. Os sons de todos os projetos musicais dessa turma encontra-se misturado no álbum de estreia do The Hard Quartet, que oscila entre duas denominações gringas: o stoner rock, vagaroso e chapado, e o slacker rock (zoado e por vezes desencontrado, mas tranquilo), este feito pelo Pavement há anos. Tem também o som ruidoso e meditativo do disco dividido por Matt Sweeney e Bonnie “Prince” Billy em 2005, Superwolf, em que canções oscilando entre o folk e o country, executadas com minimalismo, roubam a cena.

The Hard Quartet, o álbum, explora batidas incomuns em algumas faixas, e volta e meia os vocais estão no nível da desafinação – aquele desleixo estudado do universo indie que todo mundo conhece tão bem. Mas é só a argamassa, o propósito do álbum, que é basicamente um puta disco de rock. Tem algo de The Cure e até de Mutantes e The Who em Earth hater, um tom de George Harrison (misturado com Big Star e Neil Young) em Our hometown boy, uma chegada pra cima do punk a la Buzzcocks em Renegade, um onda meio Grateful Dead em Heel highway (cuja letra fala num “liquid ass” que vem sendo interpretado como uma brincadeira com o “liquid hash”, óleo de cannabis).

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Outra curiosidade é Sex deaf rats, um rock típico do Pavement, mas que lembra uma espécie de power pop ao contrário – uma música, enfim, que daria um ótimo power pop se não comparecesse no álbum em tons graves e sonolentos, e se não fosse uma viagem slacker de mais de seis minutos. E que tem lá seus cruzamentos de bigodes com Buddy Holly, do Weezer, além de uma letra pronta para ganhar uma legenda acompanhada por uma bolinha pulando em cima de cada sílaba. É um dos sons de The Hard Quartet que vão frequentar muitas playlists.

O principal do álbum é que ele mostra que as propostas sonoras de todos os músicos envolvidos têm história – e essa história está incluída numa linha do tempo que inclui também o rock de pé na estrada (a contemplativa Rio’s song, que lembra o Fleetwood Mac de Future games, em 1971), um cruzamento entre Cream e Iron Butterfly (a claustrofóbica Action for military boys, que prega: “a guerra moderna para a qual treinamos não é parecida em nada com um videogame/minha consciência é culpada/ela precisa de uma reinicialização”) e um encontro entre Velvet Underground e country-rock (Hey). Um disco destinado ao último volume.

Nota: 9
Gravadora: Matador

Crítica

Ouvimos: Bruce Springsteen – “Tracks II: The lost albuns” (box set)

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Caixa Tracks II: The lost albuns mostra os desafios e projetos secretos de Bruce Springsteen a partir dos anos 1990 - além de um álbum secreto "de garagem" dos anos 1980.

RESENHA: Caixa Tracks II: The lost albuns mostra os desafios e projetos secretos de Bruce Springsteen a partir dos anos 1990 – além de um álbum secreto “de garagem” dos anos 1980.

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Tem um detalhe que você vai perceber de cara quando começar a ouvir Tracks II: The lost albums, a nova caixa de Bruce Springsteen, cheia de álbuns que ele deixou gravados durante os anos 1980 e 1990. Não é uma caixa complexa de ouvir: você vai querer chegar até o final bem rápido como quem lê um livro excelente. E – caso raro nesse tipo de lançamento – a audição pode ser recomendada até a quem conhece bem pouco da obra de Bruce. São 83 faixas que passam voando.

O mergulho de Bruce em seu material antigo trouxe pela primeira vez, por exemplo, LA Garage Sessions ’83, álbum que faz a ponte entre o clima sombrio e introspectivo de Nebraska (1982) e a porrada arenística de Born in the USA (1984). Um som orgânico, cheio de silêncios, que mostra Bruce numa onda quase lo-fi – evidentemente não com as mesmas intenções e ideias da turma lo-fi de hoje em dia, mas isso nem precisava explicar. Faixas como a estilingada One love (que chega a lembrar Ramones) e Unsatisfied heart (rock gospel country com componente sombrio), são lições de simplicidade musical. Além da beleza de My hometown, que apareceria em Born in the USA (1984), e do protesto anti-KKK de The klansman, quase um pós-punk, dominado por sintetizadores.

  • Relembrando: Keith Richards – Talk is cheap (1988)
  • Ouvimos: Bruce Springsteen & E Street Band – Land of hope & dreams (EP)

LA Garage Sessions ’83, por sinal, é o único disco do box que traz o Bruce pré-We are the world, jovem e quase 100% confiante. Uma boa parte da caixa foi feita nos anos 1990, época que trouxe muitas dúvidas para o cantor. Logo no começo da década, Bruce se viu numa sinuca de bico, quando lançou dois discos simultâneos (Human touch e Lucky town, de 1992) sob olhares feios dos executivos da Columbia, que achavam que o catálogo de Bruce estava perdendo força. Foram só três discos na década e o melhor deles foi The ghost of Tom Joad (1995), acústico e sombrio – volta e meia comparado a Nebraska, mas o astral não é o mesmo e há integrantes da E Street Band participando.

Dois discos da caixa são assombrados (ai) por Tom Joad. Um deles é Somewhere North of Nashville, disco gravado quase ao mesmo tempo que ele, e que oscila entre o country e o rock antigo – chegando a lembrar em alguns momentos o lado mais vintage de Talk is cheap, primeiro disco solo de Keith Richards (1988). Não seria um grande destaque da carreira de Bruce se fosse lançado na época. E na real, esse disco só faria sentido se o astro de Born in the USA não fosse um artista de quem de se espera projetos grandiloquentes e vendagens astronômicas. Músicas como Repo man, Poor side of town (hit imortalizado por Johnny Rivers) e a releitura country de Janey, don’t you lose heart soam mais como distrações, enquanto Bruce tentava entender a década.

O outro é The streets of Philadelphia sessions, de 1994, feito antes da reunião de Bruce com a E Street Band, e que no imaginário dos fãs sempre foi o “disco eletrônico” do cantor, rebocado pelo tema do filme Philadelphia, gravado por ele em 1993. Bom, Blind spot, logo na abertura, parece um rascunho de Streets of Philadelphia, Between heaven and Earth, que vem bem depois, também. O batidão dance Maybe I don’t know iria assustar vários fãs da antiga, caso fosse lançado como single. O quase r&b Secret garden, idem.

The streets só não é o disco mais fora do padrão de Tracks II porque Bruce ainda resgatou Faithless, trilha sonora de um “faroeste espiritual” que nunca foi feito, em que seu som vai do ambient ao gospel, cabendo nada menos que três temas instrumentais – nesse disco, destaque para a beleza de All god’s children. E ainda inciuiu na caixa Inyo, um dos discos mais “chupa Trump!” do set, com mariachis, temas mexicanos e músicas sobre as fatias mais prejudicadas de toda e qualquer pirâmide da economia nos EUA.

Tracks II guarda mais duas surpresas. Uma delas é Twilight hours, álbum gravado em 2019 (ao mesmo tempo em que o disco Western stars era feito), com Bruce transformado em cantor e compositor de pop norte-americano clássico – o repertório tem até um samba de gringo na estileira de Sergio Mendes e Herb Alpert, Follow the sun.
Perfect world é (segundo Bruce) o único disco da caixa que não nasceu como um álbum, e talvez seja o melhor álbum da caixa, com músicas feitas entre os anos 1990 e 2000, e “coisas” que ameaçam sair do controle, como a mântrica You lifted me up, e Rain in the river – esta, um batidão ritmado e funkeado, cheio de ruídos de guitarra, quase um espelho das guitarrices de Neil Young na mesma época.

A sensação, ao final da audição de Tracks II, é de que ainda há muito de Bruce a ser descoberto – e há mesmo, já que a limpeza final do cofre só vai se dar com o lançamento da caixa Tracks III, que já foi até finalizada.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Columbia/Sony Music
Lançamento: 27 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Lùlù – “Lùlù”

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Ouvimos: Lùlù - "Lùlù"

RESENHA: Lùlù mistura punk, power pop e glam em italiano e francês, com ecos de Raspberries, Clash e Ramones. Clima de amor ansioso e barulho doce.

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O Lùlù vem da França, canta em italiano e francês, e faz punk e power pop – ou como eles costumam dizer, “canções de amor para os ansiosos e pérolas do glam rock para os sonhadores”. Você pode até dizer que não se trata de um som necessariamente original, mas provavelmente inovar não é a intenção deles, e a mistura de referências do grupo é ótima. Aponta para evocações de Bram Tchaikovsky, Raspberries, Big Star, Buzzcocks, The Jam e até pop italiano dos anos 1960.

Em Lùlù, o disco, rola até uma carta de amor musicada ao clube roqueiro favorito deles – Sonic, Lyon, em tom meio Ramones, meio surf music oitentista. Músicas como Lùlù e Ma si ma lo unem peso e melodia como se os músicos fosse imunes a influências do punk atual. Sogni d’oro, balada com clima sixties, é o tipo de música que os Raveonettes só gravariam se pudessem cobrir tudo com microfonias.

Sur la corde, punk anos 1990 unido com senso melódico do Clash, revela que o dia a dia do grupo tem sido de muita luta, talvez mais do que glórias. “E os amigos que a gente perde nessa furada / nas bandas de rock, a gente se ama, se irrita (…) / Quanto mais o tempo passa, mais meu coração se despedaça / debaixo do cobertor, a depressão me caça / e esse policial na minha cabeça não me larga”. O power pop Pugni in tasca (“punhos no bolso”), canção de selvageria dosada, idem: “Se você não gosta da minha música / se na sua parte da cidade me odeiam / diga isso na cara”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Howlin Banana Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Cleozinhu – “Cle01”

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Ouvimos: Cleozinhu - "Cle01"

RESENHA: Mistura de slowcore, trap, dream pop e pós-punk, Cle01 mostra a versatilidade lo-fi e emotiva de Cleozinhu em 17 faixas gravadas entre 2022 e 2024.

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Tá aí um disco que escutamos com atraso: Cle01, estreia solo de Cleozinhu, saiu há quase um ano e só agora brotou da caixa de e-mails. O paulistano Cleozinhu faz parte da verdadeira árvore cheia de galhos que é a banda Duo Chipa, um trio com integrantes que vêm de lugares diferentes do país, e que se espalha por projetos como Manobra Feroz, Guandu, akaStefani e Elvi, além de participações em outros discos e bandas.

Cle01 soa como uma mistura de todos esses projetos, e como uma mescla de todos os períodos pelos quais essas bandas (e o próprio músico) passaram, já que são 17 faixas gravadas entre2022 e 2024. O disco usa uma programação bem rudimentar de bateria, põe vibes de baixa-fidelidade em boa parte do repertório, e soa às vezes próximo do slowcore do Guandu (Receio do futuro…, Com o vento) e das misturas entre sons violeiros e rock promovidas pelo Duo Chipa recentemente (a paraguaia Visão noturna).

O álbum também invade bastante a grande área do pós-punk, às vezes com guitarra limpa lembrando The Smiths, ou com climas que soam como um esqueleto do New Order ou dos Pixies, em faixas como Segredos e fagulhas, Bolsa e Olho pro céu sem medo (parte 2). Um detalhe é que Cleozinhu insere autotune e vocais de trap até mesmo quando a vibe está mais para a Legião Urbana de 1986 (Será q vc sente falta de mim), shoegaze (Com o vento) e dream pop (Dentre tantas palavras… algumas verdades).

Em Cle01 tem também climas quase radioheadianos (O último a esquecer), dream pop violeiro ($) e até um samba lo-fi (Triste final), com guitarra, violão e entorno melancólico, mesmo que esperançoso (“nem todos os que choram / precisam ter um triste final”, diz a letra).

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de agosto de 2024

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