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Crítica

Ouvimos: Tássia Reis, “Topo da minha cabeça”

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Ouvimos: Tássia Reis, “Topo da minha cabeça”
  • Topo da minha cabeça é o primeiro álbum de inéditas de Tássia Reis, com produções feitas por Kiko Dinucci, Barba Negra, EVEHIVE, Felipe Pizzu e Fejuca.
  • O disco está sendo preparado há cinco anos, e só não saiu antes porque Tássia estava se recuperando “de uma situação de quase morte”, como explicou à Noize. “Estou bem agora, 100%, e em breve vou contar melhor essa história. Mas acho que, depois disso, comecei a absorver tudo de uma forma diferente. Inclusive, era pra eu ter lançado o disco antes, mas obviamente não rolou porque precisei me recuperar. Fico grata por não ter lançado antes, porque só fui entender algumas coisas depois que elas passaram”.
  • “O nome do disco tem muito a ver com um exercício de presença, que é você estar com você mesma, da ponta do seu pé até o topo da sua cabeça. Não só se amar olhando no espelho, mas amar tudo o que faz parte da sua essência, da sua construção. Se aceitar, entender, colocar limites em você e nos outros”, contou ela na mesma entrevista.

Mais conhecida por sua origem no rap, Tássia Reis volta em clima de neo soul e samba em Topo da minha cabeça, um disco que, se tivesse sido feito lá pelo ano 2000, provavelmente seria lançado pela Trama. Ou acolhido pela turma que reativava o balanço paulistano naquela época. E (só para acrescentar, para ninguém achar que se trata de um lançamento saudosista) provavelmente seria considerado um disco bem à frente do seu tempo, porque a união de gêneros e a junção equilibrada de música, estilo pessoal e discurso direto são a cara de 2024.

As verdadeiras armas musicais de Topo da minha cabeça vão aparecendo na medida em que as faixas vão se seguindo. A primeira delas é a união de estilos, que surge logo na faixa-título, um soul com cara jazzística que abre o álbum. Em seguida, Brecha denuncia racismo, machismo e apagamentos, numa canção construída sobre uma base samba-soul, com um violão que às vezes lembra o estilo de Gilberto Gil (a letra: “mas te exponho/ pois seu sonho mais medonho é me ver vencer/me detesta, e não presta/até fez festa pra me assistir morrer/vai perder”). Na sequência, Asfalto selvagem é samba na guitarra, e Nós vestimos branco é um belo samba-soul afro, pregando respeito às religiões afro-brasileiras.

A face mais tipicamente neo-soul do álbum ressurge em Tão crazy, com Tássia dividindo espaço com os vocais agudos de Theodoro Nagô, e se cruza com samba e rap no r&b Só um tempo, com participação de Criolo. O sambão-soul Sol maior surge referenciado em MPB do começo dos anos 1980 (Lincoln Olivetti, Banda Black Rio). No terço final do disco, destaque para o rap de guerra Rude e para a sombria Previsível, gravada ao lado do violonista Kiko Dinucci. Essa última faixa tem uma sonoridade que remete logo à Juçara Marçal e ao Metá Metá (território de Kiko), e uma letra que espalha brasa para amores falsos, relacionamentos secretos e preconceitos (“eu não sou nenhuma adivinha/só tô na minha/e sei calcular/quando alguém vai me deixar sozinha/porque a barra não quis segurar”).

Nota: 8
Gravadora: Independente

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Crítica

Ouvimos: Skunk Anansie – “The painful truth”

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Ouvimos: Skunk Anansie, "The painful truth"

RESENHA: Skunk Anansie encara o caos, o etarismo e a dor em The painful truth, disco intenso que mistura punk, grunge, no wave e neo soul.

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“Uma artista é uma artista / e ela não para de ser uma artista / porque ela é velha, sabe? / ela não arregaça as mangas / pega seu porta-retratos e vai embora / larga a caneta e coloca o chapéu / por causa da menopausa (…) / uma artista é uma artista / até que a morte nos faça partir”.

Poucas letras atuais falam mais profundamente a respeito de questões vitais no dia a dia do showbusiness (etarismo, machismo, expectativas da crítica, do mercado e do público) do que An artist is an artist, punk-rap que abre The painful truth, disco novo do Skunk Anansie, destacando os vocais ágeis e carismáticos da vocalista Skin. Trata-se de uma banda britânica dos anos 1990, com som mais associável ao pós-grunge e ao metal alternativo, que sempre foi meio desgarrada em relação a seus pares britânicos – volta e meia era incluída num saco de gatos chamado britrock, em oposição à turma mais viável comercialmente do britpop.

Leia também:

  • No nosso podcast, Oasis da pré-história ao começo da oasismania.
  • Blur entre 1993 e 1997 na volta do nosso podcast.
  • Ouvimos: Blur – Live at Wembley Stadium.
  • O som de 1994: descubra agora!

Lançado após tempos difíceis nas internas do grupo (o baterista Mark Richardson recupera-se de um câncer. e o baixista Richard “Cass” Lewis está em quimioterapia), The painful truth, sétimo álbum do Skunk Anansie, traz a banda encarando na maior parte do tempo questões de vida ou morte. O repertório fala de autocontrole (This is not your life), dores pessoais (Shame, dos versos dolorosos “eu recebi o amor da minha mãe / eu recebi a dor do meu pai / eu recebi a culpa do meu irmão”), caos pessoal (Lost and found), altos e baixos (My greatest moment) e desespero (Meltdown, dos versos “agora que tudo se resume / a quem você reza e quão alto”).

Musicalmente, é um disco que reúne partículas de no wave, grunge e até neo soul, dependendo do momento. This is now your life soa como um Depeche Mode afrotecnopunk, Shame invade a pequena área do nu metal, Cheers insere peso no punk pop e até toques de dub invadem Shoulda been you – uma mistura com a qual os fãs do grupo já estão acostumados. O rock eletrônico sombrio dá conta de Animal e até mesmo algo próximo dos climas robóticos do krautrock surge misturado em alguns momentos do álbum.

Ainda que não seja um álbum brilhante como Stoosh (o segundo, de 1995), A painful truth é um atestado de sobrevivência. E um disco que, mesmo falando alto, é cercado de silêncios nos arranjos e nos vocais.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: FLG
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Ouvimos: akaStefani e Elvi – “Acabou a humanidade”

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Ouvimos: akaStefani e Elvi, "Acabou a humanidade"

RESENHA: akaStefani e Elvi misturam funk, krautrock, screamo e eletrônica em um disco caótico e divertido sobre o fim do mundo e o absurdo do cotidiano.

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O pessoal ligado à banda Duo Chipa não consegue ficar sem produzir coisas. akaStefani é Audria Lucas, integrante e produtora do grupo, e em Acabou a humanidade, ela se une a Elvi, produtor e músico de Santo André (SP), para fazer um som que, nos momentos mais calmos, parece uma mistura insana de funk, screamo, Faust e Kraftwerk. Já a ficha técnica entrega elementos de Ciccone Youth (projeto pop-anti-pop do Sonic Youth, que gravou um disco em 1988) e de Mutantes em meio aos ruídos, vocais e sons eletrônicos.

Faixas como Paga meu salário (“chefe arrombado / paga meu salário”) e Roda punk, repleta de barulhos e loops, têm ar de música infantil destruidora, enquanto Maquiagem, com voz distorcida e zoada, unem rock experimental e batidão de funk. A zoeira volta numa espécie de paródia da ítalo house, Cupido arrombado (“flechou o lugar errado!”) e na house music texturizada de Porque eu tento.

No final, loucura na versão videogame de Panis et circenses, com sample do original dos Mutantes (Pani no circo), e na brilhante Sortudos no fim do mundo, que lembra uma vinheta de rádio, ou uma cantiga de roda pervertida, com versos como “nós somos sortudos / vamos ver o fim do mundo / acabou a humanidade / virus, bomba e armamento / pandemia é só o começo do fim”. Você acaba rindo, nem que seja de nervoso.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 30 de maio de 2025

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Ouvimos: Chime Oblivion – “Chime Oblivion”

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Ouvimos: Chime Oblivion - "Chime Oblivion"

RESENHA: Chime Oblivion estreia com supergrupo punk-experimental que mistura pós-punk, no wave, funk torto e maluquices à la Devo e Stooges.

Uma grande surpresa: o Chime Oblivion parece ter surgido do nada, soa como mais uma banda de moleques de 20 anos fanáticos por pós-punk e garage rock, mas é bem mais que isso. Trata-se de um supergrupo iniciado por dois veteranos, David Barbarossa (Adam & The Ants/Bow Wow Wow) e John Dwyer (Osees, The Oh Sees e outras nomenclaturas).

É também um grupo de três guitarras – Barbarossa, Dwyer e Weasel Walter, este dos barulhentos Flying Luttenbachers – que inclui ainda um sujeito tocando marimba (Tom Dolas, também do Osees), um saxofonista em clima free jazz punk (Brad Caulkins, da banda Bent Arcana) e vocais femininos charmosos e zoeiros em vibe punk (HL Nelly, do Naked Lights). Só gente acostumada com experimentações e maluquices de estúdio.

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No primeiro álbum, essa turma tem como principais emanações pós-punk na onda do Gang Of Four, punk a la Buzzcocks e no-wave. Entre vinhetas quase inaudíveis feitas com um sintetizador, evocam também X Ray Spex e Slits em Neighborhood dog, fazem pós-disco-rap-punk cru e ríspido (Kiss her or be her), pré-punk percussivo (The fiend, com um curioso batidão lembrando Nação Zumbi na abertura), funk torto (Heated horses), levam o idioma da no wave para os anos 1960 (The uninvited guest). Por aí.

Somando 15 faixas em menos de meia hora, o Chime Oblivion vai se tornando mais próximo de um pré-punk formal (formal?) conforme as faixas se sucedem – cabendo perversões via Devo e Stooges da batida de Bo Diddley em And again e The mythomaniac, punk garageiro e anfetamínico em Smoke ring e I’m not a mirror e sons tribais em Grass, Cold pulse e The catalogue – esta, depois, ganha cara dub. Uma música tão confortável que quase não parece ter sido feita para tirar o rock do conforto – mas foi, sim.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Deathgod Corp
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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