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Crítica

Ouvimos: Tagua Tagua, “Raio”

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Ouvimos: Tagua Tagua, "Raio"

RESENHA: Tagua Tagua mistura neo psicodelia e groove em Raio, disco solar com boogie, beats dançantes e vibe hipnótica de trilha de novela psicodélica.

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O Tagua Tagua, projeto do gaúcho Felipe Puperi, já era solar, psicodélico, embora bastante introvertido. Com Raio, terceiro disco, ele investe cada vez mais no encontro da neo psicodelia com o groove: paredes cobertas de sintetizadores, batidas dançantes e um tom mais expansivo marcam as nove faixas.

Alguns flertes são marcantes no álbum: o som misterioso do norte-americano Adrian Younge, o clima do Khruangbin e, em especial, as possibilidades do boogie nacional oitentista, que surgem no soul cósmico de Dia de sol, no clima praiano da faixa-título (um reggae leve, que lembra igualmente de leve os momentos mais calmos do Red Hot Chili Peppers) e na dance musica discreta de Let it go.

Até aí, você já percebeu que em Raio, Felipe investe também em vocais que soam quase como mantras – mesmo que sejam em português, não são fáceis de entender de cara, funcionam como um instrumento a mais, e ajudam na vibe hipnótica.

Esse clima magnético bate fundo no boogie progressivo de Artificial, com baixo lembrando Chic e clima de voo raso. Também é a tônica na pós-disco de Química, no batidão rock-disco de Come a little closer – música prestes a se transformar numa peça dance texturizada – e no pop contemplativo e dinâmico de Lado a lado, parceria com James Petralli (da banda norte-americana White Denim). No fim, o pop de violão Talvez lembra a MPB dos anos 1980, e Rito de passagem põe micropontos de introspecção no disco, com teclados cristalinos e beat seco.

Raio, por sinal, tem um certo tom carioca – ou pelo menos, de um Rio de Janeiro imaginado. Em alguns casos, dá para dizer até que é um disco que está esperando por uma nova novela de Manoel Carlos. Só que a Helena surge tomando algo mais psicodélico do que apenas cafezinho, e cancela os compromissos para curtir uma rave.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Wonderwheel Recordings
Lançamento: 16 de maio de 2025.

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Ouvimos: Wild Honey – “Morir en otra habitación”

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Wild Honey volta com Morir en otra habitación, disco curto e melancólico sobre perda, memória e renascimento, com arranjos de Sean O’Hagan.

RESENHA: Wild Honey volta com Morir en otra habitación, disco curto e melancólico sobre perda, memória e renascimento, com arranjos de Sean O’Hagan.

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Guillermo Farre, criador do projeto musical espanhol Wild Honey, é um cara da ferida aberta, musicalmente falando. Discos como Ruinas futuras (2021, cuja capa traz Guillermo se estabacando no chão ao descer uma escada) falam de eventos, alegrias e tristezas pessoais, quase sempre com uma musicalidade que chega a ser dolorida. Morir en otra habitación, seu novo disco, traz essa mescla de tristeza e felicidade muito bem fincada no chão: a pandemia, a morte do seu pai e o nascimento de seus filhos são os principais inspiradores, e temas como finitude, partir x ficar e memórias amargas vão surgindo um após o outro nas cinco faixas. Tendo Sean O’Hagan (The High Llamas) para ajudar no arranjos de cordas, aí é que essa musicalidade fica mais melancólica.

Para todos os efeitos, Morir é considerado um álbum – nem tanto, já que são cinco músicas bem curtas e o “lado B” (no vinil, inclusive) é preenchido pelas mesmas faixas em versões instrumentais. O disquinho começa com vibes herdadas de Beach Boys e Beatles em Comida congelada, que lembra de retiros espirituais e de parentes desgraçados (“guarde todas as fotos dos antepassados nazistas”). El verano de Elia Y Elizabeth, balada folk com cordas e clima mágico, faz mistério sobre um verão que mudou vidas. A morte do pai do músico surge como o subtexto de Todo volverá a ser como antes e da faixa-título – a primeira um folk fofo com bandolins, mas que ganha força com as cordas; a segunda, dream pop aludindo aos anos 1960 e a Jesus and Mary Chain quase na mesma proporção.

A curiosidade – e isso provavelmente vem dos arremates feitos por Sean O’Hagan – é que boa parte do material de en otra habitación, quando desprovido de letras e vocais, ganha um ar de easy listening antigo, orquestral. O número curto de faixas deixa certo vazio, e não faz do álbum um disco cheio e completo, mas tem coisas legais em Morir.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Lovemonk Discos
Lançamento: 2 de julho de 2025.

  • Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes
  • Ouvimos: High Llamas – Hey panda
  • Ouvimos: Japanese Breakfast – For melancholy brunettes (& sad women)

 

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Ouvimos: The Hives – “The Hives forever forever The Hives”

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The Hives forever The Hives mantém o garage punk irreverente, com ecos de Buzzcocks, Billy Idol e riffs cheios de energia.

RESENHA: The Hives forever The Hives mantém o garage punk irreverente, com ecos de Buzzcocks, Billy Idol e riffs cheios de energia.

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Não foi dessa vez que os suecos do The Hives jogaram seu manual de instruções no lixo. E nem poderia ser de outro jeito, já que The Hives forever forever The Hives, sétimo disco, é uma comemoração. Afinal, são mais de três décadas com o volume no máximo, mandando bala na fanfarronice punk, e fazendo um rock de garagem que, entre altos e baixos, é parte integrante do mainstream – aliás, caso você não saiba ou não se recorde, no Brasil rolou até The Hives em trilha de novela (foi em 2002, em O beijo do vampiro, com seu maior hit até hoje, Hate to say I told you so).

Esse lado auto laudatório, honestamente, soa mais como uma baita zoeira em The Hives forever The Hives – que por sinal abre com uma “introdução” psicodélica de 28 segundos, completada com o riff da Quinta Sinfonia de Beethoven (a do “tchan tchan tchan tchan”). Se tem algo de diferente no disco novo, é o fato dos Hives, mesmo tendo uma cara própria reconhecível a quilômetros de distância, terem voltados dispostos a soar meio próximos do Buzzcocks (nas ágeis Hooray horray horray e Paint a picture), terem deixado baixar um Billy Idol rápido na faixa-título e em Roll out the red carpet, e apresentarem até algo próximo do emo (!) e do punk anos 1990 na melódica They can’t hear the music – cuja letra traz mais lembranças amargas de infância do que se imaginaria numa canção do grupo.

Certos detalhes dos Hives surgem ampliados com uma lente enorme no novo álbum. O grupo vira uma espécie de versão punk do Genghis Khan (sim, aquele grupo infantil, do sucesso Moskau e do hit abilolado Comer comer) no “hu ha!” de Legalize living. Também fazem um rock dançante e pesado que, se tivesse saído nos anos 1970, provavelmente seria relido em português pelos Fevers (Bad call) e investem em guitarradas que combinam peso punk e som garageiro dos anos 1960 nas ótimas Born a rebel e Path of most resistance. Os Hives continuam acelerando sem freio — e ainda se divertem fazendo isso.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: PIAS
Lançamento: 29 de agosto de 2025.

  • Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes
  • Ouvimos: The Struts – Pretty vicious

 

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Ouvimos: Superchunk – “Songs in the key of yikes”

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Superchunk une power pop, punk e heartland rock em Songs in the key of yikes, disco radiante sobre crises, guerras e novos tempos sombrios.

RESENHA: Superchunk une power pop, punk e heartland rock em Songs in the key of yikes, disco radiante sobre crises, guerras e novos tempos sombrios.

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Por alguma razão que só os anos 1990 explicavam, a banda norte-americana Superchunk sempre foi vista no Brasil como sendo mais “alternativa” do que era de fato. Na real, guitarras pesadas, vocais doloridos e sons que os aproximavam de bandas como Hüsker Dü e Replacements mostravam que o grupo criado em 1989 era uma espécie de convidado atrasado na festa do college rock oitentista. E um convidado atrasado que estava longe de ter a esperteza comercial do Weezer, por exemplo – tanto que a carreira do Superchunk sempre girou em torno de selos indie como Merge Records e Matador, e o grupo nunca entusiasmou as grandes gravadoras.

Décimo-terceiro álbum de estúdio do grupo, Songs in the key of yikes mostra que o Superchunk, com o tempo, foi seguindo um caminho parecido com o do Guided By Voices. Ou seja: tornou-se a banda indie boa de melodias que, com o tempo, foi ganhando ares de heartland rock, aquele tipo de som que exprime orgulho e memória, além de uma certa relação com sua própria terra e sua gente.

  • Ouvimos: Water From Your Eyes – It’s a beautiful place
  • Ouvimos: Guided By Voices – Universe room

O radiante novo álbum do Superchunk une power pop, rock de garagem e punk herdado de bandas como Ramones, Hüsker Dü, Wire e Blondie para cantar os novos tempos de Trump, guerras, mortes, falta de sensibilidade, um mundo sem arte, e coisas do tipo. Abrem até com Is it making you feel something, uma canção cantarolável que, segundo o vocalista e guitarrista Mac McCaughan, fala sobre dilemas e crises do impostor quando se cria algo.

Essa mistura de melodias alegres e brabeiras emocionais, que volta e meia deixa o Superchunk meio parecido com grupos como Big Star e Teenage Fanclub, é a base do disco. Dá as caras também no powerpop de Bruised lung, no mal-estar de No hope (cuja traz a frase-título, “sem esperança”, repetida várias vezes, além de versos como “quando tudo está perdido e não pode ser encontrado / e cada palavra de amor é apenas um som cortante”, além de um riff de guitarra que se transforma em explosão emocional) e na vibe sixties de Climb the walls.

Musicalmente, o Superchunk volta fazendo lembrar Pixies no começo (no pós-punk com riff doce Some green), trazendo uma vibe pós-punk trevosa (Cue) e até arriscando algo próximo de bandas como T.S.O.L. e Joy Division (em Everybody dies, parecendo um relato sobre como os telejornais, hoje em dia, são feitos de morte, sangue e guerra e ninguém parece mais se importar). Já Stuck in a dream traz tristeza e despedida na letra, e distorção doce na melodia. Songs in the key of yikes é um disco cheio de beleza e barulho.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Merge Records
Lançamento: 22 de agosto de 2025.

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