Connect with us

Crítica

Ouvimos: Ringo Starr, “Crooked boy” (EP)

Published

on

Ouvimos: Ringo Starr, "Crooked boy" (EP)

Fazendo a defesa dos EPs em seus lançamentos recentes e em algumas entrevistas, o beatle Ringo Starr vem se especializando em discos de curta duração, com poucas faixas, e que acabam sendo mais uma curtição para os fãs antigos do seu trabalho, do que uma tentativa de fazer um lançamento de grande porte, ou algo mais pretensioso (como os lançamentos de Paul McCartney, por exemplo).

No ano passado saiu Rewind forward, quase junto com o “novo” lançamento dos quatro de Liverpool – o single Now and then – e agora é a vez de Crooked boy. Um EP curtíssimo (pouco mais de dez minutos) e quatro faixas, no qual o baterista, cantor e compositor assume uma face diferente a cada música. Ringo soa parecido com Tom Petty em February sky, traz um lado ska-reggae-anos 1950 nostálgico em Adeline (cujo balanço chega a lembrar uma música de carrossel), traz referências dos Strokes (!) em Gonna need someone e soa um pouco mais beatle na faixa título, que encerra o disco.

A curiosidade do novo EP é que Ringo volta 0% autoral: as quatro faixas foram compostas e produzidas por Linda Perry (aquela mesma, a vocalista da banda 4 Non Blondes, do hit What’s up). O tom Strokes de Gonna need someone talvez não surja à toa: Nick Valensi, guitarrista do grupo, participa tocando em todas as músicas. Ringo canta ao lado de Linda – que faz backing vocals e toca vários instrumentos – e toca todas as baterias.

Nota: 6,5
Gravadora: Universal

Crítica

Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

Published

on

Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.

  • Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!

O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.

Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Lucas Grill – “Grill – O rei do Deprê Chic”

Published

on

Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como "deprê chic".

RESENHA: Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como “deprê chic”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 2 de outubro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Cantor e compositor de Niterói, Lucas Grill estreia solo com O rei do Deprê Chic, disco que, na real, traz mais uma ordenação sonora do que a inauguração de um estilo. Lucas abriu uma gaveta musical e, dentro dela, inseriu elementos de blues, folk, vibes góticas, um ou outro elemento do pós-punk e do dream pop, além de referências de Zeca Baleiro e Belchior, e do som popularíssimo de José Augusto e Fernando Mendes.

Isso tudo junto, em doses nem sempre iguais, forma o som do álbum de Lucas, que se apresenta ao público na vinheta O terror de tudo. E em seguida, se joga na melancolia e na redenção de O preço das luas, balada com ar blues que prega que “a vida não é evitar de cair / é sobre levantar”, e na filosofia pessoal do folk Loser, música de versos como “tem um lado meu que nunca quer acordar / e se diverte jogando no breu / o meu medo é descobrir que esse lado venceu”.

  • Ouvimos: Eduardo Pereira – Canções de amor ao vento

Lucas não fala apenas de amor. Na verdade O rei do Deprê Chic mexe mais em temas existenciais, e mesmo quando fala de romantismo, busca falar de vida, existência e trens que partem independentemente da nossa vontade. Nessa ontem, tem o amor que vai pros cacetes em A gnt n é assim (balada deprê lembrando um misto de Cranberries e Echo and The Bunnymen) e Moldura quebrada, a dor de cotovelo de Estrago (com Barbara Savie) e a mescla de Sullivan, Massadas e pop funkeado de Poesia na chuva, música que fala sobre fingir normalidade após o fim de um relacionamento. Valsinha, com Clara Coral dividindo as vozes, leva a O rei do Deprê Chic um clima de sonho acordado que quase não surge no disco.

No fim, Grill surge cantando ao vivo Não é nostalgia, canção de voz-e-guitarra com clima bem humorado (“essa não fala de coração partido, mas fala um pouquinho”, avisa ele) e unindo Cazuza, Zeca Baleiro e Raul Seixas em versos como “eu ando achando tudo um saco, mas acho que o saco sou eu”. No geral, um disco de sofrência pensante.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Pavement – “Hecklers choice – Big gums and heavy lifters” (coletânea)

Published

on

RESENHA: Coletânea irônica do Pavement, Hecklers choice reúne hits e lados B que viraram virais, reafirmando a influência e o humor do indie noventista.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Matador
Lançamento: 18 de setembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Lembra quando saíam séries de coletâneas como “Os grandes sucessos de fulano/fulana”? Muitas vezes com uma lista de músicas que trazia apenas um ou dois hits (porque a ideia na prática era aproveitar o êxito do artista em outra gravadora e tentar reposicionar o material fracassado que ele deixou em outro selo)? Pois bem, hoje em dia, com as redes sociais e as plataformas digitais, qualquer música pouco lembrada pode viralizar de uma hora pra outra e virar hit – sabemos que você sabe disso, mas é só pra contextualizar.

O Pavement sentiu isso quando Harness your hopes, um lado B de compacto do grupo, lançado no fim dos anos 1990, virou sucesso na pandemia. Isso teria acontecido graças à função autoplay do Spotify e às manias momentâneas do Tik Tok (contamos essa história aqui). Mas o fato é que não rolou só com Harness: muita coisa do Pavement andou sendo devidamente recordada nos últimos tempos. Mais do que isso: a nova história do indie rock simplesmente não pode ser contada sem a influência do Pavement e de sua sonoridade despojada e inspirada – já que a cada dia parece que descobrem uma banda nova que ama o som de Stephen Malkmus e seus amigos.

Corta para Hecklers choice, coletânea de hits “virais” do Pavement, que mesmo tendo esse ar de “os grandes sucessos” (ou “a arte de Pavement”), patina na ironia e na corrosão conhecidas do grupo. A começar pelo título do disco – heckler é um termo britânico usado para definir aquelas pessoas sem-noção que atrapalham peças, shows e discursos para falar coisas.

Não que o Pavement tenha desprezo pelos seus próprios hits, até porque a compilação cai dentríssimo do material de Crooked rain, crooked rain (1994), segundo álbum, com faixas como Cut your hair, Gold soundz, a provocativa Range life. E, claro, traz também Harness your hopes e Spit on a stranger – essa última, um hit do álbum Terror twilight (1999), e uma baita balada que muita gente põe na conta do Radiohead (faz sentido, já que Nigel Godrich, costumeiro produtor da turma de Thom Yorke, cuidou desse disco).

A estreia Slanted and enchanted (1992) foi deixada de lado aqui em nome de músicas como a ruidosa Stereo, e de canções que mostram que sempre houve “algo” mais acessível na argamassa do Pavement. O grupo fez balada com ar country (a linda Major Leagues), promoveu uma curiosa união de Nirvana e Roy Orbison (Shady lane) e apresentou também canções que lembram aquela ocasião em que Bob Dylan se apresentou com uma banda punk novata na TV (Unfair, Date w/IKEA). Já Summer babe, com um pouco mais de intensidade sonora, chega perto do shoegaze.

Com o passar do tempo, dá para perceber também o quanto o piano do finalzinho de Range life deve às intervenções de Nicky Hopkins nos discos setentistas dos Rolling Stones – e até a álbuns clássicos como Blonde on blonde, de Bob Dylan (1966). Hecklers choice é o relatório das vezes em que o Pavement decidiu brincar de “escalar” a banda – e das vezes em que o destino fez isso por eles.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

 

Continue Reading
Advertisement

Trending