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Crítica

Ouvimos: Retail Drugs, “I love you so!”

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Ouvimos: Retail Drugs, “I love you so!”

Mais do que apenas fazer shoegaze, o Retail Drugs faz o que costumam chamar de “hot cassette tape music”. A saber: música registrada em fita, com algum gravador Tascam, e instrumento em cima de instrumento para dar um verdadeiro estouro no ouvido. As informações sobre o grupo são mais desencontradas do que encontráveis: sabe-se que é o “projeto de estúdio” de Jake Brooks, guitarrista, vocalista e tecladista do Laveda, e as fotos mostram um trio de voz-baixo-guitarra – com uma bateria programada atropelando o sim.

I love you so! é pra quem gosta de guitar bands que beiram o experimental e até o inaudível. 41, a faixa de abertura, empaçoca baixo e bateria no ouvido e mal dá para entender as letras – o que não surge enterrado na mixagem, aparece sussurrado (dica: tá tudo no Bandcamp do grupo e a faixa tem versos depressivos como “todo mundo se foi/e eu supero isso/ainda assim eu ando sozinho”). Take it back parece um hino do rehab (“quero ficar aqui/posso ficar sóbria/a vida ao sol não pode acabar/a vida é tão divertida”), com a voz se confundindo com as microfonias e um corte na fita.

O disco do Retail Drugs tem aparentados da drone music, nos paredões de guitarra de Control, a massa bruta cavernosa de Away e o eletropunk humanizado de Dubl vision. Diante disso, até surpreende o som quase límpido de Sea (Fade away), valorizando a beleza dos vocais (divididos entre Jake e a baixista), e a balada Euphoria – que, enfim, é uma balada até uma massa de guitarra e bateria tomar conta.

Nota: 7,5
Gravadora: Independente.

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Crítica

Ouvimos: Lexi Jones, “Xandri”

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Ouvimos: Lexi Jones, “Xandri”

A expressão “lançamento silencioso” acaba de ganhar um novo significado: Alexandria Zahra Jones – ou Lexi Jones, filha de David Bowie – lançou seu primeiro álbum, Xandri, praticamente sem alarde, chegando aos ouvidos de críticos e ouvintes em ritmo desacelerado. Quem a acompanha no Instagram sabia o que estava por vir, já que Lexi vinha falando do disco por lá. Mas veja bem: é a filha de David Bowie, e o disco saiu devagar, sem que muita gente percebesse.

O título Xandri vem do grego e faz referência a um “defensor da humanidade” – o que pode sugerir, num primeiro momento, uma tentativa de criar um Ziggy Stardust próprio. Mas não é bem por aí: a personagem de Xandri parece ser a própria Lexi, num trabalho bastante confessional. E a pergunta que paira no ar é inevitável: vale a pena ouvir?

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A resposta é sim. A voz de Lexi Jones às vezes evoca a frieza elegante de Nico, em outras momentos lembra o calor de Bobbie Gentry. Suas composições usam a repetição como recurso estético, não como vício. Faixas como Along the road e Let me go têm uma atmosfera gélida, remetendo à fase berlinense de Bowie ou às texturas de Brian Eno, com pianos sequenciados, dissonâncias suaves e batidas que flertam com o eletrônico. Já Crack of me lembra algo entre Gigantic, dos Pixies (por sinal, uma música que Bowie adorava e até gravou), e Patti Smith, só que com uma energia tipicamente anos 1990.

Se for para buscar paralelos entre Lexi e o pai, talvez o principal seja a busca de soluções melódicas simples e pegajosas – aquele tipo de “cola” que alimenta o pop, ou deveria alimentar – mas dentro de experimentalismos particulares. In the almost, uma das melhores faixas, mistura rock e country com leveza. Já Moral compass aposta em um clima sofisticado e nostálgico, unindo dois templates em áreas diferentes do arranjo: um clima soul e sessentista, e outro com base no indie-pop e no r&b. Essa busca por sons novos também aparece na cigana The passage unseen e na fantasmagórica The rush of the absurd. E em todo o disco.

Xandri é um disco que provoca, desde o início, aquela sensação de estranhamento bom – o tipo de som que, quando toca em algum lugar, faz você parar e se perguntar: “que música é essa?”. É um disco que aponta caminhos interessantes para uma artista que parece mais interessada em construir sua própria voz do que em aproveitar a herança.

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 2 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Σtella, “Adagio”

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Ouvimos: Σtella, “Adagio”

Σtella Chronopoulou (ou como ela se apresenta nas redes sociais, “Stella com sigma”) chamou a atenção há alguns anos por ter sido a primeira cantora grega contratada pela Sub Pop. Seus quatro álbuns anteriores traziam sons que giravam em torno do synthpop, com climas diferentes – e por trazerem uma visão particular de música pop, como algo ouvido à distância. Distância essa que se torna um pouco mais enevoada em Adagio, quinto disco de Σtella.

O novo disco dela é basicamente um álbum pop, só que reduzido a um mínimo necessário – os sons são esparsos, os vocais e a instrumentação têm bastante eco, tudo soa ambient e tecnológico, mas um “tecnológico” vintage. E um pop vintage, já que Adagio chega perto da new bossa eletrônica em vários momentos, como na faixa-título e na sintomática Baby Brazil, com participação do músico Las Palabras. Ao mesmo tempo que tem algo de Matt Bianco e Style Council ali, tem também uma suposta tentativa de se parecer com Sade Adu, ou Nara Leão, ou com uma Kate Bush indie.

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Can I say tem a mesma estileira new bossa, lembrando uma demo dos anos 1980 que em 2025 foi completada em estúdio. 80 days lembra Kate Bush, mas é um som acústico e levemente brasileiro. Too poor é a música do disco que tem mais cara dream pop: um r&b leve e cintilante, com vocais com certo drama. Ta vimata é som cigano e grego, tocado com dois violões e uma percussão, que tornam a música algo mais próximo dos Gipsy Kings. No final, Caravan lembra um easy listening dos anos 1960 e 1970, mas com base dançante e guitarra estilo Theme from SWAT. Um pop diferente e envolto em mistério.

Nota: 8,5
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 4 de abril de 2025

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Crítica

Ouvimos: The Ophelias, “Spring grove”

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Ouvimos: The Ophelias, “Spring grove”

Boa parte do material do novo disco do The Ophelias, Spring grove, foi pinçado de coisas do passado – agendas e diários antigos da vocalista Spencer Peppet serviram de inspiração para as músicas novas. Como resultado, um disco com uma poética bastante crua ao falar de amores que já se foram. Tudo emoldurado por um clima sombrio, dividido entre extremos, o folk e o noise pop – e cuidado de perto pela produtora Julien Baker.

Justamente por ter Julien na produção, Spring grove é recomendado para quem curte o Boygenius, banda da qual ela participa, além dos trabalhos das integrantes do grupo. Só que The Ophelias, mesmo quando adotam violões e sons mais tranquilos, têm uma relação prodigiosa com o barulho musical.

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O ruído ameaça surgir em músicas como Open sky e Cumulonimbus, e dá um tom misterioso e impreciso, como numa foto envelhecida, à faixa-título. Em Vulture tree, canção de versos estranhos (“os especialistas dizem para limpar a dor / para incendiar sua memória / mas os pássaros na árvore estão rindo / eles sabem que é um jogo”), o clima é montanhês – mas a montanha está nas sombras.

Lá por certa altura do disco, as guitarras começam a ficar mais altas e formam paredes espessas. Salome tem certa cara de Pixies, Cicada é guitar rock com delicadeza e clima estradeiro, Parade é um folk triste e quase ternário em que as guitarras vão surgindo, Snapshooter e Say to you são sons de quem ouve tanto Suzanne Vega quanto Hüsker Dü. Crow, por sua vez, é um soft rock ligeiramente hipnotizante, graças às cordas, aos vocais e a uma letra em que a autoestima lambe o chão (“eu posso rastrear seu paradeiro / eu me acalmo antes de enviar uma mensagem / como se pudesse te segurar contra sua vontade”).

Nota: 8,5
Gravadora: Get Better Records
Lançamento: 4 de abril de 2025

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