Crítica
Ouvimos: Osees, “Sorcs 80”

- O Osees é uma banda californiana, criada pelo músico John Dwyer, e que já lançou discos com uma série de outros nomes: Orinoka Crash Suite, OCS, Orange County Sound, The Ohsees, The Oh Sees, Thee Oh Sees, Oh Sees, indo do folk maníaco ao rock de garagem. Sorcs 80 é o oitavo álbum como Osees, e o vigésimo nono da banda sob qualquer nomenclatura.
- Dwuyer diz que a escolha de nomes acontece para causar problemas ao jornalistas de música. “Não tenho nada além de desprezo pela imprensa musical”, contou certa vez.
- No novo disco, Dwyer (que dispara vários samplers) trabalhou as músicas num sintetizador, usando uma fita K7 de quatro pistas e tocando bateria, baixo, tecladoss e vocais. Sorcs 80 não tem guitarras, mas usa ampificação de guitarra no baixo. “Foi interessante escrever um disco inteiro usando apenas um som, mas afetando-o com amplificação de guitarra”, contou aqui.
O Osees é uma banda mutante: volta e meia muda de nome (Thee Oh Sees, Oh Sees, etc) e de direcionamento, sempre capitaneada pelo músico e compositor John Dwyer. O curioso é que mesmo assim não parecia que John e seus camaradas iam seguir nessa direção garageira de Sorcs 80, um disco bastante acessível para quem curte rock experimental, cruzamentos entre garage rock e jazz, grungeira estilo Mudhoney, fase dançante do Can, blues-rock alternativo e pré-punk na onda do MC5 e dos Stooges fase Funhouse.
Intercepted message (2023), o anterior, era mais sintetizado, e indicava um caminho a ser seguido. De qualquer jeito, A foul form, de 2022, até indicava algo parecido com a nova fase, já que era basicamente um álbum punk, e o quarteto de álbuns lançados em 2020 também ia na mesma onda pesada. Sorcs 80 é uma mistura das duas fases. Ele tem psicodelia, no uso de teclados e no tom maníaco de várias faixas, como acontece na abertura com Look at the sky e Pixelated moon, mas o esquema é bem outro. Drug city traz riff dividido entre teclado, baixo com distorção e saxofone, num esquema simultaneamente jazzístico, punk e tribal – tudo isso seguido por um solo de algo que parece um cruzamento de trilha de videogame com órgão Farfisa.
Also the gorilla…, dançante e percussiva, e quase afro-punk, lembra o lado soul de músicos como Ty Segall. Termination officer parece com uma música dos Roxy Music arranjada pelos Stooges, com David Bowie no vocal – e um tecladista como o saudoso Dave Greenfield, dos Stranglers, cuidando do suporte técnico e das eletronices. As oito faixas restantes do disco se equilibram entre o garage rock psicodélico, em Blimp, Lear’s ears e Cassius, Brutus & Judas, o punk-jazz maníaco em Cochon d’argent, o punk ágil de Plastics e uma espécie de bubblegum tribal e experimental, em Zipper, Neo-clone e Earthling. Para ouvir no último volume.
Nota: 9
Gravadora: Castle Face
Crítica
Ouvimos: Peter Doherty – “Felt better alive”

RESENHA: Peter Doherty renasce no country rock em Felt better alive, disco de histórias rurais, faroeste psicodélico e gratidão pós-caos.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Peter Doherty, o líder dos Libertines, é o sobrevivente mais jovem do rock. Enganou a morte por uma gota – e estamos falando de uma pessoa que costumava se divertir com ninguém menos que Amy Winehouse, e que no meio de uma rebordosa de drogas, simplesmente resolveu assaltar o apartamento de seu colega de banda Carl Barat.
Felt better alive, seu quinto disco solo, traz o som de alguém que se sente grato e feliz por ter conseguido escapar do pior – mas que se divertiu muito enquanto curtia os frutos proibidos da vida. Peter escolheu o country, estilo musical eternamente associado a contadores errantes de histórias, para balizar o disco – e o repertório associa-se também a seu atual estado de morador da área rural da Normandia, pai de três filhos (Billie Mae, a mais nova, é homenageada na doce e suingada Pot of gold, com emanações tanto de Bob Dylan quanto de Red Hot Chili Peppers), socialista, limpo e livre de vícios ilegais desde 2019.
- Fizemos resenha do disco mais recente dos Libertines, All quiet on the eastern esplanade.
Felt better alive é um disco, na real, de country rock, com cordas que dão um ar bonito e triste a faixas como Calvados, Out of tune balloon (na cola tanto de Bob Dylan quanto de Tom Waits) e a música-título (que tem uma baita cara de música de faroeste). A nata da malandragem ganha homenagem em Poca Mahoney’s, uma curiosa mistura de canção francesa com tema punk – que vira um curioso hardcore no fim.
Por sinal, sons do país onde Doherty está atualmente morando dão as caras também em Stade océan, quase um blend de Serge Gainsbourg e os álbuns solo de John Frusciante, e o faroeste não-estadunidense de Prêtre de la mer. E até David Bowie é convocado como referência em Fingee, som estiloso, acústico, blueseiro, com cara sonhadora e levemente psicodélica. Um disco de música e histórias, onde Peter arrisca-se a se tornar um menestrel punk-country, a seu estilo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Strap
Lançamento: 16 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: TVOD – “Party time”

RESENHA: TVOD mistura punk e pós-punk em Party time, disco barulhento e introspectivo sobre solidão, abuso e amores fracassados.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O título Party time pode parecer convite para uma festa insana, mas o terceiro disco da banda nova-iorquina TVOD (“television overdose”) vai além do porre coletivo. Punk e pós-punk de boas guitarras, com clima espacial e um synth apitando para avisar que a festa ali é para quem dança na pista, mas também viaja sozinho pelos cantos.
Os temas abordados nas letras também estão bem longe do clima “festeiro”: quase sempre, Party time fala de abusos, acidentes, amores cagados, morte, solidão – embora a faixa-título fale de uma festa bêbada e nudista que vai até altas horas. De modo geral, Party time é um disco introspectivo com coração barulhento – como se a Gang of Four encontrasse os Buzzcocks numa pista meio vazia, cheia de luzes piscando.
Uniform abre os trabalhos com um riff bêbado de sintetizador. Já Car wreck surfa em guitarras com wah-wah e clima voador, com algo de Syd Barrett. Pool house cruza The Cars e Pixies no meio do caminho entre o punk e o pop sombrio. Em Empty boy, o som cresce em camadas psicodélicas, enquanto Super spy chega a lembrar o U2 em começo de carreira – só que ganhando vocais falados na cola do Sonic Youth. A viagem continua com Mud, que parece o B-52’s em órbita. Wells fargo mistura o cima ríspido e nervoso do The Fall com viradas sessentistas, sons rangendo e clima de garagem. Alcohol desacelera num clima sombrio que remete à fase atual dos Pixies.
No mais, Take it all away traz guitarra econômica e eficaz. Bend ganha batida quase cigana no início, e conclui levando a argamassa sonora dos Pixies para o espaço. E no final, tem a faixa-título, com clima herdado de The Cars, um theremin possuído, guitarras ruidosas e vocais falados lembrando Talking Heads. Um disco coeso, sujo e sentimental.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Mothland
Lançamento: 9 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Cristian Dujmović, “Atisbo” (EP)

RESENHA: Cristian Dujmović mistura pós-punk, bossa e MPB setentista no inventivo EP Atisbo.
- Apoie a gente em apoia.se/popfantasma e mantenha nossos projetos e realizações sempre de pé, diários e saudáveis!
Cantor e compositor formado entre os sons da Argentina e da Espanha, Cristian Dujmović herdou muito da magia do rock argentino na construção de melodias e arranjos, voltando-se para um som ligado ao pós-punk e para algumas doses de experimentalismo musical.
Segundo lançamento após o álbum Desde acá (resenhado aqui), o EP Atisbo abre com as inseguranças e ansiedades de Shock, repleta de riffs simples e bem bolados, de climas entre o luminoso e o sombrio, e apresentando algo de bossa nova na melodia. A mesma vibe, por sinal, surge no jogo de acordes da sinuosa Sin cuerpo.
Já a bela Animal tem algo de rock gaúcho (Nenhum de Nós, Cidadão Quem), e simultaneamente, uma musicalidade que une anos 1990 e 1980. No final, a abolerada Destello ganha uma cara musical próxima da MPB setentista (Beto Guedes, Flávio Venturini), e Quemar tem tom ambient na abertura, emendando com um pós-punk vigoroso e levado adiante por baixo e bateria bem marcados.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de maio de 2025.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?