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Crítica

Ouvimos: Neil Young, “Before + after”

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Ouvimos: Neil Young, "Before + after"
  • Before + after é o 45º disco de Neil Young. Traz treze regravações solo acústicas de músicas suas, compondo um álbum que é definido por ele como “uma peça ininterrupta de 48 minutos” (mas ao contrário do que andam falando, o disco está disponível em plataformas como o Deezer como um conjunto de faixas separadas, e não como apenas uma música).
  • O disco foi todo tocado por Neil, embora Bob Rice contribua com vibrafone e piano em duas faixas. Young produziu o disco com Lou Adler e fez a mixagem com Niko Bolas. As faixas são um passeio pela discografia dele, indo de clássicos a álbuns dos anos 1990, além de duas músicas de sua ex-banda Buffalo Springfield.

Se você lida com música, ou com escrita (vale jornalismo?), ou com arte de modo geral, você com certeza já quis ser o Neil Young – e me arrisco a dizer isso porque, simplesmente, não imagino que alguém possa não querer. As razões para isso são inúmeras: vários anos de carreira sólida, preocupação moderada com resultados, fama de difícil, espaço nas grandes gravadoras, lançamentos aos borbotões, interesse garantido da mídia e do público, um arquivo extremamente bem aproveitado de ideias, rascunhos e discos engavetados, topete o suficiente para bancar seus projetos. E sucesso mesmo quando tudo parece que vai contra.

Com tantos álbuns (são mais de 40) não é complicado achar discos na carreira de Neil que passaram bem longe da marca do gol em termos de qualidade. De modo geral, a fase oitentista do cantor, quando trocou a Reprise pela Geffen e lançou até música eletrônica e synth pop, ganha nariz torcido de muitos fãs da antiga – mas Trans (1983), um desses discos duvidosos feitos por ele, tem tantas qualidades que dá até para apreciar os defeitos. Pelotas de ranço foram dirigidas recentemente a Le noise (2010), disco de voz e guitarra cuja ousadia vale ouro, mas cuja musicalidade dá aquelas aporrinhadas básicas em quem esperava ouvir algo parecido com clássicos como After the gold rush e Harvest.

Em meio a um momento de mexidas no baú – em 2023 já saíram Chrome dreams, disco originalmente pensado para sair em 1977, e Odeon Budokan, disco gravado ao vivo em 1976 – Young decidiu encerrar o ano relendo antigas músicas no esqueleto. Before + after é um presentinho para os fãs, com o cantor relendo antigas canções apenas com voz, violão, piano, gaita e órgão – este último, em If you got love, por acaso uma sobra de Trans e a única música quase-inédita do álbum. A entidade “disco de regravação” causa pânico, claro – e a maior qualidade de Before + after é pemitir ao ouvinte chegar mais perto de Neil, como se fosse um show caseiro e exclusivo que ele quis dividir com os fãs.

O botão de repeat vai tocar em especial na releitura de A dream that can last  (do disco Sleeps with angels, de 1994), com o piano de faroeste tocado como no original, e só isso. E também nas lembranças de duas faixas de sua ex-banda Buffalo Springfield, Mr Soul e Burned. E na melancolia de Birds, do After the gold rush, regravada sem o coral do original, e só na voz e piano. Tem ainda o hino I’m the ocean, que perdeu o ar grunge com que foi gravada no disco Mirror ball (1995), no qual um não-creditado Pearl Jam foi a banda de apoio de Young. Vale pelo desfilar de hits, e por manter o sonho da independência nas mentes dos fãs. E só por isso já vale muito.

Nota: 7,5
Gravadora: Reprise

Foto: Reprodução da capa do álbum.

Crítica

Ouvimos: The Stargazer Lilies – “Love pedals”

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Shoegaze lisérgico e groovy: em Love pedals, o The Stargazer Lilies entrega guitarras densas, psicodelia e experimentos brilhantes.

RESENHA: Shoegaze lisérgico e groovy: em Love pedals, o The Stargazer Lilies entrega guitarras densas, psicodelia e experimentos brilhantes.

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Provavelmente nenhum site vai escolher Love pedals, sexto disco da banda novaiorquina The Stargazer Lilies, como disco do ano. Azar de quem não ouvir e de quem não reconhecer neles uma banda mais do que excepcional. Criada pelo casal John Cep e Kim Field, essa banda – que surgiu de um quinteto de dream pop chamado Soundpool – faz um som que parece vir de dentro do/da ouvinte, tamanha a intensidade das guitarras e dos baixos. Tudo gravado como paredões de som e, mais do que isso, como vendavais sonoros que carregam os sentidos de quem ouve o disco para todos os lados.

The Stargazer Lilies costuma ser definido como shoegaze, por aí. Não exatamente: trata-se de uma banda que faz psicodelia e som groovy na base das guitarras altas e distorcidas. Em Love pedals, eles unem peso, lisergia e distorções na guitarra e no baixo em Ambient light, quase um nevoeiro sonoro. A faixa-título é soul + psicodelia + shoegaze, num efeito fantástico. Parece realmente um hit de rádio AM jogado num triturador junto com guitarras, pedais de distorção e pastilhas de LSD.

  • Ouvimos: Pobre Orfeu – Galeria das recordações
  • Ouvimos: Humour – Learning greek

O grupo vai dosando sabedoria musical e experimentações em faixas como Perfect world, um tema de girl group, com violão, eco, distorções e obnubilações. By your side é uma balada com um paredão de ruídos que afina e desafina à medida que a música segue – chega a parecer uma transmissão sonora. Shining yellow é uma balada que até poderia ser uma canção do Swing Out Sister – mas é uma porradaria psicodélica e dissonante, aquele tipo de beleza no qual se vê algo estranho e talvez, tenebroso. Heaven knows poderia ter saído nos anos 1970 caso não fosse uma barulheira groovy.

O Stargazer Lilies deixou os momentos mais declaradamente rocker do disco para o final. Trans med é blues psicodélico, o som mais eminentemente sixties do álbum. Hold tight soa como um shoegaze hendrixiano – tem a dramaticidade de uma canção de Jimi Hendrix, mas tem a cabeça ligada em outras esferas. Um caleidoscópio sonoro de primeira.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Shore Dive Records
Lançamento: 22 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Goo Goo Dolls – “Summer anthem” (EP)

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EP Summer anthem mostra Goo Goo Dolls entre boas faixas power pop e tropeços bregas, mas sem apagar a nostalgia dos álbuns antigos.

RESENHA: EP Summer anthem mostra Goo Goo Dolls entre boas faixas power pop e tropeços bregas, mas sem apagar a nostalgia dos álbuns antigos.

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Aquele velho papo (chato, admitimos) de “ah, como a banda tal era boa nos anos 1980 e 1990” faz todo sentido quando a banda em questão é o Goo Goo Dolls. Compreensível que um grupo que começou se dizendo “uma banda punk para a geração do skate” e que já foi comparado aos Replacements – no excelente disco A boy named Goo (1995) – tenha resolvido embarcar num caminho mais comercial assim que a porta se abriu. Fazer música não é fácil, ganhar grana com ela é complicado e vai por aí. Mas que depois do álbum Dizzy up the girl (1998) e do hit Iris a paciência de muitos fãs vem sendo testada… Ah, isso vem rolando sim.

O EP Summer anthem, na verdade, é pouco mais do que um souvenir para os fãs – recentemente o Goo Goo Dolls teve seu hit Iris incluído na trilha de Deadpool & Volverine e a música não apenas voltou a ficar falada, como tem sido bastante aplaudida e esperada nos shows. Como estão estreando uma turnê chamada Summer anthem, aproveitaram o nome para o disquinho, que beira uma espécie de emo-soul em Ocean e dá aquele susto nos fãs quando lembra um Maroon 5 indie em Nothing lasts forever.

No geral, o número de momentos bacanas de Summer anthem não apagam a vontade de parar o disco no meio e ouvir os álbuns antigos dos Goo Goo Dolls. A energia power pop do grupo ressurge em Slightly broken, Misery e Such a mystery. Já Run all night dá uma crescida no ouvido mas é um som meio brega – no pior dos sentidos em que a palavra “brega” pode ser usada. Not goodbye (Close my eyes) encerra o disco com uma nota triste – e não que isso tenha a ver com o funéreo “feche meus olhos” do título. É que o Goo Goo Dolls, nesta faixa, surge fazendo aquele mesmo rock arenístico-gratiluz do Coldplay. Caraca…

Texto: Ricardo Schott

Nota: 6
Gravadora: Warner Music
Lançamento: 22 de agosto de 2025.

  • Relembrando: Goo Goo Dolls – A boy named Goo (1995)
  • Ouvimos: Replacements – Tim (Let it bleed edition)

 

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Ouvimos: Desu Taem – “Molasses fighter jet”

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Desu Taem volta com Molasses fighter jet, mergulhando no metal caótico, cheio de clichês, zoeira e boas ideias entre punk e metal.

RESENHA: Desu Taem volta com Molasses fighter jet, mergulhando no metal caótico, cheio de clichês, zoeira e boas ideias entre punk e metal.

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Rapaz, mas não é que lá vem o Desu Taem de novo? Essa banda norte-americana lança vários discos por ano – sabe-se lá se recorrem a IA, ou se têm um vasto acervo de composições, mas o resultado sempre tem a tendência de sair interessante e bem louco.

Molasses fighter jet é o (já nem me atrevo a contar)º disco do grupo – e um grande índice de que o universo do metal, ou pelo menos a brincadeira com os clichês dele, tomam conta da musicalidade da banda, agora. Molasses abre com Forgotten chaos, metal cromado e palhetado que envolve mundo acabando, memórias chegando ao fim. E prossegue com as guitarradas oitentistas de Insufficient salt e a vibe Ministry de Why?! Além de um namoro com o som de bandas como Testament e Sepultura na bizarra Alarm clock masturbator – que ainda por cima ganha uns uivos vocais que parecem coisa do Charlie Brown Jr.

  • Ouvimos: Ming City Rockers – Clementine
  • Ouvimos: Babymetal – Metal forth

Boa parte do material de Molasses foi gravado com som de demo, com um cozidão de guitarras, baixo e bateria – que surge em I will not be assimilated (soando como uma demo do Judas Priest gravada em 1991), no blues-funk-metal de I will not break e de Cyanide Soul Sister, e na onda meio punk pop de Victimized, but content e It hurts to be cool. Caindo numa mescla de punk e metal em You’re a dick e Yet toboggan run, o Desu Taem ainda prega a teologia da brutalidade em Mosh pit theology e manda bala na mordacidade em Crucifix vendors fair e You can’t unseen that.

Aparentemente a zona dessa turma não tem fim (se bobear já estão gravando o próximo disco de 2025). Mas quando o Desu Taem faz mais zoeira e menos pastiche musical, se torna bem mais interessante.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.

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