Connect with us

Crítica

Ouvimos: Juliana Hatfield, “Sings ELO”

Published

on

Ouvimos: Juliana Hatfield, "Sings ELO"
  • Vigésimo disco da cantora norte-americana Juliana Hatfield, Juliana Hatfield sings ELO é o terceiro álbum de covers da cantora, que já lançou Juliana Hatfield sings Olivia Newton-John (2018) e Sings The Police (2019). Traz dez versões do grupo britânico Electric Light Orchestra.
  • Juliana disse que uma das inspirações para o disco foi um vídeo no qual Jeff Lynne, líder da ELO, toca as músicas do grupo no violão, acompanhado por um pianista. “Mas ele está tocando um monte de músicas dele, seus sucessos, ele está tocando violão e seu pianista está tocando e as músicas soam muito bem naquela atmosfera despojada. É apenas uma prova de quão bem escritas são as músicas e quão sólidas elas são, quão sólidas são as construções. É quando você sabe que uma música é uma boa música – se ela puder ser tocada por alguém no violão e tocada sozinha e soar bem”, contou aqui.

Do grupo hiperproduzido e progressivo do começo, a Electric Light Orchestra passou a ser vista como um grupo cafona com o passar dos anos – afinal, não se faz a trilha de uma extravagância como Xanadu à toa, não se escreve um rock bacanudo de rádio AM como Mr. Blue Sky sem irritar roquistas radicais. Ouvidos hoje, álbuns como o duplo Out of the blue (1977) são verdadeiros sobreviventes, com uma sonoridade que alude a Queen, Beatles, Paul McCartney solo, Elton John e até Pearl Jam e Foo Fighters (pergunte a Dave Grohl se ele não adoraria ter composto boa parte das mais vendidas e populares da ELO).

Alternando discos autorais com álbuns de covers, Juliana Hatfield é a pessoa indicada para revisitar o repertório de Jeff Lynne e seus amigos – até por ter feito já um disco dedicado ao repertório de uma ex-parceira do grupo, Olivia Newton-John, a musa country que depois virou musa da aeróbica e do pop. Juliana Hatfield sings ELO dá um ar estradeiro e independente a clássicos como Sweet is the night, Don’t bring me down e Strange magic, como se tivessem sido feitos por uma banda desconhecida agraciada com um talento divino para compor.

O som do álbum equilibra-se entre o country de FM e o blues-rock de FM, só que passados num filtro indie, com direito às baladas tristes Telephone line e Bluebird is dead, e a Secret messages, outrora um pop perfeitíssimo, virada em power pop estilo Big Star. O resultado do álbum sai bem menos sujo do que em Juliana Hatfield sings Olivia Newton John, disco no qual ela resgatou corajosamente até Xanadu e Physical. Fiquei curioso pra saber o que Juliana faria de Mr Blue Sky (não está no disco e faz falta) ou de canções da fase mais prog do grupo, como a curiosa 10538 overture (idem). De dez faixas da banda, ela fez um álbum para recordar, embalar e apresentar uma era de ouro da composição pop-rock.

Nota: 7,5
Gravadora: American Laundromat Records

Foto: Reprodução da capa do álbum.

Crítica

Ouvimos: Earl Sweatshirt – “Live laugh love”

Published

on

Em Live laugh love, Earl Sweatshirt faz um rap psicodélico e fragmentado, cheio de colagens sonoras, humor estranho e momentos de introspecção.

RESENHA: Em Live laugh love, Earl Sweatshirt faz um rap psicodélico e fragmentado, cheio de colagens sonoras, humor estranho e momentos de introspecção.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Tan Cressida / Warner
Lançamento: 22 de agosto de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Earl Sweatshirt é costumeiramente o nome menos lembrado do coletivo de rap Odd Future – Tyler The Creator e Frank Ocean têm fama de rappers revolucionários e grandes estetas pop, a ponto do coletivo nem sequer mais ser citado quando se fala deles. Já Earl é outro papo: volta e meia alguém tem que lembrar do OF quando sai um disco dele, para garantir “autoridade” ao lançamento. Mesmo que, trabalhando discretamente, ele tenha criado uma noção absolutamente psicodélica e dreamy de rap, em que quase sempre o ouvinte fica com a impressão de ter achado numa gaveta uma fita K7 com colagens sonoras de origem desconhecida.

Live laugh love, seu quinto álbum, é bem curto (são apenas 24 minutos!) e basicamente soa como um único fluxo de consciência, em que sons, beats, gravações caseiras, samples e vozes emaconhadas são disparados na cara do/da ouvinte, sem que inicialmente haja noção total do que está acontecendo. GSW vs SAC, na abertura, tem diálogos, vocal sorridente – como se algo ou alguma substância estivesse deixando Earl soltinho no estúdio – e dá o clima de desorientação que o ouvinte vai encontrar em todo o disco.

  • Ouvimos: Tyler The Creator – Don’t tap the glass

Forge, por exemplo, parece um dub bem maluco que virou rap. Infatuation e Gamma (need the<3) soam como se Earl estivesse ouvindo rádio com amigos e começasse a improvisar um rap em cima de uma música que está tocando agora. Well done! tem estilhaços de samples de soul – a música circula como se o ouvinte estivesse com vertigem. A curiosidade no disco é a vinheta “Brasil!!” narrada por Edmo Zarife surgindo duas vezes ao longo da audição. A primeira, no rap lisérgico e extratexturizado de Live; a segunda, na bizarra Heavy metal aka ejecto seato!, cujo som chega a parecer uma transmissão de rádio com antena defeituosa.

Live laugh love tem um certo jeito de private joke em alguns momentos – mais pela maneira como as músicas são construídas do que necessariamente por causa das letras. Vale dizer que, entre uma vertigem sonora e outra, Earl montou o disco como uma homenagem à sua vida atual de pai de família, mas essa vida “tranquila” convive com bastante intranquilidade. Em Crisco, ele recorda um passado de brigas em família (“papai era meio desajeitado / o substituto dele me superou, me deixou violento, odiava brigar /eu sei que não posso aceitar nenhuma perda, minha raiva está engarrafada”).

Tourmaline, a melhor música do disco – tão psicodélica que chega a dar vertigem – fala olho no olho com companheiros de luta: “montamos um posto fora do assentamento com tudo que os negros pudessem querer / informações de ouro, é difícil saber tudo (…) /lição do vestíbulo, pré-requisito para entrar pela porta / é nunca deixar que eles te subestimem”. Exhaust, no final, é um soul docinho que ganha um rap, mas a letra soa como uma carta para si próprio: “no fim do dia, é só você e você mesmo / estou enviando força por via aérea”.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Azul Azul – “Azul Azul”

Published

on

Azul Azul estreia com um disco psicodélico e melódico, misturando dream pop, pós-punk e influências brasileiras e britânicas com charme e invenção.

RESENHA: Azul Azul estreia com um disco psicodélico e melódico, misturando dream pop, pós-punk e influências brasileiras e britânicas com charme e invenção.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 30 de setembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Com referências autoconfessas que misturam bandas nacionais e de lá de fora – Terno Rei, Lupe de Lupe, Boogarins, Pavement e Smashing Pumpkins – a banda alagoana Azul Azul equilibra-se entre estilos como dream pop e pós-punk em seu álbum epônimo de estreia. Só que ambos os gêneros surgem filtrados em (muita) psicodelia, quase como se o “azul” do nome da banda fosse algo que desse para colocar na mão.

  • Ouvimos: Emerald Hill – À queima-roupa
  • Ouvimos: Tutu Nana – Masculine assemblage

MCV, logo no começo, une climas que lembram Pepeu Gomes, Gilberto Gil e Pink Floyd, com efeitos de guitarra derretidos e letra sobre luzes, cores, cheiros, sensações. Ba sing se voa entre Mutantes e Echo and The Bunnymen, entre rock mineiro/nordestino e britânico. Valet para menino Marcelo tem som de impacto, oscilando entre Mutantes e Psychedelic Furs.

Clifford, o cão vermelho abre o canal do shoegaze no som do grupo, com paredes consideráveis de guitarra, num guitar rock melódico e sonhador – enquanto Um parque de diversões da cabeça ganha ares de valsa dream pop, algo entre Lô Borges e Cocteau Twins. O Azul Azul ainda une seu dream pop a vibes brasileiras na bossa psicodélica Cavalos marinhos e na balada sonhadora Qualquer coisa fields forever, que remete a Roberto e Erasmo Carlos.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Beige Walls And No Roof – “Dual liquid hands”

Published

on

Shoegaze psicodélico e melódico dos australianos Beige Walls And No Roof cria paisagens líquidas e lisérgicas em Dual liquid hands.

RESENHA: Shoegaze psicodélico e melódico dos australianos Beige Walls And No Roof cria paisagens líquidas e lisérgicas em Dual liquid hands.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Shore Dive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025.

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

A banda australiana Beige Walls And No Roof faz um shoegaze derretido, do tipo que dá a impressão de estar no meio de uma viagem de LSD em que o céu se torna líquido – as guitarras voadoras e cheias de efeitos tocadas pelos irmãos Ethan e Jeremy Clark são nessa onda. As canções do álbum Dual liquid hands são bastante melódicas e acessíveis, nada feito para assustar quem não curte guitarras emparedadas. Cocoon, a faixa de abertura, tem algo que evoca as linhas melódicas de Aerial, do System Of A Down (!) – é uma referência estranha que vai surgindo lá de longe e não responde pelo todo da música, ou do disco.

  • Ouvimos: Algernon Cadwallader – Trying not to have a thought

Seguindo no álbum, faixas como I know you’re the master, o instrumental Vellichor e a ensolarada e quase progressiva Frosty viscosity dão uma sensação quase uterina, como se quem ouve estivesse submerso nas guitarras. Climas dream pop aparecem em Realisations e Walking to the museum. I am not here ameaça um prog de FM oitentista na abertura, até que as guitarras ganham peso, e sensação de afunilamento.

Essa mescla de guitarras em nuvens, senso melódico apurado e psicodelia é a marca de Dual liquid hands, seguindo em faixas como The same days e a extensa Pushing through. Outra marca são as faixas curtas e instrumentais que praticamente dividem cada música do álbum, e que levam a lisergia do disco para um universo de sonhos e vertigens: rola na já citada Vellichor, em Freak junk accident, e em Frigid ensemble.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading
Advertisement

Trending