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Crítica

Ouvimos: Gang Of Four, “Shrinkwrapped” (relançamento)

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Ouvimos: Gang Of Four, “Shrinkwrapped” (relançamento)

Segundo disco após o retorno da Gang Of Four, Shrinkwrapped (1995) surgiu a partir de uma história bem curiosa. O grupo – reduzido aos líderes Andy Gill e John King – não havia gostado da experiência do álbum anterior (Mall, 1991), que marcou a volta da banda, e saiu bem diferente do que Gill e King haviam imaginado. Em paralelo, o cineasta Peter Hall, amigo dos dois, havia escrito o roteiro de seu filme Delinquent. Uma produção que, em tempos de sucesso da série Adolescência (Netflix), valeria relembrar, já que conta a história de um garoto que mata seu pai abusivo e acaba escapando da cadeia (aliás, ele está inteiro no YouTube).

Hall foi mostrar o roteiro para eles apenas porque queria uma opinião e… os dois gostaram tanto que acabaram querendo fazer a trilha sonora (“por quase nada”, lembrou Hill). E só lá pela metade do processo, perceberam que se tratava de um disco da Gang Of Four, com toda a intensidade de um álbum da banda, e com notas altas de perigo inseridas em cada faixa. Gravado na sala de estar de Andy, Shrinkwrapped é basicamente um álbum de pós-punk nervoso, com guitarras apitando, baixo fixado no chão (cortesia de Gail Ann Dorsey, a “baixista de David Bowie”) e canções que vão ganhando sensibilidade e beleza à medida que o susto inicial passa.

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Músicas como Tattoo e Sleepwalker, que abrem o disco, seguem essa linha – clima quase robótico, som pesado e cavalar, e distorções que funcionam de maneira quase contemplativa. I parade myself tem um “formato canção” próximo do de bandas como Talking Heads, mas com clima selvagem e quase shoegaze (os vocais soam enterrados na mixagem, quase abaixo das microfonias). Flertes com o metal industrial surgem em Unburden (com vocais extremamente graves narrando a letra), enquanto Better him than me lembra bandas como Killing Joke, e ganha uma cara drum’n bass do meio para o fim.

Shrinkwrapped prossegue com punk-metal gélido (Something 99), canções sombrias (Showtime, valentine e Unburden, unbound), além de peso funkeado, como nas canções mais memoráveis da banda (The dark rides, e alguns outros momentos do álbum). I absolve you tem algo de Siouxsie and The Banshees e também de Johnny Cash, com argamassa folk e trevosa. Já a faixa-título, que encerra o disco, mergulha em um pós-punk dark, evocando a atmosfera densa e melancólica do Depeche Mode. Um álbum excelente, que estava sumido das plataformas, e que garante sustos aos fãs da Gang Of Four.

Nota: 9
Gravador: Gang Of Four Ltd.
Lançamento: 14 de março de 2025.

Crítica

Ouvimos: Valentim Frateschi – “Estreito”

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Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, uma espécie de dream-MPB que mistura psicodelia, lo-fi, samba-rock, soul e ecos de Jorge Ben.

RESENHA: Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, uma espécie de dream-MPB que mistura psicodelia, lo-fi, samba-rock, soul e ecos de Jorge Ben e Marcos Valle.

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Integrante de Os Fonsecas (banda cujo álbum Estranho pra vizinha foi resenhado aqui), Valentim Frateschi estreia solo com Estreito, disco que basicamente pode ser definido como dream-MPB. É música popular brasileira psicodélica, cheia de detalhes lo-fi (especialmente na gravação de voz, que parece vir de um toca-fitas), texturas quase palpáveis e diálogos entre instrumentos. É o que rola na vibe criada pelas cordas, baixo e bateria da faixa-título, nos ecos da vinheta find., na psicodelia e nas surpresas melódicas de Pássaro cinza.

Um lado forte em Estreito é o da experimentação com samba, rock, soul, Jorge Ben e psicodelia – tudo passado num filtro mutante, repleto de efeitos especiais e ideias de estúdio. Mau contato joga na área da balada-blues setentista – à moda da Gal Costa de Fa-tal, e com Sophia Chablau dividindo vocais. Já Falando nisso, Corpo colado e Lokotário são os samba-rocks mais característicos do disco. A primeira, com participação de Nina Maia, tem muito de Jorge Ben e Tim Maia, e mexe com frases irônicas como “quem não se organiza se fode” e “falando nisso, não esqueço do seu aniversário / não te mando parabéns porque não tenho saco”. Já a segunda põe algo de jazz, progressivo e do estilo de João Donato na mistura sonora, a partir do piano e dos sintetizadores.

O outro samba-rock do disco, Lokotário, encerrando Estreito, parece brincar com o tédio e o desespero da pandemia – e de todo o isolamento que veio junto. Mas voa longe, inserindo um clima espacial que lembra Marcos Valle e uma letra que vai tentando buscar um universo amplo num mundo fechado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 3 de setembro de 2025.

  • Ouvimos: Camaelônica – Eletrotropical
  • Ouvimos: Nina Maia – Inteira
  • Ouvimos: Sophia Chablau E Uma Enorme Perda de Tempo – Música do esquecimento

 

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Crítica

Ouvimos: Filarmônica de Pasárgada – “Rua Teodoro Sampaio 1.091” (EP)

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Filarmônica de Pasárgada relê a Vanguarda Paulista em Rua Teodoro Sampaio 1.091, EP de quatro faixas cheias de imagens sonoras e cenas urbanas.

RESENHA: Filarmônica de Pasárgada relê a Vanguarda Paulista em Rua Teodoro Sampaio 1.091, EP de quatro faixas cheias de imagens sonoras e cenas urbanas.

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Rua Teodoro Sampaio 1.091 era o endereço do Teatro Lira Paulistana, lugar que durante quase dez anos, abrigou a Vanguarda Paulista e deu espaço para artistas de vários outros estilos – até mesmo Cólera e Ratos de Porão gravaram um álbum split ao vivo lá. Como uma brincadeira séria entre um álbum e outro, a Filarmônica de Pasárgada usa seu estilo brasileiro, pop e clássico para reler quatro músicas do movimento, num EP que se chama justamente Rua Teodoro Sampaio 1.091.

O EP inclui apenas quatro faixas – que, em comum, têm o efeito “câmera na mão”, usando sons para narrarem cenas, além de frases que criam imagens nas letras. Ladeira da Memória (do grupo Rumo, com a convidada Ná Ozzetti no vocal) narra uma cena do dia a dia de São Paulo, com sua fauna urbana e seus moradores “vagando pelas ruas sem profissão, namorando as vitrines da cidade”. O trabalho, do Premeditando o Breque, traz os vocais de Wandi Doratiotto, e atualizações na letra, que passa a falar de influencers e de Tik Tok, mas mantém o discurso de subemprego e exploração.

No final, o lado mais experimental do disco: Fim de festa, de Itamar Assumpção, tem vocais de Suzana Salles, e usa vibes folk-samba para falar de um amor que acaba de maneira repentina e estranha (“meu amor por você / chegou ao fim / é tudo que tenho a dizer / também não precisa sair assim / espere o dia amanhecer”). Instante, de Arrigo Barnabé, com participação do próprio autor, tem tensão e desaparecimento criados com sons, vibrações e poucas palavras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: YB Music
Lançamento: 28 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Gabriel Araújo – “Lugar”

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Gabriel Araújo, em colaboração com Vita Evangelista, lança Lugar, EP visual que mistura folk, jazz e psicodelia para refletir sobre lixo, racismo ambiental e futuro do planeta.

RESENHA: Gabriel Araújo, em colaboração com Vita Evangelista, lança Lugar, EP visual que mistura folk, jazz e psicodelia para refletir sobre lixo, racismo ambiental e futuro do planeta.

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Gabriel Araújo é um músico fluminense que já viveu em João Pessoa (PB) e participou de uma banda chamada Glue Trip. Lugar é um disco que, na verdade não é apenas dele, mas também do cineasta Vita Evangelista – já que se trata de um EP visual que gira em torno de temas como o futuro do planeta Terra e das comunidades marginalizadas, usando o lixo, os mares e os excessos do capitalismo como “personagens” paralelos.

O ator e bailarino Jota Z, no decorrer do filme, surge como um incorporador de todas essas questões, seja vestindo-se de lixo, posando na areia da praia em meio à sucata ou saindo de uma caçamba. Não se trata apenas de um comentário sobre ecologia ou natureza – temas como racismo ambiental e o destino de tudo que a gente descarta fazem parte de todo o processo.

  • Ouvimos: Jangada Pirata – Sal de casa
  • Ouvimos: Camaelônica – Eletrotropical

Musicalmente falando, o material de Lugar oscila entre o folk e algo próximo de um jazz infernal, com efeitos, alguns sustos sonoros, e climas que, às vezes, lembram até bandas como King Crimson, Neu! e Pink Floyd. Yby – Terra começa com percussão e baixo fortes, e vai ganhando vibes psicodélicas aos poucos. Etê – Verdadeiro, faz o mesmo com percussão, baixo, violões e ruídos. O tom fica mais ambient e progressivo em Ekó -Ser, e espacial em Celestial é a comunicação e Espiritual é o movimento.

Pelo bem de todos, única faixa com letra, resgata os vocais de Humberto Mendes, cantador de São Luiz do Maranhão, e leva invocações de equilíbrio a um disco-filme que dá música e imagem a sistemas cada vez mais desequilibrados.

(o áudio está no Bandcamp da gravadora).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Hominis Canidae Rec
Lançamento: 8 de agosto de 2025.

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