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Crítica

Ouvimos: Djavan, “Origem 73-75”

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Ouvimos: Djavan, "Origem 73-75"

Por muito menos do que Djavan enfrentou no início da carreira, esteticamente falando, muitas carreiras foram descartadas. Quando foi descoberto pela Som Livre, ele se tornou um daqueles cantores que marcavam presença nas trilhas de novelas da Rede Globo, frequentemente interpretando composições de outros autores—muitas delas distantes de seu estilo. Sorte é que, enfim, estamos falando de Djavan.

O resultado é que, em Origens 73-75, uma coletânea desses registros iniciais, o futuro autor de Oceano e Esquinas soa, em diversos momentos, quase irreconhecível. No caso de gravações como Calmaria e vendaval (de Vinicius de Moraes e Toquinho, feita para a trilha de Fogo sobre terra, 1974) e de A escola/No silêncio da madrugada (ambas de Luiz Ayrão, gravadas para uma coletânea de samba da Som Livre), dá até para tocar essas músicas para amigos e pedir a eles para adivinhar quem é o cantor – pode apostar que muita gente não vai achar que aquele cantor de voz empostada e meio vacilante, é Djavan.

A força da sua voz se revela com intensidade em Qual é?, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, um sambão da trilha sonora de Os ossos do barão (1973). E, de fato, a verdadeira explosão vocal de Djavan aparece numa faixa que não entrou nesse disco: Alegre menina, de Dori Caymmi e Jorge Amado, feita para a novela Gabriela (1975). Entre um lançamento e outro, Djavan também emplacava uma excelente música autoral na novela Cuca legal, do mesmo ano. E essa música era Rei do mar, uma curiosa balada que remete a Elton John, conduzida por um piano e uma slide guitar excepcionais, com uma letra contemplativa em que Djavan se diz “o rei do mar/da minha cidade natal”. Fica a dúvida: quem será que toca nessa faixa?

Origens, enfim, não é uma coletânea completa e deixa de lado algumas músicas gravadas por Djavan naquela época, mas ainda assim se destaca pela inciativa. O ponto alto do material fica por conta do resgate de seu primeiro grande sucesso, Fato consumado (lançada em 1975 no festival Abertura da Rede Globo), além de duas faixas autorais de novelas: o samba É hora, de O astro (1977), e a esquecida Romeiros, feita para a trilha da versão censurada de Roque Santeiro (1975), e que já antecipava o futuro estilo autoral de Djavan. De qualquer jeito, poucos anos depois disso, Djavan já estaria na EMI desafiando padrões e unindo jazz, funk, soul, pop adulto e brasilidades.

Nota: 7,5
Gravadora: Som Livre
Lançamento: 4 de dezembro de 2024.

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Crítica

Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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