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Crítica

Ouvimos: Desirée Marantes, “Breve compilado de músicas para _______” (EP)

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Ouvimos: Desirée Marantes, "Breve compilado de músicas para _______" (EP)
  • Breve compilado de músicas para _______ é o primeiro EP solo da multi-instrumentista, compositora, arranjadora e produtora musical Desirée Marantes. Ela é criadora do projeto Harmônicos do Universo, integrante da Hikikomori (ao lado de Sara Não Tem Nome) e colaboradora de artistas como Dinho (do Boogarins, com quem tem o projeto Dino & Desi), Guilherme Peluci, Saskia e Papisa.
  • Desirée afirma que música, de certa forma, é uma maneira se se automedicar e cuidar do lado espiritual. “Praticamente um experiência religiosa, mas cada um com seu lado místico”, contou ao site Hits Perdidos. “Tomara que as pessoas sintam alguma coisa escutando o EP, mas se não sentirem nada, acho que pode ser uma prova de que essas pessoas têm um coração de pedra, e foda-se elas”, brinca.

Em 14 minutos de música, o EP de Desirée Marantes, Breve compilado de músicas para _______, já mostra no título (com um espaço pontilhado) sua disposição para que o ouvinte preencha as histórias das músicas como quiser – seja com sua imaginação, ou com o uso particular de cada faixa no dia a dia. O tom sensorial e viajante das faixas leva à pergunta: é possível ouvir o disco de Desirée para relaxar? É sim, mas você vai ser surpreendido por um som ou outro que vai acabar achando que vem da sua imaginação, ou de alguém chegando perto de você. E isso pode ser (muito) bom.

Mesmo com a participação do ouvinte, o ambient quase clássico, com diálogo entre o experimental e o erudito, que norteia o EP de Desirée, já traz uma história própria em cada faixa, ainda que as músicas sejam instrumentais. Tanto que a própria musicista tem seu trabalho (em projetos como o Harmônicos do Universo) comparado à criação de trilhas sonoras de filmes.

O tema Evaporar, em duas versões, une toques de guitarra slide, teclados, programações, e trazem um ritmo quase cardíaco ao disco, como num sonho que vem chegando – a segunda versão da faixa, que encerra o disco, é mais distorcida e sintetizada. Ver o sol por trás da nuvens é um tema celestial de piano, cuja abertura traz ruídos de transmissão inseridos aqui e ali, prosseguindo com o violoncelo de Fernanda Koppe (Mulamba). Já Quando magma vira lava é a que mais traz ruídos que podem confundir o ouvinte, assemelhando-se a um passeio por um lugar mágico, ou a uma dualidade sonho x realidade – sensação acentuada com a entrada dos vocais de Alejandra Luciani e do sintetizador de Raphael Vaz, do duo Carabobina.

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Nota: 8
Gravadora: Quarto Mágico/Grão Pixel

 

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Ouvimos: Miya Folick, “Erotica Veronica”

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Ouvimos: Miya Folick, “Erotica Veronica”

Com vocais análogos aos de Dolores O’Riordan (Cranberries) e Alanis Morrisette em vários momentos de seus dois primeiros álbuns, Miya Folick se destaca pela qualidade das composições e pela abordagem de uma angústia particular e existencial em suas letras. Erotica Veronica combina ansiedade, desejo queer, desejo cis e experiências do cotidiano, com uma sonoridade que transita entre o indie pop, o soft rock e guitarras que remetem aos anos 1990.

Erotica Veronica é o disco de Erotica, faixa com letra descrevendo uma azaração sáfica – e cujo clipe mostra uma terapia erótica bem peculiar, em que Miya engatinha, pega cruzes com a boca, come terra, lambuza-se com uma melancia e é torturada com um batedor de bolo (!). Nem a música nem o clipe são experiências sombrias ou perturbadoras. Também não são sensuais no mesmo sentido que Sex, o livro de Madonna repleto de fotos explícitas.

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O disco de Miya é sexy, direto e expansivo a seu modo. Como em La da da, brit pop leve, com explosão de guitarras no refrão, em que ela representa uma mulher casada com um homem, mas que deseja outras mulheres, e leva o desejo para a cama (“você gosta de ficar chapado à noite / eu gosto de dormir sonhando com fantasias sáficas, meu amor”). Ou na ressaca amorosa braba de Love wants me dead, um soft rock sombrio, que vai ganhando em peso e intensidade, e que basicamente é uma música para cantar gritando a plenos pulmões.

Sem falar no filme da intimidade passando na frente dos olhos em Alaska, com riff de sintetizador e batidas quase robóticas dando o tom do arranjo. E há também a batalha contra traumas pessoais em Hate me, um pós-punk intenso: “preciso de liberdade para sentir que tenho uma alma do caralho / levei tanto tempo para pedir o que preciso / porque estava com tanto medo de você me odiar”.

Musicalmente, Erotica Veronica acompanha o estilo moderno de Miya, refletido em seu visual atual: cabelos curtos, olhar contemplativo e uma expressão de rockstar introspectiva e angustiada. O álbum aposta em um R&B retrô, com riff de mellotron e solo de flauta em Felicity, na delicadeza melódica de This time around e em uma fusão de indie pop com influências de R.E.M. e The Smiths em Prism of light. Já Fist combina ruídos de guitarra, uma melodia boa que lembra o XTC e toxicidades amorosas na letra: “eu tenho preparado o jantar, esperando que você me perdoe / por não querer te engolir (…) / eu me dou um soco no rosto com meu próprio punho / então eu desabo em você”.

Erotica Veronica fuça também no pop oitentista – que surge nos timbres de várias faixas, e em especial, na mescla de Cindy Lauper e Fleetwood Mac de Hypergiant. E, depois de tantos traumas expiados, e confissões, encerra com uma nota de esperança em Light through the limen, soft rock quase meditativo, oferecendo uma visão mais esperançosa e sublime, depois de anos observando o mundo de dentro de uma caverna. Miya Folick entrega um álbum que equilibra intensidade emocional e diversidade sonora, explorando desejos, angústias e transformações com autenticidade e precisão.

Nota: 9
Gravadora: Stop Talking/Nettwerk Music Group
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Circuit Des Yeux, “Halo on the inside”

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Ouvimos: Circuit Des Yeux, “Halo on the inside”

Duas experiências marcaram este sétimo álbum de estúdio do Circuit Des Yeux: uma viagem que Haley Fohr, mente por trás do grupo, fez à Grécia, e o mergulho na composição das músicas, todas feitas em um porão escuro, entre a noite e a madrugada – aparentemente ela quis uma paródia do tradicional “trabalho de nove às cinco”, e fez exatamente isso, só que das nove da noite às cinco da manhã.

Vale dizer que a tal viagem para a Grécia deixou Haley apaixonada pelo mito de Pan – aquele sujeito meio bode, meio homem, que tocava flauta e atraía pessoas, e cuja história é marcada por amor, música, trevas e medo. E esse astral cavernoso, sombrio e belo dá a letra em Halo on the inside, em letras e músicas. Megaloner, na abertura, é um batidão quase industrial, entre o pop e o aterrorizante, cujo clipe mostra pessoas fazendo movimentos repetitivos e chafurdando no tédio, enquanto Haley canta versos como “com o tempo, você me verá através de todas as coisas sonhadoras / eu posso ver o rosto em qualquer coisa quando a maré puxa pra mim”.

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Canopy of Eden tem batidão insinuando um baile funk, vibe sombria e vocal quase gregoriano – mas, contraditoriamente, é um som eletrônico que envolve e abraça o ouvinte. Daí para a frente, Halo on the inside alterna entre momentos mais trevosos e segmentos de beleza quase progressiva. Skeleton key, entre vibes celestiais e vocais gritados, chega a lembrar algo de Peter Gabriel, por causa das percussões e teclados meditativos – até que um clima entre o metal e o industrial vai encerrando a faixa. Anthem of me, que lembra um ambient aterrorizante, é basicamente um post-rock, com todo o clima cinematográfico que o estilo pede.

Seguindo o conceito de Halo, é interessante a única faixa mais “tranquila” do álbum se chame justamente Take the pain away, puramente som espacial, com teclados voando. Cosmic joke tem essa mesma onda interestelar – mas é como se o espaço fosse um lugar tão opressor quanto a Terra – além de vocais próximos do jazz. Truth é uma corrente percussiva que lembra uma missa pagã, ou uma Kate Bush do demo, com Haley dizendo versos como “a verdade é apenas a imaginação da mente”. Organ bed é tribal e tecnológica, com uma certa guerra sonora lá pelos três minutos. E Cathexis é uma espécie de pós-punk progressivo – ou de progressivo feito por quem escutou muito Killing Joke.

Sem nenhum minuto perdido no geral, Halo on the inside é um disco que prende o ouvinte num universo próprio – denso, ritualístico e inesperadamente envolvente.

Nota; 8,5
Gravadora: Matador Records
Lançamento: 14 de março de 2025.

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Ouvimos: She Drew The Gun, “Howl”

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Ouvimos: She Drew The Gun, “Howl”

Louisa Roach, a mulher por trás da banda She Drew The Gun, foi uma espécie de mistura de Nico e Siouxsie Sioux nos dois primeiros discos, e bandeou-se de vez para o eletrorock (que já aparecia nos álbuns anteriores) em Behave myself (2021). No quarto disco, Howl, apresenta uma seleção de músicas pouca coisa mais acessível que nos primeiros álbuns, levando seu rock inorgânico para uma sonoridade que beira a vibe country na marcial Mirrors e lembra os synthpops das paradas da Billboard nos anos 1980, em Washed in blue.

Não que isso seja ruim. O discurso anti-capitalismo e anti-machismo de Louisa continua o fino, e retorna até mais afiado em Howl, partindo para a briga em várias músicas, como Shine on e Rise. Musicalmente, algo diz que os próximos movimentos do She Drew The Gun serão no sentido de tornar sua música mais conhecida – Out, single novo que saiu já depois de Howl, e não está no álbum é mostra bem isso. Faixas como a música-título, Nothing lasts e a própria Washed in blue (e a própria Out) dão certa impressão de que, se não houver cuidado, o som de Louisa pode acabar ficando preso demais a padrões.

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De qualquer jeito, em Howl, o lado imaginativo do She Drew The Gun anda à toda em músicas como Became, funkeada e psicodélica, lembrando as experimentações de bandas como Jefferson Airplane, só que nos dias de hoje. Ou o r&b pós-punk de Shine on, que lembra uma mescla de Prince com o finalzinho da primeira fase do Echo and The Bunnymen. A segunda metade do álbum é bem mais acessivel que a primeira em vários momentos, mas ainda assim ousadias musicais surgem em faixas como a bossa dream pop What’s the matter, o ambient Conjuring e o synthpop místico Ritual.

Se o caminho do She Drew The Gun será o da ampliação de público ou o da radicalização estética, só os próximos passos dirão. Mas Howl reforça que Louisa Roach tem fôlego para seguir reinventando seu som – e reafirma que, entre altos e baixos, Revolution of mind (2018) segue sendo seu melhor álbum.

Nota: 7,5
Gravadora: Submarine Cat Records
Lançamento: 15 de novembro de 2024.

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