Crítica
Ouvimos: Bill Wyman, “Drive my car”

- Drive my car é o oitavo disco de Bill Wyman, ex-baixista dos Rolling Stones. O músico gravou o álbum em seu estúdio caseiro, acompanhado de músicos como o guitarrista Terry Taylor e o baterista Paul Beavis.
- Boa parte do repertório é formado por covers, embora haja três faixas autorais. O release do disco considera “corajoso” da parte de Bill ele ter gravado Light rain, do compositor e cantor Taj Mahal, que conheceu em 1968 na época do especial de TV Rolling Stones rock and roll circus. Além da música, os dois sempre tiveram em comum o interesse pela botânica.
- O álbum de Bill saiu numa edição deluxe com duas faixas a mais, além da edição comum.
A carreira solo do ex-baixista (e maior arquivista) dos Rolling Stones é variada a ponto de incluir um namoro com a new wave e o synth pop – no infame disco Bill Wyman, de 1982, que tem no repertório pragas como Je suis un rock star. Desde que finalmente saiu do grupo em 1993, ainda que às vezes assuste fãs da antiga, ele vem se esforçando para mostrar sua afiliação a estilos como blues e boogie.
Drive my car, gravado por um Bill de 87 anos (ele nasceu em 1936 e já era casado em primeiras núpcias desde 1959 quando entrou pros Stones) assusta pela semelhança da voz do baixista com a de ninguém menos que JJ Cale, o autor de Cocaine, gravada por Eric Clapton – o próprio Wyman admite isso nas notas de encarte do álbum. A semelhança não fica apenas na voz rouca: o design sonoro suingado, introvertido e minimalista do qual Cale abusava em seus álbuns bate ponto no disco do baixista, que é tomado quase todo o tempo por releituras nada óbvias. Inclusive, se você esperava que a faixa-título fosse cover daquela música dos Beatles (a Drive my car que abre o disco Rubber soul, de 1965), nada disso: ela é uma das três faixas novas escritas pelo músico.
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Justamente por não apostar em obviedades, Drive my car é mais um disco de intérprete do que um tributo. Passando longe da obsessão mauricinha com blues de sapatênis, o novo álbum de Bill soa mais como blues e boogie do pântano, com vocal selvagem, tocado por uma turma de amigos. Thunder on the mountain, de Bob Dylan, e Light rain, de Taj Mahal, se destacam no repertório – esta última, em versão predominantemente acústica, animada por percussão. Também vale citar Fool’s gold (Lloyd Jones) e Ain’t hurtin nobody (John Prine), além de outra de Bill (a ágil Rough cut diamond, parceria com Terry Taylor) e do blues acústico de holandês Wings (de Hans Theessink). Detalhe que a julgar pela letra da faixa-título, Bill hoje em dia quer mais é sossego, ainda que tenha feito parte de uma banda que praticamente reconstruiu o rock.
Nota: 8
Gravadora: BMG
Crítica
Ouvimos: John Fogerty – “Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version)”

RESENHA: John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.
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Aos 80 anos, John Fogerty, ex-vocalista, guitarrista, compositor e déspota do Creedence Clearwater Revival, conseguiu ganhar finalmente todos os direitos sobre suas composições da época do grupo – sim, porque todos os hits autorais da banda foram compostos por ele. Para comemorar, o músico decidiu regravar 20 canções do CCR na base da “versão do John”.
Na prática, são substituições, e não versões. Em Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version) Fogerty revisitou canções como Have you ever seen the rain, Born on the bayou, Proud Mary, Lodi, Who’ll stop the rain, Green river e Fortunate son em leituras quase 100% iguais aos originais – em timbres, arranjos, detalhes e até gritos e uivos. Facilita o fato da voz de John estar igualzinha a antigamente. Detalhe: até no Bandcamp as músicas novas estão – visão, o cara tem.
- Ouvimos: The Doobie Brothers – Walk this road
- Ouvimos: Faces – Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973
Alguma diferença do original? Bom, Long as I can see the light teve uma pequena mudança de tom, Have you ever seen the rain teve mudanças discretas nas linhas vocais do refrão, e de modo geral todas as músicas ganharam mais peso na bateria e nas guitarras – mas praticamente tudo soa como os originais dos anos 1960 e 1970 remixados ou remasterizados.
De modo geral, não é um lançamento dos mais úteis para fãs antigos – serve mais como um demarcador de independência, já que John oferece aos fãs as versões gravadas por ele. O complicado é entender como se comportar diante de um lançamento que reembala o material oldies e apenas isso. Acaba tendo mais graça ouvir os antigos álbuns do Creedence.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Concord
Lançamento: 22 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Thistle. – “It’s nice to see you, stranger” (EP)

RESENHA: Thistle., da Inglaterra, une grunge e shoegaze em It’s nice to see you, stranger, EP coeso que ecoa Nirvana, Dinosaur Jr e My Bloody Valentine.
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Vindo de Northhampton, Inglaterra, o Thistle. (sim, existe um ponto após o nome do grupo) tem uma onda grunge + shoegaze séria no seu som – a ponto de, numa audição inicial, ser possível imaginar que a banda vem dos cafundós dos Estados Unidos. Num papo com a newsletter First Revival, eles citam o Nirvana como sua banda grunge favorita, e um dos integrantes diz não ter se entusiasmado especialmente com o shoegaze quando descobriu o estilo.
Um outro detalhe sobre o EP It’s nice to see you, stranger é que o grupo precisou de quase um ano para gravá-lo, já que cada integrante tem seu trabalho e ninguém pediu folgas. “Por isso é que ele é um EP, e não um álbum”, afirmam. Soa estranho descobrir isso, já que as cinco faixas do disco têm peso, coesão e emanações que vão de Nirvana e Dinosaur Jr a Idlewild e The Cure. Cobble/mind funde barulho, melodia e vocais doces, enterrados na música. A faixa-título volta aos anos 1990 e faz lembrar My Bloody Valentine e Sonic Youth. Fleur rouge abusa da beleza triste, com guitarras melódicas e passagens bem ruidosas, do meio para o fim.
No final, o Thistle. adere a um punk repleto de guitarras emparedadas e sensações turvas, em Holy hill, e faz a melhor fusão grungegaze do EP, com Wishing coin. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Venn Records
Lançamento: 4 de julho de 2025.
- Ouvimos: Water From Your Eyes – It’s a beautiful place
- Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes
Crítica
Ouvimos: Camaelônica – “Eletrotropical”

RESENHA: Camaleônica mistura samba, rock, macumba e psicodelia em Eletrotropical, disco pesado e cheio de invocações.
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“Rock, macumba e samba”, trio de referências que embandeira o som do Camaleônica, pode querer dizer muita coisa – pode afirmar inclusive que a banda apenas revisita sons dos anos 1990 (Planet Hemp, Chico Science, O Rappa) e mais nada. Eletrotropical, primeiro disco de Felipe Dantas e Fernando Reis – os dois do grupo-dupla – faz qualquer ideia preconcebida cair por terra quando se percebe que a vocação do grupo é para um experimentalismo que faz tudo soar bem palpável e pesado no som deles.
A música de Felipe e Fernando soa mais como um retropicalismo pesado e turbinado, que une samba, umbanda e rock psicodélico na faixa-título, além de jazz, rock e afrosambas em Capoeira. Rola uma mescla de samba, reggae e grunge em Maravilhoso e Caprichoso. Nessa última, a percussão é forte e os tambores são tocados com raiva. E falando nisso, Língua e revolta é axé, MPB e ódio pulsando contra apagamentos históricos (“quem é você pra me dizer aqui / que eu não sou ninguém?”).
Muito de Eletrotropical são invocações – canções em que melodia, letra, percussão e indignação (e guitarras) unem-se quase numa mesma massa. No samba psicodélico e pesado de Boa noite, por exemplo, coaches, big techs e exploradores do trabalho alheio são cozidos no mesmo caldeirão a partir de raízes e histórias (“toda malandragem será perdoada/ tudo que delira, toda vadiagem”). Geral abre com vocal solitário pedindo “muita luz, saúde e axé pra geral”, e vai seguindo com tristeza herdada do blues, guitarras e percussões.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Fliperama Lab
Lançamento: 27 de junho de 2025.
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