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Cultura Pop

Quando a MTV e a Rede Manchete quase uniram forças nos anos 1980

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Quando a MTV e a Rede Manchete quase uniram forças nos anos 1980

Existiu uma possibilidade bem grande de a MTV se instalar no Brasil durante os anos 1980. Muita gente que tem lá pelos 45, 50 anos e acompanhava o mercado pop na década, deve se lembrar de que a Rede Manchete, por muito pouco, não fechou um contrato com a MTV americana que permitiria que a estação dos Bloch dedicasse boa parte de sua programação a clipes.

Isso aconteceu justamente numa época em que a Manchete mantinha programas bem interessantes como o jornalístico pop Shock, e várias outras estações descobriam que passar clipes era a melhor maneira de manter o jovem, esse desconhecido (e o adolescente, esse ser mais desconhecido ainda) grudado na tela da TV.

Assuntos como “MTV”, “clipes” e “TV jovem” eram tão caros aos anos 1980 que logo no primeiro número da revista de música Bizz, em agosto de 1985, algumas páginas eram dedicadas a tudo isso. A publicação tinha uma seção “clipe”, que no primeiro número informava que “havia uma estação americana que passava clipes o dia inteiro, a MTV”, afirmando que só estava nas paradas quem passava pela emissora, numa época em que as pessoas queriam mesmo era ver música.

Além disso, o comecinho do grupo Olhar Eletrônico e uma de suas criações mais populares (o Crig-Rá, que revelou ao mundo Marcelo Tas) também apareciam na revista. Por acaso, o Crig-Rá era uma das atrações televisivas que, na época, exibiam trechos enormes da programação da MTV. A outra era o carioquíssimo BB Videoclipe, criado por Billy Bond e contando com ninguém menos que Paulo Cintura na lista de apresentadores.

SERÁ QUE ROLA?

Em 2 de fevereiro de 1986, a revista Programa, encartada na Domingo, do Jornal do Brasil, flagrava (vá lá) um certo choque entre a Rede Manchete e Billy Bond nessa história da MTV, por acaso. Isso porque a emissora, durante aquele ano, estava em adiantadíssimas conversas para levar a estação de clipes para o Brasil.

“Se a Manchete fechar negócio com a MTV, dedicando dez horas diárias de sua programação à exibição de clipes, abre uma mina de ouro para as produtoras independentes”, avisava o texto. Uma das produtoras era a BB Video, de Bond, que acumulava “148 clipes de artistas nacionais” (vídeos como Tédio, do Biquini Cavadão, vieram de lá).

Billy avisava, de acordo com o texto, que não acreditava que a emissora produzisse sozinha todos os clipes que precisasse, e que estava lá à disposição para quando os Bloch precisassem. “A MTV brasileira é minha”, contava. Não havia quem duvidasse, lógico. E o produtor, que já havia cantado no Joelho de Porco (e gravado o disco solo O herói, em 1979) arrematava a história – ainda segundo o Jornal do Brasil – produzindo um grande concerto de rock nacional no Estádio de Remo da Lagoa, Zona Sul do Rio, cujas imagens seriam vendidas ao SBT, “interessado em oferecer um presente ao público jovem”.

NÃO DEU NÃO

A quase vinda da MTV para cá alguns anos antes do “eu quero minha MTV” gerou até produção acadêmica. O artigo ‘Eu quero minha MTV: Narrativas sobre uma nova emissora no Brasil democrático (1988-1990), escrito por Carlos Eduardo Pereira de Oliveira, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) entrega que a Folha de S. Paulo vinha cobrindo a história. E que falava-se até em Marcelo Tas como coordenador do projeto.

Só que apesar da mesma Programa do Jornal do Brasil já ter avisado em janeiro de 1986, que “vão de vento em popa as negociações entre a Manchete e a GGK, agência paulista encarregada de negociar os direitos da MTV americana”, não rolou. Em junho de 1986, a Folha revelava que a união MTV-Manchete fazia água, porque além da realidade da televisão brasileira ser bem diferente da americana, a emissora carioca havia esbarrado na obrigatoriedade da “programação majoritariamente reservada à produção internacional, em detrimento da nacional”.

Nessa época, a Manchete via como principal concorrente a Globo – já tinha perdido Xuxa para a emissora do Jardim Botânico, inclusive. E gastava o que podia e o que não podia na produção de novelas, quase sempre tirando um descontente qualquer da empresa dos Marinho. O artigo de Carlos Eduardo aposta ainda que a MTV surgiu em 1990 favorecida pela Constituição Cidadã de 1988 e pelo fim da censura federal (ainda se censurou muita coisa no Brasil até o fim dos anos 1980, principalmente novelas).

GAZETA

O que talvez menos gente lembre é que antes da Manchete ainda houve uma primeira tentativa da MTV de vir para o Brasil. Em 1985 Ruy Castro anunciava, na sua coluna na Folha de S. Paulo, que estava rolando um acordo entre a TV Gazeta e a MTV. A emissora brasileira “enfiaria nos cofres cerca de dois bi e meio de cruzeiros por mês e mais uma ajuda em equipamento”. Pelo que já estava sendo combinado, a Gazeta (que por acaso exibia o Crig-Rá) teria nove horas de programação da MTV diariamente. A representante da MTV, a Media Marketing Internacional, comercializaria o espaço publicitário da emissora, e rolaria mais uma carreta de grana.

Parecia que ia dar merda, e deu. O jornalista Audálio Dantas, presidente do Conselho Curador da Fundação Casper Líbero, que administra a TV Gazeta, vetou a história (“contraria tudo o que sei sobre concessão de canais”). Audálio, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo entre 1975 e 1978 e divulgador da verdade sobre o assassinato de Vladmir Herzog nas dependências do DOI-Codi em 1975, também reclamou que a “prestação de serviços” levava a MTV a virar quase inquilina da Gazeta. Quem queria MTV teve que esperar mesmo até 1990 e pronto.

 

VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:

O ano de 1991 segundo a MTV Brasil
Especial da MTV Brasil sobre a música pop brasileira em 1993 tá no YouTube
– Jogaram tudo de Corpo santo, novela policial da Rede Manchete, no YouTube

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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