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Crítica

Ouvimos: Luiz Bruno – “Lule e as Crianças Adultas ao vivo no espaço” (EP)

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Luiz Bruno, o Lule, volta ao Brasil com EP ao vivo, misturando psicodelia, rock, jazz e humor em faixas lisérgicas e cheias de referências.

RESENHA: Luiz Bruno, o Lule, volta ao Brasil com EP ao vivo, misturando psicodelia, rock, jazz e humor em faixas lisérgicas e cheias de referências.

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O músico e compositor gaúcho Luiz Bruno, o Lule, morou onze anos em Londres – lá, montou uma banda chamada The Adult Children e desenvolveu uma discografia de nove discos, um EP e um single que, por um bom tempo, ficou só no Bandcamp. Lule e as Crianças Adultas ao vivo no espaço é um EP que marca a volta de Luiz ao Brasil, e que resume o clima zoeiro e psicodélico das músicas de discos como Chicken dinner (2024) e Curtição suprema vols 1 e 2 (ambos de 2022).

Os fungos abre o disco com flautinhas, barulhos de pássaros – lembrando um Jethro Tull + Recordando O Vale Das Maçãs com senso de humor – e uma conversa naturalista, punk e pseudo gospel. Jovens fumando vape no bus e Manteiga mental unem jazz rock a la Khruangbin, rock pauleira e psicodelia, como naquelas coisas que você só descobria fuçando as pastas “Brazilian Nuggets” do Soulseek. Eu me afundei na lama da culpa é lisérgico na letra e na melodia, unindo Who, Kinks e Mutantes.

No final, roncos a la In another land (Rolling Stones) e evocações de Kinks e Todd Rundgren em Acordo noiado. E os efeitos sonoros do soul psicodélico e espacial de We are actors in your cosmic play. Um som para voar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Tal & Tal Records
Lançamento: 22 de julho de 2025

  • Ouvimos: It’s The Ocean – Enfins (EP)
  • Ouvimos: Schlop – Senhoras e senhores, cachorros e madames (EP)

Crítica

Ouvimos: Shearling – “Motherfucker, I am both: ‘amen’ and ‘hallelujah’ …”

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Shearling lança Motherfucker, disco com uma única faixa de 62min que mistura metal, noise e hardcore em caos sonoro intenso e perturbador.

RESENHA: Shearling lança Motherfucker, disco com uma única faixa de 62min que mistura metal, noise e hardcore em caos sonoro intenso e perturbador.

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Um amigo anda dizendo que esse disco de estreia do Shearling, banda extremamente barulhenta de Los Angeles, é o melhor de 2025 desde Perverts, o perturbador álbum de Ethel Cain, lançado em janeiro. A verdade é que Motherfucker, I am both: “amen” and “hallelujah” … é mais do que apenas um disco perturbador. Ele provoca o mesmo efeito de assistir a vídeos de cirurgias arriscadas ou de lutas sanguinolentas de MMA, ou de acidentes em que ninguém sai vivo. Tudo graças aos ruídos, aos sustos (sem aviso prévio) e aos vocais no limite da rasgação de garganta.

Outro detalhe é que não se trata de um “disco”: Motherfucker é apenas uma única faixa, de 62 minutos (!), que você pode ouvir no Bandcamp e no YouTube do grupo, e também em aplicativos como o Deezer – sabe-se lá o motivo, a música estava no Spotify e pulou fora de lá. O disco também ganhou uma edição limitadíssima em CD, à venda no Bandcamp. E se você acha que não conhece o Shearling, talvez conheça o Sprain, banda de noise-rock da qual vêm os criadores do grupo, Alex Kent e Sylvie Simmons – o Sprain, vale completar, encerrou atividades após o segundo álbum, The lamb as effigy (2023).

E aí que Motherfucker é uma peça barulhenta una, feita de guitarra, baixo, bateria, gritos, metais (soprados na mesma onda jazz infernal de bandas como King Crimson) e efeitos sonoros, conseguidos com instrumentos exóticos como harmônio, autoharp e glockenspiel, além de “dulcimer martelado” e “serra cantante”. A letra reúne histórias animalescas e mumunhas bíblicas, em versos como “muitas vezes me pego pensando / o que exatamente pode passar pela cabeça de um cavalo?”, “vou enterrar você, Adão / vou subir na sua perna / e puxar para baixo sua pequena cueca alegre / e vou enterrar você a cinquenta mil pés no subsolo” e outros.

A música não tem parte calma, nem parte alegre: é porrada o tempo todo, dividindo-se em segmentos metal, hardcore, metal experimental, barulheira no estilo do Suicide, punk no estilo do Wire (das mais violentas do Wire, vale dizer) e um clima meio post-rock que surge aqui e ali. Ouça com tempo, disposição e volume alto – os vizinhos vão reclamar, mas isso pode ser bom.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Mishap Records
Lançamento: 1 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Véspera – “Nada será como era antes”

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Rock triste e esperançoso do Véspera mistura britpop, post-rock e shoegaze para falar de mudanças, perdas e recomeços.

RESENHA: Rock triste e esperançoso do Véspera mistura britpop, post-rock e shoegaze para falar de mudanças, perdas e recomeços.

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O Véspera vem de São Gonçalo (RJ) e no álbum Nada será como era antes, o segundo do grupo, fala basicamente sobre mudanças: ventos que viram de uma hora para outra, relacionamentos que acabam, amizades que esfriam, reencontros azedos e momentos em que, mais do que tudo, você precisa se esforçar para enfrentar o caos e manter a sanidade.

A vibe musical do grupo vem do lado mais tristonho e reflexivo do britpop – eles citam nomes como Terno Rei, Raça e Coldplay como referências. Climas quase ambient tomam conta da faixa-título e As coisas levam tempo, cabendo viagens quase progressivas em Vou tentar, um lado meio sombrio em Quando viver a esquina (com Jadidi no vocal) e um blues shoegaze em Dia puxado (“será que você liga se eu for / aquele estranho da família / que cresce e não se dá bem?”, diz a letra).

O álbum ganha peso em faixas como Apesar disso – com emanações de Bush – e Até onde dá, que tem algo de bandas como Yard Act e Franz Ferdinand. Também ganha uma cara o mais pop possível em Deve ser coisa da idade, que chega a lembrar até Samuel Rosa, mas numa onda mais sombria. No final, Ainda existe em nós e Nem tudo vai se perder inserem sombras musicais análogas ao post-rock, com toques gélidos de guitarra, ruídos e tristeza nos acordes e na voz. Rock triste e esperançoso de uma cidade cuja vocação industrial já evocou comparações com a poluída Manchester.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Downstage
Lançamento: 27 de junho de 2025

  • Ouvimos: Yard Act – Where’s my utopia?
  • Ouvimos: Franz Ferdinand – The human fear
  • Ouvimos: Vitor Brauer – Tréinquinumpára 06: Porto Velho

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Crítica

Ouvimos: Hayley Williams – “Ego”

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Hayley Williams manda recados bem endereçados nas 17 faixas de seus novos singles - que, coletivamente, estão sendo chamados por fãs e jornalistas de Ego. E musicalmente, tudo se sustenta muito bem.

RESENHA: Hayley Williams manda recados bem endereçados nas 17 faixas de seus novos singles – que, coletivamente, estão sendo chamados por fãs e jornalistas de Ego. E musicalmente, tudo se sustenta muito bem.

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Bom, pra começar, não existe nenhum disco de Hayley Williams chamado Ego. O nome – originalmente usado numa tintura de cabelo lançada em tiragem limitada pela empresa dela, Good Dye Young – está sendo usado pelos fãs da cantora do Paramore (e por alguns jornalistas) para chamar a coleção de 17 singles que ela soltou de repente.

O lançamento dos singles é um trabalho que merece nota 10 em marketing e vendas, enfim. Hayley abusou do senso de comunidade, soltando primeiro as faixas de graça no site dela – quem era cliente da Good Dye Young teve acesso a uma senha de acesso, depois compartilhada por eles com os outros fãs. O material chegou só bem depois, com uma qualidade sonora melhor (e capas), às plataformas.

No todo, a história aponta para vários lados: mistério (o que era a tal mensagem em áudio que havia na pasta com as músicas?), quentinho no coração (para o lançamento, o site de Hayley ganhou um visual de desktop bagunçado dos anos 1990, com direito a Winamp), vendas (as músicas estão associadas a uma tintura e são um presente da Good Dye Young!), convergência (em tempo de algoritmos, ora vejam só: uma estratégia que envolve e-mail, site e senhas espalhadas por fóruns).

Também aponta para um, vá lá, respeito à experiência dos fãs: ouça as faixas como bem entender, não é um álbum com um programa de audição fixo. Nem sequer há um hit single porque tudo é single. Já musicalmente, o conjunto de faixas atualmente conhecido como Ego tem um conceito, ou quem sabe, vários – e todos se misturam com o lado business da coisa. Hayley agora é uma artista independente, faz pop enrockado em tempos de indie pop e de som-de-quarto, e nunca se sentiu tão à vontade para dizer o que vai pela cabeça.

  • Ouvimos: Halsey – The great impersonator
  • Ouvimos: Suki Waterhouse – Memoir of a sparklemuffin

Vai daí que na faixa Ice in my OJ, Hayley faz questão de falar de “um monte de idiotas filhos da puta que eu enriqueci”, da mesma forma que faz uma canção de amor aos antidepressivos na ótima Mirtazapine, esbraveja contra a América do Norte cristã e racista em True believer (dos versos “aja como se deus não estivesse olhando / mate a alma, tenha lucro” e “eles dizem que Jesus é o caminho, mas então eles deram a ele um rosto branco / para que eles não tenham que rezar para alguém que consideram menor que eles”).

Hayley também solta montes de frases ácidas em Brotherly hate – que (há quem diga) é uma zoeira cruel com os irmãos Josh e Zac Farro, ex-integrantes do Paramore – e homenageia/desomenageia sua terra natal Nashville em Ego death at a bachelorette party, na qual avisa que “sou a maior estrela no bar deste cantor country racista”. Discovery channel, que traz uma bizarra interpolação de The bad touch, hit de 1999 da Bloodhound Gang (cujo refrão fazia referência ao canal), virou uma pérola das relações abusivas, com uma letra que tanto pode falar de sexo quanto de gravadoras adeptas da suruba econômico-corporativa (“vinte e poucos anos atrás, começamos a jogar um joguinho / e agora vamos todos sentar e terminar, e adivinha? / sua vez, a dor está escondida”).

Levando em conta que Hayley batizou seu selo como Post Atlantic, tudo em Ego tem endereço certo. Já musicalmente, ela e seu parceiro-produtor Daniel James apostam em climas análogos ao dream pop (Zissou é bem isso), visitam a mesma onda glam-sixties de Suki Waterhouse e Halsey (True believer, Brotherly hate), proporcionam novos horizontes ao soft rock (Won’t quit on you, Love me different), recordam a barulheira dos anos 1990 (Kill me, Mirtazapine e a alanismorissettização de Different man) e jogam no time do indie pop (Ego death, Blood bros, Negative self talk e todo o repertório). O conjunto todo acaba soando bem mais instigante do que se fosse apenas um álbum.

Se você nunca ouviu nada de Hayley Williams ou do Paramore, ouça Ego correndo. Se já ouviu tudo, resista à tentação de comparar Ego com o raivoso Petals for armor (lançado por ela em 2020) e ouça como se nem soubesse quem é Hayley.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10 (vou tratar como álbum)
Gravadora: Post Atlantic
Lançamento: 1 de agosto de 2025

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