Cultura Pop
Legião Urbana canta Nelson Cavaquinho em clima Joy Division (!)

Juízo final, samba composto por Nelson Cavaquinho e Elcio Soares, surgiu pela primeira vez num disco de Nelson em 1973. E já apareceu nos mais diversos lugares. Em propaganda política, álbuns dos mais diversos cantores (Jair Rodrigues e Beth Carvalho entre eles), abertura de novela (A regra do jogo, trama das 21h da Globo de 2015). E… quase esteve num disco da Legião Urbana.
O samba de Nelson Cavaquinho, gravado originalmente por ele em seu álbum epônimo de 1973, costumava ser tocado pela banda em shows desde antes do primeiro disco (Legião Urbana, de 1985) chegar às lojas. Rolava em alguns horários na antiga Fluminense FM (na fase “maldita” da rádio). E foi gravado no rol de canções preparado inicialmente para Dois, segundo álbum da banda, de 1986. Por intermédio de algum fã animado, a gravação original da banda feita para o álbum ressurgiu no YouTube.
Aliás, no começo do projeto, Dois teria sido um disco duplo chamado Mitologia e intuição. O álbum incluiria músicas como Grande inverno da Rússia, uma vinheta instrumental composta por Ico Ouro Preto (irmão de Dinho Ouro Preto, cantor do Capital Inicial) no pouco tempo em que ele foi guitarrista da banda.
DUPLO
O jornalista Tom Leão, que por vários anos cuidou da coluna Rio Fanzine, do jornal O Globo (e hoje tem a coluna Na Cova do Leão, na Cult FM), foi conversar com a Legião Urbana quando a banda estava gravando o clipe de Tempo Perdido (no estúdio RGB, em São Cristóvão, Zona Norte Carioca). A matéria saiu publicada na revista Bizz de agosto de 1986. Tom anotou declarações de Dado Villa-Lobos (guitarrista) falando que a EMI (gravadora da banda, hoje Universal) considerou economicamente inviável o projeto de um disco duplo. Ainda que o álbum chegasse às lojas pouco depois do ilusionismo econômico do Plano Cruzado.
A banda incluiu Faroeste caboclo (“que dura mais de dez minutos e só foi apresentada em poucos shows”, diz o texto) na primeira leva de músicas de Mitologia e intuição. Bem como Grande inverno, cuja exclusão teria deixado Renato particularmente chateado. Havia também uma faixa-título de Mitologia e intuição, vinheta de Marcelo Bonfá. Também saiu do disco, o que igualmente chateou o vocalista. Mas com as mudanças, ambas as músicas fugiram do conceito.
NELSON CAVAQUINHO vs. IAN CURTIS
Já Juízo final estava inicialmente programada para fechar Dois. O detalhismo de Renato Russo fez com que o cantor escrevesse uma carta à EMI sugerindo uma ordem de músicas para o álbum. Mas na missiva, o cantor asseverou que Índios era “indiscutivelmente a última música” do disco, e deixou de lado definitivamente o samba de Nelson Cavaquinho. Não entrou nem mesmo como faixa-bônus do K7. Para o posto, a banda preferiu uma versão ao vivo de Química, canção de Renato gravada anteriormente pelos Paralamas do Sucesso.

Tom Leão anotou na reportagem da Bizz que Juízo final poderia ter sua letra escrita por ninguém menos que Ian Curtis (do Joy Division) e que nos shows, ela ganhava uma levada “bem New Order”. Em 1986, nenhuma das duas bandas tinham LPs lançados no Brasil. Daí, era preciso explicar aos leitores que uma banda era a continuação da outra, sem o vocalista Ian Curtis, morto em 1980 – é o que o texto faz em seguida.
FICOU DE FORA
Muitos anos depois, conversando com o POP FANTASMA, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá confirmaram que Juízo final estava no conceito inicial de Dois. Mas foi saindo fora conforme o projeto foi avançando.
“A música começava com um violão e depois ia para uma coisa nesse estilo Joy Division”, contou Dado. “Tá tudo gravado, tá registrado nos tapes que estão com a gravadora, que hoje é Universal. Tínhamos a ideia de fazer o mesmo projeto que a gente fez no primeiro disco (1985), quando fizemos uma edição comemorativa com outtakes. Mas no Dois, teríamos Juízo final, O grande inverno da Rússia… Tem uma versão de Fábrica em inglês. Não vai rolar porque a companhia de discos se desinteressou. Acho que a gente precisava de mais likes no Instagram para conseguir coisas assim”, ironizou.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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